segunda-feira, 27 de abril de 2009

Anedota primeira

Um amigo otorrinolaringologista certo dia me perguntou se eu poderia ajudá-lo. Disse-lhe prontamente que sim, e que não seria sem o maior prazer. Ele morreu três dias depois e posso falar que foi um grande alívio, já que detesto gargantas e orelhas.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Calças ultra camufláveis - modelo praia

Muito tem se falado sobre minha nova invenção.

Um amigo meu, em seu discurso na ONU, chegou a dizer o seguinte, não sem grande emoção: "Leonardo Da Vinci desenvolveu o pára-quedas, Santos Dummont fez o avião, e o André criou as roupas ultra camufláveis". Concordo com ele que o paraquedas e o avião são grandes invenções, e que muitas vidas melhoraram por causa deles. Mas as roupas ultra camufláveis não têm paralelo em toda a história da humanidade. Reconheço, porém, a boa intenção de meu amigo ao me comparar com gente de primeiríssima grandeza.

Comecei com as calças por uma simples questão estética. Minha primeira ideia era criar as cuecas ultra camufláveis, para que os homossexuais de baixa estatura peniana não se sentissem constrangidos ao frequentarem uma sauna. Porém, as cuecas se tornaram mais difíceis por minha dificuldade em lidar com os modelos. Tinha que ficar ajustando as cuecas, e um modelo se excitou por acidente. Sorte que não toquei em nada!

Como se pode ver na foto acima, as calças são realmente ultra camufláveis. Muitos chegaram a dizer que se trata somente de uma foto montagem. A eles, digo: "Como seria uma foto montagem, se na sombra dá para ver que a mulher tem, sim, pernas? Hein? Vocês viram a sombra? Acho que não! Pois agora vejam!". Além disso, eu não faria uma coisa dessas com meus leitores. Não arriscaria anos de brilhantismo e credibilidade por conta de uma invenção que não seria de fato uma invenção.

Os invejosos que duvidam desta criação não querem reconhecer a utilidade destas vestimentas. Agora, ficou muito mais fácil de se passar um susto em alguém. Se antes tínhamos de nos esconder atrás de muros ou postes, agora basta vestir as roupas ultra camufláveis, se postar na frente de alguém e:

- Bu.

Que susto!

Há grande utilidade também nos usos militares, para jogadores de futebol que queiram passar desapercebidos pelos adversários, caçadores em busca de peixes ou periquitos, ou até mesmo donas de casa que não queiram se importar com manchas do dia a dia.

O único problema que devo reconhecer é o de que há gente mal cheirosa que será percebida pelo cheiro. Ou, se der sorte, poderá causar o efeito de gases humanos no local. Mas poxa vida, passar desodorante é tão difícil assim?
Os outros problemas, não os reconheço.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

André x Fernando Pessoa - 2º round

Minhas declarações causaram rebuliço em Portugal. Fernando Pessoa jamais havia sido tão humilhado diante de um número tão grande de pessoas. Chegou até a circular um boato dando conta de que o poeta havia tentado o suicídio e conseguido - o que foi desmentido horas depois, quando foi visto chorando e comendo pastéis de Belém.

Fernando prometeu grandes declarações bombásticas que prometiam me causar muita vergonha. “Ele se sentirá como se estivesse nu em público!”, declarou Fernando, exaltado. "Fernando Pessoa promete envergonhar André de cabo a rabo", era a manchete de um dos principais jornais de Lisboa. "Fernando Pessoa chora; André ri", era a manchete de um jornal de Coimbra. "Benfica vence mais uma", a manchete de um periódico de Aveiro, mas esta não nos interessa.

A resposta tão aguardada foi esperada durante todo o dia, mas foi só nas últimas horas da noite que Fernando Pessoa apareceu sorridente em um programa de auditório - o mais visto do país. Ninguém esperava tanto contentamento depois de tanta vergonha. O apresentador chegou a insinuar loucura do grande poeta, mas não restava dúvida: A resposta estava pronta.

Conversaram primeiro sobre amenidades, como poesia e literatura portuguesa. Falaram muito sobre o tempo, se chove, se não chove. Os dois eram cúmplices de um grand finale. Aos dezenove minutos de conversa, o apresentador não se conteve e finalmente perguntou:

- Fernando, e quanto o que disse André no blog Eu não sou virgem, Maria!?

- Uma vergonha. Ele arrepender-se-á de ter dito tantas coisas ruins sobre mim.

- Por quê?

- Dar-lhe-ei a resposta agora.

Não foi sem grande susto que a plateia ouviu o que vem a seguir, depois de tantas mesóclises:

O André é um fingidor. Finge tão completamente, Que chega a fingir que é dor, A dor que deveras sente.

Ouviu-se aplausos por todo o país. Houve quem soltasse rojões. Até o minuto de silêncio foi interrompido em um grande clássico do futebol nacional. A bolsa de Coimbra subiu. O mundo aumentou imediatamente a importação de pastéis de Belém. Bruno Aleixo não ouviu, porque era tarde e já estava dormindo. Fernando Pessoa ouvia os aplausos tão merecidos, e no meio de tantas lágrimas, abraçou o apresentador e se despediu desta grande noite. Enfim o poeta se redimia.

William

Fazemos coisas terríveis em nome da seriedade. William é um bom exemplo disso. Ele se nega, se corrompe, se exclui - pela seriedade. E faria muito mais.

Veja a roupa dele. Sempre um terno escolhido por outrem, que ficaria perfeito em qualquer um. E o semblante? A mesma coisa. É um esforço contínuo para que não prestemos atenção nele. É um disfarçado profissional e proposital. Esta tentativa é tão nítida e engraçada, que o pensamento óbvio provocado é: “O que ele quer esconder com tanta seriedade?”

Nunca sei se a seriedade existe mesmo ou se o que chamamos de seriedade é somente uma negação do que nos é cômico. Nesta segunda opção, ela seria somente um anteparo entre o cômico íntimo e o olhar alheio. Um anteparo que pode ser transparente, uma peneira ou algo inexpugnável, que de vez em quando – quase nunca – se distrai, e tudo o que é engraçado e cômico de uma determinada pessoa é escancarado de repente.

William pretende, sempre, transmitir confiança e seriedade a tudo que diz. Na maioria das vezes, consegue. Porém, sua personalidade é revelada em seu erro. Ou melhor: Ele se escancara quando perde o controle da situação e sua seriedade se esvai em um segundo, como numa explosão. Seu anteparo abre uma fresta, e toda sua personalidade é extravasada em um pequeno sorriso, ou num olhar engraçado.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

André x Fernando Pessoa

É grande, a concorrência literária. Mais do que gladiadores em uma arena, os escritores se atacam, porque neste meio o fracasso de um é proporcional ao sucesso de outro. Se por um acaso Paulo Coelho passasse a vender menos livros, seu concorrente direto Machado de Assis venderia os livros perdidos por Paulo Coelho. O contrário também ocorreria.

Ultimamente meu sucesso literário tem incomodado muitos de quem já fui fã. Recebi um comunicado mal educado de Oscar Wilde, um fax bomba de Baudelaire, e um telefonema anônimo de Nietzsche. (Se o telefonema era anônimo, como eu sei que era Nietzsche? Aquela bigode não engana.) O pior ataque, porém, recebi de Fernando Pessoa. Vocês não imaginam do que um português com o ego ferido é capaz.

Pessoa tem redigido com nomes falsos, cartas aos mais variados jornais da Europa difamando meu nome e meu blog. Felizmente estes meios de comunicação não me conhecem e a repercussão não tem sido abundante. Porém, eu os conheço e fiquei profundamente magoado.

Um dos motivos que me torna superior a Fernando Pessoa – e creio que é por isso que este homem tem tanto me incomodado - é que posso provar que realmente tenho vários eus. Fernando dizia que era múltiplo, mas eram somente palavras. Cadê as fotos, com Fernando lado a lado com Fernando? Ou mais: Alberto Caiero possuía RG? Álvaro de Campos já foi visto estressado no meio do trânsito? Por um acaso o médico Ricardo Reis tinha pacientes?

Pior que isso, todos tinham a mesma caligrafia - aqui sou ainda mais superior, pois ninguém pode comprovar nas entrevistas comigo mesmo que as caligrafias são diferentes, pois são todas digitadas.

É por isso que trago uma foto que comprova a minha total multiplicidade. Era um sábado ensolarado quando me reuni comigo quatro vezes para controlar um barco em alta velocidade. Peço, pois, ao senhor Fernando Pessoa que pare com sua má e falsa literatura, ultrapassada por mim. E também que não me importune mais nos jornais europeus - pois ele não faz ideia do quanto custa importar tantos jornais.

Ps: Aos que me acusam de foto montagem, sugiro que parem de ler textos e poesias do senhor Fernando Pessoa.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Nossas tias

Não é a bomba atômica, o grande mal da humanidade. Nem as abelhas - mas disso, você já sabia. O grande mal da humanidade é o bom senso.

Quando nossas tias discutem conosco, parece que há sempre uma contagem regressiva até que elas peçam que utilizemos o bom senso. "Use o bom senso, meu sobrinho, que não terá mais dúvidas", é o que elas dizem - ou quando não dizem, pensam. Ou seja. Enquanto nossas tias nos oferecem grato amor, elas estão na verdade correndo atrás do grande mal da humanidade!

Isto ocorre sempre quando elas dizem: "Diz com quem andas que te direi quem és". Esta frase, típica do bom senso, é de uma mentira singular.

Como é possível descobrir quem a pessoa é sabendo somente com quem ela anda? Apenas uma pequena parte da população mundial – as ricas e as famosas - tem os amigos de acordo com a própria personalidade. Estas pessoas são as especiais, que têm a possibilidade de escolher os amigos. Elas, sim, têm nos amigos uma indicação do que são.

Mas ao resto da humanidade, restam os amigos que a vida, ou o acaso, oferece. Estas pessoas não escolhem os amigos, senão os toleram.

Se você disser que anda com Sidney Magal, Robson Martins e Péricles Chamusca, tudo o que posso dizer é que você anda com Sidney Magal, Robson Martins e Péricles Chamusca.

O certo, então, seria: "Diga com quem anda que te direi quem são"!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Einstein cumpre sua promessa

Atendi o telefone e uma voz cansada com o tempo me disse:

- André. Me dê o sinal de fax. Sim?

Desliguei sem prestar muita atenção e apertei o START do fax. Uma folha começou a ser impressa, e percebi que tinha grande importância. Ei-la:



Abaixo, havia o recado: "Não falei que daria Palmeiras? Pintei meu cabelo de verde conforme prometido. Abraço. A. Einstein"

Grande gênio. Verifiquei mais tarde que meu fax não imprime fotos coloridas. Mas isto é uma explicação que só Einstein nos poderia fornecer.

Clássicos? Sei. - Drummond

Era uma segunda-feira chuvosa como a de hoje, quando Carlos Drummond de Andrade tocou à minha porta. Olhei pelo olho mágico e suspeitei que fosse o poeta. Mas precisei certificar-me, porque àquela época não era comum que gente importante deste tipo me procurasse. Também porque meu olho não distingue muito bem os velhos.

- Quem é?

- Sou eu - respondeu uma voz cansada. Drummond era genial, mas não era bom para coisas comuns e cotidianas, como uma pergunta corriqueira deste tipo.

- Eu quem?

- Ah, sim. O Drummond.

Abri a porta o mais rápido que pude. Que prazer, ajudar o poeta! Percebi, no entanto, que esta rapidez o assustou um pouco. Foi preciso um copo d’água para que se sentisse melhor e mais ambientado.

Conversamos sobre amenidades. Sobre as diferenças e semelhanças entre São Paulo e Minas, entre São Paulo e o Rio, e entre o Rio e Minas. Nada demais. No final, concluímos que as únicas diferenças dignas de menção eram que em Minas, o pão de queijo era preparado em casa, que no Rio tinha praia, e que em São Paulo não tinha praia nem pão de queijo - ou seja, esta cidade é um mal necessário.

Aproveitei que falamos em pão de queijo e o servi com um pão de queijo do dia de ontem, que para minha surpresa, o agradou.

- Está delicioso! É de ontem? Os pães de queijo ruins ficam melhores no dia seguinte. Ficam mais sequinhos.

Era, sim. Chegamos ao assunto principal. O assunto digno de movê-lo de Minas Gerais até minha casa.

- André, colega, preciso escrever uma poesia e estou sem assunto. Preciso que você me dê um tema!

Um tema? Na hora pensei em alguma guerra, em algum carro, em alguma coisa que me favorecesse.

- Palmeiras! Faça uma poesia sobre o Palmeiras.

- Eu não faria uma poesia de um time que não fosse meu.

- Então fale sobre pão de queijo, ué.

- Muito óbvio. Todo mundo já sabe que sou mineiro.

Foi então que eu disse, já sem paciência:

- Então olhe para minha cara e escreva o que lhe vier à cabeça!

- Tá bom.

Olhe olhava fixamente para mim, e fiquei um pouco constrangido. Pensei que fosse falar da cor dos meus olhos, ou da diferença de coloração que uma bochecha é capaz. Nada disso. Depois de cinco minutos:

- Posso recitar?

- Sim, sim. Pode.

- No meio do nariz tinha uma espinha
tinha uma espinha no meio do nariz
tinha uma espinha
no meio do nariz tinha uma espinha.

- Pare, pare! Pare, que não posso mais ouvir o que você acabou de escrever!
Se antes já estava envergonhado, agora fiquei mais envergonhado que criança feia. Era preciso algo que mudasse o assunto. A poesia era boa, mas o tema ruim. Neste momento, veio-me à cabeça um insight com destino à eternidade.

- Dirce! - era o nome de minha empregada. - Traga uma pedra!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Einstein trombadinha



A série de entrevistas com lideranças mundiais está sendo uma grande sucesso. Percebi que o leitor gosta que eu tenha boas companhias, e que isso pode acrescentar bastante ao debate. Houve muitos questionamentos quando souberam que Obina entraria para a lista, mas cessaram todos após a entrevista, quando puderam perceber a capacidade intelectual deste homem e artilheiro.

Hoje, entrevistarei um gênio. Mas um gênio, gênio mesmo. É assustador ouvir a minha geração utilizando esta palavra. Usam gênio se referindo a um sujeito bom, a uma coisa legal, engraçada ou divertida. Ou seja, hoje em dia genial é fazer uma coisa muito boa. Só que genial é muito mais que isso. Genial é fazer o que ninguém fez, nem poderia imaginar. Genial é fazer mais do que se pensava que um ser humano poderia fazer.

Quando você for chamar alguém de gênio, tente comparar esta pessoa com gênios de outras épocas. Pense: Este sujeito inventou o pára-quedas? Inventou o avião? Intuiu a criação dos planetas? Descobriu que a Terra não é redonda?

Se sim, para pelo menos uma destas perguntas ou similares, a pessoas pode, sim, ser considerada genial. Caso contrário, ela só será muito legal - e olhe que isso já é uma grande coisa, pois a grande maioria das pessoas é composta de chatos irremediáveis!

Mas eu falava do convidado de hoje. Ele é inquestionavelmente um gênio, é alemão e parece meio louco. É o tipo de sujeito referência, que simboliza o ápice da inteligência humana. Não é Obina, não é Obama, muito menos sou eu. Trata-se, é claro, de Albert Einstein.

- Einstein. Olá!

- Olá, meu chapa. Tudo em cima?

Einstein me recebeu em sua casa no século XX. Nós nos encontramos no começo deste ano, aqui no século XXI, numa visita que ele concedeu a meu blog. A conversa foi a seguinte:

- Olá, André! Permita-me apresentar. Meu nome é Albert Einstein, e sou um cientista que viveu há muito tempo. Passei anos pegando elevadores rápidos para avançar no tempo, poder encontrá-lo e ler seu blog. É um grande prazer conhecê-lo.

Caramba, eu pensei, o Einstein veio até aqui só para me conhecer!

- Oi, Einstein! Eu já ouvi falar de você. Vamos conversar. Você veio de muito longe. Deve estar com sede!

- Estou, sim! Muita sede. Você teria uma água tônica?

Deveria desconfiar. Bebida de velho.

- Ter, não tenho. Mas vamos até ali comprar uma bem geladinha.

Sentamo-nos no bar e conversamos, conversamos. O bom de conversar com uma pessoa inteligente e interessante é que ela faz aflorar o lado inteligente e interessante dos outros. Comigo não foi nada diferente. Falei sobre física, opinei sobre bioquímica, e até critiquei descobertas dele mesmo, Einstein.

- Entendo que você critique a bomba atômica, por exemplo. Mas eu só queria inventar o microondas! Aliás, como se escreve microondas na nova ortografia?

- Não sei, Einstein, não sei!

Achei esquisito que ele soubesse deste detalhe da língua portuguesa, já que teimava em falar em alemão. Eu, que não sei alemão, apenas intuí as palavras que ele disse. E vou dizer uma coisa. É muito difícil intuir o alemão, já que todas palavras parecem ter conotações nazistas.

Depois de muito papo, vi que ele tinha uma anotação esquisita: E=mc. Achei que aquilo não batia e opinei:

- Einstein. É ao quadrado. E, igual a MC ao quadrado.

Ele fez uma cara de espanto, fez rápidas contas no guardanapo e me olhou assustado:

- Você vai contar para alguém que foi você quem disse?

- Não, Albert. Fica tranquilo. Só tenta falar do meu blog para seus alunos, não sei.

- Falo. Falo, sim.

Neste momento ele alegou uma desculpa qualquer e disse que tinha que ir embora. Comprou várias águas tônicas geladas, e entrou no elevador. Agora teria que andar numa velocidade menor, para voltar ao tempo. Eu disse que tudo bem, e fui embora.

Desde então, me dediquei a fundo ao alemão. Eis uma língua muito chata. Parece que as palavras não fazem sentido ligando umas às outras, além de parecer que são somente ruídos e, como já disse, nazistas. Mas Einstein não era nazista, e para um melhor papo, era necessário aprender a língua maldita.

Foi hoje de manhã que ele veio, no mesmo elevador. Percebi que ele estava virado de costas, ajeitando o cabelo com o auxílio do espelho.

- Ué! Pensei que você fosse despenteado!

- E sou! É que dá muito trabalho despentear o cabelo.

- Perguntei mal. Eu pensei é que você fosse despenteado por desleixo!

- Bah! Imagine! Eu não sou um homem a frente do tempo? Então. Eu me antecipei à moda do século XX e tenho o cabelo como se tem hoje: comprido e despenteado.

- Caramba! Você é mesmo um gênio.

- Rapaz, mais sessenta anos pegando elevador rápido só para falar com você, então vamos falar de coisas mais importantes. Aliás, prefiro que seja lá em casa. Vamos entrar neste elevador para voltar ao tempo.

Posso dizer que voltar ao tempo é muito mais entediante do que parece. Imagine entrar em um elevador e esperar 60 anos para encontrar uma cidade antiga e sem graça? E depois mais 60 para voltar, porque o velho que estava contigo se esqueceu de comprar a água tônica. Faço grandes coisas por uma grande entrevista.

Chegando na casa de Einstein é que começamos a entrevista.

- Agora eu aprendi a falar alemão! – eu disse.

- Por que você não disse antes? Eu já sabia falar português! Só falei em alemão porque achei que você estivesse compreendendo.

Puta que pariu.

- Tudo bem. Vamos falar em português, mesmo. E aí, como vão as descobertas?

- Vão bem. Olha, você estava certo. É E=mc². Acho que minha maior invenção é sua!

- Não se preocupe. Prefiro que seja sua. Você é um homem tão bom.

- Obrigado. Mas eu cumpri a minha parte do trato. Escrevi na lousa que seu blog é o melhor do mundo. Pedi para um aluno tirar a foto no celular aqui.



- Mas esse celular é meu! Eu o perdi bem naquele dia em que nos encontramos!

- Você não perdeu. Eu peguei para que tirar essa foto. Ficou boa, não?

- Ficou, sim, seu trombadinha. Agora posso começar a gravar? Pensei em entrevistá-lo para a série de entrevistas com lideranças mundiais.

- Claro! Eu estava louco para entrar nessa lista. Agora resolveu escutar os mortos?

- É bom ouvir quem não pode mais dizer, não é? Você é morto, mas é muito inteligente. Creio que é melhor entrevistar você morto do que a Xuxa viva, por exemplo.

- Concordo, embora não conheça essa Xuxa. Porém posso presumir que ela não seja tão inteligente nem tenha coisas tão relevantes para dizer como eu tenho.

- É mesmo. Começa me dizendo uma frase de efeito.

- Se for para destruir, não destrua uma casa, um prédio, ou um bairro. Destrua logo uma cidade inteira!

- Opa! Assim começo a pensar que você quis criar a bomba atômica de propósito!

- Acho que você não ouviu direito. Eu disse se for para construir. Construir, não destruir.

- Sei... como você sabe que eu ouvi destruir, então?

- Pela cara que você fez na hora em que eu disse construir. Intui que você tivesse ouvido o contrário.

- Olha. Não tenho muito mais tempo. Me diz, por favor, quem ganha hoje. Palmeiras ou Sport?

- Palmeiras. E depois do jogo eu ainda pinto o cabelo de verde!

- Tá bom. Você vai de elevador?

- Vou, sim. Só vou comprar umas águas tônicas antes.

Demos abraços fortes e efusivos e nos despedimos.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Funcionário do mês - Abril

Quando Joelma foi eleita a funcionária do mês, muitos foram os leitores que protestaram. Mal consegui entrar no prédio ENSVM, de tantos que eram os manifestantes. Tinha um que tive a impressão de que ele estava nu – uma pessoa que me acompanhava disse que ele não estava nu, a roupa dele que era bege.

Nas faixas, estava escrito sempre com algum erro de português que a música dela é ruim, as letras são mal feitas, a voz dela é insuportável e até, pasmem, que o loiro dela é tingido. Ao que eu responderia que os leitores costumam fazer comentários ruins, mal compostos e - ainda bem que não posso ouvi-los, mas se pudesse a voz deles seriam da mesma forma insuportáveis.

A diferença entre a Joelma e os leitores, é que a Joelma melhora o mundo, pelo menos para as pessoas que compram os CDs do Calypso e dançam daquele jeito. É por isso que ela recebeu o título de funcionária do mês.

Isto, porém, pode causar um problema a longo prazo. Deixo que Deus lhes explique:

"Você deve saber que para um relacionamento comprido se manter estável, é preciso que a mulher admire o homem. Mais que isso: É preciso que ela se sinta inferior ao homem. Assim, as coisas ficam na ordem certa: A mulher se sente presa ao homem por ser dependente dele, e o homem se sente preso à mulher por ela ser dependente dele.

É esta ordem que o título de Joelma poderia abalar. Se Chimbinha não ganhasse o título de funcionário do mês, Joelma se veria superior a ele. O casamento poderia acabar, e pior, a banda também.

O fim do Calypso seria ruim para os que gostam e para os que não gostam da banda. Os dois teriam carreira solo, para desespero dos que não gostam, pois teriam que aturar o dobro do que aturam atualmente. Aqueles que gostam de Calypso, ouviriam duas bandas de que gostam, mas que nunca seriam tão boas quanto Calypso.

Parabéns a Chimbinha, o funcionário deste mês!"

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Trecho de um livro gay que nunca foi escrito

"Quando comprei a primeira revista G, não esperava que fosse comprar a segunda, a terceira e todas as outras seguintes. E quando comprei a última, tinha plena certeza de que seria a última, e que precisaria jogar todas fora.

Alguém acreditaria se eu dissesse que não sou homossexual? Eu não sou homossexual. Comprar a revista G, não quer dizer se excitar com ela. Tenho um apreço pela estética masculina que não tenho pela feminina. É isso: Apreço é uma coisa, atração sexual é outra.

Não se foram só as revistas. A cama de solteiro, o raque tridimensional das Casas Bahia, a tevê, aqueles talheres bregas, os quadros de infância, os portas-retratos com fotos de gente que nem conheço, o sofá da sala e o fogão.

O fogão foi por engano."

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Regra de convivência #36 - Dispõe sobre a necessidade de se abreviar sobrenomes pornográficos

Uma das maiores desculpas que as crianças dão para que possam fazer o que quiserem, é dizer que não pediram para nascer. Elas dizem isso porque querem fazer várias coisas que os adultos não deixam. O engraçado é que depois vão crescer, e poderão realizar tudo a que foram impedidos, mas não desejarão mais. Não sei por quê.

Essas crianças não entendem que - tudo bem, não pediram para nascer - mas recebem diversas outras vantagens que também não pediram. Quando a mãe faz bife à milanesa, ninguém deixa de comer por que não pediu. E quando têm escolas boas, não precisam trabalhar, podem ir ao médico à primeira necessidade, não reclamam de nada.

O motivo disso é que ninguém reclama de herança boa, só de herança ruim. Depois de algum tempo, se aprende que pode mostrar a herança boa, e que não se pode reclamar da herança ruim, porque isso seria uma forma de exibi-la ao público.

Quem não sabe disso é que não abrevia os sobrenomes pornográficos. Ninguém gosta de ter Pinto no sobrenome, mas é uma herança e temos que aceitá-la. Aceitá-la, não exibi-la. A simples exibição do sobrenome ruim pode ser comparada ao elogio da pobreza, da fome ou até mesmo da feiura.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pergunta do leitor (com réplica!)

O leitor da internet é um ser mui sensível. Ele, muito criticado por não perceber ironias ou outras minúcias textuais, é capaz de detectar no primeiro olhar qualquer alteração na paginação de um site! Quando uma simples figura deste espaço é modificada na última linha, chego a receber centenas de e-mails com protestos efusivos. Há quem ameace deixar de ler o site. A estes respondo:

- Obrigado. Não esperava que esta alteração conquistasse tamanho sucesso.

Há cerca de três semanas, modifiquei a parte direita deste site, e onde estava a minha descrição, há diversas outras. É sobre isto que trata a pergunta da vez.

Pergunta: Por que você mudou aquilo tudo? Ficou um horror.

Resposta: Meu grande amigo leitor.

Admito que as mudanças neste blog tiraram dele um pouco de sua vasta beleza. Quem digitava http://www.eunaosouvirgemmaria.com/, ou procurasse pornografia com a Virgem Maria no google e sem querer entrasse aqui, se deparava com um belíssimo blog muito convidativo à leitura. Logo de antemão, já era possível saber quem criava este espaço, as críticas que já recebeu em toda imprensa mundial, e-mail para contato e outras coisas mais. Era um exemplo de paginação!

Eis o primeiro grande problema. Exemplo é uma coisa que serve para copiar sem ser notado. E me dói os rins quando vejo que alguém copiou o que tanto me custou para criar. É um certo ciúmes que tenho do texto. É este tipo de gente que pensa que a grande coisa de se escrever são as glórias do elogio, não os orgasmos criativos.

Leitor querido, era preciso mudar! Para isso, tive a ideia súbita de situar quem chegasse neste blog. A parte direita virou como um filme, que no começo a Terra é vista de longe, então a câmera vai se aproximando, aproximando, aproximando, quando, ufa!, chega no criador de toda a história. É exatamente isto que acontece neste espaço.

Fora isso, o blog virou menos exibicionista. Minha assinatura não é mais tão evidente. Porque o importante são os textos.

A ausência da beleza anterior é, sim, aparente. Mas o blog ficou melhor. É como um sujeito lindo que fica menos bonito quando põe óculos. Seria melhor que ele não precisasse usar óculos. Mas é algo inevitável.

Sim?

Abraços aconchegantes,

André

Réplica do leitor: Entendi sua resposta. Mas o sujeito do exemplo final não precisa necessariamente usar óculos. Existe lentes de contato hoje em dia.

Tréplica: Leitor perspicaz,

Não quis mencionar, mas o sujeito em questão morre de aflição de lentes de contato!

Obrigado,

André

Carla Perez,

Você deve estranhar deveras por receber um e-mail de uma pessoa séria como eu. Porque sempre que a senhora é lembrada, é para falar de coisas degradantes, como pornografia, nádegas e a objetização da mulher - convenhamos que não há gente muita séria tratando estes assuntos.

O enfoque deste comunicado é outro. Venho falar, pois, sobre suas façanhas. Sobre como alguém que todos sabiam estar no fundo do poço, sai dele e, sem se limpar, começa a frequentar outros lugares.

Eis uma coisa que pouca gente faz: se limpar ao sair do fundo do poço. Parece que o importante é sair e voltar a fazer o que se fazia antes. É um grande engano. No fundo do poço há ratos, baratas e água muito suja. Provavelmente você que esteve lá, deve saber disso muito melhor que eu. Mas não parece!

Carla, assim que você saiu do fundo do poço passou a frequentar igrejas! Agora elas estão todas sujas nos lugares em que você sentou. Como sei disso? Examinei o formato da sujeira que as nádegas formaram e comparei com as fotos das três vezes em que você posou para a playboy e não havia dúvida. Falei com um masturbador especialista em sexo anal e ele confirmou a verdade irrefutável.

Então a aconselho: Lave-se. Depois, pode ir aonde quiser.

Abraços efusivos,

André

Deu, o singular de Deus;

não são poucas as pessoas que procuram Deu para pedir conselhos ou simples palpites. Melhor palpites:

- Conselhos dão os grandes sábios ou os grandes fanfarrões. Eu, Deu, prefiro dar palpite, para ninguém vir cobrar depois!

Não são poucas as vezes também que os palpites dão certo, por isso há quem diga que o mais correto seria dizer previsões. Mas Deu prefere manter a cautela:

- É por isso que dão certo, porque são simples palpites. Tem gente que diz que eu não poderia chamá-los de palpites, já que como é grande a percentagem de acerto, deveria ter outro nome. A eles, os matemáticos, eu digo que não há base científica ou teórica nenhuma nisso tudo para se ter outro nome que não palpites. Outro dia alguém me perguntou o que poderia fazer para melhorar o mundo, e eu lhe disse para comprar mais melancias, simplesmente porque eu estava com vontade de melancias naquele instante. Não é que esse sujeito é hoje o maior plantador de melancias do mundo?!

Houve um caso peculiar que aqui cabe menção.

Tavares, um sujeito vindo do norte da Itália, muito procurou Deu. Ele precisava de uma previsão que, segundo ele, daria conclusão à sua vida. Eu disse que segundo ele, porque eu não saberia explicar o que isso significa, caso o leitor depois perguntasse. Tavares tentou por diversas vezes marcar hora com Deu, nunca obtendo sucesso, achando que a secretária de Deu não queria facilitar. Somente numa terça-feira, enquanto saía do mercado, foi que encontrou Deu, que foi logo dizendo:

- Sei bem que te chama Tavares, assim como sei que queres falar comigo. Não marquei hora porque não queria falar com você por um motivo muito particular. Rapaz, eu não queria estar na tua pele!

- Por quê, meu Deu? Por quê?

- Porque tens micose!