quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pelos pêlos pubianos

O menino pegou o xampu que transforma os cabelos comuns em cabelos excepcionais e aplicou nos pêlos pubianos.

Notou logo a diferença: os pêlos estavam mais soltinhos, mais brilhantes e com uma cor deveras agradável. Enfim, não seria exagero dizer que aqueles pêlos pubianos poderiam ser utilizados na cabeça com relativo sucesso.

Reaplicou o produto para melhores resultados, e o resultado foi ainda mais surpreendente, tornando o termo pentelho indigno àqueles pêlos tão pubianos!

Ele pensou em passar a chapinha, mas o xampu era tão bom, que valorizou os pêlos em sua essência pixaim.

Pegou a cueca mais fina que tinha, e a vestiu antes do shorts branco. A camiseta era um pouco curta, que ele havia ganhado dois anos antes, de presente de aniversário da tia.

No ponto de ônibus, se espreguiçou, e todos puderam ver aqueles pêlos pubianos excepcionais.

Ewerton Clides aceta contrato de quatro anos com o blog Eu não sou virgem, Maria!

Agora é oficial. Ewerton Clides assinará textos exclusivos para o blog Eu não sou virgem, Maria!, do maior gênio do momento, André Cintra. Confira uma entrevista com Ewerton Clides em que ele explica melhor como se desenrolou toda a negociação.

Como é trabalhar para o maior gênio do momento?

Trabalhar para mim é muito fácil. Já me adaptei ao meu ritmo de estudos, de conversas, de alimentação, de sono e de conversa. Eu tenho interagido muito bem comigo mesmo, apesar da idade avançada.

Então, melhor dizendo: Como é trabalhar para o André Cintra, ou Ursípedes?

O André é um grande gênio. Creio que o segundo maior da atualidade, somente atrás de mim, Ewerton Clides. Mas devo ressaltar que a única posição que lhe separa de mim neste ranking não confere uma baixa distância de genialidade: André é muito pior que eu, em todos os aspectos. Mas estava a responder a sua pergunta, que não lembro qual era. O senhor poderia repeti-la, se não fosse desagradar?

Como é trabalhar para o André Cintra, ou Ursípedes?

Vou reaproveitar a bela introdução da resposta anterior: O André é um grande gênio. Creio que o segundo maior da atualidade, somente atrás de mim, Ewerton Clides. Mas devo ressaltar que a única posição que lhe separa de mim não confere uma baixa distância de genialidade: André é muito pior que eu, em todos os aspectos. Mas eu não trabalho para ele; eu trabalho com ele. Não temos atritos.

Você é gay?

Não.

Você tem preconceito contra os gays?

Não.

Como foi a negociação com o André para que você escrevesse no blog?

Foi rápida, fácil e sem entreveros. Ele me perguntou, certo dia: - "Quer escrever no meu blog?" Ao que eu lhe disse: - "Sim, sim."

Então todas as notícias anteriores sobre a negociação com o André são falsas?

Sim, inclusive aquela que você escreveu.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Fila

1. Só falta ele sair, que é a minha vez. Por que estou achando que ele é o que mais demorou só porque é a minha vez? Eu sempre acho que o que mais demorou é o que estava na minha frente. Estou até me acostumando a detestar previamente o sujeito que está na minha frente só porque eu sei que ele vai demorar mais. Poxa vida, a velha na frente dele demorou tão pouquinho. E eu que deixei ele entrar na minha frente só porque eu achei que seria errado odiar esse velha.

2. É só o cara que está sendo atendido agora, a pessoa da frente, e eu. Em dez minutos tudo termina? Cruzes, essa pessoa da frente parece estar mais ansiosa que eu: não pára de balançar a perna. Poderiam inventar um walkman que funcione pela energia dos ansiosos que movem as pernas assim. Mas coitados, iam ficar mais ansiosos porque a música ia ficar muito rápida. Acho que a música não ia

3. Minha vez, agora é minha vez!

2. Não é, deixa eu terminar meu pensamento! A música não ia tocar mais rápido, acho que a energia excedente se dissiparia. Isso, se dissiparia.

3. Sujeitinho tolo. Acabei de chegar, e esse médico parece estar há mais de três horas com aquele cara que acabou de entrar. E esse filho da puta da minha frente ainda fica ocupando a fila de pensamentos! Filho da puta, me irritei. Venho outro dia.

3. Ui! O rapaz que estava na minha frente saiu daqui bufando e eu passei na frente dele! Acho que não deve demorar muito. Não tem ninguém atrás de mim. É ruim quando isso acontece, porque eu sinto que poderia ter ficado o tempo até que a outra pessoa chegue fazendo outra coisa antes. Entendeu? Não precisa entender, eu estou só pensando.

sábado, 26 de abril de 2008

Mão no estômago

Coloco a mão no estômago para mostrar que sinto fome. Meu estômago, se pudesse, comeria a minha mão. Da mesma forma que a minha boca comeria meu estômago, tão desesperada que nem pensaria que em seguida não haveria mais estômago para digerir o estômago comido.

Mas ponho a mão desde a infância. Na infância, minha mãe estava vendo e me dava comida. Hoje coloco pela esperança absurda de alguém me ver e dizer: — "André, quer uma bala?"

— Sim, aceito — eu diria, disfarçando e necessidade e a vergonha.

Sobre a originalidade do Haroldão

De hoje em diante, seu nome nunca mais será o mesmo, disse o moço do cartório ao mudar meu nome para Haroldo.

- Moço.

- Quê.

- É Aroldo com agá, né? Haroldo.

- Isso.

Agradeci-lhe veementemente, inclusive cumprimentando-lhe as mãos. Dizem que sou pegajoso, mas chiclete é pegajoso e eu já vi várias mulheres, crianças e homens já adultos comprando na banca. Inclusive, vejo gente importante mascando chiclete em vários momentos importantes. Assim, por que evitariam o Haroldão aqui?

Eu mesmo nunca achei muito agradável gente pegajosa. O problema dos pegajosos é que eles são propositalmente pegajosos. Eu, não. Eu sou assim sem querer. E se estou falando assim, é porque dizem:

- Haroldinho, meu deus! Como você é pegajoso.

Eu respondo sempre na teoria do chiclete. Eu acho que o talento do chiclete é ser pegajoso. O problema é ser uma ervilha e querer ser rosa e pegajosa como um chiclete. Ou ser um chiclete e ser verde e sem gosto como uma ervilha. Aí não dá. É cada um com a sua função. Pois há quem goste de gente pegajosa como eu. É raro, mas tem. Assim como não é tão comum gente que goste de ervilha tanto assim.

O que eu quero dizer desde que comecei é que se eu tentasse ser uma ervilha, deixaria de agradar quem gosta de gente chiclete, ao mesmo tempo em que não agradaria gente que gosta de ervilha, porque essas pessoas preferem as originais.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Clássicos? Sei. #1 - Eça de Queiroz, O Primo Basílio

Bem, meu contrato com os grandes escritores expirou na última sexta. Eles não são de nada, e eu sou demais.

Ele me enviam os originais com as idéias horríveis, textos mal escritos, e eu transformo tudo em clássico!

Eça de Queiroz, Dostoiévski, Machado de Assis, Oscar Wilde, Viginia Woolf, Schopenhauer, Albert Camus, Joaquim José da Silva Xavier, Pero Vaz de Caminha, Monteiro Lobato, Nietzsche, Camões, Rubem Braga, Kafka, Sartre, Cícero, Jorge Amado, Platão, Balzac, Victor Hugo...

Vou publicar a partir de hoje, os originais que todos estes canalhas me enviaram seguidos dos clássicos em que os transformei. Começaremos com Eça de Queiroz, em Os Maias. Neste caso, publicarei a carta que estava anexa aos meus originais - os que valem, os que alterei.

:

Caro Eça,

Não se esqueça de que os pagamentos vencem no próximo dia dezesseis.

Recebi os novos originais, e já lhe informo que mudei inclusive partes do enredo.

Não altere nada antes de me informar.

Veja um pequeno trecho dos originais que você me enviou:

"Luísa parecia que estava com sono ou entediada, e bufou. Limpou com a própria carta, a marca que o macarrão de Juliana deixou-lhe nos lábios, o que nos leva a pensar que bufou por conta de um pequeno enfado por Juliana. De repente se deu conta de que era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e ficou cheia de si! Sentiu-se melhor que antes (se fosse uma prostituta, o próprio preço teria inflacionado).

Enfim, no meio daquela tarde chata, foi bom receber a carta."

Agora, confira como será publicado, após as minhas alterações:

"E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saia delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Percebe como fica melhor? Percebe que deveria pagar tudo em dia?

Tenha mais vergonha, Eça, antes de me enviar os originais. Assim ficarei tímido na próxima vez em que nos encontrarmos para um chop matinal.

Abraços,

André Cintra

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um metro e um tiquinho

Eu não gostava de ser humano antes de conhecer um ser-humano.

Desculpas antecipadas

Domingo passado, o São Paulo ganhou do Palmeiras com o gol de mão do Adriano.

Os sãopaulinos diziam que eu reclamava do juiz. Mas não culpei o juiz em momento algum. O juiz errou por uma limitação técnica, enquanto o Adriano errou por uma limitação de caráter.

Foi por isso que legitimei que no segundo jogo o Palmeiras jogasse com mais de 17 regras. Porque quando o adversário se utiliza do baixo caráter, é dado o direito se baixar o caráter junto sem que isso lhe tire o caráter — como quando o boxista recebe um golpe baixo nas bolas!

Mas no segundo jogo, o Palmeiras ganhou sem precisar dessas coisas — o que lamento, já que sonhei a semana inteira com o Marcos fazendo o gol da classificação de mão numa cortada semelhante à do Giba.

E o São Paulo escancarou novamente seu baixo caráter ao, no intervalo do jogo, sabotar o spray de pimenta.

— Mas cadê as provas, meu caro!?

As provas que valem não são as técnicas. A polícia encontrará vestígios de pimenta no vestiário, nas camisas dos jogadores... Mas o São Paulo sempre tenta bloquear o Palestra, como o Bosco no jogo passado.

O Bosco simulando a pilhada na cabeça é a prova incontestável. E se você contestar, o blog é meu e eu deleto o comentário!

Mas a maior falha de caráter nisso tudo foi a desculpa antecipada.

Quem tem o medo do fracasso, arruma uma desculpa antecipada. Eu fazia isso quando ia mal nas provas de português. Antes da prova, dizia à professora que tive enjôo na noite anterior. E a nota vinha do tamanho do Marco Aurélio Cunha.

A desculpa antecipada é a de quem sabe que vai perder.

— E que não merece ganhar.

São Longuinho

O maior sonho das mulheres brasileiras é o de ser amada pelos rapazes como eles amam os times de futebol.

Elas querem ser exaltadas pelos defeitos da mesma forma de que são defendidas pelas qualidades; que os parceiros odeiem as rivais e as critiquem pelo que tem de ruim, e enfaticamente pelo que têm de bom — mesmo que isso pareça alucinação; que os rapazes saiam com elas mesmo quando chove; que tatuem os nomes delas...

Outro dia, meu amor fez um pedido a São Longuinho:

— Quero que meu namorado me ame como ele ama o time dele!

Depois de algumas horas, pensou:

— Gente, como ele está estranho!

E assim, desfez o pedido.