terça-feira, 19 de agosto de 2008

Entrevista com Ewerton Clides

Esta é uma entrevista anterior à divulgação dos boatos de que Ewerton Clides, o sociólogo, teria sido visto visivelmente bêbado e seminu nas cercanias de rua Augusta.

Ewerton Clides estava relaxado e vestia calça bege, camisa marrom e suspensório laranja. Mandou as devidas recomendações aos leitores que têm pago o carnê de sócio do Institutos Ewerton Clides, o IEW, em dia.

O leitor perceberá que após todas as respostas, eu disse que entendi. Mas Ewerton Clides é tão claro e preciso em suas respostas sociológicas, que eu não poderia deixar de dizer que ele obteve êxito nas explicações, por isso nada melhor do que falar claramente: - Entendi.

André Cintra: Ewerton Clides, por que você não dá entrevistas?

Ewerton Clides: Bem. Não dou entrevistas porque elas são um convite à imprecisão. O jornalista faz a pergunta, o sociólogo aqui responde, e ficamos bem. Horas depois, quando recosto a cabeça no meu queixo, me vem a inquietação: Eu não deveria ter dito aquilo, mas outra coisa. Diferentemente de um livro de sociologia, em que quando eu mudo de idéia mudo também o que escrevo, a entrevista sai do jeito que eu pensei pela primeiríssima vez. A grande vantagem da entrevista é o inconsciente, o despreparo do entrevistado. E eu não quero ser pego de calças curtas! Imagino o que aconteceria depois de eu ter dado a primeira entrevista: Manchetes dizendo que eu, Ewerton Clides, fui visto visivelmente bêbado e seminu. Bêbado porque não disse as coisas com a precisão que costumo ter; seminu, por conta de ser pego numa saia justa.

André Cintra: Entendi. Será que posso manter a esperança de um dia entrevistá-lo?

Ewerton Clides: Se eu disser que não, você pode achar que vou mudar de idéia, portanto seria um não com valor diminuto; se eu disser que sim, você pode pensar que só quis lhe dar esperanças. Entre o não e o sim, a diferença será mínima.

André Cintra: Entendi. Diga então uma coisa ou outra.

Ewerton Clides: Não é você quem vai dizer o que eu tenho que fazer ou não. Mas eu digo que não, por opção própria, embora pareça que o tenha dito porque você pediu.

André Cintra: Entendi. O senhor já jogou ping pong?

Ewerton Clides: Nunca joguei, mas já vi muita gente jogar.

André Cintra: Entendi. Vamos fazer um ping pong de palavras, sim?

Ewerton Clides: Ping.

André Cintra: Pong. Entendi. Mas não é isso que quis dizer. Eu falo uma coisa, e o senhor me diz a primeira que lhe vier à cabeça. Um filme.

Ewerton Clides: Ew, a história de um mito.

André Cintra: Entendi. Um livro.

Ewerton Clides: A autobiografia não autorizada de Ewerton Clides.

André Cintra: Entendi. Um instituto.

Ewerton Clides: Instituto Ewerton Clides, o IEW.

André Cintra: Entendi. Um alfabeto.

Ewerton Clides: O alfabeto turco otomano.

André Cintra: Entendi. Uma paixão.

Ewerton Clides: Juliana.

André Cintra: Entendi, mas achei que você fosse dizer a sociologia, senão não teria perguntado. Se não o tivesse castrado, a carreira do senhor estaria acabada, encerrada, vilipendiada, difamada, estuprada e popularizada.

Ewerton Clides: Você me perguntou e usufruí de toda minha sinceridade para dizê-lo. Se eu dissesse sociologia, teria me enrubescido mais do que um pano de bandeira ao ser pintado de bandeira da China. Creio que se deve notar primeiramente que a sociologia é a racionalização de tudo que é humano, inclusive a paixão. Seria um contra-senso da pior espécie ter a sociologia como paixão. Aliás, o certo era não ter paixão nenhuma, mas minha paixão é Juliana. E Juliana é que é certo.

André Cintra: Entendi, mas prefiro encerrar a entrevista por aqui.

Ewerton Clides: O que o senhor disse? Entrevista?

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