sexta-feira, 6 de março de 2009

Clássicos? Sei. - James Joyce, O retrato do artista quando jovem

De Paulo Coelho a Márcia Cabrita, de Dostoievski a João do Rio, de Bruno Aleixo a Garrincha, muitos artistas devem a genialidade de suas obras unicamente a mim. James Joyce é um deles.

O caso de Joyce é peculiar porque não se tratou de uma consultoria ou de um serviço de ghost writer. Infelizmente é um caso de plágio. Um não. São vários e descarados plágios. Não há uma linha do autor escocês que não seja cópia ou inspirada em alguma ideia ou algum texto meu.

Não sei o que o autor pretendia com isso. Talvez ganhar uma fama repentina com a genialidade das obras ou então uma grande vergonha agora, quando o desmascaro. Aliás, por um acaso Joyce acha que a vida é um carnaval para passá-la toda de máscara? Eu recomendaria que tentasse disfarçar e imitar outros autores, porque não aguento mais estes gastos com advogados e advogadas.

O retrato do artista quando jovem? Cópia do meu O retrato do autista quando jovem. Ulisses? Cópia deslavada do meu grande livro O lisses. Por aí afora. Ouvi dizer, porém não posso confirmar, que o afamado autor chega a contratar detetives particulares para descobrir e copiar minhas vestimentas, minhas frases de efeito e, pasmem, meu time de futebol. Saibam agora de uma grande coisa: James Joyce é palmeirense. Pelo menos nisso, não me importo que me copie.

O descaro é tamanho, que fontes garantem que ele troca cartas com ninguém menos que José Saramago. Sim, o homem que me plagiou em O ensaio da cegueira. Veja o suposto conteúdo de uma das cartas.

"Caro James Joyce,

É muito bom que o senhor tenha aprendido português por conta do brilhante autor André Ursípedes. Eu já sabia desde a infância, mas se não soubesse faria o mesmo. Um fã tem que procurar ler a obra do ídolo em original.

Quero lhe confidenciar as últimas coisas que descobri sobre André. A namorada dele se chama Juliana, ele vai cortar o cabelo amanhã e o jogador preferido dele é Valdivia. Ah! Descobri também que quando criança, ele não tomava Coca-Cola em lata por achar que tem muito gás, e que até hoje morre de saudade do cão Cafu, que teve dos 6 aos 20 anos.

Esse homem é fogo. Será que ele fica muito bravo com nossos plágios? Espero que não, pois eu, José Saramago, queria, na verdade, impressioná-lo, mostrar intimidade. A intenção era somente de aproximação.

Espero que o senhor passe bem e que cesse o ciúmes. Porque André não é gay e não dará bola a nenhum de nós dois. Creio que seja melhor nós nos juntarmos. É uma atitude mais sensata.

Abraço efusivo,

José Saramago"

A resposta de Joyce:

"José Saramago,

Como tem passado em Portugal? Espero que os passos para a criação do fã clube de André estejam tão avançados como estão aqui. Sabia que a gente já tem até logotipo?

Tudo o que você disse sobre o André não era novidade nenhuma para mim. Acho que tem uma coisa que você não sabe. O sobrenome Ursípedes deriva da União Soviética. URSSípedes. A vida lhe tirou um S, não sei por quê.

Quero encontrá-lo urgentemente. Você é muito bonito. Adorei o seu perfil do Orkut.

Grande abraço. Estou a caminho de sua residência. Espero chegar antes desta carta.

James Joyce"

Um descaro, caro leitor. Um descaro!

É triste saber que senhores passam grande parte da vida se dedicando à minha vida enquanto poderiam se debruçar sobre meu blog e meus livros publicados pelo mundo. Eles tiveram o trabalho de plagiar livros meus linha por linha, mudando somente alguns pontos essenciais para criar-lhes uma forma singular de escrita, e agora se esqueceram de que o que faz de mim um grande homem não é minha grande vida, senão meus grandes escritos!

Isto é uma coisa a se lamentar. Outra é a perda de qualidade nas obras. O Retrato do autista quando jovem, que fiz baseado em toda minha infância, sugou muito de minha vitalidade durante a composição. Foi um romance que imperou sobre minha vida. Lembrar-me da infância não pôde deixar de ser doloroso; porém, o resultado do livro foi um fenômeno.

Um pequeno trecho a se apreciar:

"Minhas professoras começaram achando graça ao notar que eu entendia sete línguas. Chamaram o diretor para ver, e ele teve um mal súbito, o que ajudou a tirar meu autismo do foco durante alguns meses. Quando se esqueceram do diretor, porém, chamaram meus pais para lhes divulgar a grande sentença:

- Seu filho é um autista! Um autista!

Foi o momento de maior alegria na vida de meu pai. Como se sabe, autismo é genético, e ele estava desconfiando deveras de sua paternidade."

Não comprem mais os livros de James Joyce. Prefira os originais.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Espero que não, POIS EU, JOSÉ SARAMAGO, queria, na verdade, impressioná-lo..."

Isso ai ta parecendo o estilo de um grande sociólogo...