quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A vergonha

Ela me olhou vermelha da cor do batom. O batom era vermelho da cor de tomate. O tomate era vermelho da cor de erro na prova. E agora a gente deixa de putaria e começa a história.

Ela disse que precisava falar comigo. Eu pensei, se quer falar comigo, por que não veio na minha mesa ao invés de me chamar, como se eu é que quisesse falar com ela? Mas eu só pensei, não falei, porque se falasse, ela fingiria que não ouviu. Eu falei, fala.

Ela começou a falar da mãe, que não atendia o telefone; do filho, que mudou de casa e usava cuecas dos dois lados; das pernas dela que não se adaptaram à cadeira velha e de outras coisas que não me lembro porque eu só fingi que ouvi.

Nesse momento eu pensei que era sexta-feira e precisava sair logo, para ver a minha namorada. Olhei para a mão esquerda e pensei, ôpa!, é noiva. Se minha noivinha souber que eu pensei isso, me mata feito Tiradentes. E ainda joga sal no lugar em que eu pensei. Não tem terra onde eu pensei? Não importa. Noivinha joga sal do mesmo jeito!

Mas ela, não a noivinha, a pessoa do começo do texto me disse:

- Estou com tanta vergonha de te pedir uma coisa!

Ao que prontamente respondi:

- Então não peça! Não peça, porque vergonha serve para isso!

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