quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Entrevistas com lideranças - Fidel Castro

Era preciso fazer uma oposição. Após minha conversa com George Bush, era preciso alguém radicalmente diferente, antes que eu desanimasse ou ficasse idiota.

Eu poderia falar com Fernandinho Beira-Mar, mas ele é por demais poderoso e, sei lá, não gosto do ambiente de prisão. Me causa uma certa caustrofobia e me daria um medo enorme de ser confundido com um preso famoso. Se bem que é difícil ter um preso tão bonito quanto eu. O medo é que é uma cadeia de presos famosos, e como eu sou famoso, um carcereiro distraído poderia pensar que eu fosse o mais novo presidiário.

Passei árduas semanas desanimado. Fernandinho seria o cara certo. Eis que me veio à cabeça: - Por que não um cara barbudo, que fosse mais velhinho e que não falasse a minha língua? Um cara que fosse velho mas que não fosse inteiramente gagá; um cara imortal, mas que fosse preciso entrevistá-lo antes que morresse.

- Fidel Castro?

Sim, sim! O Fidel! Eu precisava muito entrevistar o Fidel. Comprei rapidamente as passagens minhas e de meus assessores rumo a Cuba! Não quis deslocar meu jato particular porque o aeroporto cubano não é confiável.

Fidel sempre me foi um conhecido próximo. Estivemos rompidos por muitos anos, pois desde 1968 ele enviava infindáveis convites para que eu fosse a Cuba, mas eu nunca os retornei. Quando nasci e tive condições de atender seus pedidos, a amizade foi pródiga e não foram raras as vezes em que fiquei até mais tarde na casa dele em partidas infindáveis de video-game.

Ontem falei com ele em 1978, cercado por diversos assessores.

"Fidel. Eu não gosto de gente que fala muito. Porque geralmente essas pessoas se acham importantes demais para serem ouvidas. Mas você é um caso particular, porque se acha importante e ao mesmo tempo é importante. E outra: Te acho inteligente. Você se acha inteligente?"

Ele sorriu com esta minha fala, porque elogios sempre caem bem. Elogio é melhor que Coca Cola, porque não enche a barriga. Melhor que pescar, porque não entedia. Melhor que voar, porque não precisa fazer check in. Mesmo assim eu não gosto. Depois explico por quê.

"Eu me acho inteligente, sim. Como você também se acha. Me lembro muito bem de quando você estava na terceira série e já dava aulas para a professora. Verdade que ela era muito burra, mas não deixa de ser admirável. Rapaz: Terceira série! Na quarta, você já dava palestra para os professores; e na quinta. Bem, na quinta série você abandonou a escola porque seus pais não tinham dinheiro para pagar e você foi descascar batata no nordeste.

O que eu quero dizer é que inteligência não é um mérito. É uma coisa que nos é dada sabe Deus por quem. Se você já era na terceira série, está claro que não fez nada para alcançar. Por isso estudar não traz inteligência. Se soubessem disso, acho que não existiria nem faculdade!

Eu sou muito inteligente e não me vanglorio por isso. Porque uso para o bem comum, para Cuba. Quer um pedacinho de bolo?"

"Não, não, obrigado. Acabei de almoçar!"

"Pega um, pega! Eu acabei de fazer!"

"Obrigado mesmo.”

“Pega, pô!"

"Tá bom, tá bom!" Peguei um pedacinho, e agradeci a Fidel por ele ter insistido, porque estava realmente uma delícia!

"Conversei com o Bush anteontem", eu disse.

"Ah é? Ele usa umas roupas adoráveis."

"Usa, sim. A gravata torta."

"É."

Engraçado. Às vezes a gente vai conversar com uma pessoa que não é nada e temos assuntos demais. Eu estava com o homem que implantou o socialismo em Cuba e não tinha um assuntinho sequer!

"Fidel. Tenho que ir jantar. Estão me esperando."

"Claro, meu filho. Vá, sim. Cuidado com a friagem, hein?"

Demos abraços calorosos e nos despedimos.

2 comentários:

Anônimo disse...

É verdade q o Fidel come bolacha Bono com requeijão?

Um bj
Dona Clarinda

Felipe disse...

Ficou de explicar por que não gosta de elogios.