segunda-feira, 9 de março de 2009

O plágio

O plágio é, primeiramente, um elogio.

Quarta-feira retrasada, um amigo pegou um texto dele sendo plagiado linha por linha. Até as vírgulas, o sujeito plagiou. No final, sem a devida dó, colocou o nome próprio no texto alheio - eu queria dizer que quase por um acidente o plagiador plagiou também o nome do meu amigo. Pois meu amigo, o Roberto, esbravejou a todos. Em seu blog chegou a dizer que o plágio deveria ser questão de óbito. Em entrevista à imprensa escrita, declarou que o grande mal do Brasil são os plágios. Para os amigos próximos, exclamou que nunca foi tão ultrajado na vida. E à mulher, coitada, negou sexo por sete dias, passando todos na cama pedindo café a cada meia hora.

O que Roberto não revelou a ninguém por um mínimo de pudor foi o quanto ficou lisonjeado por ter sido plagiado. Ele precisava de alguma coisa assim nos últimos tempos para se sentir um grande sujeito, um grande escritor! Os livros lançados anteriormente não tinham valor nenhum antes deste plágio. Aqueles textos que não causavam nenhum impacto foram, enfim, plagiados!

Enquanto xingava o plagiador, Roberto na verdade agradecia-lhe profundamente! O sentimento de gratidão extravasava as palavras raivosas, a ponto de ele melhorar a postura enquanto se distraía. Um desconhecido, entrando por um acaso na conversa com este tema, pergunta:

- Foi então plagiado, Roberto?

- Fui, fui! - respondeu como quem ganha um elogio.

É esta, pois, a questão. Como está escrito na primeira linha - nunca pule a primeira linha - o plágio é o grande elogio. Não há, lhes digo, elogio maior que o plágio. O plágio é a provação final que um sujeito das artes recebe no auge da vida. É preciso ter certa genialidade para ser plagiado. Porque ninguém plagia o incapaz, o débil mental, o ignorante, o desprezível. Beatles, Dostoievski, Oscar Wilde, Eça de Queiroz, são plagiados todos dias. Plagiamos somente os grandes mestres, quando nos sentimos inferiores e queremos ser como eles.

Aconteceu nesta semana de um sujeito me fazer uma consulta esquisita. Ele perguntou se não com essas palavras, com palavras parecidas. O sentido era o mesmo:

- E aí, colega? Posso te plagiar?

Eis uma nova coisa: O plágio consultado. É claro que recusei e disse para a pessoa que ela devia ter o próprio cérebro. E encerrei nos seguintes termos:

- Faça o que eu faço, mas não fale o que eu falo. Senão te processo por plágio!

Um comentário:

Anônimo disse...

mas o que acontece com os ótimos mestres que vc citou é que admiramos e não conseguimos plagiá-los. Afinal, tentar imitar um parágrafo do Dostoiévski é praticamente fazer papel de ridículo