quarta-feira, 8 de abril de 2009

Einstein trombadinha



A série de entrevistas com lideranças mundiais está sendo uma grande sucesso. Percebi que o leitor gosta que eu tenha boas companhias, e que isso pode acrescentar bastante ao debate. Houve muitos questionamentos quando souberam que Obina entraria para a lista, mas cessaram todos após a entrevista, quando puderam perceber a capacidade intelectual deste homem e artilheiro.

Hoje, entrevistarei um gênio. Mas um gênio, gênio mesmo. É assustador ouvir a minha geração utilizando esta palavra. Usam gênio se referindo a um sujeito bom, a uma coisa legal, engraçada ou divertida. Ou seja, hoje em dia genial é fazer uma coisa muito boa. Só que genial é muito mais que isso. Genial é fazer o que ninguém fez, nem poderia imaginar. Genial é fazer mais do que se pensava que um ser humano poderia fazer.

Quando você for chamar alguém de gênio, tente comparar esta pessoa com gênios de outras épocas. Pense: Este sujeito inventou o pára-quedas? Inventou o avião? Intuiu a criação dos planetas? Descobriu que a Terra não é redonda?

Se sim, para pelo menos uma destas perguntas ou similares, a pessoas pode, sim, ser considerada genial. Caso contrário, ela só será muito legal - e olhe que isso já é uma grande coisa, pois a grande maioria das pessoas é composta de chatos irremediáveis!

Mas eu falava do convidado de hoje. Ele é inquestionavelmente um gênio, é alemão e parece meio louco. É o tipo de sujeito referência, que simboliza o ápice da inteligência humana. Não é Obina, não é Obama, muito menos sou eu. Trata-se, é claro, de Albert Einstein.

- Einstein. Olá!

- Olá, meu chapa. Tudo em cima?

Einstein me recebeu em sua casa no século XX. Nós nos encontramos no começo deste ano, aqui no século XXI, numa visita que ele concedeu a meu blog. A conversa foi a seguinte:

- Olá, André! Permita-me apresentar. Meu nome é Albert Einstein, e sou um cientista que viveu há muito tempo. Passei anos pegando elevadores rápidos para avançar no tempo, poder encontrá-lo e ler seu blog. É um grande prazer conhecê-lo.

Caramba, eu pensei, o Einstein veio até aqui só para me conhecer!

- Oi, Einstein! Eu já ouvi falar de você. Vamos conversar. Você veio de muito longe. Deve estar com sede!

- Estou, sim! Muita sede. Você teria uma água tônica?

Deveria desconfiar. Bebida de velho.

- Ter, não tenho. Mas vamos até ali comprar uma bem geladinha.

Sentamo-nos no bar e conversamos, conversamos. O bom de conversar com uma pessoa inteligente e interessante é que ela faz aflorar o lado inteligente e interessante dos outros. Comigo não foi nada diferente. Falei sobre física, opinei sobre bioquímica, e até critiquei descobertas dele mesmo, Einstein.

- Entendo que você critique a bomba atômica, por exemplo. Mas eu só queria inventar o microondas! Aliás, como se escreve microondas na nova ortografia?

- Não sei, Einstein, não sei!

Achei esquisito que ele soubesse deste detalhe da língua portuguesa, já que teimava em falar em alemão. Eu, que não sei alemão, apenas intuí as palavras que ele disse. E vou dizer uma coisa. É muito difícil intuir o alemão, já que todas palavras parecem ter conotações nazistas.

Depois de muito papo, vi que ele tinha uma anotação esquisita: E=mc. Achei que aquilo não batia e opinei:

- Einstein. É ao quadrado. E, igual a MC ao quadrado.

Ele fez uma cara de espanto, fez rápidas contas no guardanapo e me olhou assustado:

- Você vai contar para alguém que foi você quem disse?

- Não, Albert. Fica tranquilo. Só tenta falar do meu blog para seus alunos, não sei.

- Falo. Falo, sim.

Neste momento ele alegou uma desculpa qualquer e disse que tinha que ir embora. Comprou várias águas tônicas geladas, e entrou no elevador. Agora teria que andar numa velocidade menor, para voltar ao tempo. Eu disse que tudo bem, e fui embora.

Desde então, me dediquei a fundo ao alemão. Eis uma língua muito chata. Parece que as palavras não fazem sentido ligando umas às outras, além de parecer que são somente ruídos e, como já disse, nazistas. Mas Einstein não era nazista, e para um melhor papo, era necessário aprender a língua maldita.

Foi hoje de manhã que ele veio, no mesmo elevador. Percebi que ele estava virado de costas, ajeitando o cabelo com o auxílio do espelho.

- Ué! Pensei que você fosse despenteado!

- E sou! É que dá muito trabalho despentear o cabelo.

- Perguntei mal. Eu pensei é que você fosse despenteado por desleixo!

- Bah! Imagine! Eu não sou um homem a frente do tempo? Então. Eu me antecipei à moda do século XX e tenho o cabelo como se tem hoje: comprido e despenteado.

- Caramba! Você é mesmo um gênio.

- Rapaz, mais sessenta anos pegando elevador rápido só para falar com você, então vamos falar de coisas mais importantes. Aliás, prefiro que seja lá em casa. Vamos entrar neste elevador para voltar ao tempo.

Posso dizer que voltar ao tempo é muito mais entediante do que parece. Imagine entrar em um elevador e esperar 60 anos para encontrar uma cidade antiga e sem graça? E depois mais 60 para voltar, porque o velho que estava contigo se esqueceu de comprar a água tônica. Faço grandes coisas por uma grande entrevista.

Chegando na casa de Einstein é que começamos a entrevista.

- Agora eu aprendi a falar alemão! – eu disse.

- Por que você não disse antes? Eu já sabia falar português! Só falei em alemão porque achei que você estivesse compreendendo.

Puta que pariu.

- Tudo bem. Vamos falar em português, mesmo. E aí, como vão as descobertas?

- Vão bem. Olha, você estava certo. É E=mc². Acho que minha maior invenção é sua!

- Não se preocupe. Prefiro que seja sua. Você é um homem tão bom.

- Obrigado. Mas eu cumpri a minha parte do trato. Escrevi na lousa que seu blog é o melhor do mundo. Pedi para um aluno tirar a foto no celular aqui.



- Mas esse celular é meu! Eu o perdi bem naquele dia em que nos encontramos!

- Você não perdeu. Eu peguei para que tirar essa foto. Ficou boa, não?

- Ficou, sim, seu trombadinha. Agora posso começar a gravar? Pensei em entrevistá-lo para a série de entrevistas com lideranças mundiais.

- Claro! Eu estava louco para entrar nessa lista. Agora resolveu escutar os mortos?

- É bom ouvir quem não pode mais dizer, não é? Você é morto, mas é muito inteligente. Creio que é melhor entrevistar você morto do que a Xuxa viva, por exemplo.

- Concordo, embora não conheça essa Xuxa. Porém posso presumir que ela não seja tão inteligente nem tenha coisas tão relevantes para dizer como eu tenho.

- É mesmo. Começa me dizendo uma frase de efeito.

- Se for para destruir, não destrua uma casa, um prédio, ou um bairro. Destrua logo uma cidade inteira!

- Opa! Assim começo a pensar que você quis criar a bomba atômica de propósito!

- Acho que você não ouviu direito. Eu disse se for para construir. Construir, não destruir.

- Sei... como você sabe que eu ouvi destruir, então?

- Pela cara que você fez na hora em que eu disse construir. Intui que você tivesse ouvido o contrário.

- Olha. Não tenho muito mais tempo. Me diz, por favor, quem ganha hoje. Palmeiras ou Sport?

- Palmeiras. E depois do jogo eu ainda pinto o cabelo de verde!

- Tá bom. Você vai de elevador?

- Vou, sim. Só vou comprar umas águas tônicas antes.

Demos abraços fortes e efusivos e nos despedimos.

Um comentário:

Mi do Carmo disse...

Bendita seja a previsão desse gênio para o jogo da libertadores.
Continue assim, Eistein! Precisamos da sua vibração positiva para levarmos esse titulo, e por favor, azare o são paulo.