sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Papai noel fora de época

Quem vê Roberto sentado com as pernas abertas no sofá de casa, não pode imaginar o que ele fazia um mês atrás. Com uma lata de cerveja na mão, de barba feita, chinelo gasto no pé e aquele mau humor que só uma pessoa idosa pode ter, pergunta quando me vê:

- O que é que você quer?

- Uma bicicleta! - eu disse para tentar fazer aquele homem que há um mês era papai noel dar risada. Não adiantou.

- Eu gasto todo meu bom humor na época do natal. É fogo. Fogo, não. Fogo é em dezembro. No final de janeiro já é foda. É foda.

Uma coisa em que a gente nunca pensa é um papai noel dizendo palavrão. Acontece que ele não é papai noel. Ele é o papai noel fora de época. Este blog acompanhará Roberto nos meses em que não é papai noel.

Vendo Roberto, a primeira coisa que se aprende é que para ser papai noel, não é necessário saber ouvir as pessoas. É uma profissão que se assemelha muito à do padre. O padre só presta atenção no que o fiel diz quando a coisa é interessante ou picante. O papai noel faz a mesma coisa, com a exceção de que as crianças raramente dizem coisas picantes. E é bom que não digam.

Ele está comemorando o mês em que não precisa se masturbar uma vez por dia. Para um senhor de 64 anos, acredite, isso é muito.

- Todo dia, antes de ir ao shopping, eu tinha que me masturbar. Não que eu seja pedófilo, mas morria de medo de ficar de pau duro. Você imagine o seguinte. A criança fala e eu é claro que não presto atenção. Nisso, eu olho para outra coisa. Uma mulher, por exemplo. Se eu ficar de pau duro, estou ferrado! Roupa de papai noel é de seda, meu amigo.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Regra de convivência #428 - Nunca dizer que leu Nietzsche

Vivemos dias ruins. Dias em que Serginho Groismann é chamado de inteligente, Pedro Bial de culto, Jô Soares de engraçado e Harry Potter de literário. Por isso, há quem pense que, para não ser contaminado com a burrice universal, ler textos de outras épocas é um grande remédio. Os mais radicais dizem: "Quem não lê, vê Big Brother!"

Há os que se aproveitam desta prática em uma tremenda encenação. Como se simplesmente ler uma coisa fosse sinônimo de inteligência. Da mesma forma que nossas avós portuguesas vão à missa e se sentem santas, há quem leia Nietzsche e se acha um gênio. Mesmo que não tenha entendido uma palavra, mesmo que tenha achado um tédio, diz alto para que até os desconhecidos ouçam que ele leu o alemão.

O problema, pois, não é ler Nietzsche. Ele é um grande sujeito, e os textos dele se aproximam em profundidade dos textos que você pode ler neste espaço. O problema é dizer que o leu. Este é um artifício que os burros usam para que pareçam inteligentes.

Porque quem diz que lê Nietzsche, não leu. E aquele moço com cara de bobo, que no meio da discussão está olhando para o teto; este sim, está pensando no quarto parágrafo da sétima página do livro nietzschiano.

Futebol, o assunto único

Um leitor astuto se referiu a mim, na última segunda-feira, como se mentiroso eu fosse. Ele disse, não sem razão, que eu já falei inúmeras vezes que o brasileiro que não fala palavrão ou de futebol é um cínico! E que eu só falo de futebol nas conversas da vida real, enquanto no blog só tem um texto sobre o assunto.

O leitor está tão coberto de razão, que tenho medo que ele se sufoque. Nas ruas, as pessoas me param para falar dos mais diversos assuntos, mas só falo de futebol. Se vem alguém falando de Marx, de Hegel, de Joaquim José da Silva Xavier, sempre arrumo uma forma para encaminhar o assunto ao futebol. "Marx?", eu disse uma vez, "para que time será que ele torceria, hein? Corinthians, sem dúvida!". A pessoa me olha estupefata, mas não resiste. Como é bom falar de futebol!

Futebol é o único assunto sincero do nosso tempo. Quando se tenta falar de assuntos importantes em uma lanchonete, por exemplo, o tédio é inevitável. É um ostentando inteligência ali, outro escancarando burrice acolá, e eu com cara de tédio aqui. Inteligência é na sala de aula, em livros ou em blogs. O assunto cotidiano tem que ser futebol, e só.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ainda sobre o vegetariano

Engraçado como coisas tão insossas podem render discussões tão calorosas!

Ontem escrevi neste espaço precioso um texto sobre os vegetarianos, e a discussão foi incrível! Recebi dezenas de e-mails de pessoas concordando com meu ponto de vista e elogiando minha postura aguda e crítica diante dos problemas da sociedade moderna! Os outros que não me elogiaram explicitamente ou que me criticaram foram direto para a pasta de lixo eletrônico. Que fiquem lá por muito tempo!

Acontece que o assunto não acabou. Por isso preparei meu e-mail para muitos comentários pertinazes e indelicados para as próximas horas. Aviso também aos vegetarianos, que se quiserem protestar, prefiro o horário das 20 às 22, quando não me encontro em frente à redação. Assim podem protestar tranqüilamente, sem incomodar ninguém. E sem levar mordidas de meus cães treinados na Suécia.

Na última terça-feira discuti rispidamente com um vegetariano. Chegamos até a ficar suados, devido ao grande esforço mental. Eu penso tanto, que levo lencinhos na minha mochila. Lencinhos de couro.

O vegetariano começou com a conversa ao modo vegetariano. Começou repreendendo, sem ao menos me conhecer, meu uso de sapatos de couro de cobra, jaqueta de urso polar e luva de panda. Ele sequer sabe as razões!

- Então por que você usa tudo isso?! - perguntou o vegetariano.

- Porque está frio! - respondi com beicinho.

Ele desatou a falar que não se come animais, que não há razão para isso. Chegou até a dizer que quando comesse um porco, estaria cometendo um incesto, já que os animais são nossos irmãos!

Eu lhe disse que é por pensarem assim que as freiras não fazem sexo. Se fôssemos todos irmãos, não teria cabimento fazermos sexo com nossos irmãos! Não que eu seja a favor da zoofilia, mas o raciocínio é o mesmo!

Mas foi quando ele disse que porcos são amigos, não comida, que me exasperei. Não há nada contra a burrice. O problema é exibi-la em público!

Os porcos não são só amigos. Se eles fossem só amigos, como existiriam tantos porcos no mundo? Amigo não procria; namorado procria. Porcos são namorados. E comida, também!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O vegetariano

Não são os muçulmanos com seus véus os que mais intrigam a humanidade. Muito menos os corintianos com suas camisetas roxas e falsificadas. Aqueles que mais intrigam a humanidade são os vegetarianos.

Sempre quis escrever um texto preconceituoso sobre esse tipo de gente que não come carne. Pior: que comem vegetais! Não sei o que é mais assustador, se não comer carne ou se comer vegetais. Porque o primeiro é um prazer que se renega. E o outro é um sacrifício a que se impõe. É como um padre homossexual. Primeiro ele deixa de lado o prazer de ter relações sexuais com mulheres, depois tem o sacrifício do sexo anal.

O vegetariano é aquele que ama sem ver. Porque as pessoas normais (não vegetarianas, ou carnívoras) são as que se apegam a alguns animais. Eu mesmo gosto muito do Jaiminho, do Cafu, do Wolvi e do Logan. São cachorros (o Jaiminho é um gato deficiente) que me apeguei justamente porque os conheci. Eu quero que os outros cães e gatos ardam nos mármores do inferno! É justamente por ter essa concepção, por exemplo, que acho um pouco ridículo chorar a morte de animais como se fosse um grande drama. Claro que é um drama inenarrável; mas somente para quem sente. Os seres-humanos não costumam ter grande apego por animais alheios.

A diferença pode se dar com seres-humanos. Nós temos compaixão por gente que não conhecemos. Se alguma garota é atirada pela janela pelo próprio pai, ou se um padre morre num vôo de bexiga, ou se a prima da avó do cunhado da empregada da patroa do nosso conhecido sofre um ataque de asma, somos os primeiros a ficar chocados!

Veja a diferença. Hitler é um péssimo sujeito, um idiota, um otário, um legítimo filho da puta, um salafrário, algo que pode ser considerado o que tem de pior na humanidade por ter matado tantas pessoas. E o dono da Sadia, que já exterminou muito mais que cinco milhões de frangos, pode ser citado pela revista Época como uma das cem pessoas mais brilhantes do ano! Exceto para os vegetarianos.

O vegetariano é aquele que gosta do animal alheio como se dele fosse. Ou que gosta de próprio animal como se fosse do outro. Cada vegetariano tem a generosidade de Noé e protege todos os animais do mundo. Inclusive aqueles a que nunca chegarão a conhecer.

Outro dia um vegetariano sorriu ao me ver. Como não havia motivo para graça, comecei logo a desconfiar. Percebi que o sorriso dele era o da arrogância generosa. Era um sorriso que queria, na verdade, dizer: "Você não vai agradecer por eu preservar o planeta no qual você vive?"

Minha cara de tédio respondeu o seguinte: "Não vou agradecer por algo que não pedi!"

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Entrevistas com lideranças - Barack Obama

Estirado em sua sala oval onde recebe os convidados mais ilustres de todo o mundo, Barack Obama olhou-me firme e sorriu somente após a secretária lhe cochicar meu nome em seu ouvido.

- André.

- Que André? - perguntou Obama.

- O do blog que o senhor acompanha diariamente e faz comentários anônimos!

- Ah, sim! - disse Barack Obama visivelmente emocionado por receber minha visita. - Mas eu é que deveria visitá-lo!

- Sabe como é! Eu já estava nos Estados Unidos e resolvi dar uma passadinha. Até porque não gosto muito de receber visitas lá em casa. Tem que arrumar tudo, minha esposa fica tímida e não pode lavar roupa por um tempão... Melhor aqui!

Pude perceber primeiramente que ele brincava com os pés fora dos sapatos. Não que eu quisesse, mas olhei indisfarçadamente. Obama deu um risinho frouxo, chamou a filha mais nova e ordenou que lhe calçasse os sapatos. "E tira essa chapinha horrível! Você é filho do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, não do Michael Jackson!", disse Barack, mais severo do que a situação prescindia. "Hoje todo mundo quer ser negro!", completou. E ao notar que os olhos da filha estavam marejados, amenizou como o bom representante público que é: "Você está querendo chorar de vergonha, não é? Não chora, não. Você chora porque enquanto você calça o presidente, seu pai é presidente dos Estados Unidos. Você pode evoluir na carreira, minha filha. Eu mesmo já fui office boy."

Já calçado, olhei para Obama à procura de defeitos. Ele não é somente o primeiro presidente negro dos Estados Unidos; o povo ainda não conseguiu perceber que ele é, na verdade, o primeiro presidente perfeito deste país. Aliás, este é o único defeito de Obama: Não ter defeitos. É bonito, inteligente, negro, saudável, diplomado nas mais importantes faculdades do mundo, bem casado... Enfim, um homem sem defeitos! Eis um homem incapaz de xingar o craque adversário ou de ser injusto na comparação futebolística. Primeiro porque não gosta de futebol, depois porque sequer entraria numa discussão futebolística, sempre propícia a injustiças.

- Obama. Você me desculpe, mas quais são os seus defeitos?

Ele riu copiosamente, como se eu fosse a primeira pessoa que dissesse o que ele e todos os outros sabem. Bateu até palminhas, como se isso fosse um elogio.

- É sério, presidente. O senhor não tem defeitos, e isso pode ser muito ruim para o senhor. Imagine na hora de uma negociação, em que você não pudesse fazer um charminho? Ou então quem vai ter pena do senhor? Eu tenho um gato, o Jaiminho, que é muito mais bem tratado que os demais por ter um defeito na perna. O senhor não manca! Fora que nenhuma qualidade se sustenta sem um defeito. Sabe por que o mundo é tão injusto? Porque Deus é perfeito! Já basta Deus de perfeito, Obama!

- Eu fumo e tenho esta verruga aqui, ó. Serve?

- Fuma?! Você fuma, presidente?! Mas que boa notícia! Excelente! Graças a Deus, que o senhor fuma. Graças a Deus e ao seu ímpeto adolescente!

Se Obama se gabou do primeiro suposto elogio (quando eu disse que ele não tem defeitos), agora ficou insuportável! Ergueu o nariz e fiquei muito satisfeito por forjar mais um defeito no nosso presidente. Nosso, não! Deles! Agora Obama é também arrogante. Com três defeitos já se pode vislumbrar um bom mandato. Se não um mandato brilhante, pelo menos decente.

Esta entrevista já começou mais reveladora do que se esperava. Nas horas mal dormidas no hotel, pensei em como encontrar um defeito de Obama. Um já bastava. Passaria a entrevista inteira, se fosse necessário, procurando defeitos no homem perfeito. Um defeito já tranqüilizaria o mundo. Mas três?! Fiquei até emocionado, e o leitor mais atento perceberá que daqui em diante, o ritmo da entrevista cai um pouco, mas continua sendo uma brilhante entrevista.

Conversamos, então, um pouco sobre a sucessão presidencial. Não falamos mal de Bush porque tudo o que era para falar mal do ex já foi falado. Em nosso duelo intelectual, contava pontos elogiar a grande besta! "Tinha um belo cabelo", disse Obama. "Portado de um belo cabelo, penteava-se maravilhosamente!", completei. "Os óculos combinavam com as mechas grisalhas". "Menos, menos", disse eu já menos exaltado, cortando a brincadeira presidencial.

Contei que Bush havia lhe deixado alguns queijos no freezer presidencial. Obama chamou prontamente a filha e ordenou que verificasse o freezer. Ela estava com os olhos inchados, e, muito emburrada, dirigiu-se ao freezer. Cada passo da menina parecia passo de gigante. Criança emburrada é capaz de incomodar muito mais que adulto emburrado. Basta ver que a Michelle Obama estava de péssimo humor no canto, de braços cruzados e contando com a perna cada segundo que se passava desta entrevista. "Michelle tem ciúmes de você. De noite, passo mais tempo lendo seu blog do que na cama com ela!", disse Obama.

- Pai! O queijo está vencido!

Neste instante notei que estávamos falando tudo em português! "Eu aprendi português para ler seu blog, e as crianças aprenderam por influência minha. Michelle tem preguiça."

- Ah, sim. - respondi disfarçando o indisfarçável contentamento.

Era o momento de encerrar a entrevista. Se Michelle Obama já não agüentava mais, o que dizer de Juliana Ursípedes, que me esperava no hotel após ter recebido a promessa de que ganharia um sapato novo assim que eu chegasse? Entreguei a Obama um presente.

- Ah! Uma caneta! Era justamente do que eu estava precisando! Deixa eu ver o cartão.

- O cartão, você vê depois.

Eis o cartão:

"Obama,

Fiz questão de não tirar o preço desta caneta caríssima para que você soubesse do tamanho do apreço que nutro por sua pessoa. Grande homem!

Abraço,

André"

Quando me preparava para ir embora daquela casa branca e enjoativa, Obama me chamou ao pé do ouvido. “Preciso anunciar uma coisa! Faço questão que saia em primeira mão no seu blog!”, disse muito baixinho. “Fala! Fala!”, disse já pensando na audiência. “Vou fechar Guantánamo em um ano!”, disse em tom garboso. “É?”, perguntei. “É! Daqui a um ano esta prisão fechará para reformas! Ampliaremos Guantánamo e ela será a maior prisão do mundo!”, concluiu o grande chefe de estado.

Cacilda!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A falsa tragédia bonsai

A tragédia bonsai é tragédia em todos os sentidos, menos no tamanho.

O homem que chamou a namorada pelo nome errado; a moça que tinha R$2,35 para a passagem de ônibus que custava R$2,40; a velhinha que percebeu que o aniversário do filho fora no dia anterior; o ditador que tropeçou enquanto fazia pose.

Ela acontece tantas vezes por dia, e no exato momento pensamos que não há uma solução possível e que a melhor alternativa é, mesmo, o suicídio. No final do dia nem nos lembramos de contar isso na janta.

Aconteceu uma vez, porém, de alguém que confundiu uma tragédia bonsai com uma tragédia filhote. Ele achou que aquela tragédia que estava crescendo era uma tragédia que já havia crescido.

Como alguém que vê o tsunami e se aconchega para apreciar a bela onda, ou aquele que acha que é uma pulga, a barata crescendo atrás da orelha.

Ele se matou no dia seguinte, quando percebeu os reais valores da crise.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Deu, o singular de Deus;

são muitas, as manifestações de Deu na vida cotidiana da mulher brasileira. Outro dia mesmo lançaram um sabão em pó que deixa cinzas as roupas brancas.

Deu é discreto e ri de todos nós enquanto pode nos observar tal qual Big Brother - com a única vantagem de que nos observa inclusive enquanto estamos no banheiro. A vantagem dele em relação a Deus é que ele é um só. Ele não está em vários lugares, não faz várias coisas ao mesmo tempo. E só tem fieis selecionados.

São inúmeras as cartas de pedidos para entrar em sua igreja.

Mas Deu é irredutível. "Ou eu cuido bem de poucos ou esculaxo muitos", disse ele numa tarde ensolarada de sábado.

Outro dia chegou uma carta de uma pretensa fiel de Brasília.

"Deu,

Gosto muito do senhor. Gostaria de ser sua fiel porque Deus não olha por mim. Ontem mesmo eu tropecei e caí de cara no chão.

Atenciosamente,

Florinda"

Deu rasgou a carta e exclamou: "Se Deus não quer, não sou eu que vou querer!"

Disse Deu, o singular de Deus."

Deu, o singular de Deus;

houve um homem, muito jovem, começando na vida, que precisava de um bom trabalho.

Pois o dono de uma multinacional lhe ligou numa tarde chuvosa:

- Rodrigo Lopes de Freitas Antunes Soares de Paiva Filho?

- Sim, sim, sou eu.

- É ele?

- Ele sou eu!

- Ah! Pois não! Seu Rodrigo, traga seu currículo hoje de tarde, que eu lhe darei o emprego de seus sonhos!

- Sim, sim, claro! Muito obrigado. Estou indo para aí!

Rodrigo se apressou e se encaminhou até a empresa.

Não é que justamente quando a secretária o anunciou, ele lembrou que esqueceu de levar justamente o currículo?

Deu, o singular de Deus.

Deu, o singular de Deus;

a qualquer hora do dia Deu pode aparecer para nos pregar uma peça - menos de noite, e ele vai dormir cedo!

Houve um velho senhor que resolveu pela primeira vez, depois da insistência dos filhos, passear com os dois cachorros ao mesmo tempo. Diziam os filhos:

- Papai! O senhor já está em idade tão avançada! Para que sair duas vezes, uma vez com cada cachorro! Você não precisa se preocupar! O poodle é tranqüilo, e o dobermann é um príncipe de cachorro!

Mas o príncipe de cachorro era uma arma em potencial. A qualquer momento podia matar alguém. Cachorro é cachorro - vice-versa.

Houve o dia, pois, que ele saiu com os dois. Preocupado com Tião, o dobermann, segurou a coleira dele como se dependesse disso para sobreviver.

Não é que o poodle aproveitou-lhe a distração e mordeu uma velhinha distraída?

Deu, o singular de Deus.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Funcionário do mês - Janeiro

Os críticos não deveriam, mas são muito engraçados.

Semana passada, numa das raras vezes em que peguei no jornal, um crítico cujo nome não vou dizer - porque não lembro - estarrecia-se sobre a banda Calypso. Ele dizia sobre a limitação humana, sobre como tantas pessoas podem gostar de uma música tão ruim. E a vocalista nem é bonita!, dizia ele. Acho que errei a frase de abertura.

Os críticos não querem, mas são muito engraçados.

Ora. O crítico que é capaz de dizer quantos litros de silicone a Britney Spears tem na bochecha, quantos litros de álcool a Emy Winehouse tomou na semana passada, a cor da calcinha do Mick Jagger, a bebida preferida do Anthony Kiedis, com quantos paus se faz uma canoa para boiar no rio Mississipi. Este crítico galhofou da Joelma do Calypso.

Senhor crítico. Feche o cu para falar da Joelma, porque ela é a funcionária do mês!

Deus:

"Ah, os críticos.

Se não lê-los, como entendê-los? Se é preciso lê-los para entendê-los, é melhor não lê-los! O preço é muito alto.

Eles não admitem quando um superior vem à tona. Quando meu filho nasceu, há dois mil e nove anos, teve gente dizendo que o que ele falava era démodé, que a barba não servia, e que a mãe, ora!, era uma despudorada!

Mas a verdade aparece quando menos se espera. E nessa hora, os mesmos críticos que eram incapazes de falar sobre as pessoas brilhantes sem um pingo de cinismo, dizem que já sabiam! Porra!

Desculpe.

Despudorado, amigo, é quem fala mal da Joelma. A Joelma é o que se pode chamar de Robin Hood da música! Ela tira dos ricos para dar para os pobres. E é por isso que os ricos não gostam dela. Outro dia teve uma grande confusão na rua porque uma patricinha viu seu Ipod nas mãos de um pedreiro. O pedreiro jurou que não roubou – e estava certo. Foi a Joelma.

A Joelma faz dançar toda a gente que não tem motivo para dançar. Canta para os ouvidos calejados pelo barulho da fábrica que não tinham mais esperanças de se emocionar.

O que os ricos não entendem é que não é preciso ter um corpo bonito para se fazer emocionar pela beleza; nem uma boa música para se fazer emocionar pela música. Só é preciso uma ordem divina. Que eu concedi para a Joelma.

Em três vias, registradas todas no cartório de Santa Cecília."

O heterossexual

No dia cinco de janeiro, falei sobre as prostitutas.

O leitor experiente deve achar que tenho muita experiência com elas para falar tanto sobre o mesmo assunto. Não, não.

Nunca vi uma prostituta na minha vida! Ou melhor, já vi, sim. Mas nunca as vi sem tomar um grande susto. "Cacilda, é uma prostituta!" Não é um susto preconceituoso. Deve mesmo escapar de meus olhos uma censura, mas o susto vem da surpresa da confirmação do que já ouvi falar. "Existe mesmo! É verdade!"

Acho que o susto que me dá ao ver uma prostituta é o mesmo que teria se visse Deus ou um ET. "Existe! Pois então existe!"

Falo delas sem ter a menor intimidade física. Mas imagino como seja. A vantagem é a de que vocês não têm um texto contaminado por HIV e que não passa chato quando se entra fundo.

Pois o mesmo leitor experiente, num dia calmo desses, gritou sem saber do absurdo que estava dizendo: "Eu gosto é de mulher!" Ninguém se espantou, pois ninguém sabia que era um absurdo o que se estava ouvindo. O que este leitor disse teve o mesmo impacto de alguém dizer há mil anos que a terra era quadrada. Era um absurdo, mas ninguém sabia disso.

Gosta de mulher, leitor? Qualquer mulher? Então é melhor que o senhor já tenha um plano de saúde, pois é um doente! Um doente que não tem a menor vergonha de exclamar a própria doença!

Quando um homem diz que é heterossexual, o que está primeiramente claro é: Ele não faria, em nenhuma hipótese, sexo com homens. Depois, que faria sexo com uma mulher de sua preferência.

Uma pessoa saudável não faz sexo com mulheres. Faz, sim, sexo com uma mulher. Fazer sexo com duas exige muita potência e pode transmitir doenças desagradáveis.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

1968,

mulheres saíram às ruas para molhar o biscoito.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Companheiro de viagem

Hoje me ocorreu algo que acho que não sei se faço bem em compartilhar com os leitores deste blog.

Eu voltava de ônibus do Guarujá no horário enfadonho das 6:30. Fazia sol, e era uma das únicas situações em que ele não era aprazível, pois estava fugindo dele.

Sentei-me na poltrona da janela, achando um grande negócio, quando um sujeito enorme visivelmente embriagado, com um visível tapa-olho de pirata, grita:

- Creio que seremos companheiros de viagem!

Eu sorri um sorriso que bem sei que parece desgosto. É um sorriso que eu dava antigamente sem saber que demonstrava irritação. Até o dia em que sem querer o sorri no espelho e vi:

- Que nojo!

Desde então eu o utilizo para o que ele realmente parece.

Ele perguntou onde moro, e é unicamente por isso que conto a história.

- Moro na Zona Sul.

Ele quis saber o bairro. Menti:

- Lá prá Cambuci!

- Lapa ou Cambuci? - ele respondeu.

- Cambuci, Cambuci.

Aí foi que percebi que quando disse "Lá prá", pareceu Lapa.

Perceba que ele usava um tapa-olho, não um tapa-ouvido.

sábado, 10 de janeiro de 2009

DEU, o singular de deus.

A lesma apressada; o passarinho com medo de altitude; a africalidade dos cabelos lisos; o mosquito que não consegue dormir porque detesta o barulho de mosquito; o pintor cego; o pavão modesto; o acadêmico intuitivo; a mulher que nasceu para ser mãe mas não suporta crianças; a barata vaidosa; o urso polar que adora praias; o tarado que não gosta de sexo; a ameba gigante; o arco-íris em tons de cinza; o revolucionário preguiçoso; o i sem pingo no i; a criança no geriatra; o fim da circunferência; o poeta sem inspiração; o anão gigante; a borracha arrependida; a anarquia no formigueiro; o galo com insônia; a chuva sem nuvens; a neve no calor; o cabeleireiro e o careca; a viúva e o tarado; o suicida arrependido um infinitésimo antes do impacto; uma gota de água caindo a nove vírgula oito metros por segundo ao quadrado na latitude 47º e longitude 30º; o urubu que não fica bem de preto - e que é necrófobo; o japonês que recebeu a sentença de morte e tossiu; a barata tonta; a bailarina com uma bolha na ponta do dedão do pé; o mendigo vaidoso; o artilheiro com pena do goleiro; a impressora sem tinta; os olhos mais belos do mundo que jamais viram os olhos mais belos do mundo; a privada que tem nojo de cocô; o vegetariano na churrascaria; o controle remoto sem a televisão; o machista queimando sutiãs; a masturbação da freira; a masturbação do padre na frente da freira; a bactéria fazendo pose para o cientista no microscópio; o comunista megalomaníaco; o porteiro com síndrome do pânico; o navio petroleiro sem combustível; a cortina sem janela; o perfume do gambá; o Aurélio sem palavras; a caligrafia do analfabeto; as aleluias no blecaute; a prostituta virgem; o peixe afogado; o frango à passarinho; a amnésia do amigo imaginário; a cárie do dentista; a tortura no masoquista; a escravização da abelha rainha; o furacão tonto; o relógio impaciente; a vítima agradecendo ao assassino; o Jesus com a cruz no ombro pisando na bosta; o computador que perdeu a paciência; a camiseta regata do esquimó; o pára-quedas no vácuo; o sabonete da princesa com um pentelho grudado; o intelectual coçando o sovaco ao invés da axila; o cheiro de sovaco na loja de perfumes; o melhor músico do mundo na Sede Barueriense dos Surdos; o burguês que perdeu o emprego; a bruxa de rodo na chuva; o matemático que perdeu a conta; o português sem bigode; o gago dizendo um trocadilho; a vidente que se surpreendeu quando a previsão deu certo; a bíblia na página seiscentos e sessenta e seis; o mendigo fazendo cocô na calçada da fama; o dono que repete o papagaio; o fofoqueiro confiável; a labirintite do furacão; DEU, o singular de deus.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O meio é a massagem

Muitas pessoas lêem em outro lugar os textos publicados primeiramente aqui neste blog e sentem que lhe falta algo.

"É como se o macarrão estivesse sem o queijo ralado", disse um conhecido. "Sem o queijo ralado, não! É como se estivesse sem o molho, mesmo!", aprofundou um conhecido mais exagerado que estava ouvindo a conversa.

Eles estão certos. É como experimentar do mesmo prato em um lugar diferente. E não é por estar requentado, porque os textos deste blog podem ser lidos várias vezes, porque cada leitura aprofunda as idéias mais brilhantes!

Isto acontece porque o meio não é a mensagem, como disse um sociólogo famoso. Não. O meio é, na verdade, a massagem.

A leitura, como se sabe, não é como se lhe dissessem simplesmente uma coisa. É como se lhe dissessem ao pé do ouvido.

O bom meio é aquele que primeiro lhe tira os sapatos; depois as meias, o terno, afrouxa-lhe a gravata e encosta o terno para lhe sussurrar um bom texto nos ouvidos, enquanto massageia seus ombros!

Rola & Pica

Rola pica
pica o vento.

Pica o tempo todo
mas não pica o tempo.

Se meu pau tomasse fermento
picaria maior que a pica de um jumento.

A lição das prostitutas

Vocês devem achar que não, mas as garotas de programa têm muitas coisas a nos ensinar.

- Ora, elas nem sabem falar português!

E eu estou dizendo que elas têm que nos ensinar a gramática da língua portuguesa?

O tatu não sabe falar português e nos ensinou a cavar túneis; o pavão só faz barulhos esquisitos e nos ensina a fazer abanadores; as múmias falavam o egípcio e nos ensinam técnicas de conservação de restos humanos; o amor é cego e nos ensina a ver o mundo de um jeito diferente!

Achar que as prostitutas não podem nos ensinar coisas só porque não falam português corretamente é mais preconceituoso do que chamá-las de puta.

Entenda: puta e prostituta significam exatamente a mesma coisa. Só que quando você chuta a quina com o dedinho, não diz prostituta.

A lição de hoje das putas é: "Não façam programas com platéia".

O CQC da Bandeirantes, o programa da Márcia, o VMB. Todos estes programas são muito mal sucedidos e sem graça. Sabem o motivo? A platéia no estúdio.

- Mas o Silvio Santos dá certo há duzentos anos com platéia!

O SBT seria líder de audiência se não tivesse!

A platéia atrapalha os programas de TV da mesma forma que atrapalharia um programa com uma prostituta. Inibe os apresentadores da mesma forma que inibe o carente sexual.

Aprendam com as prostitutas.