terça-feira, 31 de março de 2009

Perguntas mais frequentes

Muitos leitores enviam perguntas diariamente sempre indagando sobre o funcionamento do blog e outras coisas mais. De tanto responder estes e-mails - desculpem-me - inúteis, tive uma crise de tendinite - logo eu, que sequer sei o que é um tendão.

Então aqui lhes apresento uma lista das perguntas mais frequentes, que deve sempre ser lida antes de se fazer uma pergunta a mim.

1 - Eu comento sempre no seu blog e você nunca comenta no meu. O que eu faço?
Há quem pense que a parte de comentários é a parte mais importante de um blog. Tudo bem que se pense assim - eu não quero mudar a ideia de ninguém. Mas não é o caso deste blog.

Este blog é muito expositivo. É aceitável que o leitor se sinta melhor por dizer que gostou de um texto, ou então para acrescentar uma ideia nova. Claro, não há o menor problema. Utilize, mesmo, este espaço como um desabafo. Sabe por quê?

Porque não o lerei.

2 - Eu acho o Vinícius de Moraes um machista. Isto significa que eu sou feia?
É uma grande alegria quando a leitora nem pergunta e já oferece a resposta de antemão. Parabéns, se esta é a sua pergunta, pois você já sabe a resposta. Sim, você é feia.

3 - Você é muito distraído?
Agradeço esta pergunta, pois ela demonstra uma das minhas metas para o século vinte e um: Acabar com o mito de que sou distraído.

As pessoas me vêem na rua olhando para nada e vão logo dizendo: "O André é um distraído!". De repente, eu esbarro em alguma coisa e dizem a mesma coisa. E quando eu esqueço a faca no meio do prato, também.

Ora. Não é que eu seja distraído. É que estou sempre pensando em alguma coisa melhor. Enquanto todo mundo pensa na forma certa de andar, de comer, de se vestir, eu estou pensando na mais nova filosofia ocidental para publicar depois no blog. Minha "distração", é, pois, a fonte de toda inspiração que cria este espaço de que vocês gostam tanto.

4 - Por que você diz que não é virgem no nome do blog?
O nome deste blog não sou eu dizendo. Ele é, na verdade, uma citação. Quem é curioso e pesquisa neste blog as respostas de todos os problemas e as dúvidas universais, sabe que no primeiro texto publicado aqui há uma moça dizendo: "Eu não sou virgem, Maria!".

Se sou virgem ou não, é outra pergunta.

5 - Você faz humor?
Este não é um blog de humor. É capaz que às vezes a pessoa leia o blog e ache graça. Isto é até comum. Há também quem vá ao cemitério e sinta vontade de rir quando o sujeito vai sendo enterrado. Eu mesmo, outro dia, durante o velório de uma grande celebridade, desatei a rir como se estivesse ouvindo uma grande piada!

Este blog foi feito para mostrar minhas ideias. Para não deixá-las morrer antes que fossem escritas e registradas. Todo humor é acidental. Não há nada mais chato que o humor proposital.

6 - Se eu linkar o seu blog, você linka o meu?
Esta pergunta é uma adaptação de uma brincadeira de crianças devassas. Elas dizem para alguém do sexo oposto: "Se eu mostrar o meu, você mostra o seu?"

Bem, no meu caso, não há acordo possível. Eu posso somente colocar o link do seu blog se eu realmente gostar dele. Poxa vida. Me esforço tanto para parecer esnobe e irascível, e o sujeito vem com perguntas colaborativas? Cobram-me amizade no momento em que mais desejo a discórdia?

Quem quiser ter o link neste blog, que faça um blog legal. Não tanto quanto o meu, pois eu ficaria com inveja e não o indicaria.

7 - Há outros lugares onde posso ler textos seus?
Há. Há, sim.

8 - Diga onde, cara pálida.
No site da revista M... (http://www.mcorporation.com/), em cocolaborações; no e-blogs também tem textos, mas vocês já os leram aqui.

9 - Você tem espelho? Se sim, por que sempre aparece despenteado nas fotos do blog?
Seria uma grande tentação responder que não, pois me dispensaria da segunda pergunta. Mas infelizmente tenho espelho - um no banheiro e outro no quarto.

Creio que você fez a pergunta erroneamente. O correto seria perguntar se eu tenho e se o utilizo, porque eu realmente tenho, mas nunca me vejo pelo espelho.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Deu, o singular de Deus;

a manutenção das características que tornam as mulheres seres femininos sempre foi uma grande preocupação de Deu.

Uma vez, quando viu uma mulher de calça, entrou em coma. Quatro meses depois, ao acordar, dizia somente: "De calça! Ela estava de calça! Juro que vi! Uma mulher de calça!"

O médico recomendou terapia intensiva com psicólogos e anti-depressivos. À medida em que o tratamento foi avançando, Deu foi afrouxando as exigências fundamentais para a feminilidade da mulher. Hoje ele vê uma mulher de calça sem grandes arrepios. Ouve uma fêmea dizendo "obrigado" e nem a corrige!

Só há um hábito que nenhum psicólogo consegue corrigir. Nem os de Harvard! Ei-lo:

- Mulher com os pêlos das axilas compridos, para mim é homem! - costuma dizer Deu, o singular de Deus.

José

José descobriria a cura do câncer; falaria a cura da AIDS, sem pestanejar. Dissertaria sobre as razões para a impossibilidade da paz mundial no estado atual e as soluções; daria a receita para o fim da fome na África e no resto do mundo como quem recita um nega maluca. Comporia sonetos mais belos que de Camões e mais profundos que de Shakespeare; desenvolveria toda uma filosofia mais profunda que de Kant e mais charmosos que de Nietzsche. Resolveria o problema da violência das grandes metrópoles; dissolveria as grandes brigas por terra no campo. Criaria mulheres que já nasceriam sem pêlos nas axilas; inventaria cirurgias plásticas indolores.

José, porém, é mudo. Como se não bastasse, não tem braços e não pode escrever. E todas essas coisas, infelizmente, não serão possíveis.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Minha tia-avó

Uma vez, ao ver uma moça que finalmente morria pelo câncer, minha tia-avó, já emaconhada, disse: “Foi um alívio”. Porque a moça sofreu tanto com essa doença e também com o tratamento, que a única cura que ela poderia almejar era a morte.

Semana passada, quem morreu foi Clodovil. Ele não tinha câncer, não tinha AIDS, não tinha qualquer doença que anunciasse sua morte com alguma antecedência. Morreu vítima de um AVC: de um dia para o outro, ele já não mais existia. Minha tia-avó, ao ler no jornal a notícia fatal, disse o de sempre: “Foi um alívio”. Porém, desta vez havia um complemento: “Foi um alívio para todos nós! Graças a Deus morreu este homem!”

quarta-feira, 25 de março de 2009

Sobre o poeta

Vinícius de Moraes é o grande sujeito do Brasil. É amado pelas mulheres que desvirginou e pelos pais das mulheres desvirginadas; pelas mulheres que por causa dele tornaram-se adúlteras e, acreditem, pelos maridos destas mulheres - porque eles não seriam maridos destas mulheres não fossem os inevitáveis versos de Vinícius utilizados na conquista amorosas.

Ele é tão boa praça, que não ofenderia nem se quisesse. Poderia mandar qualquer um tomar no cu sem que o interlocutor ficasse nervoso. Sabe por quê? Porque ele nunca falaria isso. É respeitado por, mesmo podendo maltratar, não maltratou. Deus dá às vezes, talvez por engano, o poder da ruindade àqueles que não são ruins. É como se Ele desse em 1945 o poder de usar a bomba atômica a quem não utilizaria jamais. Ali, acho que Ele errou.

Os poemas de Vinícius escreveu têm o dom da beleza universal. Agrada a qualquer gosto, diferentemente dos poemas dos outros artistas. Já vi anarquistas que sabiam o soneto da separação de cor e advogados que o pronunciavam em voz alta; analfabetos dizendo que não seja imortal, posto que é chama, e professores acadêmicos gritando mas que seja infinito enquanto dure. A melhor definição "daquilo que agrada a gregos e troianos" é Vinícius, embora ele tenha escrito toda sua obra em português, não em grego ou troiano.

Se você vir alguém falando mal dele, saiba que é por inveja. Ou por despeito, por não ter conquistado um brotinho usando um poema dele. Só há um aparte, ou correção, em relação a este grande homem. Digo. Se eu o encontrasse, diria o seguinte, depois de todos os elogios:

- Vinícius! Se a vida fosse a arte do encontro, as pessoas não entrariam no ônibus! Entrariam em uma galeria de arte!

terça-feira, 24 de março de 2009

Reunião na redação do site Eu não sou virgem, Maria!

Esta é uma transcrição fidedigna da última e fatídica reunião que ocorreu na redação deste site. Foi nela que tomei a decisão peremptória de demitir tantos funcionários, agravando ainda mais a crise que assola o mundo desde o ano passado. Acho que é por conta dessas demissões que o Papa Móvel teve que circular aberto por falta de verba no departamento blindatório da igreja.

Os nomes aqui apresentados são fictícios. Tome cuidado, que alguns nomes são verdadeiros, para confundir o leitor. Assim: se o sujeito se chama Sérgio, e eu digo que o nome é de mentira, uma boa tática é dizer que ele se chama Sérgio. Desta forma, o leitor pensará em todos os nomes possíveis, menos em Sérgio. Não entendeu? Leia de novo.

O comandante (eu): Bom dia, pessoal. Tudo bem? Ao contrário do tempo, que hoje se encontra lindamente, a firma não vai bem. Senão vejamos.

Neste momento, apresento um gráfico terrível.

O comandante (eu): Vêem esta tabela? Ela demonstra os lucros que obtivemos nos últimos meses. Estamos perdendo muito do lucro. Se antes ganhávamos sete milhões por mês, agora são somente seis milhões e quinhentos. Parece pouco, vendo que se trata ainda de bastante dinheiro. Mas quinhentos mil por mês fazem muita falta. E resolvi cortar alguns cargos. Vocês terão a oportunidade de argumentar a fim de me convencer a mantê-los no cargo. Pode ser que eu demita todos, pode ser que eu não demita nenhum. Vai depender do poder de argumentação dos senhores e do meu humor. Comece você, Sérgio.

Sérgio tosse, visivelmente constrangido. Ele não sabe por onde começar a argumentação. Tem tantos argumentos, que fica difícil eleger um.

Funcionário número um (Sérgio): Bem, senhor. Fica difícil pedir para que fiquemos, quando na verdade somos somente funcionários figurativos. Mas este é justamente meu argumento. Peço para ficar para que o senhor se sinta mais poderoso, pagando pelos seus funcionários. Peço inclusive um aumento, assim o senhor será mais poderoso ainda. Afinal, não é qualquer um que paga trinta mil por mês a um funcionário que não faça nada.

O comandante (eu): Sérgio. O senhor possui um ótimo argumento, mas mesmo assim vou demiti-lo.

Funcionário número um (Sérgio): Por que, senhor? Por quê?

O comandante (eu): Seu ótimo argumento para mantê-lo no cargo acabou suscitando em mim um excelente argumento para demiti-lo. Se é bom demitir alguém que ganhe pouco, melhor ainda é demitir alguém que ganhe tanto quanto você!

O funcionário demitido se entrega às lágrimas, mas chora ainda mais quando perde a dignidade.

O comandante (eu): Esqueci de dizer que os demitidos vão deixando a reunião. Sérgio, vá embora.

Sérgio se despede dos outros funcionários e minha secretária abre a porta para ele apertando um botão.

O comandante (eu): Putrécia, agora a senhora.

A secretária (Putrécia): Mas o senhor disse que não ia me demitir porque fui eu que dei a ideia das demissões!

O comandante (eu): Putrécia, a sua ideia foi muito boa. Mas a senhora não se envergonha? Se não fosse a senhora, várias pessoas não seriam demitidas. A senhora que deu a ideia e terá que se submeter também a esse processo seletivo. Saiba que sua argumentação terá que ser excepcional, porque estou pensando em implementar na firma sensores nas portas. A senhora ficará sem função!

A secretária (Putrécia): O meu argumento é um só, e o senhor mesmo já o disse. Se não fosse por mim, a empresa faliria, pois fui eu que tive a ideia das demissões. Creio que agora que o senhor já revelou a todos que a ideia foi minha, terá que demitir todos os outros e manter somente eu. O clima ficaria horrível trabalhando com gente que teve o cargo arriscado por minha causa.

O comandante (eu): Putrécia. A argumentação ia muito bem, quando a senhora sugeriu que todos terão que ser demitidos para a senhora ficar. Não vou demiti-la agora. Se demitir todos, você fica. Se ao menos um for mantido no cargo, você vai embora.

A secretária (Putrécia): O senhor é fogo.

Putrécia faz uma cara que demonstra clara irritação e solta um palavrão sem voz.

O comandante (eu): Os senhores estão com uma cara tão nervosa. Fiquem tranquilos, a não ser que vocês mereçam a demissão. Aí tem que ficar nervoso mesmo. José, o senhor.

José tosse.

O comandante (eu): Meu Deus! Será que para falar é tão preciso assim tossir? Por que vocês tanto tossem antes de falar? É por isso que vocês não são a Madonna. Porque tossiriam tanto, que as revistas não falariam outra coisa, senão: A Madonna está refriada!

Funcionário número dois (José): O senhor me desculpe, mas estou realmente resfriado. Estou tomando tantos remédios, que já sou sócio majoritário da farmárcia. E isto vem muito a calhar. Eu estava me preparando para pedir demissão, mas não sabia como. Então se é para o bem da sua empresa, vou me dedicar integralmente à farmácia de que sou sócio majoritário. Senhor, peço demissão.

O comandante (eu): É lamentável. Vá logo embora. Cretino.

O pedido de demissão de José causou certo furor entre os funcionários. Teve um até que achou graça, mas parou de rir no exato instante em que lhe mirei os olhos visivelmente irritado.

O comandante (eu): É foda. Tanta gente precisando de emprego, e o José escolhendo onde vai ficar. Essa farmácia vai falir. Encomendarei um milhão de remédios caríssimos e cancelarei em cima da hora. Eles ficarão no prejuízo. Aliás, alguém tem o telefone da farmácia do José?

Ninguém responde.

O comandante (eu): Quem souber, fica no cargo!

A secretária (Putrécia): Trina e oito, vinte e dois, quarenta e nove, vinte e um.

O comandante (eu): Putrécia, você fica. Sendo assim, estão todos dispensados e demitidos. Foi muito bom trabalhar com vocês durante tantos anos, mas imagino que tenha sido melhor para vocês terem trabalhado comigo.

Assim se encerrou a reunião. Os lucros voltaram a subir, embora a crise tenha diminuído o número de pessoas que compram computador com a finalidade única de acessar o site Eu não sou virgem, Maria!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Deu, o singular de Deus;

quando Deu não tinha muitos fiéis, ele saía pelas ruas perguntando para qualquer um:

- Você acredita em Deus?

Para os pouquíssimos sujeitos que não acreditavam em Deus, Deu diria que eles tinham bom gosto, e às vezes conquistava o fiel pelo fino trato na fala. Mas em geral, a resposta era sim, e Deu foi tomando a noção de que seria muito difícil ultrapassar Deus. Se é difícil para um peso galo ganhar uma luta de um peso pesado por ter a metade do peso do oponente, imagine para Deu, que era literalmente infinitamente menor que Deus, seu maior rival?

Deu foi armando, pois, estratégias, e conseguiu até reverter alguns fiéis com variados argumentos. Para um, disse que Deus era tão poderoso, tão onipotente, tão superior, que não teria tempo para um sujeito tão feio e desprezível como aquele.

- Então o senhor teria tempo para mim, Deu?

- É claro que não! Eu tenho cara de quem gosta de sobra? Se Deus, o da bondade infinita, não te quer, não sou eu que vou te querer!

E o sujeito ficou sem acreditar em divindade nenhuma.

Aconteceu uma vez, pois, algo deveras curioso. Deu perguntou para uma moça se ele acreditava em Deus, como sempre.

- Acredito.

A coitada teve o azar de ser a vigésima sétima pessoa seguida que acreditava em Deus. Eis a resposta do nosso grande mestre impaciente:

- É muito fácil acreditar em Deus; difícil é Deus acreditar em você! - disse Deu, o singular de Deus.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Atores da novela Eu não sou Virgem Maria morrem em desastre

Foi divulgado nesta tarde o que muitos desconfiavam há meses: a morte de todo o elenco da novela Eu não sou Virgem Maria, do blog Eu não sou virgem, Maria!. Os atores Regina Romona, Rodolpho Wellington Borges da Silva, Ruy Rossé, Carlington Putin foram encontrados todos queimados em estado de decomposição na casa de Regina Romona.

Há vários meses a novela saiu do ar justamente no momento em que os atores deixaram de ser vistos perambulando pela Avenida Paulista e rua Augusta, como era de praxe, devido à homossexualidade de todos. Os meios de comunicação sequer noticiaram o fato com o intuito de não atrapalhar as investigações da polícia, que suspeitava de sequestro desde o princípio.

A cada dia que se passava, porém, todas as desconfianças de sequestro se transferiam para outra, muito pior e inabalável: de morte. Porque nenhum sequestrador tentou entrar em contato com a polícia ou as famílias das vítimas. Além disso, todos os atores eram muito gentis no tratamento com o público, levando a crer que nenhum criminoso, mesmo os das piores índoles, sequestraria alguém do elenco de tão afamada novela.

A agonia dos fãs e dos familiares chegou ao fim somente nesta sexta-feira, quando foi divulgado que todos os atores da saga foram encontrados mortos já em estado de decomposição na casa de Regina Romona, que interpretava a dona Rodolpha. Os corpos estavam todos em um semi-círculo, o que leva a crer que morreram cantando.

Segundo a polícia, a morte conjunta não foi causada intencionalmente: um curto circuito em um liquidificador teria incendiado a casa e matado a todos, um por um. "O fogo agiu como um assassino em massa", disse o policial responsável pelo caso, "que foi matando pessoa por pessoa e de repente sumiu".

André Ursípedes, dono do blog produtor da novela, disse que nunca mais fará novelas, "porque os atores sempre morrem no final".

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ainda os vegetarianos, ou Os animais sentimentais

Quando, há cerca de um mês, escrevi um texto sobre os vegetarianos, muitos foram os que me xingaram. Chamaram-me de burro, de ignorante e de outras coisas de que não me recordo. Mas eu não fiz este blog para demonstrar que não sou burro ou ignorante. Pelo contrário!

Se o leitor quiser que eu pare de escrever sobre os vegetarianos, acho melhor que ele me processe ou arrume alguma forma de tirar este blog do ar. Porque estes insultos não revelam que sou burro ou ignorante. Pelo contrário, revelam somente audiência. Audiência desqualificada, mas que mesmo assim é audiência.

Tenho outra reflexão sobre os vegetarianos que gostaria de compartilhar com os leitores.

Os vegetarianos são aqueles que, por não comerem carne, se acham superiores por isso. Eles não comem as melhores comidas possíveis porque sentem uma inominável culpa de comer bichos muito semelhantes a eles e a nós! Como o macaco é parecido com o ser humano, pensa o vegetariano. Conheço até um caso de um sujeito narigudo que virou vegetariano após ver um tucano no zoológico!

Isto, minha gente, não é motivo para superioridade nenhuma. É somente um critério nutricional. Por exemplo, eu só como comida gostosa; os empresários só comem comida que seja cara; os mendigos comem comida que seja comida; e os vegetarianos só comem comida que não lhes dê sentimento algum de culpa.

Agora percebam como este critério é muitíssimo duvidoso.

É sabido que muitos animais que os vegetarianos não comem, comem outros animais. Eu mesmo já vi no Discovery Channel uma onça perseguindo um coelhinho, e admito que foi horrível. Mas estes animais comem outros porque é preciso, porque é gostoso – pelo mesmo motivo que nós.

Eu entendo quando os vegetarianos não comem uma vaca, porque a vaca só come capim. A vaca está livre desta culpa. Mas não há motivos para não comer os animais carnívoros. Se carne é assassinato, nós somos assassinos e estes animais também o são! Se quiserem uma justificativa divina: Se Deus achasse injusto que comêssemos animais sentimentais, proibiria a Adão e Eva um coraçãozinho quentinho numa churrasqueira – não uma maçã.

Proponho, então, que os vegetarianos deixem de comer somente os seres que não têm culpa: Os seres que não comem outros seres. Assim, eles podem voltar a se deliciar com carnes sem ter o ônus da consciência pesada, pois só comerão os culpados.

terça-feira, 17 de março de 2009

O preço das coisas

É comum que as coisas sejam medidas pelo preço que se dá a elas. Um pote de doce de leite que custe cinco reais é provavelmente mais gostoso do que aquele de dois reais e cinquenta centavos. Assim como um jogador de futebol com o preço de vinte milhões de euros é provavelmente melhor do que aquele de cinco milhões de reais (aqui há distorções, mas não nos atemos a elas).

Há momentos em que queremos demonstrar que alguma coisa vale muito dinheiro, não importa o quanto. Momentos em que ficamos indignados e queremos fazer entender que para coprarmos esta coisa, teríamos que abrir mão de coisas maiores do que valeria realmente a pena. Nestas horas, fala-se: "Vale o olho da cara!".

Quem diz, pensa que está assustando o interlocutor, quando na verdade o está enchendo de tédio. Quem ouve que alguma coisa vale o olho da cara, pensa que não vale muita coisa, já que nós temos dois olhos na cara. Caso queira assustar, diga: "Vale o olho do cu!". Porque no cu, a gente só tem um olho.

sexta-feira, 13 de março de 2009

André: "Os ateus são uns bobos!"

Infelizmente hoje não há foto para a entrevista com André. Havia no nariz dele uma catota que não saía nem com Photoshop, e uma das grandes atrações da internet mundial será publicada sem foto.

Demorou para que André voltasse a dar entrevistas. Desde os entreveros que teve com o coma a que foi submetido, não queria dar entrevistas com o medo de parecer um pouco lesado. Questionado se o silêncio não era a pior opção, já que então as pessoas pensariam coisas piores, dizia sempre que é melhor não ter provas.

Ele estava estirado quando seu empregado me encaminhou até ele. "Jarbas! Me traga o café!", disse antes de me dar oi. "Eu já disse que não me chamo Jarbas, senhor", respondeu Jaime. "E eu já te disse que não importa e que vou te chamar de Jarbas assim mesmo!", encerrou André.

Como já se sabe, o bom humor não é o forte deste homem. Hoje, porém, ele estava tão insuportável, que quase cancelei a entrevista alegando desconfortos intestinais. Mas que fique bem claro que seria somente um blefe, para colocar este homem no seu lugar.

Eu: Como é, André? Qual é a boa?

André: A boa é que eu voltei a dar entrevistas. Para celebrar a volta, nada melhor do que começar com chave de ouro e conceder a primeira entrevista a mim mesmo. Eu me conheço muito bem e, por incrível que pareça, sou o entrevistador que mais me surpreende!

Eu: Obrigado pelo elogio. Você está querendo me ofender com alguma coisa, não é?

André: Exatamente. Por que você diz que eu tenho uma catota incorrigível no nariz enquanto é você que está com preguiça de fazer a montagem no Photoshop?

Eu: Veja, não é isso. Olha essa catota. Você sempre acha que não tem nada, e quando vai ver é aquela coisa toda!

André: Jarbas! Traga o espelho!

Jaime vem correndo com o espelho como se já o tivesse à mão. Neste momento tive a impressão de que Jaime é fruto da imaginação que André usou somente para fazer pose de rico na entrevista.

Eu: Está vendo? Olha o catotão aí!

André: Não tem catotão nenhum. E se você continuar a falar sobre isso, eu encerro a entrevista.

Eu: Não fale assim. Me conte um pouco sobre as suas recentes opiniões futebolísticas.

André: Tenho uma opinião muito triste sobre o futebol. Eu acho que o futebol bonito é impossível. Veja o Palmeiras, jogando lindamente. Parecia a seleção de 70, porque todo futebol bonito tem que remeter ao menos um pouco àquele time de 70. O Palmeiras ganhou dez jogos seguidos, perdeu dois e todo mundo tira a conclusão de que futebol bonito só é bom para os adversários. O problema é que os jogadores e o treinador engoliram a crítica e concordaram com ela. Ou seja, ninguém mais joga bonito nesse mundo. E quem tenta, sempre acaba desistindo, quase que se desculpando depois por ter encantado.

Eu: Triste isso. O Valdivia não para de jogar bonito.

André: O Valdivia é um caso à parte. Muito à parte, por sinal. Não sei como foi possível nascer um jogador engraçado nos dias de hoje. Às vezes o mundo sem graça dá à luz gente engraçada, e o mundo engraçado faz nascer gente chata. Prova de que a genética não funciona tão bem assim.

Eu: É mesmo. Graças a Deus, senão seria tudo muito previsível. Me diz aquilo sobre a oração.

André: Que oração, meu chapa?

Eu: O Pai Nosso.

André: Ah, sim! Veja que engraçado. Tem muita gente que só reza para pedir, não é? Que só lembra de Deus na hora em que precisa de alguma coisa. Para essas pessoas, Deus é como uma privada, com quem você só se relaciona quando precisa dela. Mas a questão é a seguinte. A pessoa precisa de alguma coisa e reza o Pai Nosso. Reza mecanicamente, porque no meio do Pai Nosso, está "Que seja feita vossa vontade"! Entende? Então não adianta nada, a pessoa pedir antes, porque logo depois ela pede que seja a vontade de Deus que prevaleça.

Eu: Você sugere, então, que a pessoa pule este verso?

André: Não sejamos tolos. O melhor a se fazer é rezar outra oração, porque tanta gente reza o Pai Nosso, que Deus não presta muita atenção. Então se alguém pular um verso, Deus não vai notar, entende?

Eu: Sim, sim. Entendi. Você acredita em Deus?

André: Acredito. E acho muito bobo quem diz que não acredita. Os ateus são uns bobos. Use isso na manchete, se quiser. Os ateus são uns bobos!

Eu: Bobos por quê?

André: Porque não acreditam em Deus!

Eu: E desde quando é bobo quem não acredita em Deus?

André: Eles são bobos, porque quem não acredita em Deus não acredita em alguma coisa maior, então se acham o máximo, entende? Eles acham que são o topo da evolução do Universo. Eu digo isso principalmente porque os ateus se acham muito inteligentes. É só para baixar a bola.

Eu: Sim, sim. Você não acha melhor parar com este hábito de criticar quem é bom e elogiar quem é ruim?

André: Veja. Eu reconheço que às vezes isso atrapalha, porque critico o bom e ele desacredita as próprias habilidades; e elogio o ruim, e ele acha que as ruindades que ele está fazendo são ótimas. A intenção é elogiar o ruim para que ele se sinta estimulado a melhorar, e criticar o bom para que ele não fique arrogante.

Eu: Isso funciona?

André: Não. Isso não funciona. Mas é uma delícia criticar coisas boas. Não sei explicar, não sei.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Pesquisa revela que André Cintra toma cerca de dois banhos ao dia

As pessoas que acham que André Cintra é um porco de primeira precisam rever seus conceitos urgentemente. Uma pesquisa realizada entre os dias primeiro de fevereiro e onze de março de 2008 revela que André não só toma banho todos os dias, como tem média superior a dois banhos por dia.

"Eu tomo mesmo dois banhos por dia", diz André, satisfeito com o resultado, "porque eu fico cansado, me sinto nojento, e nada como vários banhos para melhorar a situação".

Esta situação é novidade para quem acompanha a vida do jovem palmeirense. Quando criança, era preciso um forte trabalho de persuasão para levar o menino ao banho. "Eu tinha que oferecer contrapartidas para que ele se limpasse ao menos uma vez a cada dois dias!", diz a mãe em tom divertido.

Mesmo após a infância, o garoto nunca foi fã dos banhos. "Eu tomava um por dia, mas nada muito caprichado", diz. A mudança se deu quando começou a sentir prazer no ato e até a sentir falta dele quando suava. "É uma coisa inexplicável. Lá pelos quinze, dezesseis anos, comecei a tomar banho como quem toma água. E não parei nunca mais!", acrescenta.

Os horários dos banhos são sempre os mesmos: um pela manhã e outro pela noite. De manhã, André se banha após acordar, antes de ir à faculdade. "Esse banho é bom, que me faz acordar e me limpa ao mesmo tempo. Tem função dupla!", diz, enquanto escova os dentes. O segundo é sempre tomado à noite, quando volta do trabalho. "Esse é meu preferido. Já estou acordado e tomo só para tirar sa impurezas da minha pele, mesmo", diz levemente humorado.

A pesquisa ainda revela que a média de duração dos banhos é de quinze minutos, variando de oito a vinte e três. Os de menor tempo são aqueles em que ele não tem paciência para o banho, e os de maior duração são aqueles em que ele se distrai e faz várias coisas repetidamente. "Tem vez em que eu passo xampu várias vezes no cabelo sem saber, porque eu relaxo tanto e me distraio!", revela com sorriso no rosto.

André acha que a média dificilmente mudará nos próximos anos, e que se alguém for contra por motivos ambientais, "que tomem eles menos banhos, porque eu não vou reduzir!".

André Cintra entra em conflito com jornaleira

O mundo realmente não é para os fracos. Na manhã desta quarta-feira, André pretendia comprar três balas em uma banca de jornais na região de Perdizes, cujo valor somado seria de R$0,50. Procurou em sua carteira a menor nota possível e encontrou somente uma de dois reais. "Pensei que não haveria problemas, já que o valor da nota é próximo ao da compra", afirmou André. Ledo engano.

A jornaleira, de nome não divulgado, não concordou e teve um chilique. Assim que viu a nota, se exaltou, dizendo que "eu não vou trocar dinheiro para você, não! Puta que pariu!" e deu um soco forte na mesa de vidro. André, então, pediu que ela olhasse para ele. E assim que ela mirou-lhe raivosamente, disse, indignado: "A senhora pode recusar a venda. Não precisa fazer escândalo. Eu não sou seu psicólogo, não!"

A compra acabou não sendo feita, mas André não passou fome. "Meu estômago reclamou e eu tive que comprar paçoca em uma outra banca", revela exaltado. Com a mesma nota de dois reais, a paçoca foi adquirida e André ainda recebeu o troco de cinquenta centavos. "No fim, foi até melhor. Paçoca é muito melhor que bala", diz o palmeirense de estômago cheio.

terça-feira, 10 de março de 2009

Aprendendo a ironizar

Todo blog é necessariamente professoral.

Este é um grande exemplo. Passo o tempo todo ensinando o leitor a se tornar melhor. Ensino como se portar à mesa, como falar com desconhecidos, como se comunicar com conhecidos... Enfim, eu o ensino a se aproximar ao meu nível - que pressuponho ser elevado em relação ao dele, já que é o leitor quem vem ao meu blog, não eu que vou ao blog do leitor.

Começarei uma série em que ensinarei explicitamente a usar certos artifícios que a vida humana oferece. Palavras, sentimentos, expressões - ensinarei tudo o que é indispensável para se viver superiormente, esnobando as pessoas salutarmente e se fazendo respeitar. O ponto de partida será o uso correto da ironia, porque tenho notado que ela vem sendo utilizada de maneira infame e pouco eficaz. Diria que somos analfabetos irônicos - que me perdoem pela gravidade deste diagnóstico. Como este blog é muitíssimo lido, sinto-me obrigado a ensinar o mundo a ironizar.

Vejam também que não provoco discórdia com a ampla divulgação da ironia. Assim como Maquiavel ensinou como são os métodos políticos e foram os oprimidos que se utilizaram deste conhecimento, eu ensinarei a ironia para quem ainda não ironiza - porque os ironizadores estão pisando em cima delas como um fumante pisa na bituca de cigarro. O livro de Maquiavel não é tão bom quanto será este manual, mas peço que o perdoem por não ter seguido a risca todos os meus conselhos.

Primeiro aviso: Não use a ironia contra gente que goste de você. A não ser que você queira que essa pessoa não lhe sinta mais nenhum apreço - mesmo assim não é recomendável. Até Bono Vox, que tem um bilhão de adoradores, não ironiza quem gosta dele, pois sabe do trabalho que teria para fazer a pessoa gostar de volta - seria mais fácil cativar outra pessoa do que recuperar uma desperdiçada.

Como você provavelmente não sabe ironizar corretamente, espere para ironizar somente depois de seguir todos os passos deste aprendizado. Tim tim por tim tim. Porque a ironia tem um poder de destruição que você às vezes não gostaria de ter. É como usar um lança-chamas a esmo, descontroladamente.

As primeiras lições serão chatas, como todas as primeiras lições que se aprende na escola. Mas são estritamente necessárias, pois são imprescindíveis para dominar a ironia posteriormente. Tenha paciência agora para ser recompensado depois.

Comecemos entendendo como surge a ironia na vida de uma pessoa.

O alfabeto irônico não começa com A, começa com O. É com esta letra que se começa a ironizar instintivamente na infância. A criança sente a necessidade da ironia quando percebe que não há nada que faça os adultos pararem de provocá-la. É preciso uma arma que faça o adulto cessar de chamar a criança de torcedora do time errado, ou de insistir que espinafre é gostoso. Há um jovem famoso cuja vida irônica começou assim:

- Filho, coma este palmito! É uma delícia. - disse a mãe.

- Ô! - disse o filho.

Quando se usa uma ironia, toda a raiva que o sujeito sente é direcionada e descarregada na vítima. A raiva que carrega o sujeito é como a gasolina que municia o lança chamas. E o sujeito descarrega quando lhe é conveniente. Por isso que a ironia quase sempre é desproporcional, porque não foi a vítima que carregou toda a raiva.

Assim o foi com a criança que acabou de dizer Ô. Ela não sentia tanta raiva neste momento, mas a descarregou totalmente na mãe.

A mãe mirou-o aterrorizada, mas de súbito percebeu que não estava mais lidando com um bebê; estava lidando com uma criança. Ela teve um repentino orgulho misturado com a sensação de perda que acomete os pais todas as vezes em que eles notam que a criança cresce. A partir de então, os pais se acostumam com a ironia do filho e passam a cativá-la como um masoquista que pede o tapa ao dominador.

- E aí, santista! - diz o tio ao sobrinho palmeirense.

- Sou santista, sim. Inclusive o Pelé é meu pai. Não sou negro porque
sou albino.

A família se choca agora, porque o caçula desenvolveu sutilmente a
ironia. Saiu do Ô para outras formas mais complexas, com frases cheias e completas. Continuemos no próximo capítulo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O plágio

O plágio é, primeiramente, um elogio.

Quarta-feira retrasada, um amigo pegou um texto dele sendo plagiado linha por linha. Até as vírgulas, o sujeito plagiou. No final, sem a devida dó, colocou o nome próprio no texto alheio - eu queria dizer que quase por um acidente o plagiador plagiou também o nome do meu amigo. Pois meu amigo, o Roberto, esbravejou a todos. Em seu blog chegou a dizer que o plágio deveria ser questão de óbito. Em entrevista à imprensa escrita, declarou que o grande mal do Brasil são os plágios. Para os amigos próximos, exclamou que nunca foi tão ultrajado na vida. E à mulher, coitada, negou sexo por sete dias, passando todos na cama pedindo café a cada meia hora.

O que Roberto não revelou a ninguém por um mínimo de pudor foi o quanto ficou lisonjeado por ter sido plagiado. Ele precisava de alguma coisa assim nos últimos tempos para se sentir um grande sujeito, um grande escritor! Os livros lançados anteriormente não tinham valor nenhum antes deste plágio. Aqueles textos que não causavam nenhum impacto foram, enfim, plagiados!

Enquanto xingava o plagiador, Roberto na verdade agradecia-lhe profundamente! O sentimento de gratidão extravasava as palavras raivosas, a ponto de ele melhorar a postura enquanto se distraía. Um desconhecido, entrando por um acaso na conversa com este tema, pergunta:

- Foi então plagiado, Roberto?

- Fui, fui! - respondeu como quem ganha um elogio.

É esta, pois, a questão. Como está escrito na primeira linha - nunca pule a primeira linha - o plágio é o grande elogio. Não há, lhes digo, elogio maior que o plágio. O plágio é a provação final que um sujeito das artes recebe no auge da vida. É preciso ter certa genialidade para ser plagiado. Porque ninguém plagia o incapaz, o débil mental, o ignorante, o desprezível. Beatles, Dostoievski, Oscar Wilde, Eça de Queiroz, são plagiados todos dias. Plagiamos somente os grandes mestres, quando nos sentimos inferiores e queremos ser como eles.

Aconteceu nesta semana de um sujeito me fazer uma consulta esquisita. Ele perguntou se não com essas palavras, com palavras parecidas. O sentido era o mesmo:

- E aí, colega? Posso te plagiar?

Eis uma nova coisa: O plágio consultado. É claro que recusei e disse para a pessoa que ela devia ter o próprio cérebro. E encerrei nos seguintes termos:

- Faça o que eu faço, mas não fale o que eu falo. Senão te processo por plágio!

sexta-feira, 6 de março de 2009

Clássicos? Sei. - James Joyce, O retrato do artista quando jovem

De Paulo Coelho a Márcia Cabrita, de Dostoievski a João do Rio, de Bruno Aleixo a Garrincha, muitos artistas devem a genialidade de suas obras unicamente a mim. James Joyce é um deles.

O caso de Joyce é peculiar porque não se tratou de uma consultoria ou de um serviço de ghost writer. Infelizmente é um caso de plágio. Um não. São vários e descarados plágios. Não há uma linha do autor escocês que não seja cópia ou inspirada em alguma ideia ou algum texto meu.

Não sei o que o autor pretendia com isso. Talvez ganhar uma fama repentina com a genialidade das obras ou então uma grande vergonha agora, quando o desmascaro. Aliás, por um acaso Joyce acha que a vida é um carnaval para passá-la toda de máscara? Eu recomendaria que tentasse disfarçar e imitar outros autores, porque não aguento mais estes gastos com advogados e advogadas.

O retrato do artista quando jovem? Cópia do meu O retrato do autista quando jovem. Ulisses? Cópia deslavada do meu grande livro O lisses. Por aí afora. Ouvi dizer, porém não posso confirmar, que o afamado autor chega a contratar detetives particulares para descobrir e copiar minhas vestimentas, minhas frases de efeito e, pasmem, meu time de futebol. Saibam agora de uma grande coisa: James Joyce é palmeirense. Pelo menos nisso, não me importo que me copie.

O descaro é tamanho, que fontes garantem que ele troca cartas com ninguém menos que José Saramago. Sim, o homem que me plagiou em O ensaio da cegueira. Veja o suposto conteúdo de uma das cartas.

"Caro James Joyce,

É muito bom que o senhor tenha aprendido português por conta do brilhante autor André Ursípedes. Eu já sabia desde a infância, mas se não soubesse faria o mesmo. Um fã tem que procurar ler a obra do ídolo em original.

Quero lhe confidenciar as últimas coisas que descobri sobre André. A namorada dele se chama Juliana, ele vai cortar o cabelo amanhã e o jogador preferido dele é Valdivia. Ah! Descobri também que quando criança, ele não tomava Coca-Cola em lata por achar que tem muito gás, e que até hoje morre de saudade do cão Cafu, que teve dos 6 aos 20 anos.

Esse homem é fogo. Será que ele fica muito bravo com nossos plágios? Espero que não, pois eu, José Saramago, queria, na verdade, impressioná-lo, mostrar intimidade. A intenção era somente de aproximação.

Espero que o senhor passe bem e que cesse o ciúmes. Porque André não é gay e não dará bola a nenhum de nós dois. Creio que seja melhor nós nos juntarmos. É uma atitude mais sensata.

Abraço efusivo,

José Saramago"

A resposta de Joyce:

"José Saramago,

Como tem passado em Portugal? Espero que os passos para a criação do fã clube de André estejam tão avançados como estão aqui. Sabia que a gente já tem até logotipo?

Tudo o que você disse sobre o André não era novidade nenhuma para mim. Acho que tem uma coisa que você não sabe. O sobrenome Ursípedes deriva da União Soviética. URSSípedes. A vida lhe tirou um S, não sei por quê.

Quero encontrá-lo urgentemente. Você é muito bonito. Adorei o seu perfil do Orkut.

Grande abraço. Estou a caminho de sua residência. Espero chegar antes desta carta.

James Joyce"

Um descaro, caro leitor. Um descaro!

É triste saber que senhores passam grande parte da vida se dedicando à minha vida enquanto poderiam se debruçar sobre meu blog e meus livros publicados pelo mundo. Eles tiveram o trabalho de plagiar livros meus linha por linha, mudando somente alguns pontos essenciais para criar-lhes uma forma singular de escrita, e agora se esqueceram de que o que faz de mim um grande homem não é minha grande vida, senão meus grandes escritos!

Isto é uma coisa a se lamentar. Outra é a perda de qualidade nas obras. O Retrato do autista quando jovem, que fiz baseado em toda minha infância, sugou muito de minha vitalidade durante a composição. Foi um romance que imperou sobre minha vida. Lembrar-me da infância não pôde deixar de ser doloroso; porém, o resultado do livro foi um fenômeno.

Um pequeno trecho a se apreciar:

"Minhas professoras começaram achando graça ao notar que eu entendia sete línguas. Chamaram o diretor para ver, e ele teve um mal súbito, o que ajudou a tirar meu autismo do foco durante alguns meses. Quando se esqueceram do diretor, porém, chamaram meus pais para lhes divulgar a grande sentença:

- Seu filho é um autista! Um autista!

Foi o momento de maior alegria na vida de meu pai. Como se sabe, autismo é genético, e ele estava desconfiando deveras de sua paternidade."

Não comprem mais os livros de James Joyce. Prefira os originais.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Deu, o singular de Deus;

no começo do século XX, quando revolução francesa era comentada como algo que havia acabado de acontecer, e no cinema não havia mendigos nem tarados se masturbando, Deu dava seus primeiros passos na universidade veterinária.

Os professores se intrigavam muito com este aluno tão peculiar: Como ele ia tão bem nas aulas práticas e tão mal nas teóricas? Certa vez ele respondeu que cachorro tinha penas no pé em uma prova de anatomia. Outra, quando perguntado sobre o que é um gato, respondeu somente que é um animal que mia. Mas nas aulas práticas, Deu era um estouro. Chegou a trazer à vida um cachorro que estava morto havia quatro horas - os outros alunos não gostaram deste feito, porque tiveram que devolver o animal à dona. Quando perguntado como havia feito aquilo, ele somente respondeu:

- Não sei. Acho que ele estava dormindo.

Não estava! Todos os exames já tinham sido feitos, e o resultado era um só: óbito na certa! É que nesta época Deu não tinha noção do poder que detinha. Um professor, sacando com quem estava lidando, revelou o que Deu sequer desconfiava:

- Deu, eu sei quem você é. Você é o singular do plural, a parte do todo, a limitação da onisciência e da onipresença. Deu, você é o singular de Deus! Sou seu primeiro fiel.

Sabendo disso, Deu abandonou a medicina veterinária. Para que estudar o que ele sabia fazer sem sequer pensar? Mas notando o efeito do que fizera na faculdade, realizou um grande evento na cidade de Londres sem revelar o que era. Dezessete mil pessoas lotaram o estádio de Wembley para assistir ao que aquele grande homem propagandeava como a coisa mais chocante e engraçada de todos os tempos.

Deu chegou pontualmente ao local e foi logo dizendo qual era a grande revelação.

- Um elefante com elefantíase! Eu criei um elefante com elefantíase! - disse Deu, o singular de Deus.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Deu, o singular de Deus;

não é por não gostar de fazer amigos que Deu seja sozinho. São as pessoas que não gostam de fazer amizade com ele.

Como acontece com todo tipo de gente superior ou santa, Deu é desmerecido e desacreditado assim que revela suas habilidades. Uma vez ele passou um mês se apresentando como Rogério e fez dezessete amigos no total. Sendo Deu a vida inteira, fez só três, sem incluir, é claro, os fiéis.

Quarta-feira passada foi um daqueles dias em que ele não esperava nada da vida. Tomou seus refrigerantes sem sentir muito prazer, depilou os pelos das axilas como faz uma vez por mês, dormiu e acordou sem o alarme precisar despertar... Enfim, era um dia essencialmente comum.

Quando chegou a sessão da tarde, tocou sua campainha e a pessoa do outro lado trouxe-lhe muito mais alegria do que ele esperava enquanto abria os quatorze cadeados da porta.

Era Moisé, o singular de Moisés. "Mas este assunto fica para uma outra vez", pediu-me Deu, o singular de Deus.

terça-feira, 3 de março de 2009

Ombudsman - Desatualização

Por Pelé, o Ombudsman

Este blog é como o time do Santos nos anos 60: Sempre quando a coisa complica, sobra para Pelé. A diferença é que o Pelé do Santos foi o melhor na sua função de todos os tempos, e eu sou somente um aprendiz que busca conciliar dois interesses conflitantes: o do autor e o do público.

O autor busca expor sempre sua genialidade no mais alto nível, para assim se sobressair em relação ao leitor e diminuí-lo; já o leitor quer fazer uso da genialidade do autor e se equiparar a ele. Eu diria que é uma luta de gato e rato, mas como não uso clichês, é uma luta de velocistas na final olímpica. Ou quase isso.

Na semana passada, um grave problema foi visto neste blog. Um problema cujo início é um indício claro do fim de um blog: a falta de atualização.

Um blog desatualizado é o homem sem respiração. Há quem pense que o problema maior que pode acometer um blog é a falta de visitas. É verdade somente em casos específicos, nos blogs picaretas cujo único intuito é manter-se visitável. Este blog tem o intuito contrário. É um blog feito para publicar, e ser visto é somente uma consequência - agradável ou não.

Tratei de enfatizar a André, na última reunião que tivemos, este grande problema.

- André, por que o blog não foi atualizado na semana que passou?

- Pelé, você acha que manda em alguma coisa? Só vou responder porque você está muito bonitinho hoje. O blog está desatualizado simplesmente porque na semana passada foi carnaval e eu estive viajando. Aliás, foi muito bom que você tenha perguntado isso, porque quero dizer que foi muito bom que esta desatualização tenha sido feita, porque foi importantíssimo para dar uma arejada neste ambiente verde.

Desta vez André passou com uma resposta perspicaz e plenamente satisfatória. Na próxima vez, porém, ele terá que reduzir meu salário, ou mesmo me demitir, para me humilhar desta forma. Porque eu irei mais preparado do que nunca. Afinal, eu sou Pelé ou um saco de pipoca?

segunda-feira, 2 de março de 2009

Entrevistas com lideranças - Obama, Obina e sósias

Quando comecei a seção de entrevistas com lideranças mundiais, realmente pretendia colocar em prática o motivo da criação deste blog: Resolver os problemas do mundo. Acontece que, como ocorre com as coisas muito bem feitas, muita gente não acreditou. E pior: achou graça.

As entrevistas todas perderiam toda a graça se pensássemos nas quarenta e seis crianças da Etiópia cujo peso somado chega somente aos setenta e seis quilos e podem entrar todas juntas em um elevador; ou então no sujeito que empalou um etíope e não conseguiu fazer um espetinho; ou no outro etíope que não tinha cu, mas não explodiu porque não comia o suficiente para produzir gases e soltar pum.

Não é intenção deste blog fazer graça. A intenção do blog é, repito, resolver todos os problemas do mundo. Primeiro todos depositaram as esperanças em Lula. Ele melhora o Brasil, mas o Brasil é parte muito pequena do mundo. Então pensaram em Obama, e já é notório que ele não resolverá o problema do mundo. E foi neste momento que todos olharam para mim. Eu, no alto de minha timidez crônica, respondo somente:

- Tudo bem, tudo bem! Eu resolvo o mundo! Agora parem de olhar para mim!

Minha primeira atitude foi fazer textos educativos para toda a população. Muitos brasileiros me perguntam se minha pretensão não seria exagerada, pois escrevo somente textos em português. Assim, segundo o raciocínio destes brasileiros, gente que lê em outras línguas, como os ingleses, espanhois e, por que não?, os turcos, não conseguiriam ler e compreender o blog. Ora, não sei se vocês sabem, mas Fauro Goares é meu amigo imaginário. Fauro, o escritor do amor, me ensinou o seguinte: "Escreva com amor, pois a língua do amor é universal". É escrevendo com amor, pois, que consigo me comunicar com todo o mundo.

Muitas melhoras provenientes de meus textos já estão sendo observadas. O povo sul-africano já elegeu um jovem virgemariniano como presidente do país; os americanos já estão passando fome; os africanos já têm tanta fartura, que desperdiçam comida; e o jeitinho brasileiro está sendo ensinado em todas as escolas europeias.

Estas atitudes, entendo, causaram rebuliço. “Você está resolvendo alguns problemas mas está criando outros!”, disseram todos os leitores. Acontece que é preciso que todos passem pelas dificuldades capitais para que tomem atitudes reparadoras. Se o mundo inteiro fosse alimentado de uma hora para outra, os africanos seriam privilegiados, pois seriam os únicos com a experiência da fome.

A revolução é gradual. Somente daqui a cinqüenta e seis anos, quando todos já terão sentido bastante fome, é que a igualdade virá em sua forma plena.

Agora é possível entender por que a crise financeira mundial não é uma questão especulativa. A não ser que mexer meus pauzinhos contra todas as pessoas poderosas do mundo seja considerado "especulação" no seu vocabulário. Aí é uma questão meramente pessoal.

Enquanto tudo não se resolve, atitudes têm que ser tomadas. Resolvi propor o encontro de duas das maiores personalidades do mundo de hoje. Semanas atrás, entrevistei Obina e Obama separadamente, sem me dar conta de que eles tinham nome parecido. Foi quando entrei em um boteco sujo, imundo, encardido!, que me deparei com a realidade óbvia, ou como diria o gênio, ululante: “Obama é parecido com Obina”.

Você pode imaginar que não foi fácil conseguir uma conciliação entre a agenda de Obama e de Obina. Quando Obama podia numa quarta-feira à noite, Obina não podia por conta de um clássico inadiável; quando Obina podia num sábado chuvoso, Obama recusava pelo despeito da recusa anterior de Obina. Foi um duelo de egos quase insustentável que tive que conduzir com o tato que me é peculiar. Quando encontramos uma data em que, enfim, o grande encontro poderia acontecer, eu tive gripe mas fui assim mesmo, temendo que fosse a oportunidade derradeira.

Marcamos para a França, território neutro e que tem petit gateou, e nos encontramos todos com abraços efusivos. Obama se arrependeu na hora de ter feito birra com Obina. Ele percebeu que o flamenguista não teve nenhum prazer em recusar-lhe o encontro. Era o jeito do rapaz, indolente e genial assim mesmo. "Fica tranquilo, Obama. Fica tranquilo que Obina nem reparou. Ele é um cara simples", me apressei a dizer assim que percebi o constrangimento de Obama todo poderoso.

Rumamos apressadamente ao estádio em que disputaríamos uma grande pelada. A união dos líderes era urgente, e nada melhor que futebol para unir as pessoas. Óbvio que tive o cuidado de colocá-los no mesmo time. Eles ficaram felicíssimos com a grata surpresa: Chamei sósias para completar o time e garantir a segurança dos craques. Assim, Se um atirador de elite estivesse no local, teria que matar vários Obinas ou Obamas até achar o verdadeiro. É claro que o jogo ficou muito mais engraçado, também.

O único problema encontrado foi o de que faltou um Obama e um Obina. Chamei um rapaz da geral do Fountaineblezão vestido de homem-aranha para jogar no gol e um imigrante ilegal para completar a zaga. Posso dizer que a equipe de daltônicos que enfrentamos não viu a cor da bola laranja e vencemos por sete a um. Ninguém sabe explicar o gol sofrido.

O papo ocorreu assim que terminou o jogo. Foi grande a comoção internacional diante de um Obama suado e de um Obina de banho tomado e de terno. Os sósias ficaram ao fundo, observando - os Obamas com a mão no queixo e os Obinas tomando picolé.

- É uma imensa satisfação encontrá-lo, Obina. - começa Obama - Uma grande atitude deve ser tomada. Estou perdido. Necessito de toda sua sabedoria. Como faço para alimentar as crianças famintas do mundo?

- Você tem que dar comida para elas - diz Obina. - Assim como arma mata gente, comida mata fome. É simples. Eu aprendi isso quando criança e creio que devo informar às pessoas de todo o mundo toda minha sabedoria.

- Tem problema de dar frituras às crianças?

- Não. Sabe qual é a melhor comida para se alimentar um faminto? Comida. Qualquer comida, meu caro Obama. Quando chega para o seu almoço uma comida que você não gosta, você rejeita, mesmo que não tenha comido nada durante o dia inteiro porque sua fome dura um dia. A fome de um dia não é exigente como a fome de uma vida inteira. Percebe? Um sujeito com a fome crônica não diferencia lazanha de cebola, Coca de Dolly, pão italiano de alface...

- Desculpe, Obina. Mas o que é Dolly?

- Dolly é uma marca de refrigerantes muito conhecida em meu país.

- É boa?

- Não. Por isso que dei o exemplo em contraposição à Coca.

- Obina. Você me desculpe, mas o senhor está mais culto que o normal. Não estou ouvindo palavras de baixo calão, nada de simplório, embora a conversa esteja me agradando deveras. Há alguma coisa diferente no senhor que não posso precisar.

Obina havia ido embora e estávamos conversando com o sósia!