Ele é um homem placa que fica das 8 às 18 segurando uma placa de propaganda não importa de quê. O Conheci quando um dia parei em frente dele e comecei a anotar o número de telefone que havia na placa. Ele disse, "Ora, deixe disso. Pegue logo aqui o meu cartão!". Peguei o cartão com prazer e afeto, pois me poupou um trabalho árduo que era o de achar uma caneta e um papel em minha mochila. Desde então, passo sempre propositalmente do outro lado da rua para cumprimentá-lo e perguntar como vai o dia, se a placa está pesada hoje, essas coisas.
Ele foi o escolhido da segunda entrevista porque é o começo da política deste blog de não entrevistar somente os ilustres. Porque os ilustres já sabem o que vai ser perguntado e já sabem o que responder. Os desconhecidos não têm o menor recalque e são inéditos. A entrevista com Roberto.
Eu: A placa está pesada hoje?
Roberto: Rapaz. Sabe que tem dia que a placa pesa mesmo mais? Ela fica no ombro da gente e parece que tá puxando pra baixo. Hoje ela não tá pesada, não. Hoje ela está normal. Hoje ela tem o peso que tem.
Eu: Eu imagino. Tem dia em que as horas passam mais devagar e tem dia em que as horas passam mais depressa. A placa pesa tanto quanto o tempo?
Roberto: Isso! Isso mesmo.
Eu: Desculpe o sentimentalismo. E quando chove? Você tem que ficar aí na mesma posição?
Roberto: Quando chove, eu vou ali debaixo e espero a chuva passar, distribuo alguns cartões para quem está debaixo da lona que nem eu, sem fazer nada. Para um bom plaqueiro, é sempre vantajoso quando chove, porque o contato fica corpo a corpo.
Eu: E se você não fosse um bom plaqueiro?
Roberto: Aí eu ficaria parado lá, sem fazer nada, esperando a chuva para voltar pro meu lugar.
Eu: Imagino que dê menos preguiça ser um bom plaqueiro do que um mal, porque aí a coisa passa mais rápido, né?
Roberto: Passa, sim. Se eu ficasse lá sem fazer nada, aí que o tempo demoraria.
Eu: Tua idade, Roberto?
Roberto: Cinqüenta e seis.
Eu: Dizem que a trema caiu, e você falou com trema. É cinquenta e seis, agora.
Roberto: Esquisito, rapaz.
Eu: Onde você mora?
Roberto: Guaianazes.
Eu: Não me arrisco a perguntar onde fica porque não tem a menor razão. A que horas você sai de casa?
Roberto: Cinco.
Eu: Eu pergunto isso aqui, mas não quero dizer que você seja bobo. Por que você está bem humorado?
Roberto: Não sei, ué. Eu venho para cá e vivo as coisas. Estou bem humorado? Não sei, não sei. Pode só parecer.
Eu: Sem essa, Robertão! Não venha com sentimentalismos só porque eu levantei a bola!
Roberto: É que parece que eu tenho um humor melhor do que o que eu realmente sinto.
Eu: Você fica bem humorado por respeito aos outros?
Roberto: Também.
Eu: Por qual outro motivo?
Roberto: É por respeito, entendeu? Ninguém tem que agüentar gente mal humorada.
Eu: Por respeito, Robertão, você só tem que não tratar mal as pessoas.
Roberto: Isso é. Mas é que eu prefiro dar um plus!
Eu: Ah, um plus!
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