quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Entrevistas com lideranças - Obina

Os encontros com as lideranças de todo o mundo não têm sido muito frutíferos. Não sei se o caro leitor notou, mas os índices de fome na África continuam os mesmos, a desigualdade social do Brasil não diminuiu, o Bono Vox continua tendo muito sucesso e a crise está piorando cada vez mais. Não pensei que teria que incluir estes assuntos nas entrevistas. Achei que fosse implícito.

As lideranças mundiais estão muito despreparadas. Elas não entendem nada que não seja dito literalmente. Não contei na entrevista, mas disse para Obama que estava com água nos joelhos e ele não me ofereceu o banheiro! Tive dizer que queria urinar para que então ele tivesse a ideia de me encaminhar ao banheiro.

A única serventia destas entrevistas até hoje foi o aumento de visitas neste blog. Gente que me desconhecia mas que conhecia Obama, passou a me conhecer. E o contrário também ocorreu. Muitas pessoas não tinham ideia de quem fosse o presidente americano, e passaram a conhecê-lo sob minhas palavras. Não deixa de ser uma honra. Isto demonstra, porém, o perfil das lideranças de hoje. Elas não são boas no que fazem, são boas de audiência!

De hoje em diante, procurarei as autoridades que realmente podem mudar o mundo e as cobrarei por isso. Nada melhor que começar com Obina.

No Brasil, não é a autoridade política quem tem a verdadeira autoridade; quem manda é o craque. Nunca vi Obina jogar bem, mas tenho certeza de que é por puro azar. Alguém melhor que Henry, Eto´o e Ronaldinho só pode ser um craque de primeira. Além disso, é um craque que manda na maior torcida do Brasil e do mundo.

(Dizem que há dois times mexicanos com torcida maior que a flamenguista, porém o torcedor mexicano é passivo. Três torcedores mexicanos equivalem a um flamenguista, assim a torcida do Flamengo é maior.)

Encontrei Obina em sua casa, o Maracanã. Fazia sol e eram quatro horas da tarde, e fizemos uma entrevista ótima. Acontece que esqueci de apertar REC e meu gravador não ouviu nada.

- Obina, teremos que repetir a entrevista.

- Claro! É um prazer falar contigo. Mas só repito com uma condição?

- Qual, Obina?! Me diga logo que condição é essa!

- Só repito se você jogar uma bolinha aqui com o pessoal!

Engraçado como há exigências que são muito prazerosas e hábitos que são enfadonhos. Não só é claro que jogaria uma bolinha com o pessoal, como estava querendo isso desde o começo, mas sem jeito para pedir. Foram dois tempos de quarenta e cinco minutos. Pediram para eu vestir a camisa do Flamengo, mas eu me recuso a me vestir um manto que não seja do Palmeiras ou do Inter.

- Por que do Inter, rapá? - perguntou Obina, quase ofendido.

É que minha namorada me fez colorado.

Fiz quatro gols e percebi que dou azar a Obina. Ele não estava em um dia inspirado, já que perdeu seis gols na cara do goleiro. Teve um sétimo que nem goleiro tinha. Engraçado é que ele ria a cada gol perdido, como se gostasse disso. Eu experimentei perder um gol para tentar alcançar a alegria de Obina, mas infelizmente a bola entrou mesmo sem eu querer. Vida de craque é mais difícil do que parece. A foto é da comemoração pelo quarto gol que fiz, de bicicleta. Obina é um sujeito tão legal, que comemora os gols dos outros como se fosse dele. Quando tomamos um gol, Obina também comemorou.

- Obina! Vê se fica na sua! - eu disse, um pouco nervoso.

- Que foi? Foi gol!

- Cala boca, Obina. - e o nosso craque ficou amuado.

O jogo finalmente terminou, 3 a 1 (um dos gols que fiz foi contra), e começamos a entrevista bastante suados.

- Sorte que a entrevista não vai para a TV! Estou tão suado que quem assistisse sentiria o cheiro!

Eu continuaria este devaneio, mas estava latente em mim a responsabilidade social de quem tem um blog como este.

- Obina. Como faremos para resolver a crise no Oriente Médio?

- Onde fica? - respondeu o artilheiro com fina ironia. Sorri ao me deparar com tanta inteligência. Obina revelou ao mundo seu descaso com quem briga. Se o Oriente Médio não estiver em paz, Obina se recusa a falar sobre esta região. É um duro golpe na barriga dos briguentos.

- O mundo está diante de uma grande crise financeira com poucos precedentes na história. O que você acha disso? Você perdeu muito dinheiro?

- Olha, acho melhor acabar com a crise. - fiquei muito avermelhado ao perceber que toquei numa questão pessoal de nosso grande ídolo. Esta entrevista é para resolver o problema do mundo, não para fazer fuxicos!

- Desculpe, Obina. Há alguma solução para a crise?

- Tem, sim. Mas não vou falar.

Caramba.

- A fome da África?

- É o que eu sempre falo. Para resolver a fome da África, tem que alimentar os africanos. Só assim resolveremos este grande problema. Agora eu tenho que ir embora.

Obina se levantou e eu percebi que novamente esqueci de ligar o gravador. Comuniquei isso a ele, que respondeu com grande simpatia:

- Tudo bem, inventa!

E assim se encerrou a entrevista com o maior craque de todos, Obina.

2 comentários:

Jana Lauxen disse...

Esse blogue é a salvação da segunda-feira chuvosa e fria.


André: você vai práscabeça!

Grande abraço!

Anônimo disse...

gostei, fino humor!

vc está cada vez melhor rapá!

mas olha, se vc voltar a escrever periodicamente no idéias (como alguém havia me prometido, humpf), deixo você fazer isso até usando a camisa do palmeiras, hehehe.

e escrevo até uma crítica construtiva para o eu blog, hahaha.

hugs