sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Papai noel fora de época

Quem vê Roberto sentado com as pernas abertas no sofá de casa, não pode imaginar o que ele fazia um mês atrás. Com uma lata de cerveja na mão, de barba feita, chinelo gasto no pé e aquele mau humor que só uma pessoa idosa pode ter, pergunta quando me vê:

- O que é que você quer?

- Uma bicicleta! - eu disse para tentar fazer aquele homem que há um mês era papai noel dar risada. Não adiantou.

- Eu gasto todo meu bom humor na época do natal. É fogo. Fogo, não. Fogo é em dezembro. No final de janeiro já é foda. É foda.

Uma coisa em que a gente nunca pensa é um papai noel dizendo palavrão. Acontece que ele não é papai noel. Ele é o papai noel fora de época. Este blog acompanhará Roberto nos meses em que não é papai noel.

Vendo Roberto, a primeira coisa que se aprende é que para ser papai noel, não é necessário saber ouvir as pessoas. É uma profissão que se assemelha muito à do padre. O padre só presta atenção no que o fiel diz quando a coisa é interessante ou picante. O papai noel faz a mesma coisa, com a exceção de que as crianças raramente dizem coisas picantes. E é bom que não digam.

Ele está comemorando o mês em que não precisa se masturbar uma vez por dia. Para um senhor de 64 anos, acredite, isso é muito.

- Todo dia, antes de ir ao shopping, eu tinha que me masturbar. Não que eu seja pedófilo, mas morria de medo de ficar de pau duro. Você imagine o seguinte. A criança fala e eu é claro que não presto atenção. Nisso, eu olho para outra coisa. Uma mulher, por exemplo. Se eu ficar de pau duro, estou ferrado! Roupa de papai noel é de seda, meu amigo.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Regra de convivência #428 - Nunca dizer que leu Nietzsche

Vivemos dias ruins. Dias em que Serginho Groismann é chamado de inteligente, Pedro Bial de culto, Jô Soares de engraçado e Harry Potter de literário. Por isso, há quem pense que, para não ser contaminado com a burrice universal, ler textos de outras épocas é um grande remédio. Os mais radicais dizem: "Quem não lê, vê Big Brother!"

Há os que se aproveitam desta prática em uma tremenda encenação. Como se simplesmente ler uma coisa fosse sinônimo de inteligência. Da mesma forma que nossas avós portuguesas vão à missa e se sentem santas, há quem leia Nietzsche e se acha um gênio. Mesmo que não tenha entendido uma palavra, mesmo que tenha achado um tédio, diz alto para que até os desconhecidos ouçam que ele leu o alemão.

O problema, pois, não é ler Nietzsche. Ele é um grande sujeito, e os textos dele se aproximam em profundidade dos textos que você pode ler neste espaço. O problema é dizer que o leu. Este é um artifício que os burros usam para que pareçam inteligentes.

Porque quem diz que lê Nietzsche, não leu. E aquele moço com cara de bobo, que no meio da discussão está olhando para o teto; este sim, está pensando no quarto parágrafo da sétima página do livro nietzschiano.

Futebol, o assunto único

Um leitor astuto se referiu a mim, na última segunda-feira, como se mentiroso eu fosse. Ele disse, não sem razão, que eu já falei inúmeras vezes que o brasileiro que não fala palavrão ou de futebol é um cínico! E que eu só falo de futebol nas conversas da vida real, enquanto no blog só tem um texto sobre o assunto.

O leitor está tão coberto de razão, que tenho medo que ele se sufoque. Nas ruas, as pessoas me param para falar dos mais diversos assuntos, mas só falo de futebol. Se vem alguém falando de Marx, de Hegel, de Joaquim José da Silva Xavier, sempre arrumo uma forma para encaminhar o assunto ao futebol. "Marx?", eu disse uma vez, "para que time será que ele torceria, hein? Corinthians, sem dúvida!". A pessoa me olha estupefata, mas não resiste. Como é bom falar de futebol!

Futebol é o único assunto sincero do nosso tempo. Quando se tenta falar de assuntos importantes em uma lanchonete, por exemplo, o tédio é inevitável. É um ostentando inteligência ali, outro escancarando burrice acolá, e eu com cara de tédio aqui. Inteligência é na sala de aula, em livros ou em blogs. O assunto cotidiano tem que ser futebol, e só.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ainda sobre o vegetariano

Engraçado como coisas tão insossas podem render discussões tão calorosas!

Ontem escrevi neste espaço precioso um texto sobre os vegetarianos, e a discussão foi incrível! Recebi dezenas de e-mails de pessoas concordando com meu ponto de vista e elogiando minha postura aguda e crítica diante dos problemas da sociedade moderna! Os outros que não me elogiaram explicitamente ou que me criticaram foram direto para a pasta de lixo eletrônico. Que fiquem lá por muito tempo!

Acontece que o assunto não acabou. Por isso preparei meu e-mail para muitos comentários pertinazes e indelicados para as próximas horas. Aviso também aos vegetarianos, que se quiserem protestar, prefiro o horário das 20 às 22, quando não me encontro em frente à redação. Assim podem protestar tranqüilamente, sem incomodar ninguém. E sem levar mordidas de meus cães treinados na Suécia.

Na última terça-feira discuti rispidamente com um vegetariano. Chegamos até a ficar suados, devido ao grande esforço mental. Eu penso tanto, que levo lencinhos na minha mochila. Lencinhos de couro.

O vegetariano começou com a conversa ao modo vegetariano. Começou repreendendo, sem ao menos me conhecer, meu uso de sapatos de couro de cobra, jaqueta de urso polar e luva de panda. Ele sequer sabe as razões!

- Então por que você usa tudo isso?! - perguntou o vegetariano.

- Porque está frio! - respondi com beicinho.

Ele desatou a falar que não se come animais, que não há razão para isso. Chegou até a dizer que quando comesse um porco, estaria cometendo um incesto, já que os animais são nossos irmãos!

Eu lhe disse que é por pensarem assim que as freiras não fazem sexo. Se fôssemos todos irmãos, não teria cabimento fazermos sexo com nossos irmãos! Não que eu seja a favor da zoofilia, mas o raciocínio é o mesmo!

Mas foi quando ele disse que porcos são amigos, não comida, que me exasperei. Não há nada contra a burrice. O problema é exibi-la em público!

Os porcos não são só amigos. Se eles fossem só amigos, como existiriam tantos porcos no mundo? Amigo não procria; namorado procria. Porcos são namorados. E comida, também!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O vegetariano

Não são os muçulmanos com seus véus os que mais intrigam a humanidade. Muito menos os corintianos com suas camisetas roxas e falsificadas. Aqueles que mais intrigam a humanidade são os vegetarianos.

Sempre quis escrever um texto preconceituoso sobre esse tipo de gente que não come carne. Pior: que comem vegetais! Não sei o que é mais assustador, se não comer carne ou se comer vegetais. Porque o primeiro é um prazer que se renega. E o outro é um sacrifício a que se impõe. É como um padre homossexual. Primeiro ele deixa de lado o prazer de ter relações sexuais com mulheres, depois tem o sacrifício do sexo anal.

O vegetariano é aquele que ama sem ver. Porque as pessoas normais (não vegetarianas, ou carnívoras) são as que se apegam a alguns animais. Eu mesmo gosto muito do Jaiminho, do Cafu, do Wolvi e do Logan. São cachorros (o Jaiminho é um gato deficiente) que me apeguei justamente porque os conheci. Eu quero que os outros cães e gatos ardam nos mármores do inferno! É justamente por ter essa concepção, por exemplo, que acho um pouco ridículo chorar a morte de animais como se fosse um grande drama. Claro que é um drama inenarrável; mas somente para quem sente. Os seres-humanos não costumam ter grande apego por animais alheios.

A diferença pode se dar com seres-humanos. Nós temos compaixão por gente que não conhecemos. Se alguma garota é atirada pela janela pelo próprio pai, ou se um padre morre num vôo de bexiga, ou se a prima da avó do cunhado da empregada da patroa do nosso conhecido sofre um ataque de asma, somos os primeiros a ficar chocados!

Veja a diferença. Hitler é um péssimo sujeito, um idiota, um otário, um legítimo filho da puta, um salafrário, algo que pode ser considerado o que tem de pior na humanidade por ter matado tantas pessoas. E o dono da Sadia, que já exterminou muito mais que cinco milhões de frangos, pode ser citado pela revista Época como uma das cem pessoas mais brilhantes do ano! Exceto para os vegetarianos.

O vegetariano é aquele que gosta do animal alheio como se dele fosse. Ou que gosta de próprio animal como se fosse do outro. Cada vegetariano tem a generosidade de Noé e protege todos os animais do mundo. Inclusive aqueles a que nunca chegarão a conhecer.

Outro dia um vegetariano sorriu ao me ver. Como não havia motivo para graça, comecei logo a desconfiar. Percebi que o sorriso dele era o da arrogância generosa. Era um sorriso que queria, na verdade, dizer: "Você não vai agradecer por eu preservar o planeta no qual você vive?"

Minha cara de tédio respondeu o seguinte: "Não vou agradecer por algo que não pedi!"

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Entrevistas com lideranças - Barack Obama

Estirado em sua sala oval onde recebe os convidados mais ilustres de todo o mundo, Barack Obama olhou-me firme e sorriu somente após a secretária lhe cochicar meu nome em seu ouvido.

- André.

- Que André? - perguntou Obama.

- O do blog que o senhor acompanha diariamente e faz comentários anônimos!

- Ah, sim! - disse Barack Obama visivelmente emocionado por receber minha visita. - Mas eu é que deveria visitá-lo!

- Sabe como é! Eu já estava nos Estados Unidos e resolvi dar uma passadinha. Até porque não gosto muito de receber visitas lá em casa. Tem que arrumar tudo, minha esposa fica tímida e não pode lavar roupa por um tempão... Melhor aqui!

Pude perceber primeiramente que ele brincava com os pés fora dos sapatos. Não que eu quisesse, mas olhei indisfarçadamente. Obama deu um risinho frouxo, chamou a filha mais nova e ordenou que lhe calçasse os sapatos. "E tira essa chapinha horrível! Você é filho do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, não do Michael Jackson!", disse Barack, mais severo do que a situação prescindia. "Hoje todo mundo quer ser negro!", completou. E ao notar que os olhos da filha estavam marejados, amenizou como o bom representante público que é: "Você está querendo chorar de vergonha, não é? Não chora, não. Você chora porque enquanto você calça o presidente, seu pai é presidente dos Estados Unidos. Você pode evoluir na carreira, minha filha. Eu mesmo já fui office boy."

Já calçado, olhei para Obama à procura de defeitos. Ele não é somente o primeiro presidente negro dos Estados Unidos; o povo ainda não conseguiu perceber que ele é, na verdade, o primeiro presidente perfeito deste país. Aliás, este é o único defeito de Obama: Não ter defeitos. É bonito, inteligente, negro, saudável, diplomado nas mais importantes faculdades do mundo, bem casado... Enfim, um homem sem defeitos! Eis um homem incapaz de xingar o craque adversário ou de ser injusto na comparação futebolística. Primeiro porque não gosta de futebol, depois porque sequer entraria numa discussão futebolística, sempre propícia a injustiças.

- Obama. Você me desculpe, mas quais são os seus defeitos?

Ele riu copiosamente, como se eu fosse a primeira pessoa que dissesse o que ele e todos os outros sabem. Bateu até palminhas, como se isso fosse um elogio.

- É sério, presidente. O senhor não tem defeitos, e isso pode ser muito ruim para o senhor. Imagine na hora de uma negociação, em que você não pudesse fazer um charminho? Ou então quem vai ter pena do senhor? Eu tenho um gato, o Jaiminho, que é muito mais bem tratado que os demais por ter um defeito na perna. O senhor não manca! Fora que nenhuma qualidade se sustenta sem um defeito. Sabe por que o mundo é tão injusto? Porque Deus é perfeito! Já basta Deus de perfeito, Obama!

- Eu fumo e tenho esta verruga aqui, ó. Serve?

- Fuma?! Você fuma, presidente?! Mas que boa notícia! Excelente! Graças a Deus, que o senhor fuma. Graças a Deus e ao seu ímpeto adolescente!

Se Obama se gabou do primeiro suposto elogio (quando eu disse que ele não tem defeitos), agora ficou insuportável! Ergueu o nariz e fiquei muito satisfeito por forjar mais um defeito no nosso presidente. Nosso, não! Deles! Agora Obama é também arrogante. Com três defeitos já se pode vislumbrar um bom mandato. Se não um mandato brilhante, pelo menos decente.

Esta entrevista já começou mais reveladora do que se esperava. Nas horas mal dormidas no hotel, pensei em como encontrar um defeito de Obama. Um já bastava. Passaria a entrevista inteira, se fosse necessário, procurando defeitos no homem perfeito. Um defeito já tranqüilizaria o mundo. Mas três?! Fiquei até emocionado, e o leitor mais atento perceberá que daqui em diante, o ritmo da entrevista cai um pouco, mas continua sendo uma brilhante entrevista.

Conversamos, então, um pouco sobre a sucessão presidencial. Não falamos mal de Bush porque tudo o que era para falar mal do ex já foi falado. Em nosso duelo intelectual, contava pontos elogiar a grande besta! "Tinha um belo cabelo", disse Obama. "Portado de um belo cabelo, penteava-se maravilhosamente!", completei. "Os óculos combinavam com as mechas grisalhas". "Menos, menos", disse eu já menos exaltado, cortando a brincadeira presidencial.

Contei que Bush havia lhe deixado alguns queijos no freezer presidencial. Obama chamou prontamente a filha e ordenou que verificasse o freezer. Ela estava com os olhos inchados, e, muito emburrada, dirigiu-se ao freezer. Cada passo da menina parecia passo de gigante. Criança emburrada é capaz de incomodar muito mais que adulto emburrado. Basta ver que a Michelle Obama estava de péssimo humor no canto, de braços cruzados e contando com a perna cada segundo que se passava desta entrevista. "Michelle tem ciúmes de você. De noite, passo mais tempo lendo seu blog do que na cama com ela!", disse Obama.

- Pai! O queijo está vencido!

Neste instante notei que estávamos falando tudo em português! "Eu aprendi português para ler seu blog, e as crianças aprenderam por influência minha. Michelle tem preguiça."

- Ah, sim. - respondi disfarçando o indisfarçável contentamento.

Era o momento de encerrar a entrevista. Se Michelle Obama já não agüentava mais, o que dizer de Juliana Ursípedes, que me esperava no hotel após ter recebido a promessa de que ganharia um sapato novo assim que eu chegasse? Entreguei a Obama um presente.

- Ah! Uma caneta! Era justamente do que eu estava precisando! Deixa eu ver o cartão.

- O cartão, você vê depois.

Eis o cartão:

"Obama,

Fiz questão de não tirar o preço desta caneta caríssima para que você soubesse do tamanho do apreço que nutro por sua pessoa. Grande homem!

Abraço,

André"

Quando me preparava para ir embora daquela casa branca e enjoativa, Obama me chamou ao pé do ouvido. “Preciso anunciar uma coisa! Faço questão que saia em primeira mão no seu blog!”, disse muito baixinho. “Fala! Fala!”, disse já pensando na audiência. “Vou fechar Guantánamo em um ano!”, disse em tom garboso. “É?”, perguntei. “É! Daqui a um ano esta prisão fechará para reformas! Ampliaremos Guantánamo e ela será a maior prisão do mundo!”, concluiu o grande chefe de estado.

Cacilda!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A falsa tragédia bonsai

A tragédia bonsai é tragédia em todos os sentidos, menos no tamanho.

O homem que chamou a namorada pelo nome errado; a moça que tinha R$2,35 para a passagem de ônibus que custava R$2,40; a velhinha que percebeu que o aniversário do filho fora no dia anterior; o ditador que tropeçou enquanto fazia pose.

Ela acontece tantas vezes por dia, e no exato momento pensamos que não há uma solução possível e que a melhor alternativa é, mesmo, o suicídio. No final do dia nem nos lembramos de contar isso na janta.

Aconteceu uma vez, porém, de alguém que confundiu uma tragédia bonsai com uma tragédia filhote. Ele achou que aquela tragédia que estava crescendo era uma tragédia que já havia crescido.

Como alguém que vê o tsunami e se aconchega para apreciar a bela onda, ou aquele que acha que é uma pulga, a barata crescendo atrás da orelha.

Ele se matou no dia seguinte, quando percebeu os reais valores da crise.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Deu, o singular de Deus;

são muitas, as manifestações de Deu na vida cotidiana da mulher brasileira. Outro dia mesmo lançaram um sabão em pó que deixa cinzas as roupas brancas.

Deu é discreto e ri de todos nós enquanto pode nos observar tal qual Big Brother - com a única vantagem de que nos observa inclusive enquanto estamos no banheiro. A vantagem dele em relação a Deus é que ele é um só. Ele não está em vários lugares, não faz várias coisas ao mesmo tempo. E só tem fieis selecionados.

São inúmeras as cartas de pedidos para entrar em sua igreja.

Mas Deu é irredutível. "Ou eu cuido bem de poucos ou esculaxo muitos", disse ele numa tarde ensolarada de sábado.

Outro dia chegou uma carta de uma pretensa fiel de Brasília.

"Deu,

Gosto muito do senhor. Gostaria de ser sua fiel porque Deus não olha por mim. Ontem mesmo eu tropecei e caí de cara no chão.

Atenciosamente,

Florinda"

Deu rasgou a carta e exclamou: "Se Deus não quer, não sou eu que vou querer!"

Disse Deu, o singular de Deus."

Deu, o singular de Deus;

houve um homem, muito jovem, começando na vida, que precisava de um bom trabalho.

Pois o dono de uma multinacional lhe ligou numa tarde chuvosa:

- Rodrigo Lopes de Freitas Antunes Soares de Paiva Filho?

- Sim, sim, sou eu.

- É ele?

- Ele sou eu!

- Ah! Pois não! Seu Rodrigo, traga seu currículo hoje de tarde, que eu lhe darei o emprego de seus sonhos!

- Sim, sim, claro! Muito obrigado. Estou indo para aí!

Rodrigo se apressou e se encaminhou até a empresa.

Não é que justamente quando a secretária o anunciou, ele lembrou que esqueceu de levar justamente o currículo?

Deu, o singular de Deus.

Deu, o singular de Deus;

a qualquer hora do dia Deu pode aparecer para nos pregar uma peça - menos de noite, e ele vai dormir cedo!

Houve um velho senhor que resolveu pela primeira vez, depois da insistência dos filhos, passear com os dois cachorros ao mesmo tempo. Diziam os filhos:

- Papai! O senhor já está em idade tão avançada! Para que sair duas vezes, uma vez com cada cachorro! Você não precisa se preocupar! O poodle é tranqüilo, e o dobermann é um príncipe de cachorro!

Mas o príncipe de cachorro era uma arma em potencial. A qualquer momento podia matar alguém. Cachorro é cachorro - vice-versa.

Houve o dia, pois, que ele saiu com os dois. Preocupado com Tião, o dobermann, segurou a coleira dele como se dependesse disso para sobreviver.

Não é que o poodle aproveitou-lhe a distração e mordeu uma velhinha distraída?

Deu, o singular de Deus.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Funcionário do mês - Janeiro

Os críticos não deveriam, mas são muito engraçados.

Semana passada, numa das raras vezes em que peguei no jornal, um crítico cujo nome não vou dizer - porque não lembro - estarrecia-se sobre a banda Calypso. Ele dizia sobre a limitação humana, sobre como tantas pessoas podem gostar de uma música tão ruim. E a vocalista nem é bonita!, dizia ele. Acho que errei a frase de abertura.

Os críticos não querem, mas são muito engraçados.

Ora. O crítico que é capaz de dizer quantos litros de silicone a Britney Spears tem na bochecha, quantos litros de álcool a Emy Winehouse tomou na semana passada, a cor da calcinha do Mick Jagger, a bebida preferida do Anthony Kiedis, com quantos paus se faz uma canoa para boiar no rio Mississipi. Este crítico galhofou da Joelma do Calypso.

Senhor crítico. Feche o cu para falar da Joelma, porque ela é a funcionária do mês!

Deus:

"Ah, os críticos.

Se não lê-los, como entendê-los? Se é preciso lê-los para entendê-los, é melhor não lê-los! O preço é muito alto.

Eles não admitem quando um superior vem à tona. Quando meu filho nasceu, há dois mil e nove anos, teve gente dizendo que o que ele falava era démodé, que a barba não servia, e que a mãe, ora!, era uma despudorada!

Mas a verdade aparece quando menos se espera. E nessa hora, os mesmos críticos que eram incapazes de falar sobre as pessoas brilhantes sem um pingo de cinismo, dizem que já sabiam! Porra!

Desculpe.

Despudorado, amigo, é quem fala mal da Joelma. A Joelma é o que se pode chamar de Robin Hood da música! Ela tira dos ricos para dar para os pobres. E é por isso que os ricos não gostam dela. Outro dia teve uma grande confusão na rua porque uma patricinha viu seu Ipod nas mãos de um pedreiro. O pedreiro jurou que não roubou – e estava certo. Foi a Joelma.

A Joelma faz dançar toda a gente que não tem motivo para dançar. Canta para os ouvidos calejados pelo barulho da fábrica que não tinham mais esperanças de se emocionar.

O que os ricos não entendem é que não é preciso ter um corpo bonito para se fazer emocionar pela beleza; nem uma boa música para se fazer emocionar pela música. Só é preciso uma ordem divina. Que eu concedi para a Joelma.

Em três vias, registradas todas no cartório de Santa Cecília."

O heterossexual

No dia cinco de janeiro, falei sobre as prostitutas.

O leitor experiente deve achar que tenho muita experiência com elas para falar tanto sobre o mesmo assunto. Não, não.

Nunca vi uma prostituta na minha vida! Ou melhor, já vi, sim. Mas nunca as vi sem tomar um grande susto. "Cacilda, é uma prostituta!" Não é um susto preconceituoso. Deve mesmo escapar de meus olhos uma censura, mas o susto vem da surpresa da confirmação do que já ouvi falar. "Existe mesmo! É verdade!"

Acho que o susto que me dá ao ver uma prostituta é o mesmo que teria se visse Deus ou um ET. "Existe! Pois então existe!"

Falo delas sem ter a menor intimidade física. Mas imagino como seja. A vantagem é a de que vocês não têm um texto contaminado por HIV e que não passa chato quando se entra fundo.

Pois o mesmo leitor experiente, num dia calmo desses, gritou sem saber do absurdo que estava dizendo: "Eu gosto é de mulher!" Ninguém se espantou, pois ninguém sabia que era um absurdo o que se estava ouvindo. O que este leitor disse teve o mesmo impacto de alguém dizer há mil anos que a terra era quadrada. Era um absurdo, mas ninguém sabia disso.

Gosta de mulher, leitor? Qualquer mulher? Então é melhor que o senhor já tenha um plano de saúde, pois é um doente! Um doente que não tem a menor vergonha de exclamar a própria doença!

Quando um homem diz que é heterossexual, o que está primeiramente claro é: Ele não faria, em nenhuma hipótese, sexo com homens. Depois, que faria sexo com uma mulher de sua preferência.

Uma pessoa saudável não faz sexo com mulheres. Faz, sim, sexo com uma mulher. Fazer sexo com duas exige muita potência e pode transmitir doenças desagradáveis.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

1968,

mulheres saíram às ruas para molhar o biscoito.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Companheiro de viagem

Hoje me ocorreu algo que acho que não sei se faço bem em compartilhar com os leitores deste blog.

Eu voltava de ônibus do Guarujá no horário enfadonho das 6:30. Fazia sol, e era uma das únicas situações em que ele não era aprazível, pois estava fugindo dele.

Sentei-me na poltrona da janela, achando um grande negócio, quando um sujeito enorme visivelmente embriagado, com um visível tapa-olho de pirata, grita:

- Creio que seremos companheiros de viagem!

Eu sorri um sorriso que bem sei que parece desgosto. É um sorriso que eu dava antigamente sem saber que demonstrava irritação. Até o dia em que sem querer o sorri no espelho e vi:

- Que nojo!

Desde então eu o utilizo para o que ele realmente parece.

Ele perguntou onde moro, e é unicamente por isso que conto a história.

- Moro na Zona Sul.

Ele quis saber o bairro. Menti:

- Lá prá Cambuci!

- Lapa ou Cambuci? - ele respondeu.

- Cambuci, Cambuci.

Aí foi que percebi que quando disse "Lá prá", pareceu Lapa.

Perceba que ele usava um tapa-olho, não um tapa-ouvido.

sábado, 10 de janeiro de 2009

DEU, o singular de deus.

A lesma apressada; o passarinho com medo de altitude; a africalidade dos cabelos lisos; o mosquito que não consegue dormir porque detesta o barulho de mosquito; o pintor cego; o pavão modesto; o acadêmico intuitivo; a mulher que nasceu para ser mãe mas não suporta crianças; a barata vaidosa; o urso polar que adora praias; o tarado que não gosta de sexo; a ameba gigante; o arco-íris em tons de cinza; o revolucionário preguiçoso; o i sem pingo no i; a criança no geriatra; o fim da circunferência; o poeta sem inspiração; o anão gigante; a borracha arrependida; a anarquia no formigueiro; o galo com insônia; a chuva sem nuvens; a neve no calor; o cabeleireiro e o careca; a viúva e o tarado; o suicida arrependido um infinitésimo antes do impacto; uma gota de água caindo a nove vírgula oito metros por segundo ao quadrado na latitude 47º e longitude 30º; o urubu que não fica bem de preto - e que é necrófobo; o japonês que recebeu a sentença de morte e tossiu; a barata tonta; a bailarina com uma bolha na ponta do dedão do pé; o mendigo vaidoso; o artilheiro com pena do goleiro; a impressora sem tinta; os olhos mais belos do mundo que jamais viram os olhos mais belos do mundo; a privada que tem nojo de cocô; o vegetariano na churrascaria; o controle remoto sem a televisão; o machista queimando sutiãs; a masturbação da freira; a masturbação do padre na frente da freira; a bactéria fazendo pose para o cientista no microscópio; o comunista megalomaníaco; o porteiro com síndrome do pânico; o navio petroleiro sem combustível; a cortina sem janela; o perfume do gambá; o Aurélio sem palavras; a caligrafia do analfabeto; as aleluias no blecaute; a prostituta virgem; o peixe afogado; o frango à passarinho; a amnésia do amigo imaginário; a cárie do dentista; a tortura no masoquista; a escravização da abelha rainha; o furacão tonto; o relógio impaciente; a vítima agradecendo ao assassino; o Jesus com a cruz no ombro pisando na bosta; o computador que perdeu a paciência; a camiseta regata do esquimó; o pára-quedas no vácuo; o sabonete da princesa com um pentelho grudado; o intelectual coçando o sovaco ao invés da axila; o cheiro de sovaco na loja de perfumes; o melhor músico do mundo na Sede Barueriense dos Surdos; o burguês que perdeu o emprego; a bruxa de rodo na chuva; o matemático que perdeu a conta; o português sem bigode; o gago dizendo um trocadilho; a vidente que se surpreendeu quando a previsão deu certo; a bíblia na página seiscentos e sessenta e seis; o mendigo fazendo cocô na calçada da fama; o dono que repete o papagaio; o fofoqueiro confiável; a labirintite do furacão; DEU, o singular de deus.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O meio é a massagem

Muitas pessoas lêem em outro lugar os textos publicados primeiramente aqui neste blog e sentem que lhe falta algo.

"É como se o macarrão estivesse sem o queijo ralado", disse um conhecido. "Sem o queijo ralado, não! É como se estivesse sem o molho, mesmo!", aprofundou um conhecido mais exagerado que estava ouvindo a conversa.

Eles estão certos. É como experimentar do mesmo prato em um lugar diferente. E não é por estar requentado, porque os textos deste blog podem ser lidos várias vezes, porque cada leitura aprofunda as idéias mais brilhantes!

Isto acontece porque o meio não é a mensagem, como disse um sociólogo famoso. Não. O meio é, na verdade, a massagem.

A leitura, como se sabe, não é como se lhe dissessem simplesmente uma coisa. É como se lhe dissessem ao pé do ouvido.

O bom meio é aquele que primeiro lhe tira os sapatos; depois as meias, o terno, afrouxa-lhe a gravata e encosta o terno para lhe sussurrar um bom texto nos ouvidos, enquanto massageia seus ombros!

Rola & Pica

Rola pica
pica o vento.

Pica o tempo todo
mas não pica o tempo.

Se meu pau tomasse fermento
picaria maior que a pica de um jumento.

A lição das prostitutas

Vocês devem achar que não, mas as garotas de programa têm muitas coisas a nos ensinar.

- Ora, elas nem sabem falar português!

E eu estou dizendo que elas têm que nos ensinar a gramática da língua portuguesa?

O tatu não sabe falar português e nos ensinou a cavar túneis; o pavão só faz barulhos esquisitos e nos ensina a fazer abanadores; as múmias falavam o egípcio e nos ensinam técnicas de conservação de restos humanos; o amor é cego e nos ensina a ver o mundo de um jeito diferente!

Achar que as prostitutas não podem nos ensinar coisas só porque não falam português corretamente é mais preconceituoso do que chamá-las de puta.

Entenda: puta e prostituta significam exatamente a mesma coisa. Só que quando você chuta a quina com o dedinho, não diz prostituta.

A lição de hoje das putas é: "Não façam programas com platéia".

O CQC da Bandeirantes, o programa da Márcia, o VMB. Todos estes programas são muito mal sucedidos e sem graça. Sabem o motivo? A platéia no estúdio.

- Mas o Silvio Santos dá certo há duzentos anos com platéia!

O SBT seria líder de audiência se não tivesse!

A platéia atrapalha os programas de TV da mesma forma que atrapalharia um programa com uma prostituta. Inibe os apresentadores da mesma forma que inibe o carente sexual.

Aprendam com as prostitutas.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Pornografia?

Neste blog não tem mulheres nuas. Nem semi-nuas.

Também não há cenas de sexo explícito com freiras ou com adolescentes ou crianças.

Não há sexo entre humanos e animais, nem entre os próprios animais.

Porque é natal. Eu jamais postaria isso no natal.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal

Os leitores que no natal passarem muito tempo com a família e se esquecerem de ver o blog terão as contas canceladas.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Tranqüilizem-se

Muitas pessoas ficaram preocupadas após o anúncio de que este blog teria um espaço para celebridades nuas em pêlo.

É claro que não há motivo para preocupação, minha gente. Este blog é comandado por ninguém menos do que eu mesmo!

E eu não disponibilizaria um espaço tão importante como este para que um qualquer exiba as partes do corpo.

Mas a maior preocupação surgiu após um boato de que estaria tudo praticamente certo entre o blog e a dupla Regina e Gabriela Duarte. Que as duas posariam nuas em pêlo como posaram Susana Vieira e a Fernanda Cunha.

Não, meus chapas.

Gabriela Duarte e a mãe não posarão neste blog.

Eu não permitiria. Acho as duas muito chatas e enjoativas. Não sou capaz de elogiar uma novela em que uma das duas faça uma pequena participação!

Além do mais, Regina é o nome da professora de infância de que não gosto.

Peço, porém, que a audiência tenha cuidado! Pode ser que elas posem em outro blog.

E a gente sempre acaba vendo essas coisas, sem querer. Porque chegam por e-mail, ou mostram no TV Fama, com uma tarja.

Mesmo assim.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Entrevistas com lideranças - Michael Jackson branco


Continuando com a mania de entrevistar sempre pessoas opostas, o entrevistado de hoje é Michael Jackson branco!

O leitor deve se perguntar: "Como que o contrário de Michael Jackson pode ser ele mesmo?!"

Grandessíssimo engano do leitor. Michael Jackson não é mais ele mesmo. A pessoa mais diferente do Michael Jackson preto é o Michael Jackson branco!

O preto fazia sucesso, o branco não faz; o preto dançava, o branco não dança; o preto tinha nariz, o branco não tem; o preto lançava discos com músicas de sucesso, o branco não lança nem cds; o preto era o máximo, e o branco dá medo.

E vocês perceberão que o branco é uma simpatia e o preto não era.

Tudo tem a ver com o nariz.

Uma pessoa sem nariz é tão humilde, mesmo que ela seja o Michael Jackson! Ele também não tem nojo, para torcer o nariz.

Desta vez, resolvi aprender inglês para entrevistar os anglofônicos sem a ajuda de intermediários. Vocês viram o problema que deu na última vez!

Entrei na casa de Michael pela porta da frente. Ele mesmo me atendeu, e foi logo dizendo que dispensou todos os funcionários.

Neste momento eu pensei que a minha teoria estava corretíssima, que ele dispensou os funcionários porque não tem mais nariz. Como esnobar funcionários sem nariz? Engano meu:

"Dispensei os funcionários para pagar os advogados!", disse Michael sorrindo.

Os advogados devem ser muito caros. Porque muitos funcionários devem ter sido demitidos. Aquela casa é enorme!

"Michael, você se acha assustador?"

Ele me olha fundo nos olhos, percebe a minha cara de susto, e tomando um pouquinho de chá, pergunta:

- Por que eu me acharia?

"Por nada."

Michael não é gay. Nem heterossexual. Ele é o tipo de gente que é assexuada por dois motivos. Primeiro, que ninguém se interessaria por ele. Depois, que ele é tão estranho, que claramente não se interessa por ninguém. Ele não faz nenhuma concessão na personalidade para se tornar agradável ou aprazível.

Pergunta-se do nariz. Por que ele fez tantas plásticas? Para ele. Porque ele se gosta assim.

Todos já gostavam dele como ele era antes, menos ele. Se fosse pelos outros, ele não se transformaria nada; por ele, sim.

Michael branco é horrível. O racista de si mesmo.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


Explodiu o número de visitas a este blog após o anúncio da nova seção: Nu em pêlo.

Isto serve para ilustrar o nível educacional deste país. Enquanto publico textos maravilhosos, com sacadas sagazes e humor agridoce, poucos milhões entram; agora, é só dizer que as mulheres brigadas do momento farão um ensaio nu em pêlo, que mais de cem milhões de pessoas visitam este blog!

Isso mesmo: cem milhões. Mais de cem milhões.

É uma audiência maior do que a novela da Globo, ou da Sonia Abrão. Isto deve facilitar deveras a negociação. A atriz e a nutricionista estavam fazendo um certo charme antes de assinar o contrato. Já estava chegando ao ponto de dizer que charme é coisa de gente bonita; o que elas faziam era uma coisa feia de nome ainda mais feio: cu doce.

Fizemos também uma prévia da capa da revista.

Sucesso na internet.

Celebridades nuas

O blog Eu não sou virgem, Maria! inaugurará nos próximos dias a seção nu.

Posarão nuas as celebridades de todos os níveis e classes sociais, e talvez também um mendigo.

O problema do mendigo é a forma de pagamento. Ele não aceita cheque, porque tem medo de perder; não aceita cartão, porque não tem a maquininha. E em dinheiro, eu não pago!

Estamos negociando, e talvez eu pague em cachorros quente e pãezinhos.

O mendigo não passaria por um banho antes das fotografias. Assim como não cortará o cabelo. Tudo para não o descaracterizar.

Antes do mendigo, peço que se contentem com um ensaio conjunto entre Susana Vieira e Fernanda Cunha, as duas ex de Marcelo Silva.

Talvez tenhamos agora problemas parecidos com os do mendigo.

Porque não pagarei por uma coisa que terá benefício maior a elas do que a mim! Elas terão a honra de posar nuas ao meu blog, enquanto eu terei que aturar fãs de todo o Brasil das duas.

Não estou acostumado com audiência desqualificada.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O nariz e a arrogância (ler este texto antes da entrevista com Michael Jackson)

O nariz é o maior mentor da arrogância! Ele é para a arrogância o que o sertanejo é para o KLB! Ou para a arrogância o que o ânus é para um gay. Se não tivéssemos nariz, não haveria arrogância no mundo.

Porque é por ele que entra o cheiro. E a principal causa da arrogância é o cheiro. O arrogante se sente assim por pensar que cheira melhor que os outros. Há quem não se sinta arrogante até chegar perto de um mendigo. Qualquer um fica arrogante ao sentir o cheiro de um mendigo.

Os cariocas são arrogantes perto dos paulistas por saberem do cheiro do rio Tietê.

É por isso também que os mais ricos são mais arrogantes. Porque podem comprar os melhores perfumes.

A outra causa que dá ao nariz a autoria da arrogância é que só percebemos a curvatura da cabeça pelo nariz. Tape o nariz e incline sua cabeça para cima, numa típica atitude arrogante. A atitude não será mais arrogante!

Porque é só pelo nariz que percebemos arrogância.

Entrevistas com lideranças - Michael Jackson

Não gosto de entrevistar sempre as mesmas pessoas.

Se entrevisto o Bush numa semana, na outra não posso entrevistar alguém como o Colin Powel. Porque eu veria naturalizados os discursos escabrosos dos americanos! Me acostumaria e, pior, até concordaria com o que eles dizem, de tanto ouvir a mesma coisa.

Essencial para uma boa entrevista é o estranhamento. Talvez por isso seja bom entrevistar pessoas estranhas.

Semana passada entrevistei Fidel Castro. Hoje, entrevisto sua antítese.

Muitos pensavam que a antítese de Fidel era o próprio Bush. Mas os dois são muito parecidos! Os dois foram presidentes, os dois mentem, os dois se acham o máximo, e os dois não hesitam em matar alguém para o bem do próprio país. A única diferença que sou obrigado a concordar é que um tem barba, e o outro, não.

A antítese de Fidel é Michael Jackson.

Simplesmente porque um permaneceu o mesmo por toda a vida, e o outro muda sempre! O leitor pode argumentar que um tem nariz e o outro, não. Mas isso é de uma maldade que prefiro dispensar.

Leia mais sobre o nariz no texto anexo.

Michael Jackson, por não ter nariz, pode ser considerado o ser mais humilde do planeta.

Comecei pelo Michael Jackson negro por uma simples questão cronológica. Nas próximas semanas, entrevisto o branco.

Sem pressa.

"E aí, Michael! Qual é a boa?"

Michael me olhou esquisito. Pedi para o tradutor repetir a questão e Michael disse que prefere não responder.

Tudo bem, pensei eu. A gente só precisa responder o que quiser. Senão entrevista vira uma ditadura do entrevistador.

Eu não recusaria uma ditadura do entrevistador. O problema é que causaria uma certa recusa dos próximos entrevistados.

"Michael, qual é a sua idade?"

Ele soltou um palavrão em inglês, que eu reconheci somente pelo tom de voz. Detesto inglês.

Perguntei ao tradutor se havia algum engano, ao que ele respondeu negativamente. Esquisito!

"Qual é sua música preferida?"

Michael se levantou e se retirou da sala.

O tradutor deixou escapar um pequeníssimo sorriso, com tamanho suficiente somente para se perceber maldade.

O tradutor me enganou! Eu perguntava uma coisa banal, e ele traduzia uma ofensa retumbante! Sabe-se lá o que foi que ele perguntou a Michael. Mas foi muito engraçado, e ele ganhou uma gorjeta generosa por tentar me sabotar.

E não conseguir.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O orgulho divino

Deus, como se sabe, é muito orgulhoso de suas obras.

Dizem que é Ele é incapaz de olhar para uma de suas criações sem um gesto de doçura. Outro dia ele elogiou um mendigo de dread locks fedido. Disse que ele era lindo! Os anjos que estavam perto argumentaram:

- Mas é um mendigo!

E Deus:

- Um lindo mendigo!

Antes de ser o Deus da bondade infinita, Ele é o Deus do orgulho infinito.

O maior orgulho é o de ter criado todo o mundo em apenas sete dias. Ele disse:

- Enquanto uma mão estava no Taj Mahal, a outra estava no Cristo Redentor! Uma mão na Torre Eifel, outra na favela de Paraisópolis! Uma mão no homem, outra nas tartarugas! Acho que é por isso que os homens ficam com o pé cascudo.

O que Deus não admite é que o curto tempo das criações não é uma qualidade. Ele fez tudo precisando acabar logo, em sete dias! E por puro capricho. Sete é o número da sorte, ele dizia.

Isto ocasionou uma série de defeitos de fabricação na Terra.

Quando estava terminando o Japão, Deus viu um buraquinho em uma das ilhas. Foi chegando mais os olhos e saiu muita lava deste buraquinho. Era o primeiro vulcão. Deus tapou com o dedo. Mas no México, no Havaí, na Itália, em vários outros lugares foram escapando vulcões. Até a hora em que o décimo primeiro vulcão surgiu, e Deus já não tinha dedos para todos eles. Ele disse:

- Deixa assim mesmo!

As infiltrações são outros problemas. O projeto atabalhoado da Terra desequilibrou as águas. Enquanto a Amazônia tem água que sobra, o sertão, ali perto, sente muita falta. Para isso, Deus pensou:

- Eles transpõem o Rio São Francisco, depois!

As infiltrações causaram também problemas em Santa Catarina, por conta das terras frágeis. Qualquer desequilibriozinho é capaz de derrubas casas e matar tanta gente!

A Antártida, que hoje em dia tem lá seu certo charme, causou muita dor de cabeça ao Ser Divino. Dizem que no sexto dia, às 20:36, Ele tentava de todas as maneiras esquentar aquele lugar. Parece até que fez um buraquinho na camada de Ozônio, para ver se esquentava de vez aquele continente gelado e derretia todo o gelo que estava acumulando.

Disseram que não era boa idéia, que podia acabar com a Terra. Um buraquinho que se abre ali é que nem um furo numa bexiga, ou num balão, que destruiria todo o resto.

Deus, muito calmo, disse o seguinte:

- Mas isso é só daqui a milhões de anos!

O pensamento rápido

por Ewerton Clides

Eu, Ewerton Clides, sou uma pessoa demorada.

Em um jantar, por exemplo, enquanto todos já comeram apresadamente, eu ainda sequer terminei o primeiro copo de suco. Ou no Instituto EWerton clides, enquanto todos meus colegas já terminaram de ler um livro grosso, eu ainda estou no prólogo!

Eles dizem, "Como és lento, Ewerton Clides!".

Eu sou lento, sim, mas por fora. A lentidão é, antes de tudo, um indício. Um indício de que a pessoa pensa rápido. Um indício de que os pensamentos a consomem tanto, a ponto de não conseguir realizar tarefas simples, como comer.

Enquanto todos comem apressadamente, eu penso rapidamente. Penso tão rápido, que sou capaz de compor um livro em meu cérebro em apenas uma noite de insônia.

O problema é digitar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uma recomendação

Quem passa por essas bandas costumeiramente - além de ter muito bom gosto - sabe muito bem que não costumo elogiar outros sites.

Poxa vida. Eu me esforço tanto para manter uma soberba convincente! Elogiar outro site seria como admitir que não sou perfeito. Ou pior: Que alguém é melhor do que eu!

Um segundo desta humildade poderia facilmente desmascarar quase um ano de altivez.

Acontece que desta vez é inevitável.

Li um texto tão magnífico em outro site, que pensei primeiramente:

- Eu poderia tê-lo escrito!

E depois:

- É digno do Eu não sou virgem, Maria!

É um texto que tem uma lógica fenomenal. Ele diz que a etiqueta convencional trata do banheiro para fora. Ou seja, é a lógica de que tudo o que não se pode fazer do lado de fora do banheiro, dentro pode.

Isto não é verdade. Mas vai notar isso?!

É um texto sobre a etiqueta dentro do banheiro. Ele será exibido em três partes. Eis o link da primeira: http://www.mcorporation.com.br/2008/12/12/etiqueta-de-banheiro/#more-373

Mal posso esperar pelas outras duas!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sobre elogios

Um leitor atento exigiu em um comentário que eu falasse por que não gosto de elogios.

Gosto do leitor atento. É claro que aqui não convém ceder grandes espaços a quem comenta, porque isto daria motivo para os outros que comentam exigirem menções honrosas neste espaço. E este espaço é meu, e somente meu. Nem vender, eu vendo.

Aliás, vendo, sim. Só falo que não para valorizar o espaço.

O leitor que quer saber por que não gosto de elogios deve imaginar ao certo que sou muito elogiado. Professores de todas as séries, de todas as faculdades sempre me elogiam à primeira oportunidade. Até os analfabetos têm do que me elogiar, uma vez que meu cabelo é um tanto excêntrico. Ontem mesmo, enquanto subia a rua onde moro, um mendigo disse:

- Bela jaqueta, hein!

Todos são capazes de elogiar. Mas há uma deformação no sentido do elogio. Muitos pensam que se trata de uma atitude de humildade. "Olha como elogia! É muito humilde!", já dizia a minha avó. O que ela não percebe é que o elogio é, pelo contrário, uma atitude de incomensurável soberba!

O elogio é uma aprovação. O sujeito que elogio está dizendo nada mais do que: - "Você está aprovado! Passou no meu teste de seleção!" Ou seja. Elogiar não é nada mais do que um ato de se colocar acima do elogiado. É como a faculdade, que faz o vestibular e aprova os melhores.

A diferença, porém, é que o elogiado não se submeteu ao vestibular!

No meu caso, eu escrevo textos maravilhosos, não é para os leitores! Eu não vesti aquela jaqueta para o mendigo! E meu cabelo é excêntrico porque eu quero, não para os analfabetos terem um dia melhor!

Quem elogia, acha que tudo foi feito para ele. Este reizinho, para fingir que não é tirano, elogia.

É tirano, sim!

Giorgio Armani #5

Jorge e Armando nunca se conheceram.

Os bisavôs deles foram ambos à Primeira Guerra Mundial. O de Jorge pela Inglaterra, o de Armando pela Alemanha. Certa vez, numa troca de tiros, um acertou o outro sem intenções, pois detestavam a guerra e atiravam só por atirar. Mas ninguém morreu. Ninguém morre de um tiro brochado.

Uma vez, numa fila de supermercado, o avô de Jorge olhou pretensiosamente para a avó de Armando. A avó não percebeu, e o avô logo se esqueceu disso quando a moça do caixa disse:

- Sua vez, senhor!

Há cerca de vinte e dois anos, o pai de Jorge, frentista, abasteceu o carro do pai de Armando, advogado. E esta foi a primeira vez em que membros dessas duas famílias conversaram. Foi assim:

- Enche o tanque, meu chapa?

- Comum ou aditivada?

- Já tem gasolina aditivada em 1986?

- Ah, é! Então da comum, né?

- Isso, isso.

Hoje, Jorge fechou o carro de Armando numa subida. É por isso que Armando está com a camisa manchada de café.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Tragédia bonsai #4

A tragédia bonsai é uma tragédia em todos os sentidos, menos no tamanho. Um bom exemplo é a do moço que foi encontrar a namorada naquele dia chuvoso.

Eles entraram rapidamente no restaurante, esbaforidos, sorrindo um para o outro, enquanto o garçom olhava para os dois, esperando que parassem com sentimentalismos e dissessem logo para quantos que era a mesa.

- Para dois, para dois - disse o moço, rindo ainda da situação que não tinha graça.

Ele tomou cerveja clara, ela tomou cerveja escura; ele ficou excitado com o que estava passando na televisão, ela pensou que fosse com ela; ela então ficou excitada também e ele aproveitou e disse para eles irem a um lugar mais apropriado. É claro que ela aceitou, e é claro que ele foi correndo na frente, depois de pagar a conta em dinheiro, porque tinha pressa demais para esperar o cartão passar.

É claro que ele não esperou pelo troco.

No caminho, enquanto abria a porta do carro, a peruca do moço caiu. Não sei se foi por ter batido vento, ou pela chuva anterior que tirou a cola. Acontece que a moça ficou com os olhos estáticos para a careca obscena dele.

Ela andou na direção oposta, como se fosse para ele ir atrás dela e pedir desculpas. Ela ia mesmo ficar mais excitada por ele ser careca, não sei por quê. Ela só queria que ele corresse atrás.

Mas ele pensou que isso era um desaforo, e no desespero da rejeição, gritou:

- Eu também não te quero! Acho que você também usa peruca!

E ela, surpreendida com o que acabara de ouvir, gritou baixinho:

- Eu, não! Peruca, para mim, é coisa de careca!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Entrevistas com lideranças - Fidel Castro

Era preciso fazer uma oposição. Após minha conversa com George Bush, era preciso alguém radicalmente diferente, antes que eu desanimasse ou ficasse idiota.

Eu poderia falar com Fernandinho Beira-Mar, mas ele é por demais poderoso e, sei lá, não gosto do ambiente de prisão. Me causa uma certa caustrofobia e me daria um medo enorme de ser confundido com um preso famoso. Se bem que é difícil ter um preso tão bonito quanto eu. O medo é que é uma cadeia de presos famosos, e como eu sou famoso, um carcereiro distraído poderia pensar que eu fosse o mais novo presidiário.

Passei árduas semanas desanimado. Fernandinho seria o cara certo. Eis que me veio à cabeça: - Por que não um cara barbudo, que fosse mais velhinho e que não falasse a minha língua? Um cara que fosse velho mas que não fosse inteiramente gagá; um cara imortal, mas que fosse preciso entrevistá-lo antes que morresse.

- Fidel Castro?

Sim, sim! O Fidel! Eu precisava muito entrevistar o Fidel. Comprei rapidamente as passagens minhas e de meus assessores rumo a Cuba! Não quis deslocar meu jato particular porque o aeroporto cubano não é confiável.

Fidel sempre me foi um conhecido próximo. Estivemos rompidos por muitos anos, pois desde 1968 ele enviava infindáveis convites para que eu fosse a Cuba, mas eu nunca os retornei. Quando nasci e tive condições de atender seus pedidos, a amizade foi pródiga e não foram raras as vezes em que fiquei até mais tarde na casa dele em partidas infindáveis de video-game.

Ontem falei com ele em 1978, cercado por diversos assessores.

"Fidel. Eu não gosto de gente que fala muito. Porque geralmente essas pessoas se acham importantes demais para serem ouvidas. Mas você é um caso particular, porque se acha importante e ao mesmo tempo é importante. E outra: Te acho inteligente. Você se acha inteligente?"

Ele sorriu com esta minha fala, porque elogios sempre caem bem. Elogio é melhor que Coca Cola, porque não enche a barriga. Melhor que pescar, porque não entedia. Melhor que voar, porque não precisa fazer check in. Mesmo assim eu não gosto. Depois explico por quê.

"Eu me acho inteligente, sim. Como você também se acha. Me lembro muito bem de quando você estava na terceira série e já dava aulas para a professora. Verdade que ela era muito burra, mas não deixa de ser admirável. Rapaz: Terceira série! Na quarta, você já dava palestra para os professores; e na quinta. Bem, na quinta série você abandonou a escola porque seus pais não tinham dinheiro para pagar e você foi descascar batata no nordeste.

O que eu quero dizer é que inteligência não é um mérito. É uma coisa que nos é dada sabe Deus por quem. Se você já era na terceira série, está claro que não fez nada para alcançar. Por isso estudar não traz inteligência. Se soubessem disso, acho que não existiria nem faculdade!

Eu sou muito inteligente e não me vanglorio por isso. Porque uso para o bem comum, para Cuba. Quer um pedacinho de bolo?"

"Não, não, obrigado. Acabei de almoçar!"

"Pega um, pega! Eu acabei de fazer!"

"Obrigado mesmo.”

“Pega, pô!"

"Tá bom, tá bom!" Peguei um pedacinho, e agradeci a Fidel por ele ter insistido, porque estava realmente uma delícia!

"Conversei com o Bush anteontem", eu disse.

"Ah é? Ele usa umas roupas adoráveis."

"Usa, sim. A gravata torta."

"É."

Engraçado. Às vezes a gente vai conversar com uma pessoa que não é nada e temos assuntos demais. Eu estava com o homem que implantou o socialismo em Cuba e não tinha um assuntinho sequer!

"Fidel. Tenho que ir jantar. Estão me esperando."

"Claro, meu filho. Vá, sim. Cuidado com a friagem, hein?"

Demos abraços calorosos e nos despedimos.

Pequenas causas, grandes discursos #4

Eu tive um sonho.

Sonhei que assinava o documento com a procuração que acabava com a fome no mundo.

Todos os líderes mundiais lá estavam. Fidel Castro, Dalai Lama, George Bush, Barack Obama, Lula, Cristina Kirschner, Fernandinho Beira-mar, e muitos outros. Todos em perfeita concordância sobre esta causa urgente.

As emissoras de todo o mundo transmitiam tudo isso em tempo real. Fotógrafos do New York Times não paravam de fotografar, e pude ver o rosto ansioso de Pedro Bial no meio de tantos outros jornalistas.

Neste sonho, a última assinatura era minha. E meu deus: eu estava nu!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Filme de Caso Eloá terá atores globais

Folha online

Segundo a Folha apurou na tarde desta terça-feira, está prevista para o ano que vem a gravação do filme de ficção do caso de Eloá, cujo namorado a seqüestrou e a matou no último mês.

Os boatos surgiram nas últimas semanas, quando o diretor do filme, dono do blog Eu não sou virgem, Maria! (www.eunaosouvirgemmaria.com) noticiou uma convocação de alguns atores de destaque nacional. Nesta convocação está Nivea Stelmann (Eloá), Reinaldo Gianechinni (Lindemberg), Wagner Moura (policial negociador), Antonio Fagundes (pai de Eloá), e muitos outros atores globais.

O mais curioso é que gente que teve papel secundário no caso também ganhará personagem. É o caso de Sônia Abrão, que será interpretada por Regina Duarte, e Brito Jr., interpretado por Renato Aragão - o Didi Mocó.

André Ursípedes, dono do blog, explica: "Eu não convidei os atores. Porque comigo é assim: eu intimo. Se o sujeito topar, ótimo para ele. Se não topar, será execrado no mundo cinematográfico e publicitário."

Segundo André, as filmagens estão marcadas já para o ano que vem: "Creio que é bom começar logo, senão o filme será muito explicativo. Vamos aproveitar tudo o que o público já sabe do caso para poder entrar mais fundo na história."

O meu despertador

Apresento-lhes o melhor despertador do mundo.

Sabe por que os despertadores possuem a má fama? Porque são os que, por não conseguirem dormir, acordam todo mundo.

Meu despertador é tão simpático, que eu não o configuro que me acorde às 8:00; simplesmente peço-lhe para me acordar "lá pelas oito". Tem dia que acerta e me acorda umas oito e pouquinho. Tem dia que me acorda às 7, e eu digo que é às 8, mas ele diz, sorrindo, que ouviu 7. Ontem eu estava dormindo tão gostoso, que ele me deixou dormir treze minutos a mais e se desculpou ainda: - “Desculpe, eu precisava mesmo te acordar. Senão você perderia o emprego, né?”.

Tem dia, que por estar de mau humor, ele me acorda gritando. E até um pouco mais cedo, justamente para eu não conseguir mais; outros dias ele me acorda no meio da noite porque simplesmente não consegue dormir, e nós vamos conversando até o momento em que ele silencia e a o tic-tac começa a bater mais devagarinho. E quando ele está nos bons dias, nem me acorda. Às 13:07 me diz: - “Não te acordei porque não vale a pena levantar para agüentar aquela chefe chata”.

É preciso, porém, que alguém o acorde um pouco antes da hora em que ele irá me acordar, pois ele não consegue me acordar enquanto dorme.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Lindemberg & Eloá, uma história de amor adolescente

Utilizo este espaço visitado por milhões de pessoas diariamente para anunciar os planos de meu próximo filme: "Lindemberg & Eloá, uma história de amor adolescente".

Não é um anúncio despretensioso, já que espero conseguir aqui o financiamento de todo o filme. É claro que sou rico, mas não gasto meu dinheiro com o que será bem aproveitado por todos. Gasto com geladeira, que é para mim; não gasto com meu filme, que todos vêem.

Já aviso os produtores que a realização do filme não poderá ser feita sem que todos os requisitos aqui descritos sejam seguidos. E também digo aos atores escolhidos que este não é um convite, senão uma intimação.

Este brilhante filme recriará o caso Eloá-Lindemberg no cinema. Ele não será uma reconstituição fidedigna, já que neste caso há uma série de falhas do roteiro, como a feiúra de Lindemberg, o não suicídio de Lindemberg e a volta de Nayara ao local do seqüestro.

Ora. Se Lindemberg fosse bonito, teria muito mais com que argumentar com a namorada. Ele poderia dizer: "Eu te escolhi entre todas as outras!" Ou seja, Lindemberg é o caso típico do sujeito que se apega a uma pessoa simplesmente por esta ser a única que o aceitaria! É por isso que escolhi Reinaldo Gianecchini para interpretar o grande protagonista desta história.

Se ele se matasse, o caso teria todos os contornos de uma história de amor digna da alta sociedade, não de um marginal traído que não teve a coragem de tirar a própria vida depois de fazer justiça!

A volta de Nayara ao local de seqüestro foi, antes de tudo, uma gafe e um constrangimento. Ela interrompeu cenas importantes de amor fundamentais à continuidade do filme.

E no meu filme, a Nayara não vai pedir a camiseta de Alexandre Pato. Será a de Rafael Sóbis, para irritar Lindemberg no inferno.

Não contarei mais sobre o roteiro para não afetar as bilheterias.

As locações já foram reservadas em Santo André. Os moradores terão que sair de suas moradias como aconteceu nos dias do seqüestro, com a única diferença de que as filmagens durarão seis meses.

Eis os atores escolhidos (por ordem de aparição):

Lindemeberg - Reinaldo Gianecchini
Eloá - Nivea Stelmann
Nayara - Carolina Dieckmann
Amigos de Eloá - Núcleo Malhação
Pai de Eloá - Antônio Fagundes
Mãe de Eloá - Patrícia Pilar
Policial principal da negociação - Wagner Moura
Brito Jr. - Renato Aragão
Sonia Abrão - Regina Duarte
Policial baixinho - Pedro Cardoso
Novo namorado de Eloá - Lázaro Ramos

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Entrevista com lideranças - George W. Bush

Hoje começam neste blog os relatos de minhas viagens pelo mundo para a reconciliação mundial.

Entrevistei todas as lideranças que me interessavam nos horários em que eu queria e nas cidades deles - pois o patrocínio do blog pagou toda a caravana. Elas precisam de gente que as trate como se não fossem celebridades para que lembrem o que foi que as tornou tão importantes assim.

Foram todas tão simpáticas, que isto serviu para engrandecer minha auto-estima e minha arrogância. Imagine que tomei tapinha nas costas do Bush! Que o Obama me serviu cafezinho! E que mandei o Bono Vox calar o boca enquanto ele cantava aquela música pela milésima vez.

Eu tentei ser humilde.

A minha missão era devolver a paz ao mundo. Mas paz não tem graça. Então todo o caos que retirei de uns cantos, devolvi em outros. Deixei Bush mais mansinho e Obama mais nervoso; O Kaká mais diabólico e o Edmundo um pouco crente.

Para abrir esta série, creio que o presidente dos Estados Unidos é a pessoa mais adequada. Não me importo com este país, mas é legal zombar do presidente nas horas em que as coisas não estão dando certo como se esperava.

O lugar em que Bush me recepcionou foi uma coincidência entre o que ele queria e o que eu desejava: Casa Branca. Porque era a casa dele e também o lugar mais interessante que creio que haja nos Estados Unidos.

Eu fui de terno, que era para poder vestir o botton do Palmeiras. Bush estava de terno porque ele fica mais à vontade assim do que de pijama. Vida de presidente é fogo.

"E aí, Bush!", eu perguntei. Um comprido silêncio se seguiu. Eu silenciei e fiz cara invocada, para pressioná-lo; mas ele não percebeu e foi somente um silêncio que me honraria muito depois, pois é quase que inimaginável um silêncio daquele tamanho em uma agenda tão atribulada.

Bush me perguntou, então, onde é que eu estava hospedado.

"Na casa do Obama!" Ele não tomou um segundo de susto e começou a falar sobre a Cláudia Ohana. Disse que a Playboy dela é um mito, um sucesso, mas foi quando ele começou a falar das novelas que eu percebi: Ele não ouviu corretamente. Confundiu Ohana com Obama. Ao que eu o interrompi: - "Não é Ohana. É Obama". E ele disse: "Ah, que susto! Pensei que fosse no Obama!"

Dei-lhe uma bronca preciosa! Ele é uma pessoa alucinada, que escuta o que quer. Mas parece que não ouviu minha bronca, pois logo a seguir me disse que eu não sou arrogante como pareço no blog. Eu lhe confirmei que eu não era arrogante, antes tímido! E que a timidez é a grande qualidade de nossa época, já que os tímidos não enchem tanto o saco. "Imagine, Bush!, que tem gente que vem me questionando sobre a autoria do Ensaio sobre a cegueta, obra que no mínimo inspirou o Saramago!"

"O que é Saramago?", Bush perguntou.

Eu ri e anotei para usar na minha entrevista intimidadora com Saramago.

"Bush", eu disse, "acho que é preciso sempre diferenciar o pai do filho. Meu pai, por exemplo, faz pizza e eu sou um gênio. Agora. Você e seu pai são idênticos!"

"É, o bigode lembra."

"Mas vocês não têm bigode!"

Bush fez a cara que melhor lhe caracteriza.

"Por que você quis a reeleição?"

"Sabe, rapaz, que quando entrei na Casa Branca o que mais me encantou foi um chocolatinho. Desde então, só penso nesse chocolatinho. É me dar um desses que eu assino qualquer coisa!"

Sabe como era o chocolatinho?

"Ele é pequeno, vem numa embalagem azul e está escrito BIS em cima."

"Tem muitos no Brasil!"

"Jura? Acho que vou para lá em Janeiro, então. Obrigado."

Precisava finalizar esta entrevista insuportável: "Que recado você mandaria para o Obama?"

Antes de responder, fez uma ligação em inglês e não entendi nada. "Eu falaria para ele aproveitar os queijos que deixei no freezer!"

Antes de me despedir, ele me deu um gilete para entregar para a Cláudia Ohana.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Eu não sou Virgem Maria! - a novela - décimo sétimo capítulo - terceiro bloco

Voltamos a apresentar Eu não sou Virgem Maria!

Deus muito se emocionou com a defesa do advogado. Ele chegou a dizer em conversas posteriores que nem Ele faria uma defesa tão bela e tão bem feita! Mas faltava ainda a questão do suicídio. Deus dirigiu-se rispidamente a dona Rodolpha:

- A senhora ia se matar, não ia? Eu tive tanto trabalho para projetar o mundo em sete dias, os seres humanos do barro, e você ainda quer livrar-se do privilégio da vida?!

Dona Rodolpha nesta hora foi tão esperta quanto estava assustada:

- Deus. Eu nunca pedi para nascer. Essa história de que cavalo dado não se olha os dentes é absurda! Imagine que tem gente que dá cavalo estragado unicamente para se livrar dele! Fora que ninguém te pediu para criar o mundo em sete dias. Você tinha quanto tempo quiser. Não coloque na minha conta a sua pressa! Mas eu gostava de viver, Deus. Estava quase aceitando a homossexualidade de meu filho. Acontece que eu não ia me matar. Não! Eu só queria conhecer um bombeiro!

Deus riu da situação e abriu as portas do paraíso para dona Rodolpha.

Eu não sou Virgem Maria! - a novela - décimo sétimo capítulo - segundo bloco

Voltamos a apresentar Eu não sou Virgem Maria!

Péricles pede primeiramente que Deus lhe devolva as roupas. Muito da credibilidade do advogado lhe vem da vestimenta. Ele tem a consciência de que tudo o que falar de nada servirá se não estiver bem vestido. É como um grande texto como este em um blog ruim.

- Mas estamos todos nus!

Péricles percebe que Deus está realmente peladinho! Ele toma um grande susto e pede então que todos se vistam.

- Mas está muito calor! - Diz Deuu, achando muita graça da situação.

- Eu vou me vestir, queira o senhor ou não!

Deus veste Péricles, mas a situação se torna constrangedora unicamente ao advogado. É como ir vestido normalmente a uma festa fantasia!

Deus começou o julgamento:

"Péricles. A defesa de dona Rodolpha é muito difícil. Ela iria ao paraíso certamente se morresse no ano passado. Mas neste ano cometeu duas gafes que certamente são capazes de lhe tirar este privilégio.

Primeiramente renegou o filho unicamente por ele ser homossexual; depois, tinha resolução certa de cometer um suicídio! Foi um tropeção que a livrou do pior!"

Foi nessas palavras que Péricles fez a defesa de dona Rodolpha:

"Deus. Todos concordamos que o Senhor é modelo maior de perfeição.

Não é à toa que quando comemos um prato gostoso de lasanha o chamamos de divino! Que na Bahia se coma um manjar dos Deuses. Que os arrogantes acham que o Senhor é para o céu o que eles são para a terra. Que os nazistas nojentos mentem que o senhor seja loiro.

Por isso, os melhores seres humanos devem sempre tomar suas atitudes como um caminho a ser seguido. Se você descansa aos domingos, devemos também descansar nesse dia. Se você pede que as crianças se aproximem, nós também pedimos. Se você come peixe, peixe comemos. Se você renega os filhos por não seguirem uma ordem sua, nós também devemos renegar os filhos quando não cumprem uma ordem nossa.

Assim como você disse naquele dia para que Adão e Eva não comessem uma maçã, dona Rodolpha, em 23 de maio de 1976 disse para Lúcio o seguinte:

- Meu filho, não seja gay!

Adão e Eva comeram a maçã e o Senhor os renegou; Lúcio teve relações homossexuais e dona Rodolpha o renegou. Há alguma diferença entre Sua atitude e a dela?"

Estamos apresentando Eu não sou Virgem Maria!

Eu não sou Virgem Maria! - a novela - décimo sétimo capítulo - primeiro bloco

Dona Rodolpha tenta subir ao último andar de seu prédio para se matar. Mas ao sair de casa, tropeça e cai por oito lances de escada. Engraçada, a morte de alguém que ia se matarmas morreu sem querer. Deus:

- Rodolpha. Você teve uma sorte de que não faz idéia! Ia diretamente para o inferno, mas esse tropeção lhe garantirá pelo menos a chance de um julgamento!

- Obrigada, Deus! Você tem certeza que eu morri?

- Tenho, sim.

- E agora é que vai ser meu julgamento?

- É.

- Só falo na presença de um advogado!

- Ok! - diz Deus, muito bem humorado.

Neste momento, Péricles Silva Souza Augustes Bernemontes, um advogado de renome, sofre um acidente gravíssimo que lhe tira a vida.

- Pronto! - Diz Deus. - Agora você já pode falar. Péricles, defenda esta mulher, a Rodolpha!

Advogado e ré se entreolham, dando assim um breve cumprimento.

- Comece a defesa, Péricles!

Estamos apresentando Eu não sou Virgem Maria!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Funcionário do mês - Novembro


Deus é muito maleável. Ele é o único que dialoga com palmeirenses e corintianos durante o clássico; com iraquianos e americanos durante a guerra; com homossexuais e skinheads durante a briga. Não só isso. Ele falou com Platão e fala com os emos; com Cabral e com os hippies; com este blog com com a bíblia.

É por isso que Ele nunca saiu da moda. Por ter essa capacidade de agradar a todos ao mesmo tempo e em tempos diferentes. Ele tem alguma coisa de eterno, que se adapta facilmente a todos os tempos, sem que faça nenhum grande esforço.

Enquanto rezava para saber qual seria o funcionário deste mês, Ele disse para eu me preparar, que seria um cara surpreendente. Que eu conheceria sem conhecer. Que fosse pop e inteligente.

- Rapaz! Ou melhor: Deus! Você não está falando de mim, né? - eu disse, num êxtase religioso.

- É claro que não. Você já vai saber.

E Deus me surpreenderia deveras ao longo da reza. Deus é foda.

Veja o que Ele disse:

"O funcionário deste mês é tão merecido, que se sobreporá aos funcionários dos outros meses. Enquanto os outros funcionários são de apenas um nixo determinado, o deste mês une duas coisas tão diferentes e inimagináveis, que me faz em muito orgulhar de minha criação humana.

Trata-se do famosíssimo Lenin Kravitz!

Ele uniu o socialismo soviético ao pop americano com tanto sucesso, que hoje em dia é idolatrado pelos dois países.

Seu primeiro sucesso, Sovietic Woman, surpreendeu a todos. "Como que ele fala de uma mulher soviética em inglês?", me perguntou uma fiel. O que lhe respondi foi: "A pergunta não é essa. A pergunta que você deveria fazer é: Como eu acabo gostando de uma música que fala de uma mulher soviética em inglês?"

Este é um sujeito que simplificou e desmistificou as relações humanas do século vinte. É o comunista mais capitalista do mundo! E o capitalista mais comunista também.

Muitos me perguntavam como eu iria resolver os problemas do mundo naquela guerra congelada. Eu lhes dizia que era função de um enviado muito divertido e inteligente, que surpreenderia a todos. Lenin Kravitz.

Você deve se perguntar do porquê ele ser funcionário somente neste mês. É que ele faz aniversário."

Sobre o dia da consciência feia

A participatividade deveria ser um talento raro. Este é, sim, um dos grandes defeitos de Deus. Ele distribui participatividade aos bons e aos ruins sem o menor critério! Quanto talento deixamos de apreciar por um gênio não ser participativo! E quantas besteiras temos que ouvir por um idiota ser participativo!

Pois um leitor participativo deste blog comentou em ocasião de minha proposta do dia da consciência albina, que os feios é que deveriam ter seu dia, já que são o mais discriminados.

Entendo perfeitamente o leitor, pois tenho uma incomensurável capacidade de compreender ignorâncias. É claro que deve ser um leitor bem intencionado, é claro que deve gostar muito de mim, como é claro que foi um comentário despretensioso, impensado.

Já é hora de pararmos de fazer coisas despretensiosas. Ainda mais em um lugar tão importante como este blog. Imagine você que os comentários aqui vem aos milhões. Não pense que isto é um convite ao comentário qualquer, pois ao mesmo tempo em que o comentário se perde em meio à multidão, a multidão tem a possibilidade de lê-lo.

Meu leitor. Os feios já atrapalham demais a nossa vida.

Você entra no ônibus em um dia agradável e vê um sujeito feio. O que faz? Aliás, o que você sente? É como se o dia se tornasse menos agradável e menos bonito. Deus teve o trabalho de fazer um belo dia de sol, Kassab teve que limpar a cidade inteira, para vir um feio ao seu lado e estragar todos estes esforços conjuntos.

Os feios, se não fossem úteis na indústria, deveriam passar a vida em casa se escondendo.

Da mesma forma que eu, pessoa de grandessíssimo talento, me exponho aqui, o feio deve se esconder sempre que possível. O feio tem que ir de casa ao trabalho, do trabalho para casa.

É por isso que não se emprega feios em finais de semana. Porque são dias de lazer, de beleza pelas ruas. Os feios estragariam a alegria do final de semana. Os bonitos adoram os finais de semana por verem menos feios nas ruas; e os feios adoram os finais de semana por não terem de expor a própria feiúra para todos.

A ignorância do leitor deixou escapar outra coisa importante: que os feios estão incluídos no dia de consciência negra, da consciência albina, no dia da mulher, dia das crianças, dia do funcionário público...

Seja qual for o feio, ele sempre vai ter um feriado no qual se enquadrar. Até Jesus, se fosse feio, teria o Natal.

E se o sujeito for feio, muito feio, que até os feriados o rejeitem, ele não se desespera totalmente. Porque tem o ano novo.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Clássicos? Sei. - Chico Buarque - A banda

Chico Buarque diz coisas inteligentes mas não é arrogante; é bonito mas não tem o nariz empinado; tem olho verde mas não é nazista; tem voz de pato e mesmo assim canta. Enfim. Ele é o que se pode chamar de um cara legal.

Nos idos anos 70, não passava um dia sem que ele tentasse falar comigo. E não tinha um dia em que eu retornasse as ligações dele.

Ele queria tanto lutar contra a ditadura, mas eu apoiava veementemente os militares! Ele precisava de mim, mas era contra mim! Um dia ele perguntou:

- Por que você apoia os militares?

E eu respondi, me lembro bem: - "Por causa do verde. Adoro verde! No dia em que a juventude for verde, eu a apoio!"

Chico riu, e disse que me mandaria uma carta em sigilo. Eu respondi que nunca quebraria o sigilo, a não ser que ele fosse flagrado praticando relações sexuais na praia.

Eis a carta:

"André, meu chapa,

Eu deveria odiá-lo. Você apóia os militares no momento em que o Brasil mais precisa que você seja contra eles! E só por causa da cor! Só de pensar que se eles fossem azuis, hoje estaríamos em um momento diferente e melhor, sinto desânimo e chego a ter calafrios!

Mas é impossível odiar alguém tão brilhante, tão genial. Quinta-feira passada cheguei a compor uma música de apoio aos militares unicamente por sua influência. Rasguei rapidamente, antes que alguém visse. Creio que foi inútil, pois a vermelhidão na minha face me denunciava como o papel higiênico sujo denuncia a bunda.

Políticas à parte, vamos à arte.

Estou com passagens compradas para Salvador para criar uma nova onda musical no Brasil. Já tem até nome: Axé.

No axé, valorizar-se-á o corpo e menos a música através da música. Fui claro? A música servirá para o corpo feminino como o Dedé serve para o Didi, nos Trapalhões.

Já compus a primeira música, "A Bunda", que segue no verso desta carta. É claro que preciso da sua ajuda. Melhore algumas concordâncias. Empreste-me sua genialidade.

Você acha que umas dançarinas cairiam bem?

Abraço,

CB
"

Eis alguns trechos do original de Chico:

"Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a bunda passar
Cantando coisas de amor...."

"O homem sério que contava dinheiro parouO marceneiro que consertava a pia parouA namorada que tomava refrigerante arrotouPara ver, ouvir e dar passagem"

"O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensouQue ainda era moço pra sair do atraso e traçouA moça feia debruçou na janelaPensando que o vizinho tocava uma pra ela"

E a minha resposta à sua carta:

"Chico,

Eu gosto tanto de você, que nem cobrar pelos serviços, vou. E também você não precisava escrever de verde. Não apoio mais os militares. A nova onda é o vermelho!

Acho melhor você deixar o axé para depois. Para os anos 90, mais precisamente. Porque este é um movimento essencialmente burro. Se vir de alguém inteligente como você e numa época inteligente como essa, não terá o menor efeito. Sem dizer que isso mancharia a sua carreira.

Quero dizer. Você ganharia muito dinheiro agora e nada mais tarde. Fiz as contas, e creio que se você viver até 2010, será até mais lucrativo que você não seja o precursor do axé, porque os salários menores até lá ultrapassarão o grande dinheiro que você receberia hoje.

Fora que a letra está horrível. Ninguém pára para ver a bunda passar. A pessoa está passando e vê a bunda de rabo de olho. Parar para ver bunda é meio gay. Você é gay?

Fiz umas alterações que muito vão agradá-lo. Agora não é mais "A Bunda". Mudei para "A Banda". Percebe que fica melhor? A gente pára para ouvir música, principalmente se for uma banda interessante. Pense no seguinte: Uma bunda passando na rua estará sempre coberta por um shorts, não é? A banda, não! A banda estará toda exposta, e todo mundo poderá olhar para ela.

Tenho só uma lição de casa. Se quer que te chamem de gênio, espalhe como quem não quer nada que a banda quer dizer, na verdade, democracia.

Vai ficar chocante.

Na outra folha está a música prontinha.

Grande abraço!

André Ursípedes

ps: Pergunta para seu avô o significado de aacheniano.
ps2: Marceneiro não conserta pia.

Ajude os necessitados de Santa Catarina

Quem lê este magnífico blog, geralmente tem a idéia de que o autor seja uma cínico da pior espécie.

Uma freira, após a leitura, disse, com um sorriso virgem no rosto: - "Horrível! Tenebroso! Pavoroso! Fedido!" Foi este o maior elogio da vida. Porque a freirinha, coitada, foi obrigada a exprimir exatamente o contrário do que sentiu. Enquanto ela dizia horrível, eu ouvia maravilhoso! Tenebroso, não; era sensacional! Só não entendi o porquê de fedido.

Entenda que a superioridade é vista hoje em dia como um simples cinismo, ou algo muito pior. Se Pelé tivesse um blog tão bom quanto suas jogadas, ele seria chamado de cínico.

Então caiu o maior temporal em Santa Catarina, e vocês pensaram que eu não iria fazer nada. Pois farei aqui uma ação maior do que se fizessem um Criança Esperança para essas vítimas. É uma campanha em que doarei todos os comentários.

Agora é assim. Você comenta aqui, e os necessitados de Santa Catarina agradecem.

Esta é a primeira atitude beneficente que é benéfica para quem faz a solidariedade. Pois agora há quem leia os comentários.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pergunta do aluno

Terça pela manhã, após tomar meu achocolatado em porções generosas, meu telefone tocou estridentemente. Claro que ele tocou como sempre toca, e não sei se por que era de manhã e eu estava mais sensível, ou se foi por puro pressentimento mesmo, era um toque estridente demais, desesperado demais.

Era de um aluno meu de Desaparecida do Norte.

Eu não gosto de receber telefonemas, mas este aluno é um caso específico. Pois ele se matriculou na faculdade na qual dou aula simplesmente por minha causa. Ele vem todas as terças-feiras presenciar minhas aulas e falta os outros dias justamente para reprovar o ano e poder assistir sempre minhas aulas. É uma grande pessoa.

Ele fez a seguinte pergunta:

Você tem alguma coisa edificante para me dizer nesta manhã de Terça-feira?

A minha resposta foi que sim, que realmente tinha uma coisa edificante para lhe dizer naquela terça-feira. Era uma coisa que mudaria a vida dele. Que teria influência em muitas horas semanais.

Eu disse para ele não me ligar nunca mais, e que também não fosse mais às minhas aulas. Porque parecia ser um enorme mal-amado. Para ele parar com aquele fanatismo, que estava me assustando!

E que cortasse o cabelo.

Na loja de armaduras

Era uma sexta-feira quando um cavaleiro do zodíaco entrou na loja de armaduras. Ele não desconfiou, mas todos tinham os olhos puxados. Inclusive ele. Eu também não acharia estranho, mas reparei no VT. Pensei:

- Esses japoneses dominaram mesmo o mundo!

Fora isso, nada de mais. Armadura do Seya, armadura do Shiriu. Quando um atendente chegou junto e perguntou:

- Como posso ajudá-lo?

Não sei se foi em grego ou em japonês. Contratei uma tradutora que sabia as duas línguas, e esqueci em qual que eles estavam falando. Ah, sim. A tradutora também falava português.

Ele respondeu:

- Estou procurando uma armadura que se adapte ao meu dia a dia. Que quando estiver frio, seja quente; que quando estiver calor, seja fria. Uma armadura que não atrapalhe no banheiro, e que eu possa colocar rapidamente de manhã. Ah! Importantíssimo. Uma que não pegue mancha muito fácil. Olha essa aqui. Estragou depois que eu comi macarrão na casa da minha mãe.

O atendente, muito solícito, disse que sabia do que ele estava precisando. Tratava-se da nova armadura dry fit, da Nike.

- Não gosto da Nike.

- Tem imitação da Adidas, quer dar uma olhadinha?

- Sim, sim.

Ele se encantou por aquelas armaduras que possuíam três faixas no ombro.

- Quero a marrom!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Aviso importante

Os servidores se assustaram pelo enorme aumento de acessos neste blog após sua última aparição em um programa de TV de alcance nacional. Antes acostumados a jogar paciência durante todo o expediente, agora têm que se esforçar para atender cada usuário de maneira convincente.

Eles pedem aumento de 53%, além de vale refeição e direitos trabalhistas. Mas já lhes avisei que aumento não se dá para anão, pois é descaracterizante.

Ah, sim. Eles são anões.

Eles muito bem compreenderam que a honra de trabalhar para este blog está acima de qualquer compensação financeira. Os serviços normalizar-se-ão nas próximas horas.

De nada, pelo aviso.

Eu não sou Virgem Maria - a novela - décimo sexto capítulo - segundo bloco

Voltamos a apresentar: Eu não sou Virgem Maria!

Dona Rodolpha, sempre com a Guinzo na mão, olha firme para Lúcio. Enquanto isso, tira um baton da bolsa e o corta em três fatias com a faca.

- Não se assusta, Lúcio?

- Um pouquinho, mamãe!

- Fofo.

Agora é a estátua de leão da sala que dona Rodolpha corta em fatias. Que faca poderosa! Mas que faca perigosa!

Lúcio pensa se é melhor sair correndo, e para sua sorte toca o telefone. Ele corre para atender, mas a mãe costa o fio com a faca!

- O que é isso, mamãe?

- Guinzo, meu filho. Essas facas são ótimas! - dona Rodolpha já baba um pouquinho na parte esquerda da boca.

Lúcio fechou o ânus que estava preparando para abrir para o Flavinho!

- Que indecência!

- De quê, mãe?

- Dessa novela!

- Ah, sim! Uma indecência! Tem motivo para falar do meu cuzinho?!

- Não tente me distrair, que eu estou muito concentrada! - E dona Rodolpha enfia a faca na parede e tira sem fazer o menor esforço.

- Mas essa faca é muito afiada, mamãe!

Lúcio pega a lista telefônica para se defender, e dona Rodolpha tenta cortar inteira, mas só consegue acertar uma folha.

Súbito, abaixa as calças do filho para cortar-lhe o pênis.

É claro que não conseguiu. O papel fez a faca perder o corte.

Eu não sou Virgem Maria - a novela - décimo sexto capítulo - primeiro bloco

Dona Rodolpha observa Lúcio distraído ao telefone:

- Tá bem, Flavinho. Fofo! Te ligo mais tarde. Beijo, tchau!

- Lúcio! Ao telefone com a Flavinha?

- Não, mamãe! Era o Flavinho!

Música de suspense profundo.

- Mas você nunca foi de mandar beijo ao Flavinho, meu filho! E fofo é mulher que chama homem! O que aconteceu, meu filho?!

- Está tudo escrito na carta! Ai, mãe, estou me sentindo tão bem assim!

- Pois eu não estou! - diz dona Rodolpha, e tira uma faca Guinzo na bolsa.

O suspense aumenta. Lúcio olha assustado para a mãe. E é nesse momento que ela percebe que o filho tinha passado uma base na unha.

- Não dá para continuar desse jeito, Lúcio! Eu não tenho sangue de barata!

- Se você não tem sangue de barata, mamãe, que faça uma transfusão!

Estamos apresentando: Eu não sou Virgem Maria!