Não sei se você já reparou, mas como é chique, o Armando! Ele passa o gel um pouquinho a mais só para deixar claro que passou gel; tem a sobrancelha depilada um pouquinho certinha demais só para deixar claro que depila a sobrancelha; é capaz até que irrite a pele do pescoço propositalmente só para que nós percebamos que acordou cedo para fazer a barba. Ele não é uma pessoa bonita. Mas seu esforço para ser uma vista agradável aos outros é merecedora de um aperto de mão na mão fofinha e lisa por causa do creme.
Jorge nunca se preocupou em passar gel no cabelo, por isso é que ele fica para a frente. Quando eu o vi pela primeira vez, achei que era um esforço que ele fazia, o de parecer desleixado. Quando eu lhe disse que a barba estava grande, ele fez cara de quem se esquece todas as manhãs de fazer a barba.
Na manhã desta segunda-fera, Armando não estava diferente de seu costume. Parecia uma grande alegria, a de chegar segunda-feira e poder enfim sair de casa para ser visto. A barba estava tão bem feita! O sapato novo, até escorregava um pouquinho.
Jorge estava com olheiras tão grandes, que é capaz que elas tenham passado em comprimento as orelhas. A barba estava tão mal cuidada, que o bigode já acumulava as catotas que vinham do nariz. É claro que a culpa do chão molhado é dele, que foi ele quem deixou a janela aberta na sexta-feira. E é claro que o chefe dele reclamou deveras, pedindo para ele pegar o cone amarelo que avisa os desavisados que o chão está molhado. Ele foi correndo e, grata surpresa, no caminho havia um desses cones no chão. Trouxe rapidamente.
Eu nunca achei que este cone servia para alguma coisa, senão para evitar processos. Mas acho que ele ajudaria Armando a desviar daquele chão úmido e evitar a queda. É por isso que ele está tão irritadiço nesta segunda-feira.
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