Para a entrevista de hoje, André Cintra estava visivelmente ansioso. De noite, ele iria ver a namorada. E a namorada é tão bonita, que até eu fiquei ansioso por ele. Com a camisa do Palestra, o assunto predominante de hoje foi a fobia que ele tem de dirigir.
Eu: Você chegou aqui pontualmente e não dirige. Como isso é possível?!
André: Olha. Para mim o contrário é que seria impossível. Se eu dirigisse, dirigiria tão mal, que não chegaria nunca aos lugares. Eu detesto pensar em dirigir, porém às vezes sonho com isso e penso: como seria bom não ter esse medo! Para você ter uma idéia, quando eu fiz 18 anos, me falavam que eu poderia ser preso e também que poderia tirar carta de motorista. Para mim, uma coisa era tão distante quanto a outra.
Eu: Isso te afasta ainda mais da direção?
André: Você quer dizer que dirigir era uma coisa impensável. Aí se eu dirigisse, ser preso não seria algo tão distante assim. Bem, nunca fiz essa relação tão claramente. Mas para dirigir, vou fazer um esforço pela minha namorada. Quero dizer, põe noiva. Escreve aí noiva. Pela minha noiva e pela minha filha. Mas para ser preso, é justamente por elas que não vou me esforçar! Por elas e por minha mãe, coitada da minha mãe.
Eu: Por falar na sua mãe, ela acha um absurdo que você não dirija, porque quando pequeno você só gostava de carro. Brincava com carro, ficava olhando os carros e sabia diferenciar um Corsa de um Pálio.
André: Eu gostava de brincar com carros porque eu podia dirigir rápido meus carrinhos de brinquedo. Ou melhor. Eu gostava de brincar de carro porque não tinha poste. Criança não pensa em poste, não pensa em atropelamento, não pensa nessas coisas que atrapalham a vida. Quando eu estava andando de carro uma vez com minha mãe aos 8 anos, vi uma viatura do corpo de bombeiros parando o trânsito. Minha mãe disse: não olha. Eu olhei e vi que a pessoa só estava daquele jeito porque alguém que dirigia a atropelou. Tenho horror de atropelar alguém, cruzes!
Eu: Sei. Vamos mudar de assunto que eu já vi que você não gosta de falar de carros.
André: Não, não. Vamos encerrar a entrevista mesmo.
Eu: Não posso fazer só mais uma pergunta?
André: Só mais uma.
Eu: Verdade que você não aceita sugestão de ninguém no blog? Nem para fazer correções?
André: Verdade.
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