terça-feira, 20 de outubro de 2009

Regra de convivência #124 – Não diga “estória”

Coitado do Guimarães Rosa.

Houve uma vez em que ele escreveu o livro "Primeiras Estórias" tal qual a mãe de um assassino - com a inocência de quem não sabe o mal que criou. Não pelo livro, que é, de fato, muito bom – eu li a orelha, por isso posso falar. Alguém uma vez comparou a forma de narrativa de Guimarães com a deste blog. Mas ainda bem que a pessoa disse "guardadas as devidas proporções", senão eu ficaria ofendido.

Bem. Sabemos que não é simples ler Guimarães Rosa. Ele usa vários neologismos, tem uma narrativa complicada e, quando se encerra o livro, é como se o leitor não tivesse lido um livro, mas uns oito, de tanto que teve que reler algumas partes.

Mas eu falava do livro "Primeiras Estórias", não é? Pois bem. Tem gente que ao contar uma história, diz que contou uma estória. Essas pessoas fingem que querem distinguir uma "história" - narrativa comum - de uma "estória" - narrativa de cunho popular. Mas na verdade, caro leitor, elas só querem dizer o seguinte:

- Eu li Guimarães Rosa, aquele autor complexo.

Por isso, se você quer dizer que leu Guimarães Rosa, deve agir de forma mais discreta.

Primeiro, deve fazê-lo somente em uma aula de literatura. Depois, diga somente em último caso – quando perguntado. E por último, mas principal, diga baixinho, porque alguém de fora da sala pode ouvir.

Um comentário:

Daniel Rodrigues Gomes disse...

Quanto mais leio esse blog, mais me torno uma pessoa respeitável.