sexta-feira, 31 de outubro de 2008

André estava muito aflito para a entrevista de hoje. "O curativo", ele disse. "Meu curativo está doendo. Hoje saiu mais sangue que na novela Vamp!", para me assustar. "Mas fique tranqüilo que está tudo bem", para me tranqüilizar. "Por enquanto", para me deixar esperto.

Ele estava com as olheiras tão grandes, que chamavam mais atenção que as orelhas, com perdão da parecença entre as palavras. Era até capaz que as olheiras ouvissem com mais nitidez que as orelhas. Estavam tapando os olhos do menino. Parecia que alguém estava cobrindo a piscina com aqueles plásticos terríveis.

A recuperação da cirurgia está indo bem, mas ainda não fechou completamente. Eu tive a oportunidade de olhar o buraco e estava tudo em carne viva. Se agora está melhor, não consigo imaginar como é que estava pior. "Doía mais", ele explica. "Muito mais", para me impressionar. "Insuportável", agora forçando.

Eu: E aí, meu chapa. Qual é a boa?

André: A boa é que voltei a trabalhar, voltei a estudar, voltei a ler. Pergunte-me qual é a muito boa.

Eu: Qual é a muito boa?

André: A muito boa é que agora posso atualizar meu blog como outrora! Saiba que tenho novos planos para o blog. Mas é segredo.

Eu: Mas para mim você pode contar, né?

André: Mas é claro! O blog terá uma bandeira, um hino, a parte de cartas será melhorada, a novela será atualizada com maior freqüência, vou começar a fazer propagandas em locais públicos e serei contratado por uma grande montadora para fazer publicidade nu em pêlo. Uma dessas novidades é mentira, para despistar.

Eu: Muito boa sua idéia. Assim elas serão novidades mesmo você tendo contado! Que gênio!

André: Não tente me agradar, que eu não gosto.

Eu: Eu também não gosto de te agradar.

André: Ótimo. Ficamos assim.

Eu: Fale, pois, uma frase de efeito que justifique esta entrevista.

André: Salada é um prato que se come frio.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pequenas causas, grandes discursos #2

Pai,

O sal não é só importante para a humanidade. Ele é essencial. Arrisco-me a dizer que sem o sal, a humanidade não teria um terço do status atual e nem metade da população! Porque não vale a pena viver se não for para uma comida salgadinha.

Imagine você comer a lasanha da vovó sem sal? Ou quando sentisse fome durante o trabalho, comer bolacha de água? Sem sal, meu pai, não teríamos nem como distinguir o mar dos rios! E os sujeitos sem sal sequer teriam uma definição, porque seriam como os outros.

É certo que nós teríamos menos azar porque não derrubaríamos sal. Mas veja: Não compensaria ter sorte sem o auxílio do sal. A vida sem sal já seria um grandessíssimo azar.

Por isso, pai, não posso me privar do sal nesta salada. Passa o sal?

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Oitavo capítulo, bloco único

Na Rússia, a procura de um Lada* que pudesse transportá-lo aonde quer que seu pensamento comunista ordenasse, Lúcio procurou uma revendedora autorizada do veículo.

- Não tem. - disse um velho de aproximadamente 46 anos em tom lamentoso. Eu sei muito bem que com 46 anos dificilmente alguém é velho, a não ser que esteja nos anos 1950, 60, ou menos que isso, quando a expectativa de vida era deveras menor. Mas este era um senhor saudosista. Ele gostava muito mais dos anos antigos, e praticamente vivia neles. Por isso ser velho aos 46 anos.

Lúcio pensou: "Poxa vida."

Se fosse uma pessoa mais profunda e de melhor vocabulário, ele teria pensado: "É de uma incomensurável pena que não exista uma revendedora oficial de Ladas, embora Ladas ainda existam. Como pode?! Acho que criarei uma, quando minhas notas pecuniárias me favorecerem. Aquele senhor taciturno deve lamentar tanto quanto eu! Eu lhe daria um amplexo apertado se estivesse em um dia emocionado."

Ocorreu que Lúcio achou um anúncio em um jornal de Moscou e comprou um Lada antigo de cor branca.

Na Avenida Lênin, às 18 horas de um domingo, ele esmagou o carro em uma árvore de um jeito tão feio, que parecia de propósito. E o carro também pareceu uma sanfona. Mas ninguém pensou isso pela falta de popularidade das sanfonas na Rússia.

Primeiro os curiosos se preocuparam em saber se o homem que estava dentro do carro estava vivo. Depois de sair com inúmeros ferimentos, embora vivo, os curiosos todos trataram de adicionar-lhe alguns machucados, porque não se bate um Lada tão precioso e antigo daquele jeito.

* Lada é um carro

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Carta - Fidel Castro

Fidel Castro,

Quando você chegou ao poder, minha reação foi nula. Você tirou uma ilha da miséria, da prostituição e da fome. Mas reconheço que a maior glória deve ter sido tirá-la do capitalismo.

Não ouvi seus primeiros discursos. Horas compridas naquele calor cubano com palavras cheias de um líder que se orgulha do povo que se orgulha do líder. Nenhuma dessas palavras me atingiram. Nem quando você disse um palavrão; nem quando você falou do Palmeiras; nem quando você fez graça; nem quando você gaguejou, provocando risos na platéia. Não reparei.

Sua coragem em peitar os Estados Unidos, Fidel, foi maravilhosa. Um país pobre contra o rico. O pobre que não se importa de ser pobre contra o rico que não se conforma que os outros não queiram ser ricos. Você liderou o país com um socialismo convicto. Mas eu não percebi nadinha.

A União Soviética caiu, e graças às suas forças de união, Cuba continuou prosperando sem os mínimos recursos. Belíssimos engenheiros, grandiosos médicos, incríveis jornalistas, velozes atletas, todos continuaram sendo formados por idéias ricas sem dinheiro. Eu nem aí.

Sabe o que acontece, companheiro? Nasci só em 1987!

Abraço,

André

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

André Cintra veste camisa do Palmeiras após derrota

Na manhã desta segunda-feira, muita gente se indignou com a escolha de indumentária de André Cintra, 21. Tratava-se da camisa do Palmeiras verde-limão. E a indignação não se deu por André, um tradicionalista, usar o verde pouco usual, que desonra as cores do time. Foi por vestir o manto após uma derrota.

"Quando vi André com aquele uniforme, não acreditei!", diz o porteiro do prédio do rapaz, "pensei que estivesse vendo coisas, ou acordado no dia errado! Como se usa a camisa do time depois da derrota?! É pedir para passar vergonha!", completa, já exaltado.

André se explica. Segundo ele, camisa de time raramente deve ser usada em vitórias. "Você deve usar principalmente a roupa do seu time quando ele perde. Vestir a camisa só quando ganha é usar o time para se promover! Eu faço o contrário. Cedo a minha pele para meu Palestra quando ele mais precisa de mim!", diz, orgulhoso de ser palmeirense mesmo que o time perca em casa.

André saiu de casa só a passeio. Após uma cirurgia bem sucedida, esta semana está sendo utilizada como treinamento para voltar a ter uma vida comum e saudável.

Carta - Virginia Woolf

Virginia Woolf,

Quando se dá o nome a alguém, é preciso fazer um esforço de pensar mais na pessoa do que em si mesmo.

Por exemplo. Eu queria muito ter um cachorro de nome Gato. Isso, só para dizer que tenho um cachorro com esse nome. Sabe por que não quero mais? Porque pensei no cachorro. Deve ser muito ruim ter um nome de outra espécie.

Agora, seus pais, Virginia, não pensaram em você. Será que todo seu sofrimento vale uma piada? Deve ser horrível ter um nome que lembre genitália.

Graciosamente,

André

Carta - Galileu Galilei

Caro Galileu Galilei,

Você não sabe a dureza que é escrever uma carta que jamais será lida pelo destinatário. Você passa horas pensando, minutos escrevendo, segundos preenchendo o envelope, para a pessoa simplesmente não ler.

Há vários motivos para que isso aconteça. Já mandei uma carta para o Ronnie Von e ele não leu porque não sou famoso. Já escrevi para o Chico Buarque e ele não leu porque não sou inteligente. Para o Richarlyson e ele não me leu porque não sou gay. E agora que te escrevo, sei que você não lerá por um motivo muito mais nobre do que os outros: você não me lerá porque já morreu.

O que me intriga é que quando escrevi para o Ronnie, para o Chico Buarque, para o Ricky, foi na esperança de que lessem! Agora que lhe escrevo, não tenho sequer essa esperança. Aliás, o motivo principal para esta carta é uma pergunta:

- Galileu Galilei, por que eu lhe escrevo esta carta?

Eu não sei. Se souber, por favor me avise.

Grande abraço do amigo e admirador,

André

Funcionário do mês - Outubro

Uma conversa de esquina:

- Menina, dá um trabalho ser Deus!

- Ah, é?! Dá nada, menina! Por que daria?

- Mas é claro que dá! Por exemplo. Hoje eu estou muito cansada porque tive que ir buscar meu filho lá longe. Assim. Um filho já me deixa muito cansada. Quando a gente tem um filho, tem que tomar conta dele, entende? Deus tem seis bilhões de filhos! E tem que tomar conta o tempo todo!

- Também não é assim, né? Veja só. Você, para buscar seu filho, teve que pegar um ônibus. Deus traria seu filho só com um pensamentozinho.

- É. Imagine você um pensamentozinho vezes seis bilhões!

- Deus não é que nem a gente que tem uma cabecinha deste tamanho! Deus tem uma cabeça enorme, com várias repartições, que pensa tudo isso de letra!

- Olha, você está menosprezando o trabalho de Deus!

- E você está menosprezando o próprio Deus!

Acalmem-se, meninas! Acalmem-se, porque vocês duas estão erradas. Deus tem muito trabalho, mas ele não liga de ter tanto trabalho. Ele até que gosta! Um dia eu estava rezando livremente às quatro horas da manhã, pensando que encontraria o acesso mais disponível, e Deus me disse para rezar a hora em que eu quisesse, pois ele é onipotente, onipresente e uma coisa que eu esqueci.

Isto parece que não tem muito a calhar com o funcionário do mês, mas vocês logo verão que tem, e muito.

Quero primeiro fazer uma ressalva que sei estar errada. Pois questionarei Deus. E quem ganha contra aquele que dá as regras? Contra aquele que dá as regras e muda na hora que quiser! E ainda, se estiver perdendo - e não vai estar - diz que não estava jogando sério e começa a arrasar geral!

Seguinte. Deus está sendo muito conservador nas escolhas de funcionário do mês. Tudo bem que tenha escolhido Bernardinho, aquele homem inconveniente que está sempre suado. Foi essa a origem da frase: "Os suados entram deslizando no reino dos céus."

Tudo bem. Bernardinho, tudo bem. Pois veio David, uma escolha renascentista. Não gosto de estátuas. Elas são exemplo para nós, mas exemplos deveras injustos,compreende? Porque minha mãe, na hora de me fazer, não fez corrigindo. Ela me concebeu e pronto. Agora. O queixo de David ficava muito grande? O famoso escultor diminuía! O pênis ficava ereto em momentos inoportunos? O famoso escultor capava! David com cisto pilonidal? O famoso escultor lhe operava de forma perfeitamente indolor!

Uma estátua não nos estimula a melhorar! Uma estátua é algo muito distante, minha gente, meu Deus!

Eu revelo antes do Divino que o funcionário deste mês é Einstein. Claro que a homenagem é merecida. Mas Einstein?! Como ganhar do Einstein?! Assim, o funcionário do mês vai perdendo sua função primordial que é a de incentivar as pessoas a serem melhores todos os dias! Porque eu não me animo mais a ser melhor, sendo que alguém tão inalcançável é que ganhará o prêmio.

Com vocês, Deus.

"Nervosinho, hum? Nesta minha explicação vocês entenderão o porquê deste prêmio a Albert Einstein. Não haverá chororô, como posso ver agora.

O que credencia meu querido Albert a este prêmio não são suas façanhas científicas. Tudo o que ele disse, tudo o que ele escreveu, eu já sabia muito antes de ele ter pensado em nascer. (Este homem é tão inteligente, que pensou antes de nascer e continua pensando após morrer*)

É claro que eu sei que a figura Einstein é um pouco assustadora. Aí está o lado extremamente positivo: Einstein assustará os preguiçosos, que não lerão o texto inteiro. Os laboriosos lerão o texto e tirarão uma enorme vantagem disso, pois é um delícia falar com Deus, segundo me consta.

Reparem na soberba que alguns têm ao fazer serviços mínimos! O sujeito frita um bife e o nariz já lhe empina. Faz um download difícil e já olha de cima para baixo! Compra um frango com desconto e já quer um elogio! Einstein fez maravilhosas coisas e mesmo assim foi sempre um sujeito simples.

Pense você, que critica tanto os arrogantes. Você não é arrogante por mérito próprio? Ou será que você não é arrogante somente porque não tem qualidades para se exaltar? Se você tivesse descoberto todas as teorias da física moderna, continuaria dando beijinho na mamãe antes de deitar? Falaria com a empregada no mesmo tom? Deixaria esse topetinho? O topetinho não tem nada a ver, me desculpe.

Einstein nunca menosprezou um cientista que não tivesse inventado nada. Também nunca se achou superior aos familiares por eles não saberem o que significa E = mc². É por isso que ele é o funcionário do mês. Por ser tão bom e ter tão pouca soberba. Parabéns, Albert.

* Viram como eu escrevi MORRER? Por favor, minha gente: não usem falecer."

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Eles, os portugueses

Olá, eu sou Shimizu Suzuki, e vou falar de um país que apesar de ter poetas como Camões e Fernando Pessoa, é conhecido pela burrice. É o país também dos jogadores Cristiano Ronaldo e Deco. Ops! O Deco, não. O Deco é brasileiro. Mas ele não é relevante a ponto de fazer falta a algum país. Podemos dizer que é o país de Cristiano Ronaldo e Eusébio. Do Costinha, também. É claro que falo de Portugal, o país do bacalhau. Vocês me desculpem a rima. Japonês não rima; quando rima é sem querer e tem a obrigação de pedir desculpas.

Em Portugal, quem não tem bigode sofre de um preconceito somente comparável ao do sujeito que vai a um casamento sem gravata. A gravata, como vocês sabem, é o bigode do vestuário. Não serve para nada, mas em alguns lugares são mais fundamentais do que coisas que realmente servem para alguma coisa. Basta ver o sujeito português sem cueca e com bigode.

Uma vez um português bigodudo foi a uma sorveteria e pediu um picolé de limão. O atendente disse que só tinha de massa. Aí o português pediu nhoque.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Sétimo capítulo, segundo bloco

Uma capa de jornal, em russo. Na foto principal, está Lúcio com uma loira um pouco maior que ele - e olhe que Lúcio tem 1,93m. A manchete: "Lúcio, o brasileiro eleito o melhor militar de toda a Rússia"

Na cama com a mulher da capa e mais outras duas, Lúcio pegar o jornal e começa a tocar a música de fundo: "Tudo que eu quero é ter o mundo aos meus pés" Lúcio toma uma vodka num gole muito comprido. E a música continua: "E nada mais!" *

* A banda Autoramas cedeu gentilmente a música Megalomania à novela Eu não sou Virgem Maria!

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Sétimo capítulo, primeiro bloco

Lúcio pega um avião vermelho, azul e branco. As aeromoças falam numa língua que você não saberia que era russo se eu não falasse: -"É russo." Para onde? Rússia. Não sei por que ele escolheu país tão exótico. Você veja como são as coisas. Se ele tivesse feito uma escolha ruim, como Estados Unidos, França, Portugal, eu não perguntaria o porquê da escolha. Agora, quem faz o que é certo é que tem que se justificar. Por que Rússia, meu querido Lúcio?

- Sempre gostei da Rússia. Na Guerra Fria sempre torcia para os Soviéticos. Aliás, acho Vodka muito mais gostoso do que Budweiser. E prefiro o Putin ao Bush.

Só por isso?

- Ah! Lá em casa tenho Net!

O que isso tem a ver?

- Skavuska!

Pois bem. Lúcio desembarcou naquele belíssimo aeroporto, que vemos comumente no 007 com gente morrendo. Mas nesse momento ninguém morria. Pelo menos, a câmera não pegou um russo morto. Pelo contrário. Russo bom é russo vivo, mas eles não precisavam acenas tanto para a câmera. Não entendo por que tanto acenam para algo que não conhecem!

Lúcio saiu do aeroporto para andar triunfalmente por Moscou. Sorria para todas as coisas, admirava até as paisagens feias, as pessoas feias, o frio medonho. Não importava para ele que aquilo era horrível. Nada lhe era ruim. Ruim era São Paulo, onde todos o achavam gay. Na Rússia, ninguém teria esta desconfiança. Ou, se tivesse, ele não sabe ouvir russo, mesmo.

Ele anda sempre em frente, como se soubesse o caminho de uma cidade em que nunca esteve antes. Essa é a cena que quando a gente vê na novela, tem a sensação de já ter vivido, mas que se pensada friamente, é claro que um guia seria útil, no mínimo. Eis que ele entra em um prédio muito bonito e luxuoso. Palavras em russo indicam: - Exército.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Vocês, os brasileiros

Olá, eu sou Shimizu Suzuki, também conhecido como aquele-japa-ali, ou o-de-pinto-pequeno, e como vocês podem ver, estou no Brasil!

Vocês devem me achar igual a qualquer outro japonês, que Jackie Shan e Shimizu Suzuki são a mesma coisa, não acham? Ora, não façam essa cara envergonhada! Digo mais! Vocês devem me achar parecido com qualquer chinês! Que Yao Ming e Shimizu Suzuki são rigorosamente iguais, não acham? Eu falaria o mesmo dos coreanos, mas não me vem à cabeça nenhuma celebridade coreana que vocês conheçam! Mas não fiquem com essas caras de nazistas recém-descobertos! Pois lá no Japão, todos nós achamos que os ocidentais é que são todos parecidos! Uma vez passaram dois ônibus cheios de ocidentais, e sabe o que foi que eu pensei? Que os ônibus eram iguais! Igualzinho à piada! Igualzinho, igualzinho!

Nós, os japoneses

Olá, eu sou Shimizu Suzuki, e esse enorme país atrás de mim é o Japão.

Vocês devem achar muito esquisito, um país como o Japão. Aqui, como a vingança aí, Sushi é um prato que se come frio! As garotas pintam muito os cabelos - os garotos também, é verdade -, os idosos têm sempre um passo serelepe, os universitários passam o dia fazendo conta - as crianças, os adultos e os idosos também! -, mestres passam a vida aprimorando a caligrafia - e ainda assim são chamados de mestres! -, todos dão um risinho tímido - até os descolados! -, enfim, fazemos muitas esquisitices. Mas o que vocês devem saber é que, apesar disso tudo, somos muito parecidos com vocês, os brasileiros. É que fazemos as coisas mais difíceis e esquisitas do mundo com o intuito de aparecer!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Entrevista - Robert Farrys

O entrevistado desta tarde ensolarada é Robert Farrys, um inglês que está no Brasil há mais de cinqüenta dias dizendo que a Inglaterra é melhor, ah como é boa a Inglaterra, que na Inglaterra até os pobres e crianças falam inglês, que o Beckham é inglês! Ah, a Inglaterra.

Robert esteve pouco acanhado tomando seu suco de coco gelado e deu declarações que deus duvidaria, caso não fosse onipresente. Claro que procurei não abordar temas tabus, como a virgindade da rainha da Inglaterra, ou dos golaços de Rivaldo e Ronaldinho na Copa de 2002. Porque, diferentemente dele, meu comportamento é de um lord inglês, na hora de receber visitas. Na hora de fazer visitas também, mas detesto sair do Brasil.

Esta entrevista foi realizada hoje mesmo e peço-lhes a compreensão pelos possíveis problemas lingüísticos.

Eu: Olá, Robert! Como está sendo sua estadia no Brasil? Tem sido bom para você renovar seus laços de amor com a sua querida e amada Inglaterra?

Robert: I don´t speak portuguese.

Eu: Sei, sei. Outro dia me disseram que você disse que na Inglaterra até os mendigos e as crianças falam inglês. Me surpreende que um homem deste tamanho não saiba falar português!

Robert: I don´t speak portuguese.

Eu: É, eu sei. Inclusive eu acho que todo mundo que não fala português é gay. Os americanos, argentinos, eslovenos, paraguaios. Tudo gay. A não ser que fale português. Concorda comigo, né?

Robert: I don´t speak portuguese.

Eu: Então aquelas mulatas que você abraçou, beijou... Tudo recalque?

Robert: I don´t speak portuguese.

Eu: É complicado, rapaz. Enganando as moças assim, não pode! Você não acha engraçado que quando o brasileiro vai à Inglaterra, ele tem que se virar para falar inglês; e quando o inglês vem ao Brasil, é o brasileiro de novo quem tem que se virar para falar inglês?

Robert: I don´t speak portuguese.

Eu: Eu acho isso uma coisa muitíssimo chata e desagradável. A visita que se vire, rapaz!

Robert: I don´t speak portuguese.

Eu: Para finalizar a nossa entrevista, say hi, Brazil!

Robert: Hi, Brazil!

Eu: Oh, yeah!

Robert: Yeah!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Pequenas causas, grandes discursos #1

Meu filho,

Eu sou do tempo em que as mães se preocupavam com os filhos mais do que se preocupavam com elas mesmas. Do tempo em que as mães abriam mão de cosméticos que aumentariam a própria beleza e atrairiam novos amantes, para que os filhos pudessem comer e engordar, afastando as possíveis namoradas.

Eu sou do tempo em que ninguém dizia que se cria os filhos para o mundo. Porque se dissesse, além de mentir, a pessoa seria excomungada das igrejas, isolada do círculo de amigos, além de ter de encarar uma cara azeda do filho por mais de uma semana! A gente sabia que criava os filhos para nós mesmas para, talvez, um dia, entregá-los para uma mulher que nós escolhêssemos, que nós quiséssemos, que fosse boa para a mãe antes de ser boa para o filho.

Mas esse tempo, meu filho, acabou. E as mães que criam os filhos para elas mesmas, são ironizadas por todos e denunciadas por psicólogos prafrentex! Agora, é preciso criar os filhos para o mundo e aceitar que ele se vá embora de casa com uma mulher que ele goste, que o mundo ofereça. Ora, meu filho, eu não gosto do mundo. Gosto de mim e gosto que você goste de mim. Entenda que o crio melhor criando para mim. E assim todas as mães! Ninguém reveste de zelo aquilo que será dos outros.

Agora, porém abro uma exceção. Permita-me um segundo de preocupação por você como se você fosse meu. Não deixe a toalha em cima da cama, filhote. Entenda que sua cama molhada lhe causará um irremediável resfriado. E um resfriado em você, resfria em mim.

Tenha um bom dia,

sua Mãe

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Sexto capítulo, bloco único

A empregada de dona Rodolpha estava tirando o pó da prateleira onde fica a coleção de miniaturas do seu Astolfo só para fazer hora, porque não tinha pó nenhum. E mesmo que tivesse, aquele pó não precisaria ser incomodado. Coleção de infância. São coisas que realmente têm seu valor, mas ninguém tem saco para dar o valor, entende? Tinha um espelhinho, para onde ela olhou fixamente porque lá estava refletida a barriga de dona Rodolpha. Este foi o pensamento da empregada:

- Todas as barrigas se parecem.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Entrevista comigo mesmo #9

André estava deitado de bruços, de mau-humor, e ainda com cara de quem acabara de acordar.

É muito ruim ser uma visita inconveniente. Pior do que isso é ser uma visita inconveniente de horário marcado! Falei: "André, amanhã, onze horas, passo aí para a entrevista, que faz tempo que a gente não faz!" Ele disse que tudo bem, e pelo telefone não aparentou o menor mau-humor.

Mas temos que compreender o rapaz recém-operado que não pode sequer digitar: tem que ditar tudo para a namorada.

Eu: Vamos levantando?

André: Não, não. Ai! Não encosta aí, que tá doendo!

Eu: E como vem sendo esse pós-operatório?

André: Palavra da moda.

Eu: Como assim?

André: Hoje todos temos palavras médicas no nosso vocabulário. Outro dia ouvi um fulano dizer que o amigo tem transtorno bipolar embora também tenha o transtorno obsessivo compulsivo. Sabe o que o amigo tinha afinal?

Eu: Não. O quê?

André: Ele alternava pequenos maus humores. Acordava mal humorado de manhã, entende? E de tarde já estava bom. Isso para o fulano era transtorno bipolar. E sabe de onde vem o TOC?

Eu: Ã.

André: Porque o sujeito lavava as mãos de duas em duas horas. Francamente! Agora vem você dizendo essa palavra hedionda, pós-operatório, na maior cara de pau. Como se você fosse um médico conversando com o paciente aqui. Olha. Se isso não fosse publicado depois no seu blog, que é de muito bom gosto, eu falaria um palavrão daqueles!

Eu: Pode falar!

André: Não tenho coragem!

Eu: Já era de se esperar. Mas me conta. Como foi no hospital?

André: Foi muito bom. Acho que vou fazer uma série de posts, até com um ítem para se pesquisar depois: no hospital. Teve enfermeira fofocando com a outra um pouquinho antes de eu operar, teve anestesista engraçado, japonesa voluntária, enfermeira insegura na hora de furar minha mão. Mas tinha Sportv no quarto. A vida fica um pouco mais fácil de se suportar quando tem um futebolzinho passando na TV.

Eu: Ah, isso é. Adoro futebol.

André: Eu também. Para que time você torce?

Eu: Palmeiras.

André: Eu também. Tô com a camisa do Inter mas sou Palmeiras. Quer dizer, sou um palmeirense colorado. Colorado por amor. É que a minha vida se resume a fazer e querer o bem da minha namorada, e ela é colorada. Como que vou deixar de torcer para o time dela se a amo tanto?

Eu: Entendo. Amor para você é isso?

André: Rapaz. Para Fauro Goares, amor pode ser resumido em duas palavras: Sidney e Magal. Para mim, é quase isso. Amor, para mim, é ficar o tempo inteiro à disposição de quem se ama. É ficar de quatro. É ficar de três, quando se é Saci. É abrir o refrigerante da pessoa amada quando se está louco de vontade de comer bife. Amor, rapaz, é não mandar currículo porque a vaga é para trabalho de final de semana. É gostar de H2O mesmo nunca tendo gostado de nada light. É não tomar Coca só porque a pessoa amada tem ciúmes, mesmo sempre tendo gostado de Coca. É perder o foco da entrevista só para puxar o saco da pessoa amada.

Eu: Sei. Algo mais?

André: Falávamos do Inter, certo? Amor é quando o Palmeiras perde para o Inter de dois a um, e eu volto pra casa com a camisa do Inter.

Eu: Lindo!

André: Eu sei, eu sei. Amor é querer se recuperar de uma cirurgia só para ver o amor. Amor quando se sente uma dor e agradece a deus por não ser na pessoa amada que está doendo.

Eu: Sei. E por que essa entrevista vai sem foto?

André: Porque estou contundido para fazer a montagem.

Eu: Beleza. Um grande abraço e até a próxima!

André: Tá ok, meu chapa. Agora vai lá na geladeira e pega uma coquinha para mim, sim?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

No hospital #4

O enfermeiro careca:

- Nossa! Que cabelão! Quem me dera ter esse cabelão todo! - disse o enfermeiro careca ofendido pelo meu cabelo grande, querendo dizer por meios ilícitos que prefere ser careca a ter que passar por uma cirurgia.

- Na sua idade eu era assim! Você vai ficando velho e vai ficando careca que nem eu. - continuou o enfermeiro, porque bondade de careca dura pouco.

No hospital #3

- Olha. Foi tudo bem na sua operação, mas a infecção era enorme. Isso, a maior que eu já vi! Era grande mesmo, você deve ter sentido muita dor, mesmo. A alimentação é normal. Você pode comer o que quiser.

- Posso tomar Coca?

- Ah! Espera chegar em casa para tomar Coca! Imagina, tomar Coca no hospital? Eles aqui são contra! Coca no hospital, não pode. Hospital é lugar de coisa saudável!

Quando a médica foi embora, minha mãe se dirigiu à cantina e me trouxe uma Coca sem que eu precisasse pedir. Porque a médica não ia me impedir de tomar Coca-Cola utilizando argumentos morais!

No hospital #2

Toc, toc.

- Olá, eu sou a voluntária aqui do hospital. Tudo bem? Eu vi que você está com uma cor boa! A operação foi quando? Ah, fique tranqüilo que tudo vai ficar bem, que você vai se recuperar bem. Pensamento positivo, tá bom? Pensamento positivo atrai coisas positivas. E você está se alimentando bem? Então tá bom. Com pensamento positivo e boa alimentação, você vai se recuperar logo. Eu vou indo. Qualquer coisa, me chama que eu estou logo ali. Tchau!

Ela fecha a porta e eu falo para a minha mãe:

- Mãe.

- Quê.

- Ela é voluntária, né?

- É, sim, filho. Por quê?

- Claro que ela é voluntária. Porque ninguém a contrataria.

No hospital #1

A nutricionista entra no leito com um bloco e diz maquinalmente.

- Oi, tudo bem? Desculpe interromper. Eu sou a nutricionista e trabalho aqui no seu andar. Vim perguntar sobre o que você gosta. Você gosta de alface? Não? De espinafre? Não. O que você gosta e que seja verde? Não, o Palmeiras não vale. Nem tirar catota do nariz. Nem da Floresta Amazônica. Acho que você não entendeu a minha pergunta. Eu quis dizer o que você gosta, que é verde, e que dê para comer? Ah, sim. Alface? Eu já tinha perguntado mas tudo bem. Abobrinha você gosta? Não? E batata? Batata você gosta, né? Sei. Não, Coca-Cola não pode.

- Os hospitais são muito ingratos. Metade dos hospitais não existiriam se não fosse a Coca-Cola.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Kumon

Olá, eu sou Shimizu Suzuki, o representante japonês do blog Eu não sou virgem, Maria!

E eu, não falo, português, desse jeito, pausado, como, você, deve, estar pensando. Eu falo normalmente, sem grandes pausas, porque envio o texto em japonês para a namorada e noiva do criador do blog, e ela traduz tudo direitinho, com as vírgulas onde devem estar, e os pontos finais também.

Esta é uma grande oportunidade para os ocidentais se depararem um pouquinho mais com a visão oriental de mundo. É o mundo em visão widescreen, se é que vocês me entendem.

Hoje, para um impressionante início, vou falar um pouco mais do Kumon, o método matemático japonês muito conhecido no Brasil.

Talvez você não tenha percebido, mas eu disse uma inverdade no parágrafo acima. É que o Kumon não é somente um método matemático. É um método de vida. Você não faz cálculos somente com a técnica Kumon; não; você vive diante da técnica do Kumon.

Ele surgiu no século III no Japão, na província de Tayshin, quando o mestre Hartori percebeu que em sua província, as pessoas perdiam muito tempo exercitando partes pouco importantes do corpo. "Eles ficam exercitando o braço, a cabeça, os dedos, quando somente duas partes do corpo são realmente necessárias, e o desenvolvimento das outras partes provem unicamente dessas duas", disse o mestre Hartori para a imprensa local na época.

As duas partes principais são o cu (ku) e a mão (mon), daí o nome, kumon.

O cu tem sua importância por eliminar do corpo tudo o que não lhe é util. O cu é para o corpo o que o segurança é para uma casa de shows. É claro também que uma das funções mais primordiais do nosso segurança é a de não permitir que ninguém entre pela porta dos fundos.

E a mão serve para cozinhar, escrever e, principalmente, coçar.

Você seria capaz de viver sem defecar e sem se coçar? Eu também não. É por isso que sou um praticante audaz do Kumon!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Circo e ONGs brigam por guarda de leões em Brasília

Estamos aqui em Brasília, onde circo e ONGs vêm brigando ardentemente por Geraldo, um guarda de leões muito conhecido e eficiente dessas paradas. Tudo bem, Geraldo?

- Tudo, tudo bem!

Eu soube que essa briga é antiga, Geraldo. Onde você começou trabalhando primeiro?

- Foi no circo. Minha função era cuidar do público e dos leões, não nessa mesma ordem, mas também não na ordem inversa. Quer dizer, não tinha ordem. Minha função era cuidar dos dois. Foi quando apareceram quatro ONGs naquele lugar. Primeiramente fiquei aliviado, pois pensei que eles vieram para protestar contra os tratos oferecidos à minha pessoa, compreende? Trabalhava quatorze horas por dia e ganhava setecentos reais. Não era isso. Então pensei que eles reclamavam dos tratos que eram oferecidos às pessoas, porque eu comumente as deixava de lado para cuidar dos leões. Também não. Você acredita que eles vieram foi por causa dos leões?

Dos leões? Que que tinham os leões?

- Eu oferecia a eles de graça a comida que as pessoas tinham que pagar para comer. Não é um absurdo reclamar de uma condição de vida dessas?!

Eu soube que os leões eram deixados em jaulas, Geraldo.

- Claro! Eu estava protegendo os leões do público. Rapaz, você não acredita o que uma criança é capaz de fazer com um leão. Se não cuidar, mata!

Sei, sei. Entendi. Conta como evoluiu essa história.

- Então. Aí eles souberam da minha condição trabalhista e ficaram encantados! Porque essas ONGs também têm leões, e custa muito caro mantê-los. Eles querem me contratar a qualquer custo! Não. A qualquer custo, não. Melhor dizendo, simpatia: eles querem me contratar com esse salário e essa carga horária a qualquer custo, compreende?

Sim, sim. Você se sentiu seduzido por alguma oferta?

- Inicialmente, não. Porque aqui no circo a gente pelo menos se diverte. Nas ONGs não teria nada pra fazer. Seria ouvir gente inteligente pra cá, gente engajada pra lá. Cá entre nós, prefiro os palhaços!

Este é Geraldo, o guarda mais disputado da Capital Nacional! Tenham todos uma boa noite!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Quinto capítulo, segundo bloco

Voltamos a apresentar: Eu não sou Virgem Maria!

Rodolpha volta do desmaio e se surpreende com o médico novo.

- O que aconteceu com o doutor Armindo?!

- Ele sumiu. Ele e o Marquinhos sumiram.

Dona Rodolpha desmaia novamente, mas dessa vez, não sei, não!

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Quinto capítulo, primeiro bloco

Lúcio já no quarto de hospital com a mãe.

- Que susto, mãe! Todo mundo achou que a senhora tivesse morrido!

Na verdade, Rodolpha escorregou perto da janela e caiu no terceiro andar. Nada grave.

- Somente algumas semanas de repouso e depois... bem, pronta para outra ela não estará, porque não imagino ninguém pronto para cair do terceiro andar. Mas a senhora estará melhor que antes, porque aproveitamos para retirar um sisto pelinoidal que a senhora tinha no cóccix!

Lúcio finge que não ouviu o que o médico disse e tratou de explicar à mãe.

- Mãe! O travesti era só o meu amigo! Era o Marquinhos! Lembra do Marquinhos, que ia lá em casa quando eu era criança? Então, mãe! É o Marquinhos, meu amigo!

Rodolpha vira a cara do lado, como se estivesse entrado em coma, e o médico se apressa em tirar-lhe a pulsação.

- Fica tranqüilo, Lúcio. Foi só um breve desmaio. Jura que o Marquinhos virou travesti?

- Pois é!

Estamos apresentando: Eu não sou Virgem Maria!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Quarto capítulo, terceiro bloco

Voltamos a apresentar: Eu não sou Virgem Maria!

Lúcio atende o telefone sem muita vontade e escuta o que dizem no outro lado da linha. Da cara estática, sai uma lágrima. Da boca, não sai nenhuma palavra. Do pênis, sai xixi de tanto medo que ele tem de perder a mãe. A bermuda branca fica visivelmente manchada e close no chão, porque começa a pingar xixi.

Ele deixa o telefone sem fio de lado sem ao menos desligá-lo e se levanta: péssima escolha. Escorrega no próprio xixi e cai com o braço direito no chão, que entorta feito aqueles braços de jogadores que vemos no YouTube.

Ufa. Terminou este quarto capítulo horrível e trágico!

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Quarto capítulo, segundo bloco

Voltamos a apresentar: Eu não sou Virgem Maria!

Solange escorrega, cai com a testa bem na quina da mesa e começa a sangrar. A empregada aparece correndo, com um papel-higiênico nas mãos:

- O que foi isso, dona Solange? A senhora escorregou e caiu feio!

A empregada também escorrega e as nádegas funcionam perfeitamente como Deus as projetou: para amenizar o impacto. Eis que a empregada não sofre nenhum dano e começa a rir com Solange - com a testa já roxa.

Estamos apresentando: Eu não sou Virgem Maria!

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Quarto capítulo, primeiro bloco

Barulho de sirenes de polícia, carros de bombeiro, ambulância. Todas essas coisas irritantes que temos que agüentar. Novamente, meu querido leitor mirim pensa: "Já não basta o acidente, e temos que agüentar tudo isso?!" No chão, uma mulher com o rosto virado e cabelos sobre a face, e uma empregada comentando com a outra:

- Dona Rodolpha se matou depois que soube que o filho é gay.

Estamos apresentando: Eu não sou Virgem Maria!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Terceiro capítulo, quarto bloco

Voltamos a apresentar: Eu não sou Virgem Maria!

Visivelmente chateado, Lúcio encontra Solange em um banco qualquer. Ela se senta lepidamente ao lado dele, se esquecendo momentaneamente de que Lúcio esteve na capa do jornal ao lado de um travesti.

- Quer ver a minha tatuagem nova?

Lúcio olha muito a contra gosto, quando de repente seu rosto se expande e começa a rir. Não conseguindo falar palavra por palavra, tenta uma vez:

- Sua tatuagem haha..

Solange fica assustada, mas não deixa de se exibir. De novo:

- Sua tatu haha..

Solange fica séria, endireita o corpo, e grita:

- Estrebucha! Diz logo o que que tem a minha tatuagem!

- Está escrito errado!

Amanhã tem mais Eu não sou Virgem maria!

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Terceiro capítulo, terceiro bloco

Voltamos a apresentar: Eu não sou Virgem Maria!

Solange teve uma grande idéia no dia de hoje - não sem antes rir com a notícia no jornal. Curioso é que ninguém perguntou como vai o braço de Lúcio.

- Vai bem, vai bem, o tiro só pegou de raspão. Só vamos precisar de alguns dias com esse braço imobilizado, que ele estará pronto para outra! - diz o médico que não tem cara de médico.

Solange quis fazer uma tatuagem com uma frase escrita em inglês. Em inglês?

- Of course - diz Solange exibida ao falar inglês como fica exibida uma moça ao usar anel, por exemplo.

Anda pelas ruas de São Paulo rebolando aquela bunda feia e flácida no meio dos passantes, que fingem que não estão sendo filmados. Fundo musical? Pagode.

Corte para Solange saindo da loja de tatuagem. Close na tatuagem: "I´m am the best"

Estamos apresentando: Eu não sou Virgem Maria!

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Terceiro capítulo, segundo bloco

Voltamos a apresentar: Eu não sou Virgem Maria!

Rodolpha devolve o suco de mamão à mesa com uma certa força encenada.

- Não pode ser!

Close na capa do jornal, a manchete: Jovem é assaltado enquanto passeava com travesti nas ruas de São Paulo. A foto é taxativa: Lúcio sangrando e o imenso travesti pondo as mãos em sua genitália.

Claro que o travesti não teve nenhuma relação sexual com Lúcio. Eles eram amigos de infância e saíram para comprar um presente para o amigo que têm em comum, Rubens, porque era aniversário dele.

Dizem que fazer coisa escondido atrai publicidade. Isso não é verdade. Isso só acontece em novela, não na sua vida, por exemplo. O que realmente ocorre é que não sabemos agir quando queremos esconder as coisas. Fazemos coisas exageradas na tentativa de esconderijo. É que nem o sujeito que enterra um baú cheio de dinheiro. Querendo esconde muito bem o baú, ele enche com tanta terra, que acaba fazendo um calombinho no solo. Aí é que desconfiamos.

O calombinho da história é que estava tão quente, que ninguém fecharia os vidros do carro e andaria com os faróis desligados.

- Mas o carro não tem ar-condicionado?

Esta é uma novela sem ar-condicionado.

Estamos apresentando: Eu não sou Virgem Maria!

Eu não sou Virgem Maria - a novela - Terceiro capítulo, primeiro bloco

Trânsito em São Paulo. Claro que deve ser a Avenida Paulista, mas não importa que rua que é. A câmera dá close em um carro único, que abre o vidro e o rosto de Lúcio se revela inconfundível, com a maior vergonha do mundo. Três homens armados em volta do carro indicam:

- Assalto!

Lúcio diz que daria tudo o que os assaltantes quiserem, que podem levar o carro, que levem a carteira, que levem o celular! Ele joga o celular para fora do carro e por um infortúnio que você não acreditaria se não fosse eu quem estivesse falando, acerta a cabeça do assaltante mais esquentadinho. No reflexo, o marginal dá quatro, cinco tiros, sendo que um acerta Lúcio no ombro.

No dia seguinte.

Rodolpha toma o café da manhã silenciosamente, lendo o jornal e abre a boca numa interpretação louvável.

Estamos apresentando: Eu não sou Virgem Maria!