quarta-feira, 3 de setembro de 2008

No ônibus

Quando o ônibus chegou, ele estava um pouco distante, foi por isso que ele resolveu correr. Não foi porque ele é bruto ou porque ele atropela as pessoas sem dó, não. Ele correu só porque tava longe, senão ia andando. Juro.

Foi por isso também que ele quase atropelou uma velha. Mas repare que ele desviou da velha. E o mais importante: Repare que ele não teve culpa em quase desviar a velha. Eu sei que velhos são como pedestres em faixas de pedestres, que quase sempre têm razão. Mas essa velha não tinha. Que nem um pedestre que se atira num carro que tá passando justamente na faixa de pedestres.

Ele foi o carro que passava na faixa de pedestres.

A velha que quase foi atropelada não reclamou. Ela pediu até desculpas e o moço até compreendeu, porque ela é velha. E também porque não aconteceu nada. Não tinha motivo para não compreender alguma coisa.

Acontece que tinha outra velha, que estava sentada. Essa outra velha não foi atropelada nem nada. E como se fosse uma pessoa muito boazinha, resolveu chamar o cara de imbecil. Isso. O cara que pediu desculpas, o cara que tinha razão.

O cara pensou, essa velha parece motoqueiro, que defende outro motoqueiro mesmo que não tenha razão, só porque é motoqueiro.

Mas ele não falou. O que ele falou foi o seguinte. Ele falou, a senhora é louca?

A senhora começou a responder, disse que é velha, mas o cara disse, eu não perguntei se a senhora é velha, eu perguntei se a senhora é louca.

O cara passou na catraca e não se falou mais nisso.

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