quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O fim de um blog

Como um blog termina é mais difícil dizer. Mas o começo é sempre muito parecido.

O sujeito se acha criativo, pensa que é genial, e tem a certeza de que é um desperdício ter todas as suas ideias guardadas para ele mesmo. Então, como as revistas lhe recusam espaços, os jornais pensam que ele tem a relevância de um suicida e, posso dizer, nem a mãe do sujeito desconfia que ali exista algum talento, ele resolve criar um blog.

Aí, mesmo sonhando com a entrevista no Programa do Jô, ele jura não ter a pretensão de ficar famoso. Diz que faz aquilo somente por generosidade! Que ele não é egoísta como alguns gênios que existem por aí, que escondem o conhecimento dos outros. Nada! É mais que uma obrigação que as outras pessoas desfrutem todo esse talento. Assim como a Brigitte Bardot não coloca uma burca para andar por aí, ele não bloqueia suas idéias.

Alguns posts criados, o próximo passo é comentar descompromissadamente em blogs de respeito. Nosso herói cita seu blog com um despropósito menor do que se pedisse por favor. Elogia o dono do blog famoso como se ele Rubem Braga fosse. "Suas crônicas de seu dia a dia são muito divertidas. Às vezes eu bocejo enquanto as leio, mas não se engane! É porque durmo muito pouco de noite. Não vá pensar mal de mim e de seu blog, por favor. Ah, eu tenho um blog. Se você entrasse seria uma honra. Uma honra, não! Muito mais que isso. Mas eu não conheço palavra maior do que honra para essa situação, então fique sabendo que seria mais que uma honra, ou duas." E em seguida vai o endereço do blog.

O dono do blog famoso fica, claro, muito lisonjeado. Ele é muito seguro de si, e não vai imaginar, nunca, que o elogio do blogueiro iniciante veio por interesse. Os outros recebem elogios por interesse. Ele só recebe por merecimento. Deve ser pela posição dos planetas, ou pela foto descolada que tem lá em cima, à esquerda, que repele os oportunistas. Mas eu estava falando de nosso amigo blogueiro iniciante.

Eu ainda não dei nome a este blogueiro. Oswaldo, com dáblio. O dele era com vê, mesmo. Mas ele inventou o w para a internet (www).

Oswaldo recebe um elogio no blog famoso, e toma isso como incentivo, porque muitas pessoas começam a entrar, a comentar, e quando ele percebe, já está postando várias vezes ao dia. Mais! Enquanto não posta, pensa nos futuros posts. Chega até a receber alguns comentários despretensiosos de gente pedindo para linkar o blog dele. E ele linka, porque não se esqueceu da generosidade anterior.

Passa um tempo, porém, e a empolgação passa. Oswaldo se cansa do próprio blog, dos próprios pensamentos, e posta somente uma vez a cada semana. Depois uma vez por mês. E quando percebe, o blog que ficou famoso em tão pouco tempo, já é esquecido em tempo menor ainda.

O leitor deve achar, agora, com razão, que este post sinaliza o fim deste blog. Eu também pensaria.

Mas é com imensa alegria que digo que não, não é o fim deste blog. Pelo contrário! Ele existe há apenas dois anos, e pretendo mantê-lo pelo menos nos próximos cinquenta. Vocês pensaram isso somente pela história comovente de Oswaldo, que poderia ser uma analogia com a minha. Mas não é.

Agora esqueçam o Oswaldo.

2 comentários:

C.B. disse...

Ainda bem que não é o fim do blog.
E sim, esse comentario é sem pretenção alguma de que você olhe meu blog, afinal, nem tenho um. E não bocejo quando leio seu blog, apesar de ter dormido pouco.
As vezes te xingo de idiota, mas só porque criou uma expectativa no começo do texto e no fim ele termina sem noção, mas deve ser sua genialidade, e eu, como leitor alfabetizado porém muito menos inteligente que você, não devo entender a grandeza da piadinha. Mesmo assim, obrigado (não sei se devo mesmo agradecer) por compartilhar suas idéias.
E quando a entrevista com o Jô estiver confirmada, não esqueça de avisar.

Anônimo disse...

Essa é a magia da cônica!