quinta-feira, 28 de maio de 2009

Obina na minha casa

Qual não foi minha enorme surpresa, quando na tarde de segunda-feira, enquanto via a edição da noite do SPTV, me deparei com a seguinte notícia, na voz de Carlos Tramontina:

- O Palmeiras acaba de anunciar a contratação de Obina, do Flamengo!

Antes de minha risada cessar, eis que toca minha campainha. Espio pelo olho mágico e vejo o homem noticiado há pouco. Mantendo o estado pasmo da notícia recém chegada, respiro para abrir a porta a este grande amigo.

- Ora, ora! Se não é meu grande amigo, que agora joga pelo meu time?!

Obina olha para o chão um pouco constrangido. E diz, com o canto esquerdo da boca:

- Eu vim para cá o quanto antes. Queria ser o primeiro a lhe dar a notícia! Pelo jeito me atrasei, né?

Ele se entristeceu um pouco quando lhe contei que o Tramontina já havia dado a boa nova um minuto antes. Mas logo se esqueceu quando lhe disse que hoje mesmo havia comprado na feira dois acarajés.

- Comprei um para mim e outro para você. Pena que comi os dois no almoço!

De novo Obina se entristece.

- Desculpe, Obina. Não sabia que você vinha.

- Então por que comprou um acarajé para mim?

- Eu comprei um para você. E como não sabia que você vinha, comi para não estragar. Se você tivesse me contado antes, compraria três. Assim sobraria um para você, meu grande amigo.

Ele não entendeu nada e coçou a orelha. Dei-lhe logo um grande abraço com cócegas, para que se esquecesse dos acarajés. Senti logo que ele estava um pouco acima do peso. Mas, ao contrário do que recomendaria a qualquer outro jogador de futebol, ele não precisa de regime. Obina é um jogador que nunca jogou com o físico ideal. Para ele magreza até atrapalharia, pois já se acostumou a jogar com quilos a mais.

- Como é que é? Fica no Palmeiras até o final do ano, meu chapa?

- Fico, sim. E se Deus quiser, renovamos o contrato. Eu não sou melhor que o Eto´o, mas o Palmeiras é muito melhor que o Flamengo.

- Rapaz, você não tem mais que se preocupar em ser melhor que o Eto´o. Você tem que ser melhor que o Keirrison!

Obina olhou como se não entendesse. Percebi que não conhece Keirrison, o atacante titular do Palmeiras.

- Eu não vou jogar na NBA, não - disse Obina - Quem é esse Keirrison? Pelo nome, é jogador de basquete.

- Nada, não. Qualquer dia você o encontra por aí.

O celular de Obina toca, ele faz que sim com a cabeça umas três vezes e desliga.

- Tenho que ir embora. Hoje é dia de concentração.

- Tudo bem, meu grande amigo Obina. Vá lá!

Demos abraços efusivos e nos despedimos.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Clássicos? Sei. - Raul Seixas, Eu nasci há dez mil anos atrás

O leitor não deve nem imaginar de onde surge gente pedindo minhas ajudas.

Quando eu era criança, lá pelos meus 3, 4 anos, recebi uma carta. A dona Estefânia, a empregada, achou muito estranho que tenha chegado uma carta para mim.

- Logo para você, a única pessoa dessa casa que não sabe ler! – olhou-me intrigada.

Eu olhei de volta daquele jeito que criança faz quando não entende algum espanto alheio. A ela restava somente ler tudo para mim, já que eu era, acreditem, um analfabeto.

"Olá, Senhor André,

Meu nome é Raul Seixas. É muito provável que você não me conheça, pois há pessoas muito mais famosas que eu que, ao procurarem seus conselhos, se surpreenderam por você desconhecê-las.

Sou um monstro do rock brasileiro e devo morrer em breve. Não sei do quê.

Escrevo esta carta para me aproveitar dos seus dotes artísticos e lhe pedir que me aconselhe sobre a música que fiz.

Ela trata de magreza e dietas. Espero que seja do seu agrado. Não tenha vergonha de mudar nada, ok?

Ei-la:

Eu nasci há dez mil anos atrás

Eu nasci
Há dez mil anos atrás.
E não vi nada nesse mundo
Sem uns quilinhos a mais.

Eu vi gorduras sobressalentes nas anoréxicas,
Um grande pneuzinho na orelha da Gisele,
Eu vi Jesus fazer polichinelo
para ficar magro quando fosse crucificado.
Eu vi...

Eu vi Noé precisando emagrecer para que a arca não afundasse,
Vi bebê recusando cebola pelo seu alto teor calórico,
Eu vi Nossa Senhora malhando para recuperar o peso que tinha
Antes do Espírito Santo tê-la engravidado.
Eu vi...

Eu vi Cleópatra com gordura na batata,
Eu vi Napoleão de mau humor por uma dieta,
Vi coelhos se reproduzindo
Só para queimar a gordura acumulada.
Eu vi...

Eu li todas as revistas de dieta,
Eu vi gente engordar sem deixar a boca aberta,
Vi mulheres emagrecendo três quilos em um mês
E engordando o dobro em uma semana.
Eu vi,

Eu vi um velociraptor enfartando de tanto comer dinossauro,
Vi mamute cortando os chifres para enganar a balança,
Eu vi gente reclamando de Jesus
porque ele achou os peixes bem em época de dieta!
Eu vi...

E aí, André? Gostou? Espero que sim.

Escreva-me o quanto antes com as mudanças propostas. E informe no verso da carta a quantia para a manutenção do anonimato.

Grande abraço,

Raul Seixas, um monstro do rock”

Quando dona Estefânia terminou de ler, fui logo ditando a carta de resposta, sem ao menos esperar que ela pegasse uma caneta e uma folha de papel:

“Caro Raul Seixas,

É claro que o conheço. Você não é aquele loirinho que apresenta o Domingo Legal?

Sobre a música, gostei muito. Mas imagino que você não quer uma boa música. Você quer uma música que faça sucesso. Para isso, lhe proponho que escreva para um sujeito que não é amigo meu, mas que certamente lhe dará bons conselhos para a fama e o sucesso. O nome dele é Paulo Coelho e atende pelo e-mail paulocoelho_vampiro@hotmail.com .

Qualquer coisa, escreva-me mais tarde. Desejo cinco mil reais para trocar de colchão.

Abraços efusivos,

André

Ps: Não ligue para os erros de ortografia desta carta. É que não sei escrever. Estou ditando para minha empregada”

E assim começou a grande parceria entre Raul Seixas, o monstro do rock, e Paulo Coelho.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Roupas ultra camufláveis para animais

A foto retrata cento e quarenta e sete bois utilizando as vestimentas ultra camufláveis para animais. O experimento foi um sucesso, mas perdemos sete bois, e quatro vacas foram engravidadas pelo espírito santo.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O exame

O doutor recebeu os exames das mãos da própria mãe do menino. Ela estava muito tensa, e posso dizer até que lhe tremiam as mãos. O olhar, que na maioria do tempo era distraído, agora estava fixo naquele homem de branco.

- Doutor! Fale logo, doutor!

Roberval, era o nome dele, do médico. Ele fez medicina para que lhe pudessem chamar de outra coisa, de doutor. Talvez lhe fosse menos despendioso ser um cobrador, mas ônibus sempre lhe causou enjôo.

- A senhora vai bem? - perguntou Roberval, se aproveitando da agonia daquela mulher.

- Bem, bem.

- Temos novidades? - continuou, com os exames nas mãos, sem demonstrar que pretendia abri-lo.

- Depende do que está aí dentro - respondeu Marlene, apontando o envelope.

O menino? O menino estava impassível, como se o exame fosse de um desconhecido.

- Como o menino tem passado? Os sinais cessaram?

- Não sei. outro dia achei o rosto dele avermelhado, já ia ligar par ao senhor, mas vi que o menino só estava com vergonha. Terça-feira achei que ele tinha hipotermia, mas foi só aquecer a piscina que passou. Ontem ele rejeitou Coca-Cola, mas logo vi que estava sem gelo. Doutor, eu estou apavorada, doutor!

- Entendo. Coca sem gelo, não dá.

Roberval enfim se concentrou no exame. Olhou com gravidade o envelope branco. Começou a abri-lo, mas era necessário tirar aquela cola. Parecia impossível. Rasgou o envelope e não abriu.

- A senhora tem uma tesoura? - perguntou, seguindo a tese própria de que as mulheres bonitas têm tudo na bolsa.

- Não, doutor!

Ele olhou para Marlene mais criteriosamente e percebeu que ela não era bonita assim.

Pegou o telefone e falou rapidamente:

- Suzana! Traga já uma tesoura.

Os dois se encaravam. De repente Marlene se lembrou de que o menino estava ao lado dela. Abraçou-o fortemente. Roberval olhava como se a cena fosse cômica.

- Calor.

- É, calor.

Enfim, a tesoura chegou. Suzana sorriu para a mãe, e fez uma careta infantil ao menino, que achou graça.

Robeval abriu o exame, e logo falou:

- É, dona Marlene. Seu filho definitivamente não poderia ser um tubarão.

A mãe não se mexeu.

Marlene, notando que Roberval esperava uma reação obrigatória para seguir adiante, perguntou:

- Por que, doutor?! Meu filho não poderia ser um tubarão?!

- De jeito nenhum! Nem pensar! O que ele tem, é alergia a peixe!

domingo, 17 de maio de 2009

Ombudsman

Olá, meu nome é Pelé, e você deve saber muito bem que sou o ombudsman oficial do blog Eu não sou virgem, Maria! e que não joguei a copa de 70.

Não deve ter um ombudsman falsificado, até porque esta função é mais indesejada que a de limpeza de fezes de elefante. Mas na internet é bom dizer logo que é oficial, porque aqui se falsifica tudo! Não sei por que toquei no assunto dos elefantes. Foi um grande erro. André disse uma vez que sou ombudsman porque não há pior função nem menos remunerada. É capaz de ele comprar um elefante só para me pagar menos.

Vocês devem ter notado que não atualizo minha coluna há tempos. Já enviei diversos textos para André publicar, mas ele encontra tantas falhas, que inviabiliza a publicação da coluna. Ele acha erros em lugares que não existem! É o que eu chamo de burocracia na correção textual. Ele de um jeito tão pessoal, sem lógica nenhuma, que impossibilita qualquer avanço. Mas não falemos mais de bazófias. Sei muito bem da importância deste blog para a internet mundial, e é sobre ele que sou remunerado a escrever.

Tenho recebido muitas reclamações de que o blog está com um sério déficit nas atualizações. Uma reivindicação corrente é a de que poste aos finais de semana. Ele já respondeu dizendo que tem coisas melhores a fazer aos sábados e domingos. Tudo bem, entendemos. Agora, porém, não têm sido raros os dias úteis em que ele não posta! Na terça e na quarta-feira desta semana, por exemplo, não houve post algum. Falemos com o autor para esclarecermos este problema.

Pelé: André, sabemos que sua vida é atribulada. Mas por que não tem postado?

André: Eu? Eu não tenho postado? Postei muitas vezes no ano passado.

Pelé: Pois é. Mas nesta semana você não postou por duas oportunidades.

André: Pois é. Esqueci. Que bom que você avisou. Mas é pena que não se pode voltar no tempo, senão eu postaria.

Pelé: Então a falta de posts neste espaço é um mero problema de esquecimento?

André: Isso mesmo. Quanto você cobraria para me lembrar todos os dias que é necessário postar?

Pelé: Uns dez reais por dia.

André: E se eu não te pagasse, você me avisaria da mesma forma?

Pelé: Sim.

André: Então não vou lhe pagar. Não sou burro. Vou pagar por uma coisa que posso ter de graça?!

Agora o leitor entende a dificuldade de lidar com este homem? Tudo que ele tem de talentoso, tem de complicado no fino trato.

André: Ah! Esqueci de falar uma coisa.

Pelé: Sim?

André: Seus textos vêm com muitos erros! O senhor precisa aprender a usar vírgulas muitas, muitas vezes! Dá charme ao texto.

Pelé: Pensarei sobre isso.

André: Não adianta pensar. Tem que agir, meu filho!

Bem. Entendo que André se irrite com meu jeito de escrever. Mas ele não implica com os erros. Implica com tudo o que escrevo e não se parece com o que ele escreve. No mais, peço para que vocês reclamem menos do blog. Isto aumenta meu trabalho e os conflitos com meu chefe.

Agradecidamente,

Pelé

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Regra de convivência #328 - Ser tímido

Há alguns desafios por que um ser humano tem que passar para se tornar uma pessoa decente.

Se você tem um pai que não gosta de futebol, por exemplo, o seu afinco para gostar deste esporte terá que ser dobrado. Se seus pais são ladrões, será necessário sempre uma atenção especial para que você também não o seja. Assim como se os ambientes de sua infância forem compostas de pessoas extrovertidas.

O grande mal da educação brasileira é a obsessão pela extroversão. Não há pecado maior nas nossas escolinhas que o da timidez. As tias matam a timidez como se fosse lepra que deve ser extirpada das crianças a todo custo! E ainda contam com o apoio dos pais! Eu soube de uma mãe que, arrasada pela timidez do mais novo, o obrigava a cumprimentar desconhecidos na rua! Isso com o apoio dos professores do Pré 1, que o colocavam sempre com duplinhas diferentes nas aulas de artes.

A necessidade de uma pessoa ser extrovertida não é nada mais que um senso comum. As pessoas que assim pensam, acham que a pessoa extrovertida é a que obtém maior sucesso profissional, que conquista mais facilmente as pessoas do sexo oposto, e outras coisas maravilhosas.

Mal sabem dos grandes benefícios da timidez. Aliás, nos tempos de superexposição, a timidez é a grande qualidade humana! O tímido se põe à parte da certeza geral burra. No lugar do relacionamento com desconhecidos, o tímido está sempre pensando. Pensando em um livro, em um jeito diferente de se abrir a porta, num caminho novo, num helicóptero.

Veja só. Alguém acha que seria possível Leonardo Da Vinci inventar tantas coisas, não fosse tímido? Fosse ele um extrovertido, gastaria toda sua genialidade no bom trato.

Por isso, ao ver as pessoas reprimindo sua timidez, corte a relação. Senão, você poderá se tornar um falso extrovertido – a pior categoria de extroversão.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Entrevista de emprego

Chego dez minutos antes do horário marcado porque é assim que os ingleses fazem. E como são confiáveis, os ingleses. Mas seria só me ouvir falando, que se perceberia que não sou inglês. O entrevistador só ouviria minha voz quarenta minutos depois, porque ele se atrasou trinta minutos, talvez para mostrar que aqui não é a Inglaterra, e que ele não vai cair nessa ladainha de candidato a emprego metido a inglês.

- Bom dia. - diz, como quem não está atrasado.

- Olá - digo, como quem não estivesse com raiva do outro estar atrasado.

- Li seu currículo e o texto que você enviou. É um texto muito ousado para um currículo tão raquítico.

Minha cara de bobo não demonstra se engoli o elogio ou a crítica. Acho que ele elogiou o texto para que eu quisesse trabalhar na empresa, e desqualificou o currículo para que não exigisse um bom salário.

- Ah, você gostou do texto?

- Não, não. Eu só disse que é um texto ousado. Um bom texto pode ser ousado ou não.

- Eu não disse que você gostou do texto. Eu só perguntei se você gostou.

- Ah, sim. Gostei.

Poderia sorrir neste momento, mas sei que ele certamente aproveitaria para outra crítica, e isso o convenceria de que não sou um bom candidato. Explico: A necessidade do entrevistador de criticar o candidato o convence de que o candidato não presta. Por isso é preciso dar o menor número de brechas para críticas.

Quando ao currículo raquítico, arrependi-me veementemente por não ter diminuído as margens e aumentado a fonte. Os entrevistadores dão muito valor ao tamanho do currículo, porque provavelmente são pessoas de idade mais elevada. Estas pessoas se ressentem dos mais jovens que podem enxergar letras pequenas.

- Você está aqui porque preciso de alguém para me ajudar nesta revista sobre vulcões. Por isso preciso saber se a sua personalidade se enquadra com o tema.

- Sim, sim. Entendo. A revista é ótima. Tem um artigo sobre maravilhoso a baixa periculosidade das lavas em regiões inóspitas.

Este comentário foi programado. Li a revista no último sábado e percebi que este artigo havia sido escrito pelo entrevistador.

- É muito bom, esse artigo. Foi muito elogiado por toda a revista. Leitores enviaram cartas, também. Vamos às perguntas. O que você pensa sobre vulcões?

- Deixe-me pensar.

- São respostas rápidas, para que eu possa avaliar precisamente a sua personalidade. E para que o candidato não enfeite muito, também.

Porra.

- Os vulcões, para mim, são uns injustiçados. Porque eles nunca atacam de surpresa, apesar de as pessoas se surpreenderem com eles. O vulcão está lá, mesmo que inativo. Sempre já há possibilidade de ele estourar. Os vulcões são muito sinceros.

O entrevistador franze a sobrancelha, não sabendo ainda se aprovou ou não minha impressão sobre os vulcões.

- O que você mudaria?

- Como assim?

Ele me olha nos olhos, espantado com meu retardo mental por não entender esta pergunta.

- Digo... O que você mudaria?

- Mudaria em quê? No mundo? Sobre os vulcões?

- O que você mudaria no mundo sobre os vulcões?

- Calma. Preciso pensar novamente.

- E eu preciso novamente avisá-lo que a resposta precisa ser rápida.

- Então vai para a puta que te pariu! – não disse.

- Eu mudaria o posicionamento dos vulcões. Deixaria todos debaixo do mar, para que quando entrassem em erupção, só queimassem aqueles peixes cegos. – disse.

Ele me olha com mais espanto ainda. Eu devolvo o espanto. Ele olha para baixo. Ufa.

- Qual é a sua disponibilidade para trabalhar aos finais de semana?

- Nenhuma.

- E horas extras?

- Nenhuma.

- Olha. Eu fiz essas perguntas para saber do seu comprometimento com a empresa. O contratado não precisará nunca fazer horas extras ou trabalhar aos finais de semana.

Provavelmente o leitor acha que neste momento senti um arrependimento profundo. Mas não senti. Como eu adivinharia?

Quando se vai fazer uma entrevista de emprego, há duas opções que variam com o desespero. Você pode se mostrar maravilhoso como não é, ou tosco como é. Claro que a chance de ser contratado se mostrando maravilhoso, é maior, mas depois há uma grande possibilidade de perceberem que você não é maravilhoso, e o demitirão por isso.

A equação é a seguinte: se o candidato se mostrar modesto, a chance de ser contratado é menor, mas se conseguir a vaga, a chance de permanecer no emprego é quase plena. Se o candidato de mostrar maravilhoso, a chance de ser contratado é muito maior, assim como a chance de não permanecer no emprego.

- Por que você veio de bermudas? - pergunta-me, de supetão.

- Porque está calor.

- Aqui usamos ar-condicionado. Se você for contratado, estaria disposto a vestir calças?

- Sim, sim. No anúncio desta vaga, não estava escrito que se usa ar-condicionado nesta empresa.

- Mas utilizamos.

Eu poderia continuar com a discussão, mas não queira discutir com um entrevistador. Por mais que você tenha razão, ele não vai admitir. Ou seja: Como ele está numa posição superior à sua, é ele quem tem a razão em todas as instâncias, e discutir seria como tentar permanecer no erro à força.

- E gravata? Por que não veio de gravata?

- Porque não combina com bermuda.

- E por que você veio de bermuda?

- Acho que o senhor já fez uma pergunta semelhante.

É chegada a hora na entrevista em que o candidato tem que se impor e perguntar as coisas da empresa. Aí a situação se inverte, e o entrevistador percebe que o candidato também escolhe a empresa.

- Qual é o salário? - pergunto.

- Você é do tipo de jovem que só trabalha pelo salário?

- Não. Eu só perguntei o salário. Vai que vocês sejam escravistas.

- Eu tenho cara de escravista? – me pergunta, como se fosse um gênio.

- E eu tenho cara de ganancioso? – respondo, como se fosse um humorista.

Silêncio.

- Queira, por favor, me dizer o salário?

- Mil. - diz, com vergonha.

É por isso que ele não queria dizer.

- Mil? - pergunto incrédulo.

- É, mil.

- Mil. - digo, conformado.

- Mil.

Agora todas as coisas mudam. Eu posso seriamente não querer este emprego.

- Mil reais, e tem que vir de gravata?

- Isso se você achar necessário. Acho que basta.

- Quando obtenho a resposta?

- Semana que vem.

Nos cumprimentamos discretamente e fui embora.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Amnésia de japonês mata dezenas de amigos imaginários

A manhã desta segunda-feira foi marcada por uma grande catástrofe na cidade de Nagoya, Japão. Um jovem de aproximadamente dezesseis anos sofreu uma amnésia ao bater com a cabeça em um poste, e provocou a morte de dezenas de amigos imaginários. Os médicos dizem que a situação é irreversível.

Shimizu sempre andava de bicicleta nas redondezas do parque municipal de Nagoya e era, até, considerado um bom ciclista. Nesta segunda-feira, porém, nem suas habilidades foram capazes de desviar de uma cão sem proporcionar um acidente. O cachorro nada sofreu. Shimizu, no entanto, se espatifou com a cabeça em um dos dezessete postes do parque, proporcionando um forte estalo.

"Pela conversa que tive com o paciente posso dizer que os amigos imaginários estão quase todos mortos", revela a psicóloga de Shimizu, dona Nagori. "Há uma meia dúzia de feridos, mas creio que devem morrer todos nos próximos dias. Esta batida causou um amadurecimento súbito em Suzuki", completa.

Pouca gente sabia da existência de tantos amigos imaginários na cabeça deste jovem japonês. Foi seu amigo Shitaro quem primeiro informou à polícia. "Ele sempre falava desses amigos e eu nunca dei bola. Agora que eles morreram, sinto saudade", diz em tom um tanto triste, como é de se compreender. Ele diz que os amigos imaginários de Shimizu somavam a 46, cada um com uma personalidade diferente.

Os amigos imaginários não serão enterrados, visto que no Japão o acesso à terra imaginária é um tanto restrito, além de não haver cemitérios imaginários. Shimizu passa bem, e fontes seguras indicam que ele não sentirá falta dos amigos, já que se esqueceu deles peremptoriamente.

Roupas ultra camufláveis na praia


Era grande, a demanda por vestimentas ultra camufláveis de praia.
Recebi milhares de e-mails de mulheres que não têm estatura peitoral implorando para que eu desenvolvesse os sutiãs ultra camufláveis. Também não foram poucas as mensagens das mulheres que não têm, como se diz, bunda, pedindo os biquínis ultra camufláveis. E os homens de pênis curto também queriam as sungas ultra camufláveis.

Eu respondia todos estes e-mails envergonhadamente. Dizia que sabia da necessidade e da importância destas invenções, mas eu tinha nojo de desenvolvê-las. A criação deste tipo de vestimenta obrigava a lidar com modelos em partes não muito agradáveis. Além do que as pesquisas de campo, na praia, eram sempre enfadonhas, com grande calor e imensa dificuldade ao lidar com a areia úmida que entrava em todos os poros possíveis.
As pessoas não se davam por satisfeitas e respondiam assim:

- Por favor, André. Por favor!
- Está bem.
O que eu tinha a fazer, senão desenvolver logo o que o povo tanto me pedia?

O processo de criação com bonecos foi determinante para o sucesso do projeto.

E que ninguém pense que o preço será igual ao das outras vestimentas. Cobrarei caro. Ai de quem não comprar. Tenho os remetentes de todos os pedidos!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Propaganda dos óculos ultra camufláveis


O grande sucesso do anônimo usando os óculos ultra camufláveis levou o departamento de marketing deste blog a buscar várias soluções para um aproveitamento financeiro deste fenômeno.

Depois de diversas reuniões, chegamos à conclusão de que contrataríamos uma grande modelo internacional. Aliás, não precisava ser uma grande modelo internacional, como fizemos com Gisele Bündchen. Bastava que parecesse uma. Chegaram à minha mesa dois currículos. Um de Katie Holmes, outro de Margareth Sthepan. Escolhemos Margareth, pelo cachê.

Era também preciso agregar uma marca conhecida de óculos, porque, sinceramente, não temos experiência na produção de lentes oculares. A proposta vencedora foi da Dior, pelo design e também pelo fotógrafo que nos emprestariam.

Gostei muito do resultado, porque demonstra a alta camuflacidade das lentes.

Aliás, cabe esclarecer que os óculos ultra camufláveis funcionam como óculos de verdade. Inclusive, produzimos óculos de grau ultra camufláveis, desde que o cliente pague dobrado.

Com medo da gripe suína, José Ferreira entra no ramo de cavalos

Foi anunciada na noite de ontem uma reviravolta no que se diz respeito à suinocultura nacional. José Ferreira, que ganhou a vida financiando porcos aos brasileiros, resolveu fazer uma troca insólita. Sai do ramo dos porcos para entrar no de cavalos. Ele tem medo da gripe suína.

Ferreira, conhecido no interior como Porquinho (também porque seu nariz lembra o de um porco), deve toda sua fortuna aos porcos. Nascido na favela de Paraisópolis, nos anos 80 enxergou nos suínos uma forma eficaz de ascensão social. “Na época, quem comia porco no Brasil ou era leão ou granfino. O que eu fiz foi popularizar os suínos, e até ontem a carne de porco era mais barata que a de boi”, diz Ferreira.

As notícias da gripe suína se alastrando pelo mundo pegou Porquinho de surpresa. “Olhava para meus porcos como se fossem uns traidores. Os trato tão bem, para transmitirem gripe para mim? Assim não dá”, diz, visivelmente transtornado. Questionado com informações científicas que indicam que a carne suína não transmite o vírus, Porquinho mantém-se impassível: “Não acredito nos cientistas”.

A escolha pelo cavalos foi como um deja vu. “Escolhi criar cavalo porque quem é que come cavalo no Brasil, hoje em dia? Só granfino ou leão. Levarei o cavalo para o povo!”, propala em tom encantador, que ninguém ousa duvidar.

Os porcos de todas as fazendas de Porquinho foram queimados para dar lugar aos cavalos que devem chegar em 15 dias. Os Sem-Terra que tentaram invadir o local, atraídos pelo cheiro da carne queimada, foram afastados por seguranças armados.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Twitter - Primeiros passos

Tem sido muito frutífera, a minha experiência com o Twitter.

Talvez a minha implicância anterior fosse somente preconceito, mesmo. É uma delícia ter limite de cento e poucos toques para passar uma ideia. Talvez seja por isso que a maioria das pessoas só dizem amenidades. O problema talvez seja somente o teor dessas amenidades.

Veja só. As notícias sobre si são todas positivas. "Estou tomando banho". "Estou vendo LOST" (para quem escreve isso, ver LOST é uma coisa positiva). Eu quero ver é quem diga coisas feias sobre si mesmo. "Estou com vontade de fazer cocô desde às 18". "Esqueci de passar desodorante". "Paquerei uma freira".

Pena que meus posts jamais terão este teor. Primeiro porque não falo sobre cocô com estranhos. Depois, que eu não esqueço de passar desodorante. E ainda, que não falo sobre minha vida pessoal no Twitter, lembra? Foi um grande equívoco prometer isso. Estou morrendo de vontade de dizer algumas coisas pessoais, mas prometido é prometido.

A grande estratégia do momento é começar a provocar o Marcelo Camelo pelo Twitter. Não que eu tenha alguma coisa contra este sujeito. Pelo contrário! Acho que algumas músicas dele são muito bonitas. E também é admirável que um sujeito não tenha vergonha de namorar uma pessoa quinze anos mais nova. Eu teria.

Então os próximos posts no Twitter serão no afã de provocá-lo. Há quem pense que só tenho a perder me indispondo contra este grande sujeito inteligente e cheio de fãs. Além do mais, ouvi dizer que ele poderia se sentir profundamente magoado com meus ataques gratuitos. Mas minha estratégia tem a ver somente com a fama dele. Eu quero utilizar a notoriedade deste homem em meu favor. Espero que dê certo, senão o que eu vou ganhar serão somente scraps anônimos contra meu estilo de vida aproveitador - a que responderei assim: "Me xingue, mas não deixe de ler o blog. Ele é ótimo."

Por fim, quero dizer que não mais direi neste blog qual é o endereço do meu Twitter. A intenção, ao criá-lo, foi a de trazer leitores para cá. Por isso não faria sentido usar o blog para levar leitores para lá. Se a curiosidade for grande, dê um jeito de descobrir. No seu lugar, eu tentaria www.twitter.com/andreursipedes.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Twitter

Se alguém me perguntasse há menos de vinte e quatro horas, o que eu acho do Twitter, a resposta provavelmente seria repleta de palavrões e outras palavras mal educadas. Falaria deste site com a raiva de quem fala de algo que não gosta e não pretende gostar nunca.

Sejamos sinceros: Como é bom detestar. É detestando que se cria os assuntos. Eu seria praticamente mudo, caso não detestasse. Falo até com mais entusiasmo do que não gosto do que daquilo que gosto. Detestar é melhor do que gostar.

E assim era com o Twitter. Sempre falei mal, porque só ouvia falar de gente que publicava coisas pessoalíssimas da vida. "Fui fazer cocô", era um post. "Não foi só cocô, também fiz um xixizinho", vinha no post seguinte. Daí pensei que isso também acontece com os blogs. A maioria deles são horríveis e falam da vida pessoal de quem redige. Mas há outros que salvam todo o resto, como este.

Minha ressalva agora é somente com o tamanho mínimo dos posts. Mas esta pode ser uma coisa boa. Tem vezes em que aqui no blog desejo publicar coisas pequenas, mas vem um receio, porque esteticamente não é aceitável. O blog, para mim, exije textos um pouco maiores. Então às vezes encho linguiça para formar um post em torno de uma ideia.

Veja, porém, que encher linguiça não é uma coisa necessariamente ruim. Há quem encha linguiça com filé mignon, como há quem encha com carne de quinta. É claro que encho com filé mignon. Mas às vezes não tem filet. Ou então dá preguiça, mesmo.

No meu twitter, o www.twitter.com/andreursipedes, provavelmente não falarei da minha vida pessoal. Se por um acaso escapar alguma coisa, peço aos meus seguidores que avisem prontamente!

Óculos ultra camufláveis

Este homem comprou um modelo da última moda do que se diz respeito às vestimentas ultra camufláveis.

Trata-se dos óculos frutos da parceria do site Eu não sou virgem Maria! com a marca americana Ray-Ban. O site brasileiro entrou com a ultra camuflacidade e a marca americana, com o design. Eu achei o resultado espetacular, embora tenha fins somente estéticos, já que é possível perceber o resto do rosto da pessoa, como se pode ver na figura.

Fora isso, as vantagens para o mercado brasileiro são imensas. A Ray-Ban ganhará somente 5% das vendas. E ainda arcará com o frete.

Trecho de um plágio que nunca foi feito

Alguém deve ter caluniado Alfredo, pois foi detido numa manhã sem ter feito nada de mal. Era a primeira vez que lhe ocorria algo deste gênero. Sempre foi tão bonzinho, que morria de medo de ser preso por engano. Parece que o temor se realizou. Isto não é nada surpreendente, porque não é só sonho que se realiza. Não tinha mais nada a se fazer, senão esperar o advogado e dar os primeiros telefonemas. Recusou o oferecimento do policial, muito solícito, porque já viu que poderia falar mais livremente com os celulares dos outros presos. Rafael Nadal, seu cachorro, naturalmente morreu, pois um cachorro mal pode pensar em respirar sozinho, quanto mais em se alimentar. Walter Victor, o papagaio, sobreviveu um pouco mais, mas acabou morrendo quando terminou o alpiste. E a avó paralítica, coitada, também morreu. Ela tentou telefonar diversas vezes, pois estava muito preocupada com o Nadal e o Walter Victor, mas desistiu quando ouviu o toque de chamada do próprio telefonema. Alfredo não pôde levar o celular à delegacia.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O desfile de moda das roupas ultra camufláveis

Não esperava tamanho sucesso para as roupas ultra camufláveis.

Na verdade esperava. Mas está um pouco cansativo começar textos sempre com alguma frase arrogante para repelir o leitor. Esta insistência, creio eu, acabou afastando mesmo alguns leitores. Acalmem-se, meus chapas, isto é só um tipinho.
Mas as roupas ultra camufláveis têm tido um sucesso, como diria minha avó, estrondoso! É tamanha a procura, que ninguém consegue comprar. Os servidores tiveram excesso de tráfego, e sites como Amazon, Submarino e Pudim mantiveram-se inacessíveis por vários dias. Então resolveram parar de vender.

Ninguém mais vende, porque ninguém tem estrutura para isso. E as roupas esgotaram. Sabe como?

Aqueles que milagrosamente conseguiram comprar antes dos problemas, vestiram as roupas ultra camufláveis e conseguiram entrar nas lojas desapercebidamente e roubaram todas as outras. Roubaram inclusive alguns playstation 3, o que eu não acho correto. O que a Sony tem a ver com a história? Bem. Acho que eles utilizarão o marketing da história e tornar-se-ão mais ricos.

Para que esta invenção não seja em vão por conta de falta de infraestrutura, resolvi que eu mesmo venderei com exclusividade as roupas. Dou um jeito. E para continuar com o impacto dos primeiros meses, resolvi realizar um desfile de moda com as roupas ultra camufláveis.

Não precisei convidar modelos, porque algumas já haviam se proposto a desfilar. Escolhi a Gisele Bundchen, mas depois me arrependi. A mulher é tão magra, que já é por si só ultra camuflável. Deveria ter escolhido alguém mais substancioso. João Gordo, talvez. Mas receio que João não toparia participar desfiles de moda. Ademais, ele não tem molejo.

Gisele desfilou por cem mil dólares. Depois descobri que o cachê dela é bem menor. Mas tinha em mente que, para desfilar com a minha marca, a pessoa tem que se valorizar. Cobrar bem. E ofereci os cem mil dólares impactantes.

Veja uma foto do desfile.


segunda-feira, 4 de maio de 2009

Regra de convivência #26 - Ser o menos influenciável possível

Nos últimos dias, como que por acidente, abri o jornal.

A relação que se tem com o jornal é um tanto esquisita. Nunca o abrimos, quando um dia, sem querer, um deles para na nossa frente. Folheamos à contra gosto e encontramos uma notícia interessante. Uma notícia que fez valer a pena o fardo que é tocar naquela coisa que suja as mãos, é desconfortável e, bem, possui um texto muito mal feito.

Daí, nos dias seguintes procuramos alguma situação para ler jornal, no afã de encontrarmos uma notícia interessante como a que encontramos no dia anterior. Porém, não encontramos nada digno de interesse, e tudo o que passamos é raiva. Então temos a sensação de que jornal é algo de horrível que suja as mãos, é desconfortável e, bem, possui um texto muito mal feito. E esperamos a próxima notícia despretensiosamente interessante que encontraremos sem querer em algum jornal.

Falo isso para dizer da última coisa interessante que li em um jornal. Não me lembro qual a espécie de jornal que era, mas nele estava publicado um texto muito interessante sobre as cem pessoas mais influentes do mundo. Não me lembro do texto, porque o tema me deu a ideia de fazer a regra de convivência número vinte e seis: Ser o menos influenciável possível.

Enquanto via a lista das pessoas mais influentes do mundo, via claramente o motivo por que o mundo vai mal. As pessoas influenciáveis são uma clara fotografia do mundo.

George Dáblio Bush, Justin Timberlake, Madonna... Havia por lá diversas celebridades, mas nenhum gênio! Não vi um Ewerton Clides, nenhum André Ursípedes, zero Sidney Magal. Ou seja, não há, nesta lista, ninguém digno de exercer qualquer influência em alguém! Mas o problema não são as pessoas influentes; o problema são as pessoas influenciadas, que são influenciadas demais!

Um ser influenciado perde a autonomia como o Sertãozinho jogando contra o Palmeiras. E perdendo a autonomia, perde a personalidade e qualquer importância. Porque o influenciável é uma fábrica de cópias. Tal qual o Paraguai imita os produtos chineses, o ser influenciável imita as personalidades americanas.

Sei bem que é muito difícil não ser influenciado por ninguém. E não é isso que peço nesta regra. O objetivo é selecionar as influências e captar somente as que incrementam e desenvolvem a personalidade.

Pense no exemplo anterior: Você compraria um produto paraguaio ou chinês? Se você for muito influenciável e não selecionar suas influências, eu, por exemplo, não falaria jamais com você. Falaria direto com a Madonna.