quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Tragédia bonsai #4

A tragédia bonsai é uma tragédia em todos os sentidos, menos no tamanho. Um bom exemplo é a do moço que foi encontrar a namorada naquele dia chuvoso.

Eles entraram rapidamente no restaurante, esbaforidos, sorrindo um para o outro, enquanto o garçom olhava para os dois, esperando que parassem com sentimentalismos e dissessem logo para quantos que era a mesa.

- Para dois, para dois - disse o moço, rindo ainda da situação que não tinha graça.

Ele tomou cerveja clara, ela tomou cerveja escura; ele ficou excitado com o que estava passando na televisão, ela pensou que fosse com ela; ela então ficou excitada também e ele aproveitou e disse para eles irem a um lugar mais apropriado. É claro que ela aceitou, e é claro que ele foi correndo na frente, depois de pagar a conta em dinheiro, porque tinha pressa demais para esperar o cartão passar.

É claro que ele não esperou pelo troco.

No caminho, enquanto abria a porta do carro, a peruca do moço caiu. Não sei se foi por ter batido vento, ou pela chuva anterior que tirou a cola. Acontece que a moça ficou com os olhos estáticos para a careca obscena dele.

Ela andou na direção oposta, como se fosse para ele ir atrás dela e pedir desculpas. Ela ia mesmo ficar mais excitada por ele ser careca, não sei por quê. Ela só queria que ele corresse atrás.

Mas ele pensou que isso era um desaforo, e no desespero da rejeição, gritou:

- Eu também não te quero! Acho que você também usa peruca!

E ela, surpreendida com o que acabara de ouvir, gritou baixinho:

- Eu, não! Peruca, para mim, é coisa de careca!

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