terça-feira, 19 de maio de 2009

O exame

O doutor recebeu os exames das mãos da própria mãe do menino. Ela estava muito tensa, e posso dizer até que lhe tremiam as mãos. O olhar, que na maioria do tempo era distraído, agora estava fixo naquele homem de branco.

- Doutor! Fale logo, doutor!

Roberval, era o nome dele, do médico. Ele fez medicina para que lhe pudessem chamar de outra coisa, de doutor. Talvez lhe fosse menos despendioso ser um cobrador, mas ônibus sempre lhe causou enjôo.

- A senhora vai bem? - perguntou Roberval, se aproveitando da agonia daquela mulher.

- Bem, bem.

- Temos novidades? - continuou, com os exames nas mãos, sem demonstrar que pretendia abri-lo.

- Depende do que está aí dentro - respondeu Marlene, apontando o envelope.

O menino? O menino estava impassível, como se o exame fosse de um desconhecido.

- Como o menino tem passado? Os sinais cessaram?

- Não sei. outro dia achei o rosto dele avermelhado, já ia ligar par ao senhor, mas vi que o menino só estava com vergonha. Terça-feira achei que ele tinha hipotermia, mas foi só aquecer a piscina que passou. Ontem ele rejeitou Coca-Cola, mas logo vi que estava sem gelo. Doutor, eu estou apavorada, doutor!

- Entendo. Coca sem gelo, não dá.

Roberval enfim se concentrou no exame. Olhou com gravidade o envelope branco. Começou a abri-lo, mas era necessário tirar aquela cola. Parecia impossível. Rasgou o envelope e não abriu.

- A senhora tem uma tesoura? - perguntou, seguindo a tese própria de que as mulheres bonitas têm tudo na bolsa.

- Não, doutor!

Ele olhou para Marlene mais criteriosamente e percebeu que ela não era bonita assim.

Pegou o telefone e falou rapidamente:

- Suzana! Traga já uma tesoura.

Os dois se encaravam. De repente Marlene se lembrou de que o menino estava ao lado dela. Abraçou-o fortemente. Roberval olhava como se a cena fosse cômica.

- Calor.

- É, calor.

Enfim, a tesoura chegou. Suzana sorriu para a mãe, e fez uma careta infantil ao menino, que achou graça.

Robeval abriu o exame, e logo falou:

- É, dona Marlene. Seu filho definitivamente não poderia ser um tubarão.

A mãe não se mexeu.

Marlene, notando que Roberval esperava uma reação obrigatória para seguir adiante, perguntou:

- Por que, doutor?! Meu filho não poderia ser um tubarão?!

- De jeito nenhum! Nem pensar! O que ele tem, é alergia a peixe!

Nenhum comentário: