quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Entrevista de emprego

Esperei por três minutos na sala de espera, quando a secretária já me anunciou para o patrão. É claro que me vem à cabeça que esta empresa deve ser diferenciada. Aliás, não só a empresa, como o patrão também. Ele não gosta de deixar as pessoas esperando por muito tempo. Na verdade, não me deixou esperando nadinha, porque havíamos combinado para as quatro da tarde, e eu cheguei às três e cinquenta e sete.

Ele mesmo abriu a porta, e pensei que ele pode ser gay, mas a barba mal feita suspendeu, pelo menos por enquanto, essa impressão. Sentei, ele também. A cadeira dele não era nem tão melhor que a minha. A única diferença perceptível era a de que a dele se movimentava muito mais para trás, além de ser vermelha.

- Então você é o André Ferreira.

- Não, não. André Pereira, com pê e um érre só.

- Não é Ferreira?

- Não.

- Certeza? Você não é o André Ferreira?

- Certeza, cara.

Ele apertou um botão no centro da mesa, e a secretária apareceu imediatamente. Ele pediu para eu dizer meu nome.

- André Pereira.

Ele olhou para a secretária, e ela fez uma cara de espanto, com a mão na frente da boca, como se fosse uma pin up. E ela saiu da sala.

Apesar de eu ter dito meu nome duas vezes, o homem à minha frente não disse nenhuma vez o nome dele. Ele pôs o cotovelo na mesa, apoiou a cabeça no braço, e disse qualquer coisa, como:

- E aí. Me diz, sei lá, sobre sua vida. Onde você já trabalhou antes?

Eu já tinha suspeitado, e agora eu tive a certeza de que a secretária se confundiu. Chamou para a entrevista o André Pereira no lugar do André Ferreira.

- Eu já trabalhei num prostíbulo.

- É mesmo? Fazia assessoria de imprensa?

- Não, não. Prostíbulos não têm assessores de imprensa.

- Então você fazia o site?

- Prostíbulo não tem site.

- Sei lá, então o que você fazia no prostíbulo?

- O que uma pessoa faz num prostíbulo, cara pálida?

Com muita dignidade, peguei minha Samsonite, levantei e fui embora sem me despedir.

Nenhum comentário: