quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A mulher que esqueceu o vibrador dentro

- Você não pode dar vitamina pro seu filho. Não dê vitamina, não deixe ele tomar sol e também pratique exercícios regularmente. Porque senão, minha filha, ele vai ter câncer de próstata! Você não quer que ele tenha isso, quer? Eu também não quero, e é por isso que lhe estou recomendando. Depois que eu passei pela USP, mudei a minha vida toda. Sabe? Fiz USP, por quatro anos. Lá, aprendi o que eu tenho que fazer para cuidar direitinho da máquina que tenho dentro de mim!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ewerton Clides é acusado de plágio

O grande sociólogo e escritor Ewerton Clides foi acusado na tarde desta terça-feira pelo autor do blog Eu não sou virgem, Maria!, André Cintra, de plágio profundo. O suposto plágio está no esboço do livro de Ewerton Clides, Cafu é meu.

O curioso é que Ewerton Clides não publicou este livro temendo justamente ataque jurídicos pela semelhança de nome entre o cachorro que deu nome ao livro e o jogador Cafu. "O Cafu, jogador de futebol apenas mediano, não perdoaria e processar-me-ia de modo inapelável", diz Ewerton Clides. Quanto à acusação de André, Ewerton Clides foi enfático: "Citei no blog que a frase era de André. Juro que citei!"

A frase em questão é: "Se antes eu sonhava qualquer coisa, acordava e vivia o Cafu, depois disso eu passei a sonhar com o Cafu, acordar e viver qualquer coisa." De fato, é idêntica a que André cunhou em seu texto. Mas também é verdade que Ewerton Clides explicitou a autoria da frase: "Esta frase, plagiei de André Cintra. Claro que é muito sentimental, e não é sociologicamente viável em um texto. Claro também que não corresponde à realidade, já que sonho sempre com Juliana e vivo Juliana. Mas é muito, muito bonita."

O jurista André Cintra (sim, André Cintra nos jurou que é jurista) está inapelável. "Ewerton Clides me plagiou. Repare que até ele mesmo disse que me plagiou. Foi um plágio profundo, pois tem a confissão do culpado! Plágio é plágio e vice-versa!", diz o jurista em tom de galhofa.

O processo está em curso no Superior Tribunal Tribunal, o STT, e deve ser resolvido em alguns anos. Mas o que tira o sono de toda a gente é o atrito entre André Cintra e Ewerton Clides, gênios que tinham acabado de fazer as pazes. Os dois, porém, recusaram a comentar sobre as supostas novas rusgas.

Cafu é meu

por Ewerton Clides

Eu, Ewerton Clides, tenho notado um fenômeno muitíssimo interessante.

Uma coisa que lhes adianto, é: não sou o único que notou o fenômeno muitíssimo interessante.

É o fenômeno dos livros que debatem a relação entre cães e donos de cães. Começou com o dono do Marley. Não quero nunca ler o livro que ele escreveu, mas achei tão aprazível que o título do livro seja Marley e eu. Eu achei bonito não pelo título em si, senão porque ele disse o nome do cão e não disse o dele. Eu sei o nome do Marley e não sei o dele.

Foi um ato de uma humildade estupenda. Se não fui de humildade, foi de burrice. Mas prefiro pensar na humildade, já que ela inspirará os leitores nesta tarde de terça-feira.

Mas este texto é para explicar que a moda começou quando surgiram boatos de que eu, Ewerton Clides, estaria fazendo um livro deste tipo. Não era verdade. Porém, as pessoas não se preocupam com a veracidade quando há o nome Ewerton Clides no meio.

Inspirado pelo boato, comecei a fazer um livro sobre minha profunda relação de carinho e afeto com meu cão, quando me dei conta que teria graves problemas autorais. O nome dele é Cafu. O Cafu, jogador de futebol apenas mediano, não perdoaria e processar-me-ia de modo inapelável. Portanto coloco aqui neste belíssimo blog um pequeno trecho do esboço do meu livro. O nome do livro seria: "Cafu é meu". Vamos ao trecho.

"Cafu é o cachorro mais burro que já conheci. Demorou cinco anos para aprender a sentar seguindo ordens. E demorou mais 13 anos para abrir portas sozinho. É claro que a porta tinha que estar entreaberta para ele abrir. Mas ele esticava a patinha, abria, e mesmo eu, Ewerton Clides, não ousaria lhe dizer:

- Cafu! Não foi você que abriu! Na verdade, a porta já estava entreaberta.

A ousadia, eu teria. Mas não perderia meu tempo, porque Cafu é burro e não sabe decifrar as palavras humanas.

Cafu morreu.

Se antes eu sonhava qualquer coisa, acordava e vivia o Cafu, depois disso eu passei a sonhar com o Cafu, acordar e viver qualquer coisa. Esta frase, plagiei de André Cintra. Claro que é muito sentimental, e não é sociologicamente viável em um texto. Claro também que não corresponde à realidade, já que sonho sempre com Juliana e vivo Juliana. Mas é muito, muito bonita."

Visitantes d´além-mar

Desde a última sexta-feira, o autor deste blog notou um aumento significativo do número de visitantes d´além-mar. Portugal está melhorando deveras, basta ver o número de visitantes neste blog. E também o quadro de medalhas das Olimpíadas.

Ficha técnica - Pêdra

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Tupac

Ele encarava todos como grandes adversários. Olhava feio para sua mãe quando ela vinha fazer carinho, detestava a irmã com aquele sorriso de aparelho e respeitava o pai, embora desconfiasse deveras. Até a avó, que fazia o bolo tão gostoso, ele não olhava direito.

- É tudo uma grande competição. Mas não é só uma luta pelas coisas. É uma luta um contra o outro, cada um querendo acabar com o outro. É preciso estar o tempo inteiro se defendendo, senão acabam com você.

Era para ser uma grande bobagem. Mas seis meses depois que ele morreu, quando parou de se defender, só restava o osso.

Ney Latorraca

- Você é tão ridículo. Devia colocar um chapéu marrom para quando te olhassem pensassem que o chapéu marrom que é ridículo, não você. Eu até gosto que você seja assim, porque você passa e me dá vontade de rir. O ridículo é ruim só para quem é; para quem olha, é uma delícia.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Para a entrevista de hoje, André Cintra estava visivelmente ansioso. De noite, ele iria ver a namorada. E a namorada é tão bonita, que até eu fiquei ansioso por ele. Com a camisa do Palestra, o assunto predominante de hoje foi a fobia que ele tem de dirigir.

Eu: Você chegou aqui pontualmente e não dirige. Como isso é possível?!

André: Olha. Para mim o contrário é que seria impossível. Se eu dirigisse, dirigiria tão mal, que não chegaria nunca aos lugares. Eu detesto pensar em dirigir, porém às vezes sonho com isso e penso: como seria bom não ter esse medo! Para você ter uma idéia, quando eu fiz 18 anos, me falavam que eu poderia ser preso e também que poderia tirar carta de motorista. Para mim, uma coisa era tão distante quanto a outra.

Eu: Isso te afasta ainda mais da direção?

André: Você quer dizer que dirigir era uma coisa impensável. Aí se eu dirigisse, ser preso não seria algo tão distante assim. Bem, nunca fiz essa relação tão claramente. Mas para dirigir, vou fazer um esforço pela minha namorada. Quero dizer, põe noiva. Escreve aí noiva. Pela minha noiva e pela minha filha. Mas para ser preso, é justamente por elas que não vou me esforçar! Por elas e por minha mãe, coitada da minha mãe.

Eu: Por falar na sua mãe, ela acha um absurdo que você não dirija, porque quando pequeno você só gostava de carro. Brincava com carro, ficava olhando os carros e sabia diferenciar um Corsa de um Pálio.

André: Eu gostava de brincar com carros porque eu podia dirigir rápido meus carrinhos de brinquedo. Ou melhor. Eu gostava de brincar de carro porque não tinha poste. Criança não pensa em poste, não pensa em atropelamento, não pensa nessas coisas que atrapalham a vida. Quando eu estava andando de carro uma vez com minha mãe aos 8 anos, vi uma viatura do corpo de bombeiros parando o trânsito. Minha mãe disse: não olha. Eu olhei e vi que a pessoa só estava daquele jeito porque alguém que dirigia a atropelou. Tenho horror de atropelar alguém, cruzes!

Eu: Sei. Vamos mudar de assunto que eu já vi que você não gosta de falar de carros.

André: Não, não. Vamos encerrar a entrevista mesmo.

Eu: Não posso fazer só mais uma pergunta?

André: Só mais uma.

Eu: Verdade que você não aceita sugestão de ninguém no blog? Nem para fazer correções?

André: Verdade.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Clássicos? Sei. #2 - José Saramago, Ensaio sobre a cegueira

Vocês sabem muito bem que sou muito bem plagiado. Há a diferença entre o plágio comum e o belo plágio.

Eu sempre fui muito bem plagiado. Por exemplo.

O escritor português, José Saramago, me plagiou no livro Ensaio sobre a cegueira. É claro que eu escrevo corretamente, utilizo vírgulas e falo português com consoantes. Mas foi um belo plágio. Um belíssimo plágio.

Agora. Tem gente que anda fazendo blog só porque gostou do meu. Plágio por isso, não é. É uma grande alegria, mas não é por isso que vou demonstrar grande entusiasmo por aqui. Aqui não é lugar de entusiasmos. Não. Aqui é lugar de grandes textos, de grandes idéias e de minha imensa genialidade.

Parabéns a quem me imitou. É bom saber de onde se plagiar. Eu mesmo plagio a mim mesmo e ao senhor Ewerton Clides, que é meu amigo imaginário.

O escritor José Saramago me plagiou no livro Ensaio sobre a cegueira. Eu lancei, anos antes, o livro Ensaio sobre a cegueta. É um livro muito pouco divulgado, embora tenha uma qualidade muito superior. É como a diferença entra Dostoievski e Harry Potter na terceira série infantil. Harry Potter é muito mais conhecido, mas quem é melhor? Hum.

Como o meu caríssimo leitor não deve ter lido meu livro pela menor carga publicitária, mostro-lhe um pequeno trecho.

"A pior coisa de ser cego não é não poder olhar. É não poder olhar as pessoas que olham assustadas para você. Eu nunca fui cego para sentir isso; mas quem foi cego também não sentiu. É uma coisa que se sente pelos outros, por isso é necessário ter muita compaixão para isso. E eu não tenho compaixão. Só falo porque imagino como seria ter compaixão.

Ela andava com o poodle labrador e a varinha de cegos. No meio da rua, deixou o poodle labrador um pouco de lado e, com a varinha no lugar onde estaria um pênis se ela fosse ele, girou 360 graus. Assim, pôde cuspir o catarro que a incomodava sem acertar ninguém."

A vergonha

Ela me olhou vermelha da cor do batom. O batom era vermelho da cor de tomate. O tomate era vermelho da cor de erro na prova. E agora a gente deixa de putaria e começa a história.

Ela disse que precisava falar comigo. Eu pensei, se quer falar comigo, por que não veio na minha mesa ao invés de me chamar, como se eu é que quisesse falar com ela? Mas eu só pensei, não falei, porque se falasse, ela fingiria que não ouviu. Eu falei, fala.

Ela começou a falar da mãe, que não atendia o telefone; do filho, que mudou de casa e usava cuecas dos dois lados; das pernas dela que não se adaptaram à cadeira velha e de outras coisas que não me lembro porque eu só fingi que ouvi.

Nesse momento eu pensei que era sexta-feira e precisava sair logo, para ver a minha namorada. Olhei para a mão esquerda e pensei, ôpa!, é noiva. Se minha noivinha souber que eu pensei isso, me mata feito Tiradentes. E ainda joga sal no lugar em que eu pensei. Não tem terra onde eu pensei? Não importa. Noivinha joga sal do mesmo jeito!

Mas ela, não a noivinha, a pessoa do começo do texto me disse:

- Estou com tanta vergonha de te pedir uma coisa!

Ao que prontamente respondi:

- Então não peça! Não peça, porque vergonha serve para isso!

O ônibus de Ewerton Clides

por Ewerton Clides

Perguntam sempre a mim, Ewerton Clides, o porquê de eu andar sempre de ônibus, não de carro, moto, motovan e de bonde.

Sempre digo que a motivação maior é a de que em ônibus, é possível que se faça um maior número de estudos sociológicos. Posso ver uma criança conversando com a mãe e fazer-lhe alguns questionamentos; posso sentir o nervo acirrado do motorista quando passa por uma lombada, ou até mesmo a angústia do cobrador quando não há troco possível.

Tudo isso me seria impossível em carro, moto, motovan e em bondes. O carro me sufoca. Me sinto tão apertado, que me dá vontade de desabotoar minha camisa marrom, num tremendo desvio sociológico! Além de balançar e me dar vontade de tomar dramin.

Não sei dirigir motos. Assim, tenho que abraçar o motorista. Não abraçava nem minha avó, vou abraçar o motorista?! O pior das motos é que elas me obrigam a abrir as pernas, numa exposição terrível.

Motovan, eu não sei o que é. E bondes já não existem mais.

Mas o que mais me espanta, que me deixaria de cabelos em pé se eu tivesse cabelos, é a desatenção profunda do leitor.

Você, leitor, me imaginou em um ônibus repleto de gente. Quanta desatenção, minha gente! Mas quanta desatenção, repito, minha gente!

O leitor não imaginou que meu ônibus é privativo. Só eu ando nele e observo pelas janelas todo o mundo sociológico por fora.

Imagine eu, Ewerton Clides, andando em um ônibus, de pé?!

Saibam que também sou ecologicamente correto. Ouvi dizer que andar de ônibus é muito mais conveniente à natureza do que andar de carro.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

André Cintra registra temperaturas acima de 36º

André Cintra, homem nascido e erradicado em São Paulo, registrou no último domingo temperaturas acima dos 36º, chegando a picos de 38º na dobra do joelho e 42º no estômago.

"Ele estava bege, com o coração batendo umas setenta vezes por minuto", afirma a mãe, que com ele passou parte do dia. "Se ele não passasse desodorante depois do banho, certamente iria feder!", diz.

As temperaturas do corpo inteiro e da axila foram medidas por um termômetro, e a do estômago foi presumida. "Deixei o termômetro três minutos na minha axila e mais três na dobrinha do joelho", afirma André, que mesmo com essa temperatura conseguiu se medir.

Desde então, as temperaturas foram as mesmas, e os médicos não chegaram a se preocupar.

Voyeur #5

A cara era de absoluto prazer. Com o queixo elevado e a boca aberta, a qualquer momento chegaria ao absoluto gozo. Espirrou.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Entrevista com Ewerton Clides

Esta é uma entrevista anterior à divulgação dos boatos de que Ewerton Clides, o sociólogo, teria sido visto visivelmente bêbado e seminu nas cercanias de rua Augusta.

Ewerton Clides estava relaxado e vestia calça bege, camisa marrom e suspensório laranja. Mandou as devidas recomendações aos leitores que têm pago o carnê de sócio do Institutos Ewerton Clides, o IEW, em dia.

O leitor perceberá que após todas as respostas, eu disse que entendi. Mas Ewerton Clides é tão claro e preciso em suas respostas sociológicas, que eu não poderia deixar de dizer que ele obteve êxito nas explicações, por isso nada melhor do que falar claramente: - Entendi.

André Cintra: Ewerton Clides, por que você não dá entrevistas?

Ewerton Clides: Bem. Não dou entrevistas porque elas são um convite à imprecisão. O jornalista faz a pergunta, o sociólogo aqui responde, e ficamos bem. Horas depois, quando recosto a cabeça no meu queixo, me vem a inquietação: Eu não deveria ter dito aquilo, mas outra coisa. Diferentemente de um livro de sociologia, em que quando eu mudo de idéia mudo também o que escrevo, a entrevista sai do jeito que eu pensei pela primeiríssima vez. A grande vantagem da entrevista é o inconsciente, o despreparo do entrevistado. E eu não quero ser pego de calças curtas! Imagino o que aconteceria depois de eu ter dado a primeira entrevista: Manchetes dizendo que eu, Ewerton Clides, fui visto visivelmente bêbado e seminu. Bêbado porque não disse as coisas com a precisão que costumo ter; seminu, por conta de ser pego numa saia justa.

André Cintra: Entendi. Será que posso manter a esperança de um dia entrevistá-lo?

Ewerton Clides: Se eu disser que não, você pode achar que vou mudar de idéia, portanto seria um não com valor diminuto; se eu disser que sim, você pode pensar que só quis lhe dar esperanças. Entre o não e o sim, a diferença será mínima.

André Cintra: Entendi. Diga então uma coisa ou outra.

Ewerton Clides: Não é você quem vai dizer o que eu tenho que fazer ou não. Mas eu digo que não, por opção própria, embora pareça que o tenha dito porque você pediu.

André Cintra: Entendi. O senhor já jogou ping pong?

Ewerton Clides: Nunca joguei, mas já vi muita gente jogar.

André Cintra: Entendi. Vamos fazer um ping pong de palavras, sim?

Ewerton Clides: Ping.

André Cintra: Pong. Entendi. Mas não é isso que quis dizer. Eu falo uma coisa, e o senhor me diz a primeira que lhe vier à cabeça. Um filme.

Ewerton Clides: Ew, a história de um mito.

André Cintra: Entendi. Um livro.

Ewerton Clides: A autobiografia não autorizada de Ewerton Clides.

André Cintra: Entendi. Um instituto.

Ewerton Clides: Instituto Ewerton Clides, o IEW.

André Cintra: Entendi. Um alfabeto.

Ewerton Clides: O alfabeto turco otomano.

André Cintra: Entendi. Uma paixão.

Ewerton Clides: Juliana.

André Cintra: Entendi, mas achei que você fosse dizer a sociologia, senão não teria perguntado. Se não o tivesse castrado, a carreira do senhor estaria acabada, encerrada, vilipendiada, difamada, estuprada e popularizada.

Ewerton Clides: Você me perguntou e usufruí de toda minha sinceridade para dizê-lo. Se eu dissesse sociologia, teria me enrubescido mais do que um pano de bandeira ao ser pintado de bandeira da China. Creio que se deve notar primeiramente que a sociologia é a racionalização de tudo que é humano, inclusive a paixão. Seria um contra-senso da pior espécie ter a sociologia como paixão. Aliás, o certo era não ter paixão nenhuma, mas minha paixão é Juliana. E Juliana é que é certo.

André Cintra: Entendi, mas prefiro encerrar a entrevista por aqui.

Ewerton Clides: O que o senhor disse? Entrevista?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Ewerton Clides é flagrado bêbado e seminu em balada paulistana

O ilustre sociólogo Ewerton Clides é vítima de um boato insólito, no mínimo. Fontes da noite paulistana afirmam que Ewerton estava seminu e visivelmente bêbado em boate na rua Augusta, próximo à avenida Paulista. "Ele estava lustrando a careca com cerveja, e ainda comprou uma dúzia de folhas de papel machê azul na bilheteria. Estava visivelmente bêbado e seminu", afirma o garçom não identificado de uma boate que preferiu não identificar.

Ewerton Clides não pôde ser encontrado em sua residência na manhã desta segunda-feira, mas o porteiro de seu prédio garante que ele chegou visivelmente bêbado e semi-nu. "Ewerton Clides é aquele sujeito que sempre que entra no meu prédio pergunta se eu sei da honra que é abrir a porta para um sociólogo como Ewerton Clides? Foi ele, sim. Estava visivelmente bêbado e seminu", confessa pedindo que esta reportagem não revele que ele é o porteiro Rogério do prédio Sociologismo Paulista.

Rogério notou que "o mais famoso residente do prédio" estava visivelmente bêbado e seminu por conta das inúmeras sacolas com papel machê nas mãos do sociólogo. "Nunca vi tanto papel machê na minha vida. Foi então que olhei para cima e vi que ele estava visivelmente bêbado e seminu", revela.

De ressaca, o senhor Clides pediu para que a reportagem não publicasse a nota. Devido à recusa, Ewerton ofereceu-nos a coleção Sociologia para Crianças autografada por ele mesmo, Ewerton Clides. Recusa feita, ameaçou não autografar nunca mais livros à reportagem. Isso sem ver matéria publicada, em que estaria escrito que ele não respondeu os contatos da reportagem por estar notavelmente de ressaca.

Este é um ponto baixo em meio ao explendor intelectual e financeiro do ilustre sociólogo. Ewerton Clides começou a escrever no blog Eu não sou virgem, Maria! , de André Cintra, nesta semana. Perguntado se isso poderia abalar as relações com o sociólogo, André foi evasivo. "É claro que não é comum que um sociólogo do quilate de Ewerton Clides seja visto visivelmente bêbado e seminu na noite paulistana. Mas poderá trazer certa publicidade ao blog", revela em meio a risos ao saber que o sociólogo estava visivelmente bêbado e seminu.

Ewerton Clides lançará o livro Sociologia, sim; cebola, não na próxima sexta-feira em um coquetel sem bebidas alcoólicas na noite paulistana.

A faxineira e eu

Texto de Ewerton Clides

Há um certo tipo de faxineira que detesta tudo o que faz.

Pode limpar esplendorosamente o quarto do vice-presidente da república, arrumando perfeitamente a coleção de pedras antigas que estavam jogadas no armário, alisando a roupa de cama para que o sono fique ainda mais agradável e deixando o carpete subliminarmente cheiroso. Pode cumprir outros itens que lhe garantam elogios casuais ao presidente, que não se gaba de sua capacidade.

Claro que a organização das pedras antigas não estão genericamente organizadas, de modo que qualquer entendido saiba se localizar. A organização das pedras desta faxineira fictícia é feita para que somente o vice-presidente — também fictício — saiba onde está cada pedra.

É um serviço que pode somente ser feito depois de muitos anos de serviços prestados ao senhor vice-presidente. E também com muitos estudos sobre localizações macro geográficas e micro geográficas. Pensei em dizer que este trabalho é resultado de muitas broncas, mas se a nossa faxineira levasse uma bronca, somente uma, pediria demissão. Porque faxineiras deste tipo são sensíveis.

Por isso que eu, Ewerton Clides, sempre falo aos que perderam a paciência com as faxineiras que, se elas continuam trabalhando, é porque não são boas faxineiras. A boa faxineira é sensível, orgulhosa e pediria demissão.

Pois eu, Ewerton Clides, ao contrário do tipo de faxineira mencionado neste mesmo texto, adoro tudo o que faço.

Até mesmo este texto é adorado por minha pessoa. Confesso que o reli até esta parte por várias vezes, todas com lágrimas por trás dos óculos.

Uma vez, tive uma pedra no rim que me fez doer demasiado. O doutor me disse:

- Ewerton Clides, extinguiremos esta pedra a laser!

Eu lhe respondi que:

- Não, doutor! Não tem como abrir meu rim para tirar esta pedra? Fui eu que fiz!

A operação foi marcada para o dia seguinte, e o doutor notou assim que a viu pela primeira vez, que uma pedra de Ewerton Clides é preciosa demais para ser expelida naturalmente.

Ewerton Clides assina contrato com blog e pode estrear a qualquer momento

Na manhã desta segunda-feira um contrato que pode mudar a história dos blogs, da literatura e da vida cotidiana do Brasil foi assinado por André Cintra e Ewerton Clides. Trata-se da colaboração semanal do ilustre sociólogo no blog Eu não sou virgem, Maria!, de propriedade de André Cintra.

O acordo era para ser selado em dezembro, mas problemas de contusão do sociólogo (ele machucou três vezes o tendão de aquiles), adversidades no clima (choveu no mês de janeiro o que era para ter chovido em um ano!) e brigas em declarações na imprensa entre as partes postergaram o acordo para o dia de hoje.

"É uma honra receber alguém do meu quilate para colaborar em meu blog. Não aceito a colaboração, a sugestão nem a ajuda de ninguém. Ninguém vírgula, porque minha namorada vive dando pitacos! E claro, Ewerton Clides é o mais ilustre sociólogo. Ter os textos dele aqui não é uma honra, senão duas honras!", diz André Cintra visivelmente animado com o acordo.

Ewerton Clides não deu declarações, e essa declaração de André foi forjada. Mas boatos indicam que um post de Ewerton Clides pode ser visto a qualquer momento no blog. Aguardemos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Entrevista com André #5

André chegou para a nossa entrevista um tanto muxoxo. Com as duas mãos na nuca, olhava para cima com a cara de quem acabou de perder o melhor jogador do time.

Eu: Que cara é essa?! Até parece que o Valdívia foi vendido!

André: E pra Arábia, pra Arábia!

Eu: Ah! foi vendido mesmo?!

André: Oito milhões. O melhor jogador do mundo vendido por oito milhões!

Eu: Como foi essa semana para você? Como é ser entrevistado todos os dias?

André: Gostei.

Eu: Parece que você não quer falar mais, né? Ainda bem que isso só foi acontecer na sexta-feira.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Entrevista com André #4

André chegou para a entrevista de hoje um tanto ressabiado, com as mãos no bolso. Com um copo de suco de maracujá na mão, sentou-se ao meu lado e chupou o suco do início a além do fim. Além do fim porque depois que terminou, tentou chupar o que não tinha, fazendo aquele barulho que denota má educação. E começou a olhar para mim.

Eu: Não vai pedir desculpas por ontem?

André: Eu não gosto de pedir desculpas. Melhor do que pedir desculpas é dizer que isso não vai se repetir. Sim?

Eu: Ok, mas não sei se os leitores vão gostar disso.

André: Olha. A preocupação com o leitor é um modo de não se preocupar com ele. Porque se você escreve o que ele quer, vai escrever um texto ruim, de segunda qualidade, porque o leitor é provavelmente ruim e gosta de textos de segunda qualidade. Agora, se você não se preocupar com ele, escreverá textos ótimos, de primeira qualidade, que ele realmente precisa. O que num primeiro momento desagradará o leitor, lhe fará bem. O leitor precisa que escrevam cagando para ele!

Eu: É por isso que tem gente que escreve do banheiro?

André: Eu nunca escrevi no banheiro. Nem vem!

Eu: Ok. Tem uma pergunta que muita gente tem feito, e nada mais adequado do que lhe transmitir: É possível anunciar no seu blog?

André: Não.

Eu: Nem no seu jornal? Nada?

André: Não. É muito engraçado. Parece que tudo tem que ser feito para ganhar dinheiro. No meu jornal, a minha publicação, na verdade, o Umaisum, todos dizem: - "Tem que ter anúncio!" Mas meu chapa, um anúncio seria um estupro ao jornal. E não é que ele tem cu, que tem que ser estuprado. Porque eu tenho um exorbitante defeito: o de não fazer todas as coisas da minha vida para falar que fiz ou para ganhar dinheiro. Para ganhar dinheiro é que eu trabalho seis horas por dia. Agora, nas outras coisas eu não preciso ganhar dinheiro. E sempre dizem que eu tenho que ganhar dinheiro com isso... Esse tipo de gente deve ver uma pessoa bonita e dizer: - "Nossa, seu corpo é bonito! Dá para ganhar um dinheirão! Por que você não se prostitui?"

Eu: Sei, sim. Isso acontece muito comigo, na minha publicação, o Umaisum.

André: Nossa, eu tenho uma publicação com o mesmo nome que a sua!

Eu: Já tinha ouvido falar. Bem. Amanhã se encerra a semana com publicações no blog somente de entrevistas suas com você mesmo. Quero lhe fazer uma pergunta. Por que você se entrevista?

André: O que eu faço escancaradamente, as outras pessoas fazem escondido. É assim. Eu reparo que a maioria das pessoas com quem converso perguntam-me uma coisa para falar delas mesmas. Por exemplo: - De que tipo de música você gosta, André?

Eu: Eu gosto de Bidê ou Balde, Adriana Calcanhoto, não sei dizer...

André: Bem, eu gosto de Cássia Eller, Jota Quest, Beethoven, gosto muito de música gospel também, mas para ouvir aos sábados, sabe? Gosto de Led Zeppelin, de Beatles...

Eu: Ahhh.. Entendi! Você não queria ouvir a minha resposta, queria dizer a sua.

André: Isso! Aqui eu pergunto para mim mesmo diretamente. Não preciso usar ninguém. Quer um golinho de suco?

Eu: Não, brigado.

André: Ah, ainda bem que você não quer! Porque não tem mais!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Entrevista com André #3

Na entrevista de hoje, André se mostra não bi, mas tripolar. Chegou animado, dando respostas efusivas que não costumam fazer parte de seu feitio. No decorrer da entrevista, porém, o clima esquenta. A diferença é como a de um banheiro limpíssimo em que um sujeito entra para lavar as mãos e de repente faz um cocô e não dá descarga.

Eu: Como estamos? Esse sorriso não me engana!

André: Aconteceu uma grande coisa no início desta manhã. Claro que não foi uma medalha de ouro do Brasil nem uma grande notícia sobre meu time. Aconteceu que encontrei meu relógio que não funciona!

Eu: Jura? Onde estava? Você o procurava há muito tempo?

André: Na gaveta de cima.

Eu: Muito bem, muito bem. Vamos ao que interessa. O blog passou a ser mais visitado depois da divulgação de ontem?

André: Rapaz, seu blog é muito freqüentado, viu? Porque desde que nossa entrevista foi publicada, muitas pessoas entraram no meu blog também!

Eu: Uma mão lava a outra.

André: Que que tem mamão?

Eu: Uma mão lava a outra. Mão.

André: Ah, sim!

Eu: Eu tenho uma curiosidade sobre seu blog. Você não se sente invadido? Não vê muitas pessoas se apropriando do que você diz?

André: Vejo, sim. Mas isso aconteceria de qualquer outra forma, como sempre aconteceu. Eu falo uma coisa totalmente nova, e a pessoa olha para mim concordando, como se já tivesse pensado nisso antes. Ou como se eu tivesse dito uma coisa banal. Quanto ao blog, é inevitável. Aconteceria de um jeito ou de outro.

Eu: É verdade, é verdade. Você já viu muitas pessoas dizendo o que você disse como se fosse delas?

André: Já, sim. Mas eu acho que elas fazem isso para se sentir como se fossem eu. É a mesma coisa que eu colocar uma fantasia do Hulk. E agir como se o Hulk fosse eu! Francamente!

Eu: Calma. Não se enerve, que já estamos encerrando. Conte um pouco mais sobre o transtorno tripolar de um superior seu.

André: Superior, alto lá! Superior aqui na firma. Superior a mim, só três pessoas: meu amor, porque é a pessoa mais linda, graciosa, perfumada, ajeitada, gatinha, enfim, porque é a melhor pessoa mesmo do mundo; Edmundo, porque já jogou no meu time; e Michael Phelps, porque teve antes de mim a idéia de se dopar antes de uma Olimpíada. (Michael Phelps e Edmundo são inferiores ao meu amor) Agora, o transtorno de tripolaridade eu inventei para caracterizar uma pessoa de minha firma. Pensei: bipolar é pouco para ela. Por isso: Tripolar! Veja, a tripolaridade deve ser entendida como uma bipolaridade acentuada; assim como a tetrapolaridade é uma tripolaridade acentuada.

Eu: Mas a tripolaridade não seria uma bipolaridade atenuada, já que tem três polos?

André: Veja. É um conceito que não deve ser levado no rigor da palavra. O que você falou é óbvio, mas de uma burrice de entendimento terrível. Ora essa!

Eu: Acho melhor encerrarmos por aqui. Opa, péra aí, dá tchau pelo menos.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Entrevista com André #2

Devido ao grande sucesso de ontem, esta semana será especial de entrevistas de André Cintra com ele mesmo. O dono do blog pede desculpas por não ter dito isso ontem, mas ele se justifica dizendo que não fez uma divulgação prévia para evitar um imenso fluxo nos servidores do blog, causando-lhe problemas de ordem financeira.

Hoje, André estava mais charmoso. Chegou logo dizendo que era um prazer me ver, e que era uma pena não me tocar já que ele não tocava espelhos: mera superstição.

Na entrevista de hoje, André conta o endereço de seu blog, para que todos nós possamos conferir os textos brilhantes deste gênio, e ainda nos conta algumas curiosidades excêntricas de sua vida particular.

Continuemos.

Eu: Primeiramente, preciso tirar uma dúvida dos leitores. Ontem mesmo dissemos que você tem um blog, mas não falou o endereço. Diz pra gente!

André: Claro! Anota aí.

Eu: Deixa eu pegar uma caneta. Pronto, pode falar.

André: É dáblio, dáblio, dáblio

Eu: Ã

André: Ponto, eu não sou virgem maria.

Eu: Tudo junto?

André: Isso, tudo junto. Ponto blogspot, ponto com.

Eu: www.eunaosouvirgemmaria.blogspot.com?

André: Isso!

Eu: Agora bastante gente vai entrar, porque o blog é muito lido.

André: Eu sei. Não é à toa que lhe concedo esta entrevista.

Eu: Entendo, entendo. Vamos fazer um ping pong. Soube que você não concede lugar às pessoas de idade nos ônibus, é verdade?

André: É, sim! Faço isso para os velhinhos sentirem na pele o que eles fizeram com meus bizavós!

Eu: É verdade também que você conta as sílabas das palavras que fala?

André: Das que eu falo e das que eu penso! Acho que Deus vê minha cabeça como a contabilidade de sílabas, em que todas as palavras em língua portuguesa têm as sílabas contadas. Gostaria de conhecer as cabeças de contabilidade de sílabas de outras línguas, mas isso é um plano futuro.

Eu: Você poderia ser mais sucinto nas respostas, sim? Isto é ping pong, e você está como que dando dois, três toques antes de me devolver a bolinha. Por que abóbora é laranja e laranja não é abóbora?

André: Porque o primeiro laranja é adjetivo, o segundo é substantivo.

Eu: Ficamos por aqui. Sim?

André: Sim, sim.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Entrevista com André

Hoje, o entrevistado de nosso famigerado blog é André Cintra, também conhecido por André Ursípedes. Por falar em jeito de se chamar, André é chamado de Filho por seu pai e por sua mãe, de Amor por sua namorada e noiva, de Grande pelos mendigos e de Andé pelo seu sobrinho - que quer dizer também André.

André é muito conhecido por sua genialidade, sua inventividade, sua bipolaridade - tripolaridade e tetrapolaridade também -, seu nariz acentuado e por seu belíssimo blog (para quem não sabe, o blog Eu não sou virgem, Maria! é de André, também).

Para a entrevista, o blog convocou o melhor escritor da rede de escritores do blog: André Cintra.

Eu: Você é sempre pontual assim? (A entrevista foi marcada para as 16:58 e André chegou nesta exata hora)

André: Sim, sim. Quando marco com alguém, chego na hora. Mas para você não precisar perguntar qual é o segredo de minha pontualidade (eu sei que você está pensando em perguntar isso), eu me prolongo em minha resposta e lhe confidencio: o segredo da minha pontualidade é me programar para chegar sempre meia hora antes. Assim, se eu me atrasar meia hora, estarei no horário combinado!

Eu: Poxa vida. Se soubesse, poderíamos começar a entrevista meia hora antes, porque uso a mesma tática!

André: Sim, sim.

Eu: É verdade que você não gosta de bolo de cenoura?

André: Não gosto de bolo de cenoura nem de cenoura. Acho que cenoura não combina com nenhum tipo de comida. É lamentável que tenham inventado esse bolo. Imagine você o tanto de donas de casa que não fazem deliciosos bolos de chocolate, de fubá - enfim, deliciosos bolos - para fazerem o terrível bolo de cenoura?

Eu: É tudo isso, mesmo?

André: Olha. Na verdade, eu até como bolo de cenoura. Mas é um desperdício deixar de fazer outro bolo para fazer o de cenoura.

Eu: Continuamos outro dia. Sim?

André: Sim, sim.

sábado, 9 de agosto de 2008

Ficha técnica - Wolvi

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pergunta do leitor

Costumo tratar o leitor deste blog com muito apreço. Primeiro, que se lê este blog, deve ser uma pessoa de bom gosto considerável e inquestionável. Depois, porque me dá muitos elogios.

Porém há outro tipo de leitor. O leitor que, da platéia, ri alto, que solta gritos no meio do espetáculo! É o leitor que se revolta da sua condição de leitor. É o leitor que quer algo mais, que quer participar, que não quer ficar sentado de boquinha fechada!

Um leitor desse último tipo envia a seguinte pergunta:

André, o blog aceita colaborações? Textos, imagens, gravuras, quadrinhos etc, podem ser-lhes enviados para uma possível postagem?

Resposta: Não.

Editorial - Olimpíadas

É inaceitável a intolerância à beleza presente na China pós-comunista. E a abertura das Olimpíadas foi um claro exemplo disso.

No início da apresentação, uma garota chinesa canta o hino chinês. Ora. O hino francês é muito mais bonito de se ouvir. E a menina chinesa poderia ser trocada por outra um pouco menos chinesa - conquanto que soubesse cantar o hino francês sem sotaque.

Fora isso, o estádio Ninho de Pássaro deveria passar por severas reformas. Este é um estádio que consegue ao mesmo tempo ignorar a tradição e recusar a evolução. É a aberração em forma de estádio. Talvez uma andorinha cega fizesse melhor um ninho para seus filhotes. Os chineses deveriam olhar com mais atenção o estádio Palestra Itália, por exemplo.

E, finalmente, no desfile de atletas, não havia um sequer que seria capa de revistas como a Vogue e a Época. Ou seja, não tinha um que seria tão bonito para ser capa da Vogue e nenhum tão assassino que seria capa da Época. E aqui não me refiro somente aos atletas chineses, não. Itália, Espanha, Estados Unidos e, por que não?, Brasil exibiram a quem quisesse ver atletas que definitivamente não nasceram para aparecer na televisão. Porém, todos nós sabemos de quem é a organização, e culpar os chineses novamente é inevitável.

A China precisa mudar o foco de sua vida. A abertura das Olimpíadas mostrará que viver pelo trabalho é um desperdício enquanto há tanta beleza para o mundo. Com tanta feiúra, deve ser por isso que os chineses têm os olhos tão pequenininhos.

Giorgio Armani #2

Jorge retirou um copinho de plástico e nele colocou café. Como estava muito quente, Jorge segurou o copinho por cima, onde se põe a boca. Levou direitinho até sua mesa, onde se esqueceu de tomar. Continuou a trabalhar como trabalha todos os dias.

Armando acordou sem vontade de fazer cocô. Tomou seu café da manhã normalmente, tomou banho e escovou os dentes olhando-se no espelho. Depois de se vestir, ainda sobrou um tempo, que foi aproveitado para ver um pouquinho de televisão. Como não passava nada de relevante, resolveu rumar ao trabalho um pouco mais cedo. Ao rodar a chave da porta de casa, sentiu uma vontade de fazer cocô. Ele pensou nessa hora que rodar a chave sempre dá vontade de fazer cocô. Sorte de quando isso acontece quando se chega em casa, não quando se sai. Olhou no relógio e só havia três minutos de folga. Tempo insuficiente para defecar.

Jorge telefonou para algumas pessoas, entre elas Bill Clinton. Mas Bill estava ocupado e prometeu que lhe telefonaria depois. Quando ia colocar o telefone no gancho, Jorge esbarrou no copinho de café, já frio. Derrubou todo pela mesa. Seu chefe direto acabara de entrar na sala, e quando viu o café todo esparramado, ordenou a Jorge que fosse pegar papel no banheiro. Jorge correu até lá e, como não havia papel de secar as mãos, foi obrigado a pegar papel higiênico. Havia cinco cabines, escolheu a primeira porque ninguém resolveria utilizar a primeira cabine para defecar. Pegou um pouco de papel higiênico que se revelou insuficiente. O chefe, enlouquecido, ordenou que pegasse o papel higiênico inteiro. A mesa estava limpa e Jorge se esqueceu de levar o papel higiênico de volta.

É este o motivo de Armando estar com esta cara incomodada e este mau cheiro. Na hora do almoço, foi correndo ao banheiro. Utilizou a primeira cabine porque era a mais próxima.

Bill Clinton nunca mais telefonou.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Escadas

Sempre desci escadas de dois em dois. Do jeito bem adolescente, que eu aprendi quando tinha seis anos, vendo as meninas mais velhas do meu prédio. Era uma descida dançada. Uma dança que fazia a própria música. No térreo, todos esperavam a adolescente surgir. Com um exagero agradável, faltava somente uma cortina no fim da escada!

Hoje, todas elas se mudaram, mas se as visse descendo a escada, desceriam devagar, de um em um.

Porque só desce de dois em dois quem desce correndo, com vontade de chegar logo no térreo. Ninguém desce de dois em dois para trabalhar.

Parei de descer dessa forma só quando vi um filme japonês, em que eles desciam rapidamente, sem ritmo. De um em um em um em um em um em um infinitamente. Muito mais rápido. Imitei.

Acontece o seguinte. É incrível a facilidade que o débil mental tem de causar admiração. Entre uma coisa maravilhosa e uma débil mental, gostamos primeiro sempre da débil mental. Só gostamos do não débil mental sem querer.

(O débil mental não é débil mental.)

É por isso que gostamos de rock, que comemos no Mcdonalds, que nos deslumbramos com o estádio em forma de pneu. E que imitei os japoneses.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ficha técnica dupla - Rogério e Rogéria


Giorgio Armani

Armando, garboso, alto e careca, entrou no banheiro público com uma incomensurável vontade de defecar. Nunca evacuava fora de casa, por considerar este um hábito sagrado, quando lê o jornal ao mesmo tempo em que aproveita a delícia que se é tirar de si algo que pesa.

Quando criança, foi um médico à sua escola e lhe esclareceu que doenças podem ser contraídas quando se senta em uma privada pública. O médico mostrou – mostrando fotos que “não lhe deixavam mentir” - que estas doenças podem desativar o poder sexual de uma pessoa sadia com verrugas por toda a genitália.

Com um raciocínio brilhante, Armando, no banheiro, vê cinco cabines da porta até a janela. Notou que a primeira era a mais utilizada, a segunda um pouco menos, a terceira um pouco menos que a segunda, a quarta ainda menos, e que a quinta, pela distância, quase nunca era utilizada. E se dirigiu a ela para defecar sem contrair doenças.

Minutos antes, Jorge – um sujeito bonachão, de muito respeito, pois estava acima do peso - foi ao mesmo banheiro. O médico que foi à escola de Armando nunca foi à escola de Jorge fazer palestras. Nem este médico, nem nenhum outro. E Jorge tinha o hábito de fazer cocô fora de casa. Ele não considerava este um ritual sagrado. Ele nem lia jornais. Evacuar era simplesmente tirar de si uma ou duas coisas marrons. Um hábito, para ele, intranscendente.

Mas ultimamente Jorge percebeu em seu saco escrotal, uma ou duas verrugas. Não foi ao médico porque tinha medo. Como seu medo era pessoal e ninguém tinha culpa ou relação com ele, Jorge entrou no banheiro e viu cinco cabines. Certamente a primeira era a mais utilizada, a segunda um pouco menos, a terceira menos ainda, a quarta menos e a quinta devia ser raramente utilizada. Pensou:

- Vou na quinta, porque essas verrugas podem ser transmissíveis.

Esta é a causa da verruga marrom que apareceu no saco escrotal de Armando na última quinta-feira.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ficha técnica - Valdívia

Ficha técnica - Beltrano

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

André engorda dois quilos e já passa dos 90

Confirmando a tendência que se anunciava pelo aumento na barriga, André Cintra engordou dois quilos desde a última pesagem confiável, ocorrida em junho, antes de terminarem as aulas. Dos 89kg, André passou para 91.

"Creio que esta não é uma mudança muito significativa, se olharmos para uma pessoa como um todo. A proeza é que engordei dois quilos em somente dois meses", orgulha-se André ao sair da balança confiável.

A balança confiável fica no bairro de Perdizes, e André não se pesava por lá havia dois meses devido à grande distância que os separava. "Eu nunca mais me pesei nela porque fica perto da faculdade. Eu não iria até a faculdade só para me pesar numa balança em especial", afirma.

André ainda destaca o por quê de ser esta a balança confiável e não outra. "Eu confio nessa balança porque é nela que sempre me peso. Poderia ser qualquer outra, desde que me pesasse nela com certa constância."

Ficha técnica - Fulana



sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Assalto 2

É claro que eu ando distraído. Eu ando devagar, a minha letra é ruim, eu esbarro nas coisas e não sei falar direito.

Porque quando estou fazendo essas coisas, penso em outras mais importantes. Quando escrevo, não posso pensar na letra. Porque se eu pensar na letra, posso perder o pensamento. E o pensamento é muito mais importante para o resto da humanidade do que a minha letra.

A garota que trabalha comigo disse que os gênios têm letra ruim - me citando como exemplo, claro. No meu caso é por conta disso.

Mas eu andava distraidamente no centro, quando pensei: - Preciso andar rápido, pode ser que me assaltem. Mas o pensamento não durou quase nada - ou eu ando devagar mesmo aumentando a velocidade.

Ou ainda não adianta andar rapidamente para evitar assaltos.

- Continua andando, continua andando!

O sujeito falou muito perto de mim. E eu continuei.

- Pega seu celular.

- Agora pega sua carteira, tira todo dinheiro que tem dentro e me dá.

Dei-lhe o dinheiro e, quando os dois estavam indo embora, satisfeitos, perguntei ansioso:

- E o celular?!

- O celular, você fica.

Morri de dó dos rapazes. Uma senhora que trabalha comigo, é claro que vai dizer que os assaltantes são uns canalhas mau-caráter.

Mas só tem estes atributos, pessoas que se alimentam. Pessoas que não se alimentam, não são pessoas. São bichos que têm que fazer de tudo para comer.

E eu morro de dó de bicho.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Aviso

Muita gente tem entrado no blog sem passar o código de barras no caixa. Peço a gentileza de seguir esta regra para que a contabilização seja feita. O preço se encontra no verso.

O código de barras está ali, de baixo da perna esquerda da manequim.

Um muito obrigado,

A direção

Reprise Fantasma

27/03/2006 - meu amor não gosta do texto mas gosta de mim
Por André Cintra de Souza Pereira

Quanto mais voltas dão os ponteiros do relógio, mais o relógio vale. É este o pensamento em vigência da "Entre Outras Coisas", uma loja de antigüidades, localizada na rua Cardoso de Almeida.

Há 28 anos no mesmo local (35 de existência, mais sete em outro lugar), a loja encanta pela contradição ambiente: há diversos objetos antiqüíssimos em todas as partes, mas permanece um clima ameno, contemporâneo. A admiração pelo Antigo é feita pela bagagem histórica que só ele possui.

Mas que história? Por serem tão antigas, é obvio que aquelas coisas têm história (não há, neste local, qualquer objeto que seja intranscendente), mas é impossível saber qual história.

Arriete Carbonari, que por lá trabalha por puras paixão e vocação, nos atendeu em uma cadeira dourada de forro vermelho. Quantas agonias sentaram naquela cadeira? Quantas pessoas morreram ali, sentadas? As histórias incógnitas preenchem de mistério a história usual.

Mas, então, a história é feita pelos objetos ou pelas pessoas? Pelas pessoas, que contagiam os objetos, que contagiam outras pessoas.

É, pois, inconcebível comparar as importâncias das pessoas e dos objetos. Vale mais um coração partido de 1827 ou uma obra de arte de 1827? Vale mais, talvez, a obra de arte feita graças a um coração partido.

Cabe ressaltar a figura que é Arriete. Quem não se encanta pelas antigüidades, deve falar com Arriete.

Com 53 anos, é uma das donas, e sempre foi encantadas por antigüidades. "Quando menor, me vestia com as roupas de minha avó.", disse. Ela é capaz de colorir o antigo que só é fosco por nossos preconceitos. Afinal, o passado de hoje é tão passado quanto o de 7 anos atrás, mas é novo e seu valor será acrescido conforme for passando o tempo.

A visitação é válida até para os que nada desejam comprar, pois vale pelo "museu gratuito", e pela gratuidade do encantamento em um lugar que não fará ninguém reviver o passado, mas - em um ambiente repleto de objetos testemunhas de histórias, numa reprise fantasma - dará o gosto de como foi.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Voyeur #4

O quarto era azul até a hora em que desligou a TV.

Voyeur #3

Entrou no quarto, pegou um lápis e saiu rapidamente.

Voyeur #2

Espreguiçou-se voluptosamente. Acho que agradeceu a si mesmo pelo esforço do dia só pela delícia de se espreguiçar agora. Apagou a luz.

Voyeur #1

O homem tirou a camisa e fechou a janela.

Pesquisa revela que André Cintra é chamado mais de 30 vezes por dia em seu trabalho

Em pesquisa realizada entre os dias 21 e 30 de julho, foi constatado que o estagiário André Cintra, 21, é chamado, em média, 32 vezes por dia. Sua chefe lidera o ranking, com 31 pedidos diários.

André mesmo fez o levantamento, marcando com um tracinho a cada vez em que era chamado. "Fiz tantos tracinhos, que receei que a tinta da caneta acabasse", garante o jovem. De fato, é possível notar que nos primeiros dias, as anotações estão mais fortes do que nos últimos dias, quando é possível notar uma maior pressão na caneta.

Ele diz não se importar com o grande número de chamados - 4 vezes por hora - já que é sinal de que está trabalhando. "É melhor ser chamado e ter um salário do que não ser chamado e não ter um salário!", diz em muito bom humor.

Após o dia 31, esse número de chamadas deve diminuir, já que os outros estagiários voltarão ao serviço e André trabalhará menos horas - cerca de seis diárias.

André Cintra não toma mais Coca-Cola nos dias de semana

Desde segunda-feira passada, dia 21, o paulista André Cintra não toma mais Coca-Cola de segunda a sexta-feira. Ele tomou esta atitude em acordo com a namorada e noiva, Juliana, para reduzir os danos que a bebida lhe causa no estômago.

"Resolvemos fazer assim quando em um sábado, após tomar três latas deliciosas, meu estômago reclamou veementemente", revela. Apesar do esforço inicial, não tem sido difícil para seguir a risca a abstinência, o que não surpreende, já que chegou a ficar um ano - entre os anos de 2006 e 2007 - sem tomar o refrigerante devido a uma promessa, além de sentir as mudanças em seu próprio corpo.

"Agora eu me alimento melhor, saboreio mais os alimentos e não fico naquela ânsia de tomar Coca que eu sempre ficava antes do almoço e da janta", diz. Outras melhorias foram sentidas até no sono, "porque agora estou com menos cafeína no sangue, por isso consigo dormir com maior facilidade. E acredite: Meu sono está até mais profundo!"

Se antes André tomava uma lata do refrigerante no almoço, e três copos na janta, calcula-se que até agora ele deixou de tomar um litro do refrigerante por dia. Na noite desta quarta-feira, André deixará de ter tomado oito litros. Ele ainda recomenda: "Faça como eu, troque sua Coca por um suquinho. É mais gostoso e faz bem!"



Em 2006, André não tomou Coca por conta de promessa

A ausência de Coca-Cola nas refeições de André não é novidade. Em 2006, ele ficou um ano sem tomar o refrigerante por conta de uma promessa. O motivo ele não revela, mas garante que era questão de vida ou morte.

"Precisava muito dessa coisa, e peguei pesado. Deus não me ia negar a troca. Um ano sem Coca Cola era o maior sacrifício que eu poderia fazer sem morrer, é claro", diz, ressabiado de que estivessem descobrindo seu segredo.

Ele garante que cumpriu a promessa a risca. "Tinha muito medo. Se via uma Coca pela frente, arrepiava de nojo!"

terça-feira, 29 de julho de 2008

Jin Jin annd the Pin Up

Eu tenho uma banda gaúcha. O nome dela, você mesmo pode ver no título deste texto. Mas eu vou repeti-lo porque é um nome muito feio para ser dito duas vezes. Eu adoro a feiúra. Jin Jin annd the Pin Up, com dois ênes no and.

Era para ser uma banda paulista experimental. Mas os experimentos precisavam ser aplicados. Então, pelo mesmo motivo que Einsten resolveu falar para alguém que estava fazendo uma bomba atômica, resolvi passar no cartório e mudar a residência da minha banda para o Rio Grande do Sul. Porque hoje, as qualidades possíveis de uma banda são: boa sonoridade, hits frenéticos, boa melodia, tudo o mais. Mas a principal qualidade que a banda pode ter é: ser gaúcha. E é essa qualidade, a qualidade primordial, que torna uma banda conhecida.

Cantamos também com o sotaque gaúcho. Não nos é difícil improvisar o sotaque, porque já estávamos acostumados a utilizá-lo na hora de conseguir os melhores contratos nas gravadoras e as melhores peças nas churrascarias.

Agora que faço sucesso, são três os tipos de pessoas que entram em contato com a minha música. Tem os idiotas, que gostam só porque faz sucesso; tem os bobos, que não gostam só porque faz sucesso; e tem os fãs que valem a pena, que gostam apesar de fazer sucesso.

Os fãs me escrevem e-mails e eu lhes respondo sempre assim: "Este e-mail não pôde ser entregue. Tente novamente ou desista." Metade deles tentam novamente, e eu respondo da mesma forma. E então, um quinto deles tentam novamente - 10% do número inicial. A estes, escrevo uma mensagem assim: "E aí, qual é a boa? Vamos conversar." É assim que faço amizades virtuais através de minha banda.

Toco baixo, berimbau, piano e bateria. Também improviso no violão, no teclado, bato palma e pandeiro. Sim, sim, também temos músicas.

Perguntam-me freqüentemente das influências. Respondo que meu pai, minha avó e, sobretudo, minha noiva são uma grande influência em minha vida. Aí o repórter diz: "influência musical, quero dizer." Musical, nenhuma. Não gosto de ouvir música. Agora, tenho uma certeza influência dos gaúchos, no sotaque.

André Cintra trabalha dobrado

Desde do dia 16 deste mês, André Cintra tem trabalhado dobrado. Ele entra às 11h e sai às 19h, quando ingressa na estação Anhangabaú lotada e volta para casa.

O motivo de tanto trabalho é compensar o pouco trabalho do início do mês. "Não trabalhei nada nos quinze primeiros dias. Zero", revela André, no intervalo entre uma função e outra.

Para compensar a ausência de André, foi outra pessoa que trabalhou a mais nos quinze primeiros dias - agora, ela folga. Assim, o dobro das horas de trabalho são coincidentes ao dobro de funções.

André compensa dias de folga porque é estagiário. Estagiário, além de não ter fundos de garantia, folgas e aviso prévio, não tem férias. Para descansar, é necessário que o estagiário faça uma compensação.

Ofensas de um grande homem #4

- Ora, seu gordo!

O homem de um metro e noventa e oito disse para o menino que segurava uma bola colorida e suava. A camisa do menino, de tão enxarcada, parecia que ela mesma suava, não o menino. O menino soube que o homenzarrão se dirigia a ele, mas ele queria, muito, brincar com a bola que acabara de ganhar, e apenas fungou com o nariz, duas vezes.

Ofensas de um grande homem #3

- Sua virgem!

Com um metro e noventa e oito, o imenso homem dirigiu suas palavras à freira transmitindo a idéia de que cada centímetro de sua altura corresponde a uma trepada. Claro que a freira era muito pequenininha. Uma anã sem deformações. É pequena para um pingüim; tinha dificuldades de subir degraus normais; pulava para sair da rua em direção à sarjeta; se punha de ponta dos pés para enxergar uma maquete em sua totalidade; enfim, era uma freira muito, muito pequena. Não vou falar da ausência de beleza, pois era tão pequena, tão ínfima, que sua feiúra passava desapercebida, demonstrando que um defeito encobre o outro.

Mas ela riu com a ponta dos lábios e pediu licença ao imenso homem, porque precisava passar.

Ofensas de um grande homem #2

- Cachorro velho!

Com doze quilos além de seu peso ideal de doze quilos, mirou aquele gigante homem de um metro e noventa e oito, sem ouvi-lo. Depois mirou o pão de queijo que ele segurava em uma das mãos. O cãozinho pára para pensar se olhou primeiro o pão de queijo ou o homem. Ele pensa que não é por que está com catorze anos, que todos vão lhe oferecer pão de queijo de mão beijada, que tem que ficar sempre esperto. O homem não resiste e lhe oferece o pão de queijo inteiro. O cachorro engole o pão de queijo e se vira para deitar. Deitado, percebe que ficou primeiro impressionado com a altura do homem para depois reparar no delicioso pão de queijo. Pensa:

- Estou ficando velho!

Ofensas de um grande homem #1

- Você tem mãos de lagosta!

De cima para baixo, disse o homem de um metro e noventa e oito para a menina que estava sentada ao chão brincando com seus brinquedos. Ela não fez nada. Apenas olhou para o alto, distraída e mexeu também distraidamente suas mãos de lagostas.

Isto não foi uma ofensa.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Roberval destruindo a Floresta Amazônica

O homem ligou a serra-elétrica e encarou a árvore de trezentos anos.

Antes de cortá-la ainda vacilou e acelerou o motor como fazem nos filmes. Então ouviu o seu nome, bem baixinho:

- Roberval.

Desligou a serra e pôde ouvir agora com mais clareza:

- Roberval, sou eu, a árvore!

Não sei por quê, mas ele não se assustou ao ouvir a árvore falar com ele. Não sei se ele não sabia que árvores não falavam, mas, para mim, ocorreu que ele estava tão sozinho e uma companhia numa hora dessas caiu-lhe tão bem quanto Coca-Cola com lazanha.

- Ô, minha arvorezinha, pode falar!

- Roberval, é o seguinte:

Neste instante, Roberval teve a primeira suspeita. Como a árvore sabia o nome dele?

- Está escrito na sua camiseta.

- Ah, sim.

- Roberval, não me serre, Roberval. Eu sou tão antiga, tenho tantos frutos, faço tão bem para a natureza e para os homens! Você me serrar por dinheiro é tão hediondo quanto matar criança prá fazer sabão! Pense nos seus filhos, nos seus netos!

- Quero que eles tenham mesas e cadeiras sempre de ótima qualidade!

- De que adianta mesas de boa qualidade, quando se sentam na mesa e não têm um ar gostoso para respirar?!

- Olha, Jaque, a senhora pode conversar comigo o quanto quiser, mas

- Como assim, Jaque?

- Está escrito no seu tronco.

- Não, Roberval. É que estava escrito "Cada um desperta em mim a Jaque que merece", de uma mulher que veio me visitar um dia e cravou isso em mim. Um dia, veio um moço me serrar. Ele chegou a cortar um pouquinho, bem na parte em que estava cravada a frase, quando o convenci a não me matar mais.

Eu achei de uma indiscrição ímpar, que Roberval não tivesse a curiosidade de perguntar à árvore o nome dela. Na verdade, não me importo com a indiscrição dele, nem com a tristeza da árvore ao perceber que Roberval não queria sequer saber o nome dela. Fiquei é curioso, como se chama a árvore?!

- Hum, sei...

- Olha, Roberval, não me mata. Eu sou oca, os cupins me comeram toda por dentro!

- Oca, com esse papo cabeça?!

E Roberval serrou a árvore de uma vez só, pois precisava voltar logo para casa e conversar com uma pessoa.

O cachorro e a mulher

Nada de anormal acontece, uma vez que a mulher não estava latindo e quem abanava o rabo era o cachorro. Os dois ofegavam, mas era o cachorro quem fazia mais barulho. Quem usava a correntinha era o cachorro, apesar de a mulher portar um colar de coração.

No bolso da mulher, dois sacos plásticos. Um era para ser usado quando o cachorro fizesse cocô e tivesse alguém olhando; o segundo era para se já tivesse usado o primeiro e o cachorro resolvesse defecar justamente quando tivesse outra pessoa olhando. O cachorro nunca fazia cocô três vezes.

Passou outro cachorro do outro lado da rua e foi o cachorro quem latiu e a mulher quem o controlou. Foi no pescoço do cachorro que doeu quando a coleira foi puxada e foi a mulher quem disse “xiu, xiu, xiu!”

O cachorro se acalmou e foi ele quem puxou a coleira para ir à arvore que estava na sombra. E ele também quem levantou a perna e fez um xixi espesso. A mulher foi quem ficou corada quando passaram três rapazes sem camisa de bicicleta.

Nada de anormal. Um dos rapazes grita:

- Cachorra!

Aquele shortinho não era para ser usado por uma mulher ao meio dia de uma quarta-feira nublada.