quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fatinha

Ela subiu no meu colo devagarinho, enquanto eu estava distraído. Tão distraído, que me esqueci de que não gosto de gatos. Detestava gatos, e quando passava por um na rua, distanciava sem a preocupação de parecer casual.

Ah, sim. Quem subiu no meu colo foi uma gatinha.

Se esfregou em mim, e eu não sei por quê, mas fiz um carinho nela também. Fiz um carinho como se meu cachorro não tivesse morrido, e fiz o carinho como se gatos fossem que nem cães. Ou melhor: fiz um carinho como se ela não fosse gato.

Mas não parou de se esfregar em mim, e o nariz dela é rosa. Fora que não parava de espirrar feito quem está com gripe brava. Se ela não tivesse o nome de Fatinha por causa de uma tia da minha esposa, sugeriria o nome de Vick, por causa do Vaporubi.

Então a mãe da minha esposa disse que a gata faz isso por ciúmes da criança mais linda. A mãe disse que ela fez por ciúmes, não por mim. Eu pensei que tudo bem. É um ciúmes muito bem aplicado e muito gostosinho. Pode se enciumar em mim, eu disse em pensamento para a gatinha.

Meu tronco ainda estava tenso e retesado. Notei que era uma falta de cumplicidade com a coitadinha da gatinha, que se contorcia em meu colinho. E voltei à minha postura primata.

A minha esposa me olhou com ciúmes e disse:

- Ela é assim com todo mundo!

Pois eu olhei para ela com minha cara que diz que é um absurdo que ela sentisse ciúmes, já que é uma alegria gostar de tudo que é dela, e, enciumado da gatinha, não disse, mas poderia ter dito:

- Mas eu não sou assim com ninguém!

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