sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Na careca do vovô

Eu vi um texto
na careca do vovô.
Assim que ele me viu
bateu asas e voou!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O texto

O texto, iá iá.
O texto, iô iô.
O texto bateu asas e voou.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Entrevistas com lideranças - Obina

Os encontros com as lideranças de todo o mundo não têm sido muito frutíferos. Não sei se o caro leitor notou, mas os índices de fome na África continuam os mesmos, a desigualdade social do Brasil não diminuiu, o Bono Vox continua tendo muito sucesso e a crise está piorando cada vez mais. Não pensei que teria que incluir estes assuntos nas entrevistas. Achei que fosse implícito.

As lideranças mundiais estão muito despreparadas. Elas não entendem nada que não seja dito literalmente. Não contei na entrevista, mas disse para Obama que estava com água nos joelhos e ele não me ofereceu o banheiro! Tive dizer que queria urinar para que então ele tivesse a ideia de me encaminhar ao banheiro.

A única serventia destas entrevistas até hoje foi o aumento de visitas neste blog. Gente que me desconhecia mas que conhecia Obama, passou a me conhecer. E o contrário também ocorreu. Muitas pessoas não tinham ideia de quem fosse o presidente americano, e passaram a conhecê-lo sob minhas palavras. Não deixa de ser uma honra. Isto demonstra, porém, o perfil das lideranças de hoje. Elas não são boas no que fazem, são boas de audiência!

De hoje em diante, procurarei as autoridades que realmente podem mudar o mundo e as cobrarei por isso. Nada melhor que começar com Obina.

No Brasil, não é a autoridade política quem tem a verdadeira autoridade; quem manda é o craque. Nunca vi Obina jogar bem, mas tenho certeza de que é por puro azar. Alguém melhor que Henry, Eto´o e Ronaldinho só pode ser um craque de primeira. Além disso, é um craque que manda na maior torcida do Brasil e do mundo.

(Dizem que há dois times mexicanos com torcida maior que a flamenguista, porém o torcedor mexicano é passivo. Três torcedores mexicanos equivalem a um flamenguista, assim a torcida do Flamengo é maior.)

Encontrei Obina em sua casa, o Maracanã. Fazia sol e eram quatro horas da tarde, e fizemos uma entrevista ótima. Acontece que esqueci de apertar REC e meu gravador não ouviu nada.

- Obina, teremos que repetir a entrevista.

- Claro! É um prazer falar contigo. Mas só repito com uma condição?

- Qual, Obina?! Me diga logo que condição é essa!

- Só repito se você jogar uma bolinha aqui com o pessoal!

Engraçado como há exigências que são muito prazerosas e hábitos que são enfadonhos. Não só é claro que jogaria uma bolinha com o pessoal, como estava querendo isso desde o começo, mas sem jeito para pedir. Foram dois tempos de quarenta e cinco minutos. Pediram para eu vestir a camisa do Flamengo, mas eu me recuso a me vestir um manto que não seja do Palmeiras ou do Inter.

- Por que do Inter, rapá? - perguntou Obina, quase ofendido.

É que minha namorada me fez colorado.

Fiz quatro gols e percebi que dou azar a Obina. Ele não estava em um dia inspirado, já que perdeu seis gols na cara do goleiro. Teve um sétimo que nem goleiro tinha. Engraçado é que ele ria a cada gol perdido, como se gostasse disso. Eu experimentei perder um gol para tentar alcançar a alegria de Obina, mas infelizmente a bola entrou mesmo sem eu querer. Vida de craque é mais difícil do que parece. A foto é da comemoração pelo quarto gol que fiz, de bicicleta. Obina é um sujeito tão legal, que comemora os gols dos outros como se fosse dele. Quando tomamos um gol, Obina também comemorou.

- Obina! Vê se fica na sua! - eu disse, um pouco nervoso.

- Que foi? Foi gol!

- Cala boca, Obina. - e o nosso craque ficou amuado.

O jogo finalmente terminou, 3 a 1 (um dos gols que fiz foi contra), e começamos a entrevista bastante suados.

- Sorte que a entrevista não vai para a TV! Estou tão suado que quem assistisse sentiria o cheiro!

Eu continuaria este devaneio, mas estava latente em mim a responsabilidade social de quem tem um blog como este.

- Obina. Como faremos para resolver a crise no Oriente Médio?

- Onde fica? - respondeu o artilheiro com fina ironia. Sorri ao me deparar com tanta inteligência. Obina revelou ao mundo seu descaso com quem briga. Se o Oriente Médio não estiver em paz, Obina se recusa a falar sobre esta região. É um duro golpe na barriga dos briguentos.

- O mundo está diante de uma grande crise financeira com poucos precedentes na história. O que você acha disso? Você perdeu muito dinheiro?

- Olha, acho melhor acabar com a crise. - fiquei muito avermelhado ao perceber que toquei numa questão pessoal de nosso grande ídolo. Esta entrevista é para resolver o problema do mundo, não para fazer fuxicos!

- Desculpe, Obina. Há alguma solução para a crise?

- Tem, sim. Mas não vou falar.

Caramba.

- A fome da África?

- É o que eu sempre falo. Para resolver a fome da África, tem que alimentar os africanos. Só assim resolveremos este grande problema. Agora eu tenho que ir embora.

Obina se levantou e eu percebi que novamente esqueci de ligar o gravador. Comuniquei isso a ele, que respondeu com grande simpatia:

- Tudo bem, inventa!

E assim se encerrou a entrevista com o maior craque de todos, Obina.

Regra de convivência #68 - Não pedir para ninguém parar de fumar

Os leitores estão ficando preocupados. A cada nova regra de convivência, é uma coisa a menos que eles podem fazer. Já se sabe que não se pode ter filho sem engordar, não pode falar que leu Nietzsche, e muitas outras coisas. E estamos apenas na regra de número 68!

Acalmem-se, leitores, antes de falar alguma coisa. É melhor não falar nada quando se está nervoso. A gente não sabe falar calmo, imagine nervoso?!

As regras de convivência nos impedem de fazer algumas coisas. No começo, é muito ruim, pois são coisas que adorávamos fazer. Mas depois nos acostumamos e nos sentimos superiores a antes.

(Recebo muitos e-mails de pessoas dizendo que gostariam de ser como eu. Elas querem que isso aconteça com alguma fórmula mágica ou por vontade própria. Mas requer muito trabalho ser uma pessoa como eu! Além de seguir todas as regras de convivência, é preciso muita, muita leitura. Para ser como eu, faça como eu: leia sempre meus próprios textos.)

Seguir as regras de convivências traz algumas recompensas. O sujeito que não diz que leu Nietzsche passa a ser mais respeitado, o homem que engorda antes de ter filho é mais amado pela prole, aquele que não pede para ninguém parar de fumar ganha amigos não fumantes. Explico por quê.

Todos sabem que fumar não faz bem. Até uma pessoa burra e analfabeta tem a exata noção do que o fumo é capaz de fazer com um pulmão humano. Mais burra seria essa pessoa se falasse isso para todo mundo.

Porque pedir para alguém parar de fumar tem efeito contrário. A pessoa não se sentirá inibida a fumar.

O sujeito que começa a fumar faz isso para parecer legal, ter uma maior aceitação, ser diferente, chamar a atenção. Ou seja, é alguém que não quer ser chato, mesmo que isso lhe custe um câncer. Pedir para parar de fumar é muito chato, e coisa feita por pessoas que não fumam. Se alguém estiver pensando em parar de fumar, um pedido desses somente incentivará a pessoa a desistir da idéia e fazer o contrário. O sujeito pensará: “Se não fumar deixa a pessoa chata assim a ponto de pedir para os outros pararem de fumar, vou continuar fumando!”

Portanto tenha cuidado. Se você quer que seu pai, sua mãe ou algum querido pare de fumar, mostre que você é mais legal do que ele jamais pedindo para que parem de fumar. Este é o único método eficaz.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Regra de convivência #26 - Não tenha filhos antes de engordar

Os muito magros que me desculpem, mas gordura é fundamental.

A reclamação mais comum das sogras para as noras é a engorda do filho. A sogra diz:

- Você engordou meu filho, sua piranha!

A nora não responde porque não sabe da regra de convivência #26. Se ela soubesse, todo trabalho que ela teria seria o de indicar a leitura deste blog. Eis a resposta:

- Engordei, sim! Eu engordei o seu filho porque quero ter um filho com ele, a despeito de ele ter uma mãe peçonhenta! Caramba, meu filho não vai poder conhecer a avó!

Esta é uma regra instintiva feminina, na verdade. É o instinto materno que vem antes do filho nascer. A primeira atitude que uma mulher tem como mãe é engordar o marido. Uma mulher não gostaria que o pai do filho dela fosse um magro. Porque o filho, antes de entender as coisas e ter juízo sobre elas, tem o seguinte critério: gente boa é gente gorda.

O pai tem que engordar mais que a mãe. Ter uma gordura extra significa dar ao filho a prioridade total. O sujeito que engordou é aquele que desistiu de ser bonito para os outros para ser bom com a família. Gordura extra evita até amantes mais tarde.

Você pensa que a mãe engorda na gravidez porque tem um filho dentro dela? Não. É para parar de ser olhada na rua e ser respeitada, mesmo que não queira. Depois a mãe emagrece; mas como ela esteve gorda durante nove meses, todos lembrarão que ela é mãe e tratarão de respeitá-la.

Deus, o plural de Deu;

Deus sabe lidar muito bem com água.

Quando perde a paciência com os mendigos, aumenta a chuva, dando claro sinal que é hora de eles trabalharem e pararem com essa folga; quando pesa a consciência com os sertanejos, molha-lhes a terra e já se sente melhor; e quando quer brincar com os indonésios, faz a maior onda que alguém já viu.

Uma vez chamou Abraão e sua turminha. Disse-lhes: "Venham reto até mim!" Deus, porém, se esqueceu de que havia entre eles um imenso mar vermelho. "Putz! Que preguiça de construir uma ponte!" E Deus deu a Moisés o poder de abrir o mar.

Isto foi causa de grande arrependimento posterior a Deus. O milagre era o mar ser vermelho, não aberto. Ninguém mais liga para a cor do mar. Uma vez um padre foi ao céu e perguntou a Deus o porquê de aquele mar aberto ser chamado de Vermelho. Deus disse que o nome veio antes, pois outro milagre para ele já havia sido programado e deu tudo errado. Além do mais, em algumas línguas o mar seria chamado de mar Arrombado.

"Que espeto!", diz Deus, o plural de Deu, ao se lembrar da preguiça daquele dia.

Jesu, o singular de Jesus;

Jesu, filho de Deu, nasceu em Carapicuíba no dia vinte e cinco de março de 1976.

Ele sempre foi uma criança que gostava muito de bugigangas. Era só encontrar um camelô, que comprava várias coisas a apenas um real e noventa e nove centavos. Pouca gente sabia disso, porque ele dizia que eram coisas caríssimas - como sabia escolher muito bem o que comprar, todos acreditavam.

Há uma famosa rua em São Paulo cujo nome o homenageia com o dia de seu aniversário, mas Jesu nega com todas as forças. "Se espalharem isso, vão descobrir meu segredo! Meu nome deveria ser Oscar Freire. No máximo, Haddok Lobo. Adoro nome de animal no nome!". Para despistar, ele diz que na verdade nasceu no dia vinte e cinco de dezembro, não de março.

Tudo bem. Conta-se que Deu fez questão de comprar um berço feito a ouro para o menino. "O pessoal não perdoa. Tem um sujeito que nasceu há dois mil anos e toda vez que vão falar dele dizem que não tinha berço de ouro. As pessoas são muito maldosas! Precisa ficar lembrando?!", costuma dizer Deu, o singular de Deu e pai de Jesu, o singular de Jesus.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Pergunta do leitor

O leitor se apropria de todos os blogs.

Quando vi meu e-mail na semana em que estreei o blog, não acreditei. Havia um recado de um leitor ordenando que eu publicasse um conto de autoria dele. Eu respondi que seria impossível, e não porque o conto era terrível, mas porque não era meu. Se o Shakespeare me mandasse um poema inédito, eu não publicaria. Recomendaria que ele criasse um blog próprio, onde pudesse publicar os textos próprios, da mesma maneira que fiz com o leitor.

Mas já me acostumei com isso. Aliás, me acostumei a dizer não às ordens. Isto faz com que eu perca alguns leitores, mas perderia muito mais se publicasse essas coisas horríveis que chegam à minha caixa-postal.

Não me surpreendo mais também com as perguntas que recebo de todos os cantos do Brasil. O leitor quer saber o nome da minha namorada, quantos anos eu tenho, qual é o número do meu celular, de que marca é o piercing que uso no umbigo, se gosto mesmo do Sidney Magal ou é só para fazer tipinho. Enfim, o leitor acha que só porque a Britney Spears conta tudo da vida dela, eu também deveria contar. Alguém disse outro dia que é melhor ser fã da Ivete Sangalo, "pois ela revela a vida para os fãs". Vá ser fã da Ivete Sangalo e deixe este blog tranquilo, meu chapa.

Um desses leitores enviou uma pergunta de minha vida pessoal que é surpreendentemente pertinente. É uma pergunta da vida pessoal que possui estreita relação com o blog. Explico. O leitor quer saber quanto tempo passei em coma. A ligação com o blog é que se eu estive em coma, não pude escrever textos maravilhosos.

Resposta: Como eu estava em coma, não tem como saber quanto tempo eu estive neste estado.

Deu, o singular de Deus;

A culinária é uma prática muito apreciada por Deu.

Ele come muito, mas são seus fieis que acumulam suas gorduras. É assim que se explica o motivo daquela velha etíope que não come há 369 dias e pesa 156 quilos.

No último domingo, quando à tarde Deu se achegou a um restaurante popular no centro do Rio de Janeiro, houve muito alvoroço. Um homem morreu por apreciar tal grande divindade; outro morreu por um carocinho de frango engasgado, mas todos pensaram que foi também por ver Deu; um terceiro ainda teve um enfarto, mas não entrou nas estatísticas - afinal, o que é um infarto perto de duas mortes?

A primeira morte foi artifício de Deu para conseguir uma mesa vaga, o que depois foi motivo de arrependimento ao nosso grande mestre, já que como outro morreu e o outro teve infarto, ficaram três mesas vagas. Veja que este arrependimento não teve nada de muito dramático. Foi um arrependimento risonho.

Já sentado em sua mesa, quatro garçons se achegaram a Deu. Não é que eles tenham se confundido. Acontece que Deu pede tantas coisas, que um garçom só não dá conta.

Ele pediu arroz, feijão, pepino, alface, scargot, berinjela, macarrão, big mac, Coca-Cola, beirute, esfiha, caramelo, sorvete, e muitas outras coisas. Quando o último garçom já estava quase chamando um quinto, porque já não cabia mais nada em seu bloquinho, Deu exclamou:

- E para finalizar, quero acetona sem caroço!

Todos no local se assustaram e olharam para Deu.

- Estou brincando, não precisa de mais nada. Queria só saber se estavam todos atentos - disse Deu, o singular de Deus.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ombudsman

Meu nome é Pelé. Não sou tão famoso quanto aquele, mas sou o rei.

Este site anda muito centrado em uma só pessoa. Não que esta pessoa, o André Ursípedes, não mereça ser centrada. Pelo contrário! É alguém cujo cérebro merece ser estudado até as últimas instâncias! Mas não neste lugar.

Este blog cresceu tanto com textos tão magníficos, que ultrapassou o próprio gênio que o criou. Ele merece, pois, mecanismos próprios, para evitarmos déficits de atualização como o que ocorreu quando o senhor Ursípedes entrou em coma. Eu não gostaria de falar sobre isso, mas um dia André Ursípedes falecerá, e o que será deste espaço? Um blog de lembranças?

Também é preciso de alguém que evite abusos típicos dos grandes gênios. Outro dia, acho que era uma terça-feira, peguei André esculachando um visitante só porque ele não estava de terno. "Para casar o senhor veste terno!", dizia André, "mas para entrar neste lugar, muito mais nobre do que aquela igreja mequetrefe, vem de cuecas!", concluía já humilhando o visitante na frente de todos os outros.

André não concorda, mas é preciso uma fonte reguladora. Alguém que faça o diálogo entre o público e o gênio; entre o desentendimento e a sabedoria; entre as palavras de efeito e as gírias de internet. Para isso, ninguém melhor que eu, o ombudsman Pelé.

A partir de agora, todos os leitores podem enviar a mim denúncias e dúvidas sobre o conteúdo exposto no blog. Caso as denúncias não cheguem - o que acho provável, já que André não autorizou que eu passe meus contatos -, eu mesmo o esculacharei neste espaço.

Não pensem que falarei mal do blog somente quando houver motivos para isso. Pelo contrário! André se abate com críticas justas. Quando ele erra, o melhor a se fazer é esperar que se retrate disfarçadamente, como quem não errou. Uma vez um professor o criticou justamente e mordeu a língua logo em seguida. Mordeu mesmo, literalmente. Não sei por que isto aconteceu.

Comecemos, pois. Eu gosto muito de falar, de jogar bola, mas é hora de trabalhar, senão meus salários serão sumariamente suspensos.

Quinta-feira passada André publicou na íntegra uma entrevista com Jô Soares. As respostas foram brilhantes, e se dependessem somente delas, ninguém estranharia; acontece que as perguntas também eram muito boas.

Todos nós conhecemos a capacidade de Jô Soares; mas a de André é, além de superior, inconfundível. Os leitores, críticos e amantes da boa literatura questionam: "O André realmente foi ao Jô? Se foi, por que ao invés de publicar a entrevista digitada, não colocou vídeos do YouTube?"

Ou seja. Há quem pense que a entrevista foi toda forjada para elevar a moral de Jô Soares. Sim, que André, aquele que não ajuda nem os próprios familiares, nem mendigos – ele não ajudaria nem um familiar que fosse mendigo -, teria ajudado Jô Soares!

Eu encaminhei pessoalmente as perguntas ao nosso grande ídolo. Ele me recebeu sem grandes cerimônias em sua cobertura na Ana Costa. Com um copo de Coca-Cola na mão, me olhou surpreendido. Eu lhe expliquei que nesta função, teremos que manter contato permanente! Ele ficou um pouco aliviado e divertido, porque desconfiava que uma pessoa como eu pudesse achar defeitos no blog tão perfeito dele. "O melhor blog do mundo!", como dizem as más línguas que ficam nas mesmas cabeças de bons cérebros.

- Fala aí, Pelé, quais são as perguntas? O pessoal não te confunde aqui em Santos?

- As perguntas são duas - respondi envergonhado - e ninguém me confunde com aquele. Você realmente foi ao Jô?

- Fui, sim. Publiquei inclusive a entrevista completa no site, digitadinha!

- É esta justamente a dúvida. Por que não publicou, então, o vídeo no YouTube?

- Para não fazer propaganda do YouTube sem ganhar dinheiro. Olha aí, Pelé, já estou fazendo! Tome cuidado com o que você diz!

- Há quem pense que você não foi ao Jô; que a entrevista foi somente para elevar a moral dele.

- Pelé! Pelo amor de Deus! Desfaça logo este equívoco! Posso ser arrogante, prepotente, chato... mas bonzinho, não!

E assim André sanou todas as dúvidas que por um acaso talvez pudessem existir sobre a suposta inverdade na entrevista concedida ao grande ícone da cultura pop mundial, Jô Soares.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Entrevista com Jô Soares


Jô Soares entra no estúdio aparentemente muito entusiasmado com a performance de sua banda. Dança um pouquinho e surpreendentemente ninguém da plateia acha ridículo. Estamos todos encantados com a presença deste grande homem. No centro de tudo, ele diz "uou!" para interromper a música e finalmente começar o programa.

- Boa noite! Estamos no ar ao vivo pela Rede Globo de Televisão e pelo blog Eu não sou virgem, Maria! - Jô espera os aplausos terminarem para começar as piadas - Vamos começar com respostas de vestibulares e provas de todo o Brasil! Pergunta: Qual é a capital da Guiana Francesa? Resposta do aluno: Paris Guianense!

O público todo ri, menos eu.

- Pergunta: Em que ano que o Brasil foi descoberto? Resposta: Eu não sei em que ano o Brasil foi descoberto, mas eu nasci em 1987 e sou brasileiro. Portanto é antes disso.

O público ri bastante e até eu ri, porque o aluno foi muito perspicaz.

- Pergunta: Qual é a altura de um elefante? Resposta: A altura, eu não sei, professora. Pensei que a senhora fosse perguntar o peso!

Nessa hora, eu já fiquei contaminado com a plateia e já ria sem pensar.

- Pergunta: Três homens e três mulheres compram 7 laranjas, quatro peras, um refrigerante e dois pães. Quantas comidas cada um deve comer? Resposta: Um terço para cada homem, as mulheres só cozinham!

Todos riem, e um sujeito ao meu lado começou o aplauso. Jô sorri como se não se importasse, como se já soubesse que é bom.

- No programa de hoje teremos André Ursípedes, o maior escritor do mundo contemporâneo! Ele orientou obras de Dostoievski, Saramago, Robinho, Chico Buarque e de outros artistas que não conhecemos! Três blocos de André! Um beijo do gordo!

Aplausos.


Segundo bloco


A banda toca, Jô Soares diz "uou!" e:

- Vem conversar comigo, André!

Eu me levanto deslumbrado com tantos aplausos. Estou acostumado a escrever neste espaço há tantos anos sem o aplauso físico! Agradeço efusivamente colocando a mão em meu coração. Quem me viu pensou que eu fosse chorar, mas meus olhos estavam vermelhos somente pelo excesso de luz. Caminho até o Jô, que tenta me dar um beijinho. "Só beijo pai, filho e sobrinho", disse no ouvido dele. Nos abraçamos, dei mais um aceno à plateia, e me sentei na parte destinada aos convidados.

- E aí, André! Me conta sobre seu novo livro!

- Ah, sim! Comprei ontem na Saraiva um livro sobre a Croácia!

- A Croácia é um país europeu que limita ao norte com a Eslovênia e Hungria, a nordeste com a Sérvia, a leste com a Bósnia e Herzegovina e ao sul com Montenegro. É banhado a oeste pelo Mar Adriático e possui uma fronteira marítima com a Itália, no golfo de Trieste. - diz Jô enquanto eu olho para ele estranhando - O país é membro das Nações Unidas, da Organização para Segurança e Cooperação na Europa e do Conselho da Europa, além de ser candidato a membro da União Européia. A Croácia foi convidada a integrar a OTAN em 3 de abril de 2008, o que deve ocorrer formalmente em abril de 2009. O gentílico para o país é "croata". O topônimo "Croácia" entrou na língua portuguesa por intermédio do francês croate ("croata"). Este, por sua vez, parece advir do eslavônico horvat, "montanheses". O gentílico "croata" é registrado em português a partir de 1538.

- Caramba, Jô! Quem tem você não precisa de Wikipedia, hein? Mas eu disse croaçã, não Croácia!

- Ah, sim! Mas acho que você disse Croácia, hein? Bem, croissant é uma palavra francesa, que significa crescente. Identifica um pão característico, de massa folhada em formato de meia-lua, feito de farinha, açúcar, sal, leite, fermento, manteiga e ovo para pincelar. Sua origem é atribuída a padeiros de Viena. Conta-se que em 1563, enquanto...

- Calma, Jô. Eu vou saber disso tudo no livro.

- Eu contaria de um jeito mais interessante, mas aqui é o convidado quem decide às vezes. A pergunta original não era sobre o último livro que você comprou, mas sobre o último livro que você escreveu!

- Eu escrevi um livro ótimo. O nome dele é "Tudo sobre croaçãs".

- Não é o mesmo que você comprou ontem?

- É, sim! Eu compro os livros que eu escrevo para forçar a editora a fazer mais livros!

- Agora não vai mais precisar fazer isso, porque um livro anunciado aqui é sempre muito bem vendido! E por que você escreve croaçã com cedilha e til?

- Não gosto do jeito correto da grafia. Na verdade, no livro não tem nada de croaçãs. Coloquei este título somente para propor uma mudança na língua, de croissant francês para o croaçã brasileiro. Fica muito mais bonitinho.

- Soube até que você tem um poema sobre isso...

- Tenho, sim. É sobre um engano idêntico ao que ocorreu hoje neste programa. É assim:

Vó,

Gostei muito da nossa viagem à Croácia.
Os croatas
são muito divertidos,
e foi muito engraçado
quando eles acharam graça
do seu chapéu.

Mas vó,
o que eu queria
era croaçã!

- Brilhante! Magnífico! Estupendo! Maravilhoso! Chamem a vinheta, por favor, para continuarmos a conversa no próximo bloco!


Terceiro bloco

- Voltamos com André, o homem do melhor blog do mundo. É verdade que o seu blog é o melhor do mundo?

- É, sim.

- Por quê?

- Porque você acabou de falar que ele é o melhor blog do mundo. Eu não ousaria discordar de uma pessoa como você.

Risos da plateia.

- Como que o blog ficou tão conhecido?

- Tudo começou pelo Orkut. Eu entro nas comunidades para divulgar o blog como se ele não fosse meu! Foi assim com a comunidade do Calypso, do Lenny Kravitz, do José Saramago, do Dostoievski...

- Esses dois te plagiaram, é isso?

- Mais ou menos. O Dostoievski não me plagiou. Fizemos um contrato em que eu escreveria todos os livros da melhor forma possível, ele me daria uma grande compensação financeira por assinar a obra e eu manteria o sigilo. Acontece que ele quebrou o contrato e eu pude revelar ao grande público este acordo.

- Você é incrível. Os livros que eu pensava que fossem do Dostoievski são ótimos. Posso dizer que sou seu fã desde criancinha!

- Obrigado, meu chapa. A partir do próximo ano, os livros passarão a ter a minha assinatura. No livro "O Idiota", vai ficar assim: "André Ursípedes, o idiota"!

Risos da plateia.

- No caso do Saramago, ele simplesmente me plagiou. Existia o meu livro, "Ensaio sobre a cegueta" e ele fez o "Ensaio sobre a cegueira", diga-se de passagem um ótimo livro, visto que copiou quase que inteiramente o meu. Para diferenciar um do outro, ele abdicou de toda pontuação.

- E o Chico Buarque mudou a letra toda de "A Banda" por sua causa?

- É! Ele escreveria "A Bunda"! Seria um fracasso completo.

- Concordo plenamente. Fica para mais um bloco?

- Claro!

- Chama a vinheta, pessoal!


Quarto bloco


- André, você está aqui há tanto tempo e não tomou nada!

- Estou com vergonha, mas morro de vontade de uma Coca geladinha!

- Alex! Traga uma Coca gelada para o rapaz.

Alex traz a Coca realmente geladinha, e eu aprecio com grande prazer.

- Sabe, Jô, o grande problema de tomar Coca em locais públicos é a vontade de arrotar. Olha! Só dei um golinho e já quero arrotar! Eu deveria ter tomado bastante água até passar a vontade de Coca. Você me perdoe, mas falarei menos nesse bloco. Pode descontar do cachê, que eu não estou precisando tanto assim de dinheiro. Quero que seja um cheque no seu nome!

- Por quê? Você também é meu fã?

- Não muito. Mas outras pessoas são. Aí eu vendo o cheque pelo dobro do valor!

- Você é mesmo um gênio. Nunca pensei em vender meus cheques.

- Eu vendo os meus sempre! Nem precisa ter fundo, sabe? Porque ninguém deposita. Eu nunca dou autógrafos para valorizar os cheques.

- É chegado o momento do fim desta entrevista.

- Ahhhhh - lamenta a plateia.

- Ufa. Preciso fazer xixi! – eu disse.

- Pode ir indo enquanto eu encerro o programa!

Fui correndo ao banheiro da produção e pude fazer o xixi mais esperado do dia.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Meu primeiro palavrão

por Ewerton Clides

Vejo pessoas falando palavrões nas ruas sem a menor vergonha.

Quarta-feira passada um homem pisou nas fezes de um cão e exclamou um palavrão com a soberba de quem diz uma frase de impacto sociológico! Eu lhe olhei assustado, ofendido. Por que um palavrão no meio da rua? Lugar para fezes, gases e palavrões é no banheiro!

Ele, no instinto de defesa, perguntou se eu, Ewerton Clides, digo palavrões.

Ora, é claro que não digo. Como também é claro que se dissesse, não admitiria! Meus grandes textos sociológicos de toda minha vida perderiam o status se eu falasse palavrões. Sou conhecido como Ewerton Clides, o controlado. Sociologia não admite descontroles nem palavrões. Aconteceu, porém, de uma vez eu dizer um palavrão.

Uma pessoa conhecida estava a atravessar a rua – fora da faixa de pedestres, é claro - no movimentado centro da cidade de São Paulo. Um carro vinha na direção dele, na iminência de atropelá-lo, e eis o que ele ouviu sair de minha boca:

- Porra, Arnaldo!

Ele imediatamente se virou, rindo, surpreso de eu, Ewerton Clides, dizer um palavrão.

- Por que você disse porra, Ewerton Clides?

- Não, Arnaldo! Eu não disse porra; eu disse corra!

E foi assim, explicando que não havia dito um palavrão, que eu, Ewerton Clides, disse meu primeiro palavrão.

Onde está Wally? #4

- Onde está Wally? – perguntou um sujeito alto, moreno claro e de touca.

- Vendo pelas minhas fichas, ele deve estar na terceira fila, quarta cadeira, segunda repartição, sétima série. Caramba! O que um cara dessa idade faz na sétima série?! Eu, hein. Não vou falar nada para o diretor, mas é deveras estranho. - respondeu o responsável pelo corredor da escola pública londrina.

Deus, o plural de Deu;

uma vez Deus teve um filho especial a quem deu o nome de Jesus.

Jesus conquistou a todos com seu jeito simples de ser e com a facilidade em criar frases de efeito. A frase muito usada pelos pedófilos de nosso tempo "Deixem as crianças chegarem até mim!", por exemplo, foi ele quem inventou. Mas fiquem tranquilos, caros pedófilos, porque Jesus não cobra royalties. Ele nasceu numa época em que status valia mais do que dinheiro.

Um dia, no meio de uma crise criativa, Jesus começou a andar por seu vilarejo pensando em uma frase de efeito. Sem querer, caminhou sobre as águas. Mas ninguém acreditou.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Deus, o plural de Deu;

Deus é aquele que está em todos os lugares.

Uma vez a minha avó materna me disse, em tom de confidência: "Sabe quem eu vi hoje?!". "Quem?!", eu perguntei muito empolgado, já que havia visto algo de muito interessante no mesmo dia. "Deus!", ela respondeu, "eu vi Deus e ele é barbudo!". O meu susto só não foi maior que a minha surpresa: "Eu também! Vi Deus hoje lá no sacolão!". Minha avó o havia visto no mercadão, no outro lado da cidade, e coincidente na mesma hora.

O que Deus divulga como uma grande virtude é, na verdade, um fardo terrível! Estar em todos os lugares ao mesmo tempo significa, na verdade, não estar em nenhum. Falar no telefone com alguém buzinando atrás do ouvido é difícil, não é? Imagine conversar com alguém sendo que toda a humanidade está querendo sua atenção ao mesmo tempo. É mesmo uma coisa horrível.

Isto leva a muitas contradições, também. No jogo Palmeiras x Corinthians, Marcelinho Carioca rezou para fazer o gol; Marcos defendeu e agradeceu a Deus. Será que Deus estava prestando atenção a Marcos, e enquanto Marcelinho orava, Ele dizia: "Tá, tá... depois eu vejo isso"? Não sei.

Pluralidade é muito difícil. Que o diga Deus, o plural de Deu.

Deu, o singular de Deus;

Deu não gosta muito de santos. Ele acha que delegar funções é para as divindades que carecem de honestidade no caráter.

Deus diz que está em todos os lugares ao mesmo tempo, quando na verdade são os santos, os anjos, os padres, que formam uma imensa rede que representa o Senhor. Por isso, são os representantes de Deus que estão em todos os lugares ao mesmo tempo, não propriamente Deus.

Uma vez, Deu teve problemas com um representante de Deus, o São Pedro. Deu, prestes a inaugurar um templo no sertão nordestino, achou esquisito quando viu as nuvens se aproximando naquele lugar que não chovia desde 1863. A chuvaresolveria o problema de toda a lavoura, mas estragaria todo o evento. Quis falar com Deus, mas viu que se perderia na burocracia, pois precisava do carimbo de um padre, da boa vontade do papa e da disponibilidade de um anjo. Deu gritou aos céus, ordenando:

- São Pedro, seu crápula! Pare logo com essa chuva, senão vou falar com Deus, que é muito meu chapa!

São Pedro ameaçou fazer chover naquele grande dia de festança, quando recebeu ordens maiores e fez voltar o sol àquela região.

Três meses depois, Deu se encontrou com São Pedro, e este sequer lhe olhou!

- Ora, aquilo não foi nada de mais! Não faça tempestade num copo d´água! - disse, tentando amenizar a situação, Deu, o singular de Deus.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Números

Alguém que realmente conhece as mulheres sabe que não há mal nenhum em perguntar-lhes a idade. Eu mesmo pergunto para muitas idosas a idade que elas têm. E elas dizem, muito naturalmente, um número três dezenas menor do que o original.

"Tenho cinquenta e três", diz a idosa que há 36 anos recebe aposentadoria. "Quarenta e um", a outra que tem mais pés de galinha em volta dos olhos do que há no maior chiqueiro do cinturão verde paulista!

O mal, minha gente, está em duvidar do número.

A mesma coisa acontece com os que têm blogs. Não há problema algum em perguntar a audiência. Eu mesmo digo que aqui entram milhões de pessoas por dia. E não é para atrair anunciantes. É para o mundo inteiro se sentir mais inteligente, porque se entra bastante gente aqui é sinal de que estamos evoluindo.

Não experimente, porém, questionar o número que eu digo. Um leitor duvidou que realmente milhões de pessoas comentam aqui todos os dias. Eu fiz beicinho e disse que ele está na minha lista negra, aquela que eu escrevo com lápis branco.

Humildade

O leitor provavelmente sabe que um sujeito que tem um blog vive de bicos.

Como um policial, o dono de um blog presta um serviço essencial à sociedade e não é bem remunerado por isso. Então, outros empregos são essenciais para não se entregar à desgraça da fome e da penúria.

Um conhecido meu tinha um blog e achou que era possível viver somente disso. O blog dele falava de mendigos na terceira pessoa. Um mês depois, era um blog que contava a vida dos mendigos na primeira pessoa!

Quarta-feira passada, antes de entrar em um dos meus subempregos, um sujeito me chamou na rua: "Olá! Você não é o dono do blog Eu não sou virgem, Maria?" Respondi que, além de dono, sou o diretor, o escritor mestre, o estagiário e o office-boy. "Então por que vai trabalhar agora? Imagino que seu blog dê muito dinheiro!" Não. Não dá.

Se este blog desse bastante dinheiro, eu não seria tão humilde.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Deu, o singular de Deus;

a devota Maria Bernardete ficou chocada e muito decepcionada no dia 23 de novembro de 1974. Quando a encontrei, estava às lágrimas! "O que foi que aconteceu?", eu perguntei, mas ela não podia responder com tantas lágrimas na face.

Após pegar um pano, ela começou a responder. "Deu! Deu disse que eu não estou no coração dele!"

Meu Deu! Ouvir isso para Maria Bernardete era o mesmo que Deus vir à Terra somente para dizer a uma freira, por exemplo, que não se importa muito com ela! A diferença é a de que Deu está sempre na Terra, mas isso é somente uma questão de logística.

Disse-lhe: "Vamos ver com Deu! Tirar essa história a limpo! Deve haver um grave engano!"

Levei a Deu a mulher desconsolada. Eis o que ouvimos:

"Ah, Maria Bernardete! Você chorou tanto quanto estou Eu a rir agora! Estes enganos é que fazem a vida ser tão engraçada! Se você soubesse o quanto que isso é engraçado, concordaria que todo seu sofrimento valeu a pena.

Você deve saber que, como um Deu que sou, todos os fieis estão no meu coração. Aqui há engenheiros, empregadas, fuzileiros navais, engraxates, anões... enfim, todos estão no meu coração. Você, Maria Bernardete, foi promovida! Você não está mais no meu coração junto com todos. Tratei de arranjar um lugar só seu, para que fique mais à vontade! Só você está no meu pulmão!”, disse Deu, o singular de Deus."

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Papai noel fora de época vai ao dentista

Roberto se vestiu muito bem na manhã de hoje. Parecia até que ia a um churrasco na beira da estrada. "Vou ao dentista!". Ah, sim! "Para ver doutor, é preciso se vestir bem. Para ver doutor e para ver mulher." E para ver criança? "Para ver criança, tem que se vestir de papai noel."

Ele liga para alguém para saber que linha de ônibus se pega para chegar ao centro da cidade. Nisso se abre uma áspera discussão obviamente desnecessária. O amigo insistia para que ele pegasse o metrô, e ele dizia que quem anda debaixo da terra é tatu. Eu soube depois que Roberto se exasperou quando o amigo disse que tatu anda mesmo debaixo da terra, mas quem não anda é burro. É possível compreender por que Roberto não gosta de ser chamado de burro. Ele passa o tempo inteiro pensando em como os outros são burros. Nestes momentos, ele se sente superior, porque é preciso certa inteligência, um olhar de cima, para achar alguém burro. Será que burro é ele?

Faz calor e ele decide ir a pé. A equipe de reportagem o segue de carro, bem devagar. Tivemos somente alguma dificuldade quando ele ia nas ruas que são contra-mão. Nessas ocasiões mandamos o motorista segui-lo a pé, e eu mesmo dirigi a van.

Roberto pensa em muitas coisas. Geralmente nessas horas pensa como seria bom se fosse rico. Aí teria duas opções. Ou seria um papai noel de verdade e compraria todos os presentes que as crianças pedissem, ou não seria papai noel. Eu, que sou uma pessoa imparcial e não me apego aos entrevistados, creio que ele preferiria não ser papai noel e passar o fim de ano em casa. Mas isso é só palpite. Ele pensou também nos presentes que as crianças pediram. Teve uma que pediu bola de basquete, e ele não disse nada, mas pensou que se fosse papai noel de verdade não daria uma bola de basquete a uma criança brasileira. "A bola ficaria no armário o ano inteiro."

Bem vestido, mas suado como um jogador de basquete, chegou ao consultório do doutor Sérgio.

- O doutor Sérgio não veio hoje.

"Ah, sim", respondeu Roberto. "Doutor tem dessas coisas."

Regra de convivência #426 - Não ser bem humorado aos domingos

Deus, quando criou o mundo, só descansou no sétimo porque não tinha obrigação nenhuma para depois.

Se Ele fosse um Deus ganancioso e quisesse fazer outros mundos, utilizaria o sétimo dia para o mau humor. Para se preocupar com os próximos sete dias e cultivar a resignação.

Esta é uma prova de como Deus não conhece o ser humano. Se conhecesse, saberia que é na sexta-feira à noite que o homem descansa. No sábado não há descanso porque já existe a preocupação de que o dia seguinte é domingo e se pensa: “Como vai ser ruim o domingo!”

Há gente que, ou por não trabalhar, ou por não ter noção da gravidade que é uma semana de trabalho, tem domingos entusiasmadíssimos! A pessoa dá bom dia a todos, conta piadas alegres e, pior, tenta contagiar seu bom humor.

Assim como pessoas bem-humoradas, o bom-humor deve ser duramente evitado aos domingos. Porque o sujeito que não é mal-humorado nesse dia, vai ser quando? Uma pessoa que não se resigna diante do sofrimento e do mau humor não é digna de confiança.

Bom humor de domingo é tão prejudicial quanto o mau humor nos outros dias da semana.

Regra de convivência #326 - Não cantarolar músicas em inglês

Quem chega do Rio de Janeiro e vê os outdoors dizendo que o imperialismo é coisa de satã não tem outra coisa a fazer senão concordar.

Como discordar de Satã? Quem discorda de Deus tem a vantagem do perdão; quem discorda de Satã paga por isso. As placas não foram feitas por terceiros. Está na terceira pessoa, mas Satã é quem diz, na verdade: "É meu! É Meu! O imperialismo é meu!"

Só pode ser. O sucesso de Backstreet boys, Metallica e A-há em nossas terras não desmente. Porque gostar de uma coisa ruim que se pode entender a letra, tudo bem. É como a mãe que gosta do filho feio: Há a desculpa de o filho ser dela. Mas gostar de uma coisa mal feita dos outros é um problema sério! É como a mulher que elogia o feio alheio. Não há cabimento.

Tem gente, porém, que se orgulha disso. Que cantarola uma música que não é nossa com o único intuito de informar a todos que sabe falar inglês.

Nunca cantarole músicas de língua inglesa. Para provar que fez Cultura Inglesa até o último nível, peça para sua mãe guardar as farturas.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Deu, o singular de Deus;

a religião na União Soviética causou fortes enxaquecas a Deu.

Ele não se conformava. Como pode tanta gente russa se mobilizar dessa forma por um sistema político? "Tem tanta coisa boa com o que se mobilizar!", dizia Deu. "Tem o Palmeiras, o amor, o sorvete, o fim do trabalho, o começo de um sono gostoso, e eu, é claro, Deu!"

Preocupar-se com esse tipo de coisa era, para ele, um desperdício. Como não podia reverter todo o quadro, ele pensava em se unir à União Soviética para conseguir-lhe os fiéis. "Acreditem em Deu e no socialismo!", dizia Deu quando estava mais exaltado.

Os americanos, sagazes que são, aproveitaram esta união para destruir dois inimigos com um tiro só. Eles não gostavam de Deu porque Deu não gosta de Mcdonalds. Eis o slogan que eles inventaram: "União Soviética já Deu".

Esta união não foi para frente. Deu desistiu no meio do caminho, quando descobriu como é bom tomar uma Coca-Cola geladinha. Já havia até projetos da criação dos tempos da União Soviética do Reino de Deu, o singular de Deus.”

Perguntas imbecis

Por que você nunca ri? Nem quando fica tímido, ou quando escuta uma piada engraçada ou quando alguém cai! Por que você só come sopa? Por que você não abre a boca? Por que você nunca vai escovar os dentes? E por que não usa palito de dente? Por que nunca alguém te viu comprando fio dental? Por que você não usa Cepacol? Por que você não tem dor de dente? Por que você não tem dente amarelo? Por que você não fica de boca aberta, já que é bobo? Por que você nunca ficou de queixo caído? Por que você não come carne, já que não é vegetariano? Por que nunca ninguém viu seu piercing na língua? Por que você fala no telefone celular como se estivesse bocejando, com a mão na frente da boca? Por que você nunca boceja?

Por que você não sorri para o espelho depois do almoço para ver se não ficou alguma coisa no dente?

O sonho de Cláudio, o banguela, era ter alface preso no dente. E ele não tinha piercing na língua.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

E os leitores se manifestam.

O sucesso deste blog é irreversível. Se antes eu poderia dizer, não sem algum charme, que este blog não foi feito para fazer sucesso, senão para expor meu brilhante ponto de vista sobre tudo, hoje me orgulho muito das milhões de pessoas que entram aqui diariamente. Isso mesmo. Não tenho orgulho por mim mesmo ou pelo blog. É o meu público que me deixa orgulhoso por ser tão inteligente.

Quarta-feira, ou quinta, talvez sexta, uma pessoa deixou um comentário ilustrativo. Ele será usado como exemplo negativo, mas não é motivo para a pessoa se sentir diminuída ou desmotivada na leitura. Preservar-lhe-ei o nome, mas quem quiser pode ver nos comentários de um post anterior. "Viciei no seu blog. Mas escreva com mais frequência, por favor. Obrigada."

Achei que nunca seria preciso, mas agora revelarei uma parte de meu contrato com a empresa multinacional que faz a divulgação do blog.

Está no segundo parágrafo, na terceira linha da quarta página da versão brasileira do contrato: "O André não pode seguir, de forma alguma, as sugestões dos leitores. Caso isso aconteça, ele perderá milhões." Esta, admito, foi uma exigência minha. Ninguém me obrigou a acrescentar no contrato uma cláusula que me faria perder milhões senão eu mesmo! Claro que tomei o cuidado de não dizer para onde vão estes milhões, mas esta cláusula foi a responsável pelas manchetes relatando meu contrato milionário.

Pedi isso porque não sou chegado a opiniões. Se alguém lê um texto meu e pergunta, "Posso só dizer uma coisinha?", a minha cara não fica somente fechada... fica trancada! Ora. O leitor quer que o texto fique com a cara dele? Pois então que faça um texto com a cara dele! O meu texto fica com a minha cara.

Tem gente que diz que é preciso corrigir algumas coisas pelo simples motivo de elas estarem incorretas. E esta é a pior correção. Este tipo de leitor lê os textos caçando erros. É com enorme satisfação que eles dizem: "Você não é perfeito!" Mas isso nós já sabemos. Basta ver o tamanho de meu nariz para saber que não sou perfeito. O texto não é feito para ser perfeito; é feito para ser lido.

É claro que esta não foi a intenção da pessoa que comentou neste blog em um dia qualquer da semana passada. Ela teve a boa intenção de pedir mais textos como o cachorro pede mais biscoitos ao dono! Mas a cláusula dos milhões complicou a minha vida e a do leitor. Porque eu desejava realmente escrever mais textos. E pedindo, o leitor me impediu.

Por isso, quando alguém quiser pedir alguma coisa, é melhor que não peça explicitamente. Faça uma sugestão subjetiva ou subliminar. Ou mesmo diga que não quer determinada coisa, e talvez eu veja nisso uma boa idéia!

Se o leitor quiser que eu escreva mais, não escreva: "Escreva mais". Escreva: "Não escreva mais". Eu posso gostar da idéia e escrever mais.