terça-feira, 24 de março de 2009

Reunião na redação do site Eu não sou virgem, Maria!

Esta é uma transcrição fidedigna da última e fatídica reunião que ocorreu na redação deste site. Foi nela que tomei a decisão peremptória de demitir tantos funcionários, agravando ainda mais a crise que assola o mundo desde o ano passado. Acho que é por conta dessas demissões que o Papa Móvel teve que circular aberto por falta de verba no departamento blindatório da igreja.

Os nomes aqui apresentados são fictícios. Tome cuidado, que alguns nomes são verdadeiros, para confundir o leitor. Assim: se o sujeito se chama Sérgio, e eu digo que o nome é de mentira, uma boa tática é dizer que ele se chama Sérgio. Desta forma, o leitor pensará em todos os nomes possíveis, menos em Sérgio. Não entendeu? Leia de novo.

O comandante (eu): Bom dia, pessoal. Tudo bem? Ao contrário do tempo, que hoje se encontra lindamente, a firma não vai bem. Senão vejamos.

Neste momento, apresento um gráfico terrível.

O comandante (eu): Vêem esta tabela? Ela demonstra os lucros que obtivemos nos últimos meses. Estamos perdendo muito do lucro. Se antes ganhávamos sete milhões por mês, agora são somente seis milhões e quinhentos. Parece pouco, vendo que se trata ainda de bastante dinheiro. Mas quinhentos mil por mês fazem muita falta. E resolvi cortar alguns cargos. Vocês terão a oportunidade de argumentar a fim de me convencer a mantê-los no cargo. Pode ser que eu demita todos, pode ser que eu não demita nenhum. Vai depender do poder de argumentação dos senhores e do meu humor. Comece você, Sérgio.

Sérgio tosse, visivelmente constrangido. Ele não sabe por onde começar a argumentação. Tem tantos argumentos, que fica difícil eleger um.

Funcionário número um (Sérgio): Bem, senhor. Fica difícil pedir para que fiquemos, quando na verdade somos somente funcionários figurativos. Mas este é justamente meu argumento. Peço para ficar para que o senhor se sinta mais poderoso, pagando pelos seus funcionários. Peço inclusive um aumento, assim o senhor será mais poderoso ainda. Afinal, não é qualquer um que paga trinta mil por mês a um funcionário que não faça nada.

O comandante (eu): Sérgio. O senhor possui um ótimo argumento, mas mesmo assim vou demiti-lo.

Funcionário número um (Sérgio): Por que, senhor? Por quê?

O comandante (eu): Seu ótimo argumento para mantê-lo no cargo acabou suscitando em mim um excelente argumento para demiti-lo. Se é bom demitir alguém que ganhe pouco, melhor ainda é demitir alguém que ganhe tanto quanto você!

O funcionário demitido se entrega às lágrimas, mas chora ainda mais quando perde a dignidade.

O comandante (eu): Esqueci de dizer que os demitidos vão deixando a reunião. Sérgio, vá embora.

Sérgio se despede dos outros funcionários e minha secretária abre a porta para ele apertando um botão.

O comandante (eu): Putrécia, agora a senhora.

A secretária (Putrécia): Mas o senhor disse que não ia me demitir porque fui eu que dei a ideia das demissões!

O comandante (eu): Putrécia, a sua ideia foi muito boa. Mas a senhora não se envergonha? Se não fosse a senhora, várias pessoas não seriam demitidas. A senhora que deu a ideia e terá que se submeter também a esse processo seletivo. Saiba que sua argumentação terá que ser excepcional, porque estou pensando em implementar na firma sensores nas portas. A senhora ficará sem função!

A secretária (Putrécia): O meu argumento é um só, e o senhor mesmo já o disse. Se não fosse por mim, a empresa faliria, pois fui eu que tive a ideia das demissões. Creio que agora que o senhor já revelou a todos que a ideia foi minha, terá que demitir todos os outros e manter somente eu. O clima ficaria horrível trabalhando com gente que teve o cargo arriscado por minha causa.

O comandante (eu): Putrécia. A argumentação ia muito bem, quando a senhora sugeriu que todos terão que ser demitidos para a senhora ficar. Não vou demiti-la agora. Se demitir todos, você fica. Se ao menos um for mantido no cargo, você vai embora.

A secretária (Putrécia): O senhor é fogo.

Putrécia faz uma cara que demonstra clara irritação e solta um palavrão sem voz.

O comandante (eu): Os senhores estão com uma cara tão nervosa. Fiquem tranquilos, a não ser que vocês mereçam a demissão. Aí tem que ficar nervoso mesmo. José, o senhor.

José tosse.

O comandante (eu): Meu Deus! Será que para falar é tão preciso assim tossir? Por que vocês tanto tossem antes de falar? É por isso que vocês não são a Madonna. Porque tossiriam tanto, que as revistas não falariam outra coisa, senão: A Madonna está refriada!

Funcionário número dois (José): O senhor me desculpe, mas estou realmente resfriado. Estou tomando tantos remédios, que já sou sócio majoritário da farmárcia. E isto vem muito a calhar. Eu estava me preparando para pedir demissão, mas não sabia como. Então se é para o bem da sua empresa, vou me dedicar integralmente à farmácia de que sou sócio majoritário. Senhor, peço demissão.

O comandante (eu): É lamentável. Vá logo embora. Cretino.

O pedido de demissão de José causou certo furor entre os funcionários. Teve um até que achou graça, mas parou de rir no exato instante em que lhe mirei os olhos visivelmente irritado.

O comandante (eu): É foda. Tanta gente precisando de emprego, e o José escolhendo onde vai ficar. Essa farmácia vai falir. Encomendarei um milhão de remédios caríssimos e cancelarei em cima da hora. Eles ficarão no prejuízo. Aliás, alguém tem o telefone da farmácia do José?

Ninguém responde.

O comandante (eu): Quem souber, fica no cargo!

A secretária (Putrécia): Trina e oito, vinte e dois, quarenta e nove, vinte e um.

O comandante (eu): Putrécia, você fica. Sendo assim, estão todos dispensados e demitidos. Foi muito bom trabalhar com vocês durante tantos anos, mas imagino que tenha sido melhor para vocês terem trabalhado comigo.

Assim se encerrou a reunião. Os lucros voltaram a subir, embora a crise tenha diminuído o número de pessoas que compram computador com a finalidade única de acessar o site Eu não sou virgem, Maria!

Um comentário:

Anônimo disse...

hahahaha, muito bom. Você é o Roberto Justus da blogosfera. Sem o topete, obviamente